Material de Apoio Prof. Fernando Tadeu Marques Apontamentos de Direito Penal
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- José Amaro Pinheiro
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1 Resultado O resultado naturalístico consiste na modificação do mundo exterior provocado pela conduta. Nem todo crime possui resultado naturalístico, uma vez que há infrações penais que não produzem qualquer alteração no mundo natural. Ressalta-se, porém, que todo crime produz um resultado jurídico, o qual pode ser conceituado como a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido pelo direito penal. De acordo com o resultado, as infrações penais classificam-se em crimes materiais, formais e de mera conduta. Crime material: aquele em que a lei descreve a conduta do agente e o seu resultado, que consuma o crime, p.ex.: no crime de homicídio, em que a ação é matar, este não se consuma se o resultado morte não ocorrer. Crime formal: é aquele que se consuma antecipadamente, independente de ocorrer ou não o resultado desejado pelo agente, p.ex.: a calúnia, que se consuma simplesmente com a comunicação com a outra pessoa, independentemente da reputação do ofendido ficar ou não abalada. Extorsão mediante seqüestro. Aqui o resultado é possível, mas irrelevante para a figura penal. Crime de mera conduta: aquele em que a lei apenas descreve a conduta do agente e não o resultado, de modo que se consuma com o mero comportamento, p.ex.: crime de desobediência. O resultado não existe. Outros tipos de crime Além dos crimes sobreditos, a doutrina prevê ainda outros tipos, a seguir: Crime de mão própria: são aqueles que têm que ser praticados pessoalmente pelo agente, como o falso testemunho. Pode se falar apenas em concurso de agentes na modalidade participação, ou seja, eles admitem partícipes, mas não co-autores. Crime falho: o agente pratica todos os atos para a consumação do crime, mas o resultado não se consuma. Trata-se da hipótese de tentativa perfeita ou acabada. Crimes habituais: são aqueles que exigem a prática habitual de uma conduta para que se caracterize o crime, p.ex.: o crime de exercício ilegal da medicina. Crime progressivo: é aquele que, para ser cometido, sempre viola uma norma penal menos grave, em que o agente, para chegar ao fim por ele almejado, pratica sucessivas violações ao bem jurídico, como lesões provocadas na vítima até que esta venha a falecer. Progressão criminosa: ocorre quando, primeiramente, o agente deseja alcançar um resultado, porém, quando o alcança, resolve prosseguir na conduta criminosa, praticando, assim, um crime mais grave, p.ex.: quer ferir e acaba matando. Crime complexo: é o que contém em si duas ou mais figuras penais, p.ex.: o latrocínio. Crime privilegiado: são aqueles em que o acréscimo ao tipo básico serve para diminuir a pena, como no art. 121, 1º do CP. Crime comum: pode ser cometido por qualquer pessoa, p.ex.: o furto.
2 Crime próprio: só pode ser cometido por determinadas pessoas, ou melhor, exige do agente uma determinada qualidade, como p.ex.: a de funcionário público no peculato, a de mãe no infanticídio etc. Crimes de ação múltipla ou conteúdo variado: referem-se aos tipos mistos alternativos, em que se descrevem duas ou mais condutas, perfazendo-se o crime com a realização de qualquer delas. O crime será um só, embora praticadas duas ou mais ações. Como, p.ex., pode-se citar o do art. 122, CP, que trata do induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio. Crimes plurissubjetivos: são os de concurso necessário de agentes, como acontece no crime de quadrilha ou bando, que só se perfaz com a associação de mais de três pessoas. Crime exaurido: é o já consumado nos termos da lei, com desdobramentos posteriores, que não mais alteram o fato típico. A obtenção do resgate, por exemplo, é apenas o exaurimento do crime de seqüestro. Crimes vagos: são aqueles em que o sujeito passivo é uma coletividade sem personalidade jurídica, como a família, o público ou a sociedade, como acontece no caso do crime de ato obsceno, previsto no art. 233, CP. Crimes unissubsistentes: são os que, na prática, costumam ser realizados com um só ato. Não admitem a tentativa. Crimes plurissubsistentes: são os que costumam realizar-se por meio de vários atos, como o crime de roubo, previsto no art. 157, CP. Crimes de dano: são os que só se consumam com a efetiva lesão do bem jurídico, como, p.ex., o homicídio. Crimes de perigo: são os que se consumam tão somente com a possibilidade do dano, ou seja, com a exposição do bem jurídico a perigo, como, p.ex., do crime de perigo de contágio de doença venérea. Crimes instantâneos: são os que se completam num só momento. A consumação se dá num determinado instante, sem continuidade temporal. Crimes permanentes: são os que causam uma situação danosa ou perigosa que se prolonga no tempo, a conduta se protrai no tempo, p.ex.: seqüestro. Crimes instantâneos de efeitos permanentes: são os crimes que se consumam em dado instante, mas seus efeitos perpetuam-se no tempo, p.ex.: crime de bigamia. Nada mais são do que os crimes instantâneos que se caracterizam pela índole duradoura de suas conseqüências. Tipicidade Postulado básico do princípio da reserva legal. Não há crime sem lei que o defina e nem pena sem prévia cominação legal. Demais disso, impõe-se ao legislador descrição específica, individualizadora do comportamento delituoso. Existem os tipos permissivos (ex. legítima defesa), incriminadores (ex. matar alguém) e explicativos (art. 327 do CP). A tipicidade é a integral correspondência (subsunção) entre a conduta humana e o modelo descrito na lei.
3 Todo o fato típico, em princípio, será ilícito, salvo se também se enquadrar em algum tipo permissivo (causas de justificação). Isto é o caráter indiciário da ilicitude. A doutrina divide em adequação típica de subordinação imediata ou direta (quando houver correspondência integral entre conduta e tipo legal ex. A desfere os tiros contra B ). Adequação típica de subordinação mediata ou indireta (quando não há perfeita correspondência imediata ex. A defere os tiros contra B e não consegue matá-lo, esta conduta não se amolda à prevista no art.121, do CP, para que isso ocorra necessita-se de normas de extensão ou norma de reenvio, tais como a prevista no artigo 14, inciso II do CP (tentativa). Um outro exemplo de norma de extensão seria o art. 29 do CP. Os elementos do tipo são: a) objetivo: refere-se ao aspecto material do fato, como o objeto do crime, o lugar, tempo, meios de execução etc.; b) normativo: é aquele que merece um juízo de valoração jurídica, social, cultural, religiosa, política etc. Aparece sob a expressão sem justa causa, indevidamente, mulher honesta, dignidade etc.; c) elemento subjetivo: finalidade específica do agente; tal como o dolo. O tipo exige uma representação especial do resultado como tendência interna transcendente. Relação de causalidade (art. 13, CP) De acordo com o art. 13, CP, o resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Vale observar que se considera causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Trata-se aqui do nexo de causalidade, em que o resultado só pode ser atribuído a quem lhe der causa. O art.13, caput, do CP diz respeito ao resultado naturalístico e não apenas ao resultado jurídico. Relação de causalidade é o vínculo existente entre a conduta do agente e o resultado naturalístico produzido por ela. Nexo causal O nexo causal pode ser conceituado como a relação que se estabelece entre a conduta do agente e o resultado naturalístico. A causa é tudo aquilo que concorre para o resultado. A causa constitui também um dos elementos do fato típico. O CP adotou a Teoria da Equivalência dos antecedentes causais, conhecida também como teoria da conditio sine qua non (sem a qual não). Por esta teoria, causa é toda ação ou omissão anterior que contribui para a produção do resultado. Porém, nem todos os fatos ocorridos têm relação com o crime, somente aqueles fatos que se retirados excluem o crime podem ser tidos como causa.
4 O nexo causal nos diversos tipos de crimes Não há que se falar em nexo causal nos crimes de mera conduta, nem mesmo nos crimes omissivos próprios ou puros, pois nestes crimes inexiste resultado naturalístico. No caso dos crimes formais, (ex. extorsão mediante seqüestro) houve a antecipação da consumação, mesmo antes da ocorrência do resultado naturalístico. Esse se ocorre será apenas mero exaurimento do crime. Não há nexo causal neste caso. No crime de mera conduta, o legislador não previu qualquer resultado naturalístico. Ex. desobediência. Já nos crimes materiais e nos omissivos impróprios há o nexo causal, visto que nos primeiros existe o resultado naturalístico, e no segundo, de acordo com a lei, o omitente responde pelo resultado. Causas absoluta e relativamente independentes As causas absolutamente independentes são aquelas que têm origem totalmente diversa da conduta, ou seja, ela não é resultante da conduta, não partiu desta, mas sim de uma outra fonte distinta. As causas absolutamente independentes situam-se fora da linha de desdobramento causal da conduta. A conseqüência das causas absolutamente independentes é que elas rompem totalmente o nexo causal e o agente só responde pelos atos até então praticados. Por outro lado, há também as causas relativamente independentes, que são aquelas que por si só produzem o resultado. Contudo encontram sua origem na própria conduta prática pelo agente. Espécies de causas relativamente independentes: as causas preexistentes; as concomitantes; e as supervenientes. I - Causas preexistentes atuam antes da conduta e por si só produzem o resultado, p.ex.: desfere uma facada na vítima que, sendo hemofílica, vem a falecer em razão de seu peculiar estado fisiológico. No caso, o golpe seria insuficiente para produzir o resultado letal, de modo que a hemofilia atuou de modo independente na produção do resultado. Contudo, o processo patológico foi desencadeado a partir da conduta. II - Causas concomitantes atuam de forma concomitante, ou seja, juntamente com a conduta e produz por si só o resultado, p.ex.: A atira na vítima que, assustada, sofre um ataque cardíaco e morre. III - Causas supervenientes está prevista no CP, art. 13, 1º. Causa superveniente é aquela que vem depois. A vítima sofre um atentado e, quando levada ao hospital, sofre um acidente no trajeto e vem a falecer por essa razão. A conseqüência das causas relativamente independentes é que nenhuma delas tem o condão de romper com o nexo causal, devendo o agente, então, responder pelo resultado. Todavia, no caso de causa relativamente independente superveniente, por expressa disposição legal, o agente não responde jamais pelo resultado, mas tão-somente pelos até então praticados. No exemplo acima, responderá por tentativa.
5 Relevância da omissão (art. 13, 2º, CP) Material de Apoio A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. Nestes termos, o dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. Não se pune o comportamento físico negativo em si, mas sim a omissão por quem tinha o dever legal de agir. Logo, é necessário o encontro de dois fatores: que aquele que se omitiu tivesse o dever de agir e que pudesse de fato agir, sem risco pessoal (dever legal + possibilidade real). Em havendo o encontro destes dois fatores tem-se o crime comissivo por omissão. Quer saber mais sobre Direito e Processo Penal? Então acompanhe o! fernandotadeu.marques Prof_Marques Prof_Marques Fernando Tadeu Marques fernandotmarques@hotmail.com
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