Crime de dano - exige uma efetiva lesão ao bem jurídico protegido para sua consumação (homicídio, furto, dano etc.)
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- Norma Caetano Valente
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1 CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES Delito de empreendimento, delito de empresa (LFG) ou delito de atentado ou crimes de encontro são aqueles crimes em que a pena da tentativa e da consumação são equivalentes. Exemplos: art. 352 do CP evadir ou tentar evadir mediante violência contra pessoa e no CE votar ou tentar votar fraudulentamente Crime Comum - Aquele que pode ser cometido por qualquer pessoa. A lei não exige nenhum requisito especial. Exemplo: homicídio, furto. Crime Próprio - Aquele que só pode ser cometido por determinada pessoa ou categorias de pessoas, como o infanticídio (só a mãe pode ser autora) e os crimes contra a Administração Pública (só o funcionário público pode ser autor). Admite a autoria mediata, a participação e a co-autoria. Crime de mão própria (de atuação pessoal ou de conduta infungível) - só pode ser cometido pelo sujeito em pessoa, como o delito de falso testemunho (art.342 do CP). Somente admite o concurso de agentes na modalidade de participação, uma vez que não se pode delegar a outrem a execução do crime. Crime de dano - exige uma efetiva lesão ao bem jurídico protegido para sua consumação (homicídio, furto, dano etc.) Crime de perigo - para a consumação, basta a possibilidade do dano, ou seja, a exposição do bem a perigo de dano (crime de periclitação da vida ou saúde de outrem - art. 32 do CP). Subvide-se em: a) crime de perigo concreto, quando a realização do tipo exige a existência de uma situação de efetivo perigo; b) crime de perigo abstrato, no qual a situação de perigo é presumida, como no caso de quadrilha ou bando, em que se pune o agente mesmo que não tenha chegado a cometer nenhum crime; c) crime de perigo individual, que é o que atinge uma pessoa ou um número determinado de pessoas, como os dos arts. 30 a 37 do CP; d) crime de perigo comum ou coletivo, que é aquele que só se consuma se o perigo atingir um número indeterminado de pessoas, por exemplo, incêndio (art. 250), explosão (art. 25), etc...; e) crime de perigo atual, que é o que está acontecendo; f) crime de perigo iminente, isto é, que está prestes a acontecer; g) crime de perigo futuro ou mediato, que é o que pode advir da conduta, por exemplo, porte de arma de fogo, quadrilha ou bando, etc... Crime material - o crime só se consuma com a produção do resultado naturalístico, como a morte, para o homicídio; a subtração para o furto; a destruição, no caso do dano; a conjunção carnal, para o estupro; etc... Crime formal (conforme A. Carvalho também chamado de crime de resultado antecipado ou de resultado cortado) - o tipo não exige a produção do resultado para a consumação do crime, embora seja possível a sua ocorrência. Assim, o resultado naturalístico, embora possível, é irrelevante para a que a infração penal se consume. É o caso, por exemplo, da ameaça, em que o agente tenta intimidar a vítima, mas essa intimidação é irrelevante para a consumação do crime, ou, ainda, da extorsão mediante seqüestro, no qual o recebimento do resgate exigido é irrelevante para a plena realização do tipo. Nesses tipos, pode haver uma incongruência entre o fim visado pelo agente -
2 respectivamente, a intimidação do ameaçado e o recebimento do resgate - e o resultado que o tipo exige. A lei exige menos do que a intenção do sujeito ativo (v.g., ele quer receber o resgate, mas o tipo se contenta com menos para a consumação da extorsão mediante sequestro. Por essa razão, esses tipos são denominados incongruentes). Crime de mera conduta - o resultado naturalístico não é apenas irrelevante, mas impossível. É o caso do crime de desobediência ou da violação de domicílio, em que não existe absolutamente nenhum resultado que provoque modificação no mundo concreto. Crime comissivo - é o praticado por meio de ação, por exemplo, homicídio (matar). Crime omissivo - é o praticado por meio de uma omissão (abstenção de comportamento), por exemplo, art. 35 do CP (deixar de prestar assistência). Crime omissivo próprio (omissivo puro ou simples) - não existe o dever jurídico de agir, e o omitente não responde pelo resultado, mas apenas por sua conduta omissiva (v.g., arts, 35 e 269 do CP). Dentro dessa modalidade de delito omissivo tem-se o crime de conduta mista, em que o tipo legal descreve uma fase inicial ativa e uma fase final omissiva, por exemplo, apropriação de coisa achada (art. 69, parágrafo único, II). Trata-se de crime omissivo próprio por que só se consuma no momento em que o agente deixa de restituir a coisa. A fase inicial da ação, isto é, de apossamento da coisa, não é sequer ato executório do crime. Crime omissivo impróprio ou espúrio ou comissivo por omissão (ou ainda: omissivo impuro ou qualificado) - o omitente tinha o dever jurídico de evitar o resultado e, portanto, por este responderá (cf. art. 3 2 do CP) É o caso da mãe que descumpre o dever legal de amamentar o filho, fazendo com que ele morra de inanição, ou do salva-vidas que, na posição de garantidor, deixa, por negligência, o banhista morrer afogado: ambos respondem por homicídio culposo e não por simples omissão de socorro. Crime instantâneo - consuma-se em um dado instante, sem continuidade no tempo, como, por exemplo, o homicídio. Crime permanente - o momento consumativo se protrai no tempo, e o bem jurídico é continuamente agredido. A sua característica reside em que a cessação da situação ilícita depende apenas da vontade do agente, por exemplo, o seqüestro (art. 48 do CP). Crime instantâneo de efeitos permanentes - consuma-se em um dado instante, mas seus efeitos se perpetuam no tempo (homicídio). A diferença entre o crime permanente e o instantâneo de efeitos permanentes reside em que no primeiro há a manutenção da conduta criminosa, por vontade do próprio agente, ao passo que no segundo perduram, independente da sua vontade, apenas as conseqüências produzidas por um delito já acabado, por exemplo, homicídio e a lesão corporal. Crime a prazo - a consumação depende de um determinado lapso de tempo, por exemplo, art. 29, I, do CP (mais de trinta dias). Crime principal - existe independente de outros (furto). Crime acessório - depende de outro crime para existir (receptação, favorecimento pessoal, favorecimento real). A extinção da punibilidade do crime principal não se estende ao acessório. (CP, art. 08).
3 Crime simples - apresenta um tipo penal único (homicídio, lesões corporais) Crime complexo - resulta da fusão entre dois ou mais tipos penais (latrocínio = roubo + homicídio; estupro qualificado pelo resultado morte = estupro + homicídio; extorção mediante seqüestro = extorção + seqüestro, etc...). Não constituem crime complexo os delitos formados por um crime acrescido de elementos que isoladamente são penalmente indiferentes, por exemplo, o delito de denunciação caluniosa, (art. 339), que é formado pelo crime de calúnia e por outros elementos que não constituem crimes. Crime progressivo - é o que para ser cometido necessariamente viola outra norma penal menos grave. Assim, o agente, visando desde o início a produção de um resultado mais grave, pratica sucessivas e crescentes violações ao bem jurídico até atingir sua meta optata. Exemplo: um sujeito, desejando matar vagarosamente seu inimigo, vai lesionando-o (crime de lesões corporais) de modo cada vez mais grave até a morte. Aplica-se o princípio da consunção, e o agente só responde pelo homicídio (no caso, o crime progressivo). Progressão criminosa - inicialmente, o agente deseja produzir um resultado, mas, após consegui-lo, resolve prosseguir na violação do bem jurídico, produzindo um outro crime mais grave. Quer ferir e, depois, decide matar. Só responde pelo crime mais grave, em face do princípio da consunção, mas existem dois delitos (por isso, não se fala em crime progressivo, mas em progressão criminosa entre crimes). Delito putativo, imaginário ou erroneamente suposto - o agente pensa que cometeu um crime, mas, na verdade, realizou um irrelevante penal. Pode ser: delito putativo por erro de tipo, que é o crime impossível pela impropriedade absoluta do objeto, como no caso da mulher que ingere substância abortiva, pensando estar grávida; delito putativo por erro de proibição, quando o agente pensa estar cometendo algo injusto, mas pratica uma conduta perfeitamente normal, como é o caso do boxeador que, após nocautear seu oponente, pensa ter cometido algo ilícito; e delito putativo por obra do agente provocador, conhecido também como delito de ensaio, delito de experiência ou delito de flagrante preparado, no qual não existe crime por parte do agente induzido, ante a ausência de espontaneidade. (súmula 45 do STF) Crime falho - é o nome que se dá à tentativa perfeita ou acabada em que se esgota a atividade executória sem que se tenha produzido o resultado. Exemplo: atirador medíocre que descarrega sua arma de fogo sem atingir a vítima ou sem conseguí-la matá-la, como pretendia. Crime unissubsistente - é o que se perfaz com um único ato, como a injúria verbal. Crime plurissubsistente - é aquele que exige mais de um ato para sua realização (estelionato - art 7) Crime de dupla subjetividade passiva - é aquele que tem, necessariamente, mais de um sujeito passivo (material), como é o caso do crime de violação de correspondência (art. 5), no qual o remetente e o destinatário são ofendidos. Ainda que algum dos sujeitos não seje punido, como se pode verificar na Bigamia do art. 235 do CP. Crime monoofensivo e pluriofensivo - monoofensivo é o que atinge apenas um bem jurídico, por exemplo, no homicídio, tutela-se apenas a vida; pluriofensivo é o que ofende mais de um bem jurídico, como o latrocínio, que lesa a vida e o patrimônio.
4 Crime exaurido - é aquele em que o agente, mesmo após atingir o resultado consumativo, continua a agredir o bem jurídico. Não caracteriza novo delito, e sim mero desdobramento de uma conduta já consumada. Influencia na dosagem da pena, pois pode agravar as conseqüências do crime, funcionando como circunstância judicial desfavorável (CP, art.59, caput). Pode também atuar como causa de aumento, como no caso da corrupção passiva, em que o agente, após solicitar ou receber a vantagem, efetivamente vem a retardar ou deixar de praticar ato de ofício (exaurimento). Crime de concurso necessário ou plurissubjetivo - é o que exige pluralidade de sujeitos ativos (rixa - art. 37; quadrilha ou bando - art. 288) Crime de concurso eventual ou monossubjetivo - pode ser cometido por um ou mais agentes (homicídio - art. 2; roubo - art 57) Crime subsidiário - é aquele cujo tipo penal tem aplicação subsidiária, isto é, só se aplica se não for o caso de crime mais grave (periclitação da vida ou saúde de outrem - art. 32, que só ocorre se, no caso concreto, o agente não tinha a intenção de ferir ou matar). Incide o princípio da subsidiariedade. Crime vago - é aquele que tem por sujeito passivo entidade sem personalidade jurídica, como a coletividade em seu pudor. É o caso do crime de ato obsceno (art.233). Crime de mera suspeita - trata-se de criação de Manzini, em que o autor é punido pela mera suspeita despertada. Em nosso ordenamento jurídico, só há uma forma que se assemelha a esse crime, que é a contravenção penal prevista no art 25 da LCP (posse de instrumentos usualmente empregados para a prática de crime contra o patrimônio, por quem já tenha sido condenado por esse delito - e não reabilitado). Crime multitudinário - cometido por influência de multidão em tumulto (linchamento) Crime de opinião - é o abuso da liberdade de expressão do pensamento (é o caso do crime de injúria - art.40 do CP). Crime de ação múltipla ou conteúdo variado - é aquele em que o tipo penal descreve várias modalidades de realização do crime (tráfico de drogas - art. 2 da lei 6368 de 76; instigação, induzimento ou auxílio ao suicídio - art 22 etc.). Crime de forma livre - é o praticado por qualquer meio de execução. Exemplo: o crime de homicídio (CP, art. 2), pode ser cometido de diferentes maneiras, não prevendo a lei um modo específico de realizá-lo. Crime de forma vinculada - o tipo já descreve a maneira pela qual o crime é cometido. Exemplo: o curandeirismo é um crime que só pode ser realizado de uma das maneiras previstas no tipo penal (CP, art. 284 e incisos). Crime habitual - é o composto pela reiteração de atos que revelam um estilo de vida do agente, por exemplo, rufianismo (CP, art.230), exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica (CP, art.282). Só se consuma com a habitualidade na conduta. Enquanto no crime habitual cada ato isolado constitui fato atípico, pois a tipicidade depende da reiteração de um número de atos, no crime continuado cada ato isolado, por si só, já constitui crime.
5 Crime profissional - é o habitual, quando cometido com o intuito de lucro. Crime de ímpeto - é o cometido em um momento de impulsividade, sem premeditação, por exemplo, homicídio praticado sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima (CP, art. 2, p). Geralmente são delitos passionais. Crime funcional - é o cometido pelo funcionário público. Crime funcional próprio é o que só pode ser praticado pelo funcionário público; crime funcional impróprio é o que pode ser cometido também pelo particular, mas com outro nomen juris (p.ex., a apropriação de coisa alheia pode configurar peculato, se cometida por funcionário público, ou apropriação indébita, quando praticada por particular). Crime a distância, de espaço máximo ou de trânsito - é aquele em que a execução do crime dá-se em um país e o resultado em outro. Exemplo: o agente escreve uma carta injuriosa em São Paulo e a remete a seu desafeto em Paris. Aplica-se a teoria da ubiqüidade, e os dois países são competentes para julgar o crime. Crime plurilocal - é aquele em que a conduta se dá em um local e o resultado em outro, mas dentro do mesmo país. Aplica-se a teoria do resultado, e o foro competente é (em regra) o do local da consumação. IMPORTANTES: Delito de intenção Requerem um agir com ânimo, finalidade ou intenção adicional de obter um resultado ulterior ou uma ulterior atividade, distintos da realização do tipo penal. Trata-se de uma finalidade ou ânimo que vai além do tipo. As intenções especiais integram a estrutura subjetiva de determinados tipos penais, exigindo do autor a persecução de um objetivo compreendido no tipo, mas que não precisa ser alcançado efetivamente. É aquele em que o agente quer e persegue um resultado que não necessita ser alcançado de fato para a consumação do crime (tipos incongruentes). É o caso da extorsão mediante seqüestro, que é um crime formal. Faz parte do tipo de injusto uma finalidade transcendente- um especial fim de agir: Ex: para si ou para outrem, no 57; com o fim de obter, no 59; em proveito próprio ou alheio, no 80; Esta espécie de elemento subjetivo do tipo dá lugar, segundo o caso, aos atos chamados de delitos de resultado cortado e delitos mutilados de dois atos: Delito de resultado cortado: Consistem na realização de um ato visando a produção de um resultado, que fica fora do tipo e sem a intervenção do autor. Ex: 3 (perigo de contágio de moléstia grave), 59 (extorsão mediante seqüestro). Nestes tipos penais o legislador corta a ação em determinado momento do processo executório, consumando-se o crime independente do agente haver atingido seu propósito. No extinto crime de rapto o agente consumava o crime com o simples rapto,
6 independente da prática de atos libidinosos. Delito mutilado de dois atos Consumam-se quando o autor realiza o primeiro ato com o objetivo de levar a termo o segundo. O autor quer alcançar, após realizar o tipo, o resultado que fica fora dele. É aquele em que o sujeito pratica o delito, com a finalidade de obter um benefício posterior. Por exemplo: o sujeito comete uma falsidade, para com o objeto falsificado conseguir uma vantagem posterior. Diferencia-se do delito de intenção, porque neste a finalidade especial (intenção) é essencial para a consumação do crime, ao passo que no delito mutilado o fim visado não integra a estrutura típica. Ex: 289 (moeda falsa); 290 (crimes assimilados ao de moeda falsa). Em síntese, em ambos os casos a consumação é antecipada, ocorrendo com a simples atividade típica unida à intenção de produzir um resultado ou efetuar uma segunda atividade, independentemente da produção ou ocorrência desse ulterior resultado ou atividade. Delito de tendência - a existência do crime depende de uma vontade íntima do agente. Exemplo: o que diferencia o atentado violento ao pudor de um exame ginecológico regular é o intuito libidinoso do sujeito, escondido nas profundezas de sua mente. Delito de fato permanente (delicta facti permanentis) - é o que deixa vestígios, por exemplo, homicídio, lesão corporal. Exige o exame de corpo de delito. Delito de fato transeunte (delicta facti transeuntis) - é a infração penal que não deixa vestígios, por exemplo, os delitos cometidos verbalmente (calúnia, injúria, desacato). Crime de ação violenta - aquele em que o agente emprega força física ou grave ameaça. Crime de ação astuciosa - é o praticado com emprego de astúcia ou estratagema, como o estelionato e o furto mediante fraude. Delito de circulação - é o cometido por meio de automóvel. Delito de atentado ou de empreendimento - ocorre nos tipos legais que prevêem a punição da tentativa com a mesma pena do crime consumado, por exemplo, votar ou tentar votar duas vezes (art. 309 do Código Eleitoral); desmembrar ou tentar desmembrar (art. da LSN). Crime condicionado ou incondicionado - no primeiro a instauração da persecução penal depende de uma condição objetiva de punibilidade (p.ex., CP, art 7, II,.2, b). No segundo, que constitui a maioria dos delitos, a instauração da persecução penal não depende de uma condição objetiva de punibilidade. Crime internacional ou mundial - é o que, por tratado ou convenção, o Brasil obrigou-se a reprimir, por exemplo, tráfico de mulheres (CP. art. 23).
7 Crime remetido - ocorre quando sua definição se reporta a outros delitos, que passam a integrá-lo, por exemplo, art. 304 do CP: Fazer uso de qualquer dos papeis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302. Crime militar - é o definido no Código Penal Militar (Dec. lei n. 00 de 69). Pode ser próprio e impróprio. O primeiro é o tipificado apenas no Código Penal Militar, por exemplo, dormir em serviço. O segundo também está descrito na legislação penal comum, por exemplo, homicídio, furto, roubo, estupro.
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