PODER JUDICIÁRIO SÃO PAULO

Transcrição

1 APELAÇÃO SEM REVISÃO Nº /7 RIBEIRÃO PRETO Apelante: Auto Posto Espigão Ltda. Apelado : Espólio de Ethore Giovanetti AÇÃO DE DESPEJO. IMÓVEL NÃO RESIDENCIAL. ILEGITIMIDADE DA PARTE ATIVA. Não reconhecimento em face dos documentos que comprovam a existência do Espólio e a figura da Inventariante, embora a inicial não esteja instruída com certidão do processo de inventário. ACORDO. HOMOLOGAÇÃO JUDICIAL. Sentença proferida em Ação Renovatória de Aluguel, referente à Pessoa Jurídica e ao Espólio. Não há nos autos nenhum documento comprovando ter sido essa decisão alterada, revogada ou anulada. Logo, tem sua eficácia jurídica plena. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. Não se caracterizou, à falta de temeridade na exposição dos argumentos defensivos, dolo evidenciador da pretendida litigância de má-fé da parte que diz não valer o acordo homologado judicialmente. A má-fé deve ultrapassar os limites do razoável, o que não ocorreu no caso em apreciação. Voto nº Visto. ESPÓLIO DE ETHORE GIOVANETTI ingressou com Ação de Despejo por denúncia vazia contra AUTO POSTO ESPIGÃO LTDA., caracteres das partes nos autos, objetivando a retomada do imóvel locado para fins não residenciais. Formalizada a angularidade o Requerido apresentou contestação, que foi impugnada. Houve entrega da prestação - 1 -

2 jurisdicional e, procedente a pretensão, foi decretado o despejo com 15 dias para desocupação voluntária, e condenação aos pagamentos das custas, despesas processuais e honorários de Advogado. AUTO POSTO ESPIGÃO LTDA. recorreu. Insiste na preliminar de ilegitimidade ativa do Apelado, pela irregularidade de sua representação, pois incide a regra do art c.c. art , do Cód. Civil. No mérito aduz que o fundamento do pedido está escorado em transação nula, de 31 de julho de 1992, pela assinatura de procurador sem habilitação, e os novos adquirentes da empresa não tiveram dele conhecimento. ESPÓLIO DE ETHORE GIOVANETTI argüiu, em preliminar, carência da Apelação, por ausência das condições do pedido recursal... (Folha 96). No mérito diz que a preliminar de ilegitimidade ativa não pode prosperar, pois o Apelante agiu de má-fé eis que o Inventário - Proc. nº 1.254/75 -, encontra-se em andamento. No pertinente à composição no Proc. nº 2.094/91, houve comunicação aos proprietários sobre as alterações, e por isso incide a pena de litigância de má-fé. É o relatório, adotado no mais o da r. sentença. A inicial, com protocolo em 25/9/97, indica no pólo ativo ESPÓLIO DE ETHORE GIOVANETTI, representado por Jacy Pinto Giovanetti, viúva. Presume-se que assim estaria agindo na condição de Inventariante (Folha 02), haja vista que o mandato foi outorgado por Jacy Pinto Giovanetti, como brasileira, viúva, do lar, e não como Inventariante (Folha 05). A Notificação de 11 de agosto de 1997, foi acionada por Jacy Pinto Giovanetti, como brasileira, viúva, do lar,... na qualidade de representante legal do ESPÓLIO DE ETHORE GIOVANETTI... (Folha 07), - 2 -

3 mas encontra-se firmada por 02 Advogados e não por ela (Folha 08). Não obstante, ela produziu seus efeitos (Folha 09). No Proc. nº 2.094/91, as partes AUTO POSTO ESPIGÃO LTDA., ESPÓLIO DE ETHORE GIOVANETTI e SHELL DO BRASIL S.A., firmaram composição. O Auto Posto renunciou expressamente ao direito da renovação da locação e comprometeu-se à desocupação ao término do prazo de 05/8/92 a 05/8/97 (Folhas 10/13). A contestação foi apresentada pelo AUTO POSTO ESPIGÃO LTDA., representada por Décio Scorssolini (Folha 21), que fez encarte do Contrato Particular de Arrendamento com Opção de Compra entre ele, como Arrendatário, e Jesus Bernardino da Costa Júnior e Rosanne Claudette da Costa, como Arrendantes, e que se intitulara... proprietários e legítimos titulares de todas as cotas que constituem uma sociedade comercial denominada AUTO POSTO ESPIGÃO LTDA..... Esse contrato recebeu prazo de 02 anos de 17/6/92 a 16/6/94 (Folha 34). Na empresa comercial AUTO POSTO ESPIGÃO LTDA., os sócios Vagner Neila, Ronaldo Zanatto e Gabriel Retamero Neto, firmaram Alteração de Contrato Social em 28/5/92, para admissão de Jesus Bernardino da Costa Júnior e Rosanne Claudette da Costa, contra a retirada deles (03) (Folhas 38/40). Ocorreu outra Alteração de Contrato Social em 20/8/92, onde foram admitidos como sócios Décio Scorsolini e Mercedes Otaviano Scorsolini, contra a retirada dos anteriores (02) (Folhas 41/43). Não havendo outros documentos, são sócios da firma AUTO POSTO ESPIGÃO LTDA., Décio Scorsolini e Mercedes Otaviano Sorcolini. O Proc. nº 2.094/91, refere-se a Ação Renovatória de Contrato de Locação. Foi promovida por AUTO POSTO ESPIGÃO LTDA. contra o ESPÓLIO DE ETHORE GIOVANETTI, tendo sido a - 3 -

4 inicial protocolada em 29/11/91 (Folhas 45/47). Nessa oportunidade o Auto Posto foi representado pelo então sócio Gabriel Retamero Neto (Folha 48), que instruiu o pedido com Alteração de Contrato Social de 10/10/91, com a admissão de Vagner Neila, Ronaldo Zanatto e Gabriel Retamero Neto, e a saída de Massimo Peviani e Paulo Franco Peviani da sociedade (Folhas 49/53). AUTO POSTO ESPIGÃO LTDA., ESPÓLIO DE ETHORE FIOVANETTI e SHELL DO BRASIL S.A., protocolaram petição em 10/8/92, acusando a composição amigável, onde a Shell abriu mão de direitos originários do Contrato de Locação junto ao Espólio, ela (Shell) e o Auto Posto revogaram o contrato de sublocação então existente, ficando... os CONTRATOS DE LOCAÇÃO E SUBLOCAÇÃO, referentes ao imóvel, objeto desta lide, pertencente ao ESPÓLIO DE ETHORE GIOVANETTI, a partir de agora, totalmente sem efeito, (...), sendo certo que a LOCAÇÃO, daqui para frente, deverá prosseguir somente entre AUTO POSTO ESPIGÃO LTDA. e o ESPÓLIO DE ETHORE GIOVANETTI... (Folha 55). Essa composição estipulou prazo de 05 anos para a locação, compreendido de 05/8/92 a 05/8/97 (Folha 55). Foi homologada pelo Juízo de Direito em 13 de agosto de 1992, tendo a sentença transitado em julgado (Folhas 58/59). Não há nos autos nenhum documento comprovando ter sido essa decisão alterada, revogada ou anulada. Logo, tem sua eficácia jurídica plena. O Termo de Prorrogação de Prazo, Alteração de Aluguéis e de Ratificação de Contrato de Locação de 11 de novembro de 1986, já acusava o ESPÓLIO DE ETHORE GIOVANETTI, representado por Jacy Giovanetti, por Alvará Judicial, como Locador, e a empresa SHELL BRASIL S.A. (Petróleo), como Locatária (Folhas 65/66)

5 Vê-se que a inicial encontra-se irregular mas não írrita, porque os documentos acostados pelas próprias partes deixam evidente a existência do Espólio e a qualidade de Inventariante da viúva. Apegar-se a irregularidades supríveis no curso do procedimento não seria de bom alvitre, haja vista que o prejuízo seria inevitável para o procedimento. Competia à parte que insurgiu-se contra a legitimidade da outra fazer a prova complementar das que se encontram nos autos, demonstrando sua posição. Em verdade não custava a nenhuma das partes fazer encarte de certidão do Cartório comprovando a qualidade de Inventariante, fato que teria facilitado o julgamento. Integram a sociedade AUTO POSTO ESPIGÃO LTDA. DÉCIO SCORSOLINI e MERCEDES OTAVIANO SCORSOLINI, nos termos da Alteração de Contrato Social de 20/8/92 (Folhas 41/43). Impossível que o acordo celebrado entre Auto Posto Espigão Ltda., Espólio de Ethore Giovanetti e Shell Brasil S.A., com protocolo em 10/8/92, portanto antes da alteração do contrato social e da sentença homologatória de 13/8/92, fosse desconhecido do Apelante, tanto que nos meses e anos seguintes respondeu pela firma e, com certeza, pois nada há em contrário, efetuou os pagamentos dos alugueres. A única ponderação que pode ser feita é que o mandato foi firmado por outro representante da empresa, mas isto deu-se em 25/10/91, para instruir a ação renovatória (Folha 48), fato que nada prejudica qualquer dos atos jurídicos consumados. Afasta-se a preliminar de ilegitimidade ativa ad causam pois constitui mero preciosismo a substituição da autora pelo espólio, já que - 5 -

6 meeira, co-proprietária e condômina, sucendendo naturalmente o prémorto como locadora, e, representante legal do espólio 1. Com a morte do locador original - e até que se ultime a partilha do acervo hereditário - reconhece-se legitimidade ativa, para a ação de retomada imotivada, ao respectivo espólio; e este, se regularmente representado pelo inventariante, não necessita da anuência dos herdeiros para a propositura da ação 2. Para que a transação tenha validade reconhecida basta reunir todas as condições que a lei exige para validade dos atos jurídicos em geral: a capacidade das partes, consentimento válido, um objeto certo e causa lícita 3. Não se caracterizou, à falta de temeridade na exposição dos argumentos defensivos, dolo evidenciador da pretendida litigância de má-fé da parte que diz não valer o acordo homologado judicialmente. A má-fé deve ultrapassar os limites do razoável, o que não ocorreu no caso em apreciação. O Apelante apenas exerceu o seu direito de reexame da questões discutidas no processo, ainda que não tenha logrado êxito. Exige-se, à configuração da litigância de má-fé, a vontade inequívoca de praticar aqueles atos previstos na lei processual, não se confundindo com atos de pretensão ou defesa, ainda que equivocados 4. Em face ao exposto, rejeita-se a matéria preliminar e nega-se provimento ao recurso. IRINEU PEDROTTI Relator 1-2º TACivSP - Ap. s/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz CARLOS STROPPA - J º TACivSP - Ap. c/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz ANTONIO MARCATO - J º TACivSP - AI ª Câm. - Rel. Juiz AMORIM CANTUÁRIA - J º TACivSP - Ap. c/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz ANDREATTA RIZZO - J