PODER JUDICIÁRIO SEGUNDO TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL DÉCIMA CÂMARA

Transcrição

1 APELAÇÃO SEM REVISÃO N /9 SANTOS Apelante: Antonia de Souza Apelado: Residencial Villa Orquízia AÇÃO DE COBRANÇA. DESPESAS DE CONDOMÍNIO. COMODATO. A existência do contrato de comodato é res inter alios acta perante o condomínio. Correta a sentença ao afastar a argüição. DÉBITO. CONVENÇÃO CONDOMINIAL. Situação jurídica propter rem. Os encargos, os juros e a multa decorrem da convenção do condomínio. As edificações ou conjunto de edificações, de um ou mais pavimentos, construídos sob a forma de unidades isoladas entre si, destinadas a fins residenciais ou não residenciais, têm, necessariamente, um universo de despesas para sua manutenção diária, que são cobradas através de mensalidades. Atraso de um condômino acarreta oneração dos encargos aos demais. Voto n Visto. RESIDENCIAL VILLA ORQUÍZIA ingressou com Ação de Cobrança contra ANTONIA DE SOUZA, qualificação e caracteres das partes nos autos, relacionada ao apartamento n 0 42, incluindo demonstrativo com valor de R$3.051,74, sobre taxas condominiais dos meses de fevereiro a outubro de 1998, acrescido dos encargos legais

2 O procedimento foi convertido em ordinário (folhas 54/55). Formalizada a angularidade a Requerida fez encarte da contestação, que foi impugnada. Seguiu-se a entrega da prestação jurisdicional julgando procedente a pretensão, e condenando a Requerida ao pagamento do valor reclamado na inicial e das despesas que se vencerem no curso do processo, até o trânsito em julgado da decisão, com correção monetária a partir dos vencimentos, juros de mora de 1% ao mês, multa de 20% sobre o total, custas, despesas processuais e honorários advocatícios de 15% sobre o valor da condenação (folhas 156/159). ANTONIA DE SOUZA recorreu. Defende a existência de comodato no período sobre o qual incide a cobrança. Aduziu que: "... a comodatária é responsável pelo reparo dos danos causados pelo uso da coisa, correndo os encargos de conservação por conta do comodatário, estando entre eles o pagamento de IP, taxas e despesas de condomínio..." (folha 165). "... quando o pagamento forem quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores..." (folha 165). RESIDENCIAL VILLA ORQUÍZIA ofereceu contra-razões defendendo o acerto da decisão. É o relatório, adotado no mais o da r. sentença. O pedido afirma que Antonia de Souza é proprietária do apartamento n º 24 do condomínio. A certidão de 23/2/1999, expedida pelo 2 0 Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Santos, diz que Antonia de Souza, ali qualificada, pela transcrição n º 2, de 4 de setembro de 1995, é senhora e possuidora do apartamento n º 42, do 4 0 andar, do Condomínio Edifício Villa Orquizia, situado na Av. Afonso Pena, n º 478, em Santos, Estado de São Paulo (folhas 2 e 14)

3 A memória atualizada do débito indica "Composição Condomínios atrasados Atualizado até 10/3/99 Apartamento nº 42 Sra. ANTONIA DE SOUZA" (folha 52). É evidente que houve erro de digitação na petição inicial, como observado pelo r. Juízo: "... a pretensão deduzida refere-se às despesas condominiais do apartamento n º 42, ocorrendo mero erro de digitação na inicial ao reportar-se a unidade n º 24, até porque os documentos reportam-se a unidade n º 42 da qual a ré é legítima proprietária..." (folha 157). Pelo contrato particular de comodato de 9/8/1995, Antonia de Souza, como comodante, entregou a Maria Cecília Pereira de Lucena, como comodatária, o apartamento n º 42, mediante as condições nele inseridas, destacando-se o prazo de 9/8/1995 a 30/4/1996 (folhas 136/137). A Apelante insiste na responsabilidade da comodatária e afirma, sem comprovar documentalmente, que foram pagas as despesas exigidas nesta ação. A existência do contrato de comodato é res inter alios acta perante o condomínio. Correta a sentença ao afastar a argüição. "Se o comodatário pagou as despesas o fez em nome do comodante, quando muito como gestor de negócios, eis que o proprietário da unidade é o único responsável pela satisfação dos encargos condominiais 1 ". O não-pagamento do débito na data do vencimento, atendidas as formalidades, caracteriza a incidência da mora. Os valores que constituem o montante devido foram objeto de orçamentos aprovados, sem oposição, pela assembléia do condomínio. As edificações ou conjunto de edificações, de um ou mais pavimentos, construídos sob a forma de 1-2ºTACivSP - Ap. s/ Rev /7-1ª Câm. - Rel. Juiz RENATO SARTORELLI - J

4 unidades isoladas entre si, destinadas a fins residenciais ou não residenciais, têm, necessariamente, um universo de despesas para sua manutenção diária, que são cobradas através de mensalidades. A arrecadação das contribuições está a cargo do Síndico, mas, habitualmente, são eleitas por empresas chamadas administradoras. A relação jurídica que decorre da inadimplência das despesas de conservação do prédio, vincula o condomínio e o condômino. O atraso de um acarreta oneração dos encargos aos demais condôminos, de maneira especial para satisfação dos salários dos empregados, dos ônus fiscais e das despesas necessárias, salvo se o condomínio tiver fundo de reserva que possa ser utilizado, caso em que os demais condôminos serão onerados de forma indireta. Cada condômino está obrigado a concorrer com as despesas do condomínio, devendo recolher a parte que lhe couber no rateio, nos prazos previstos na convenção. A fixação da cota deve corresponder à fração ideal de terreno de cada unidade, exceto se houver exceção estabelecida pela convenção. O condômino tem o dever inafastável de concorrer nas despesas de manutenção do condomínio Trata-se de relação jurídica propter rem, onde, conforme diz o nome, o condômino encontra-se determinado de forma mediata pela titularidade do direito real. A obrigação propter rem é aquela em que o devedor, por ser titular de um direito sobre uma coisa, fica sujeito a uma determinada prestação que, por conseguinte, não derivou da manifestação expressa ou tácita de sua vontade º TACivSP - Ap. s/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz GILBERTO DOS SANTOS - J º TACivSP - Ap. c/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz ADAIL MOREIRA - J

5 A permissão legal dos acréscimos objetiva desestimular a inadimplência das obrigações condominiais e traz insito uma carga de equilíbrio nas relações comuns dos co-proprietários, evitando a sobrecarga de uns em relação ao favorecimento de outros, no suportar as despesas indispensáveis à convivência social 4. recurso. Em face ao exposto, nega-se provimento ao IRINEU PEDROTTI Relator 4-2º TACivSP - EI. s/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz LAERTE CARRAMENHA - J No mesmo sentido: Ap. s/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz RUY COPPOLA - J ; Ap. s/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz ARANTES THEODORO - J