PODER JUDICIÁRIO SEGUNDO TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL DÉCIMA CÂMARA

Transcrição

1 APELAÇÃO COM REVISÃO N º /4 TUPÃ Apelante: Paulo César Canavecchio Magalhães Apelada : José Nunes Magalhães - ME ACIDENTE DO TRABALHO. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS. DESCRIÇÃO DO DANO, DA CONDUTA CULPOSA DA REQUERIDA E DO NEXO DE CAUSALIDADE. INÉPCIA DA INICIAL AFASTADA. A inicial descreve o acidente, o dano e sustenta a culpa da Requerida porque "... A empresa na época, nunca havia oferecido qualquer tipo de EPIs para proteção e prevenção a acidentes de trabalho...". Não houve o preenchimento das hipóteses previstas no artigo 295 do Código de Processo Civil. ILEGITIMIDADE PASSIVA. INVIABILIDADE DE APRECIAÇÃO DE PLANO. MATÉRIA QUE DEPENDE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. O Apelante insiste que "... foi sempre funcionário do requerido, visto que indiscutivelmente e sem qualquer tipo de motivos foi feito o cancelamento do registro na CTPS em nome do requerido...". A Apelada argumenta que "... equivocadamente o escritório de contabilidade responsável pelo registro do autor efetuou-o em nome da empresa 'José Nunes Magalhães ME', ato corrigido na mesma data...". Somente após a regular instrução o r. Juízo terá condições de apreciar a questão. Voto n º Visto. PAULO CÉSAR CANAVECCHIO MAGALHÃES ingressou com "AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS ESTÉTICOS E MORAL" (folha 2) contra JOSÉ NUNES MAGALHÃES - ME, - 1 -

2 objetivando a indenização por danos materiais e morais, aduzindo que: "... No dia 01 de novembro de 1990, quando estava trabalhando (...) veio a perder parte de dois dedos de uma de suas mãos..." (folha 3). "... A empresa na época, nunca havia oferecido qualquer tipo de EPIs para proteção e prevenção a acidentes de trabalho..." (folha 4). Formalizada a angularidade, contestada a ação, seguiu-se a impugnação e, vencidas as diligências, houve entrega da prestação jurisdicional, indeferindo a inicial e extinguindo o processo sem apreciação do mérito nos termos do artigo 267, inciso I do Código de Processo Civil (folhas 68/73). PAULO CESAR CANAVECCHIO recorreu. Afirma ter ocorrido cerceamento de defesa: "... muito embora tenha o douto Juízo (...) proferido a sua respeitável sentença indicando que teria seu enquadramento no artigo 7º, artigo XXVIII da Carta Magna, deixou este de observar que a falta de EPIs lhe condiciona a responsabilidade clássica...".. "... E mais, CERCEIA TOTALMENTE O DIREITO DO AUTOR EM PROVAR A FALTA DE EPIS..." (folha 78 destaques do original). "... não há que se falar em inépcia, vez que além de tudo, nobres Julgadores, deixou o autor bem claro seu buscar da tutela jurisidicional, e com isso os pressupostos processuais e condição da ação está totalmente demonstrado. A causa de pedir, indubitavelmente é mais que clara nos autos, face a irresponsabilidade notória e não observativa por parte do empregador em não obrigar e tampouco condicionar ao uso de equipamentos individuais..." (folha 81). JOSÉ NUNES MAGALHÃES ME contrariou as razões sustentando o acerto da decisão. Alternativamente requereu "... reconhecimento da ilegitimidade passiva..." (folha 90). É o relatório, adotado no mais o da r. sentença

3 O parágrafo único, do artigo 295 do Código de Processo Civil estabelece que considerar-se-á inepta a inicial quando: I - lhe faltar pedido ou causa de pedir; II - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; III - o pedido for juridicamente impossível; IV - contiver pedidos incompatíveis O r. Juízo entendendo que "... Não bastava descrever que trabalhava quando sofreu o acidente (...) Era necessário descrever a conduta dolosa ou culposa da qual derivou o acidente. E isto não existe..." (folha 71) indeferiu a inicial extinguindo o processo sem apreciação do mérito. O Requerente ingressou com "AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS ESTÉTICOS E MORAL" (folha 2) aduzindo que "... foi sempre funcionário do requerido..." (folha 5) não obstante ter sido cancelado o registro na sua Carteira de Trabalho e Previdência Social; ter sofrido acidente no exercício de suas funções "... que seria marceneiro..." (folha 3) vindo a "... perder parte de dois dedos de uma de suas mãos..." (folha 3). Sustenta a culpa da Requerida porque "... A empresa na época, nunca havia oferecido qualquer tipo de EPIs para proteção e prevenção a acidentes de trabalho..." (folha 5). Instruiu o pedido com alguns documentos e clamou pela produção de provas, arrolando testemunhas. Entre os documentos estão foto sugestiva da existência de dano (folha 28) e cópia da CTPS onde consta registro feito na folha 13, em 1/11/90, consignando como empregadora a empresa Requerida JOSÉ NUNES MAGALHÃES ME, com anotação "sem efeito", e registro na folha 14, também em 1/11/90, constando como empregadora EDILSON NUNES MAGALHÃES PARAPUÃ ME (folha 30). A inicial não é inepta. Descreveu o dano, o nexo de causalidade e a conduta culposa da Requerida, possibilitando a conclusão lógica da pretensão. Não - 3 -

4 incidiu nas hipóteses previstas no artigo 295 do Código de Processo Civil. A imputação da responsabilidade da Apelada, por omissão ou negligência, que evidenciaria a sua culpa, o acidente e o nexo etiológico de que fazem referências os documentos, estão a exigir provas periciais no local de trabalho, por vistoria, e na pessoa do Apelante, por perícia médica, sem se afastar a possibilidade da produção de provas orais em audiência para a demonstração ou não da culpa, inclusive depoimentos pessoais e do representante do escritório de contabilidade. "Havendo na inicial concreta narrativa da culpa da ré e do dano causado ao autor, com pedido concludente, não há como afirmar a inépcia da petição introdutória 1 ". "Não há que se falar em inépcia da inicial e carência da ação quando a petição descreve a culpa da empregadora e o nexo causal entre a atividade desempenhada e a incapacidade resultante 2 ". As contra-razões insistem na manutenção da sentença, não contrariam de forma substancial a argüição de cerceamento de defesa e pleiteam "... o reconhecimento da ilegitimidade passiva..." (folha 90). O fato de ter sido aposta anotação "sem efeito" no registro feito em nome da Apelada na Carteira de Trabalho e Previdência Social CTPS do Apelante, não autoriza de pronto o reconhecimento da ilegitimidade passiva. O Apelante insiste que "... foi sempre funcionário do requerido, visto que indiscutivelmente e sem qualquer tipo de motivos foi feito o cancelamento do registro na CTPS em nome do requerido..." (folha 5 grifou-se). A Apelada argumenta que "... equivocadamente o escritório de contabilidade responsável pelo registro do autor 1-2ºTACivSP - AI ª Câm. - Rel. Juiz RODRIGUES DA SILVA - J ºTACivSP - Ap. c/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz KIOITSI CHICUTA - J

5 efetuou-o em nome da empresa "José Nunes Magalhães ME", ato corrigido na mesma data..." (folha 47 grifou-se). Somente após a regular instrução o r. Juízo terá condições de apreciar a questão. A matéria depende de dilação probatória. "Dependendo do exame de provas a aferição da natureza da relação jurídica entre o autor e a requerida, para se verificar a existência de relação laboral, correta a decisão que rejeita o imediato reconhecimento da ilegitimidade passiva "ad causam", sob o fundamento de ser matéria vinculada ao mérito da causa 3 ". Em face ao exposto, dá-se provimento ao recurso, anulando-se o processo a partir da sentença, inclusive. IRINEU PEDROTTI Relator 3-2ºTACivSP - AI /9-5ª Câm. - Rel. Juiz PEREIRA CALÇAS - J