PODER JUDICIÁRIO SÃO PAULO

Transcrição

1 APELAÇÃO SEM REVISÃO Nº /4 - Apelantes: Juizo de Direito ex officio Instituto Nacional do Seguro Social - INSS Apelados : Valdemar Batista de Santana REEXAME NECESSÁRIO. Lei nº 9.469, de 1997, artigo 10. Equiparação da entidade autárquica à Fazenda Pública. Entendimento que beneficia o hipossuficiente por evitar interposição de recurso constitucional, que exigiria maior tempo para entrega da prestação jurisdicional. Conhecimento. ACIDENTE DO TRABALHO. Mão esquerda. Amputação da falange distal ao nível do terço distal, com os cotos dolorosos à pressãopercussão e unhas de menor tamanho. Nexo etiológico caracterizado. Auxílio-acidente concedido. HONORÁRIOS DE ADVOGADO. O percentual de 15% remunera de modo condigno o trabalho do advogado do Segurado, sendo incabível sua redução para 10%. Voto nº4.084 Visto. VALDEMAR BATISTA DE SANTANA ingressou com ação de Prestações por Acidente do Trabalho contra o INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, qualificação e caracteres das partes nos autos, afirmando que na função de ajudante geral junto a empresa Matsubrás Industria e Comércio Ltda., no dia 6/4/98... sofreu o autor (...) acidente de trabalho quando a prensa amputou-lhe as pontas dos dedos anular e mediano da mão esquerda... (folha 2). Encartados os laudos firmados pelo Perito - 1 -

2 Judicial e pelo Assistente Técnico do INSS, inviabilizada a conciliação em audiência e, vencida a instrução, a pretensão foi acolhida, sendo o INSS condenado aos pagamentos do auxílio-acidente de 50% a partir de 9/5/98, abono anual, juros de mora devidos a contar da citação, calculados de forma global sobre os atrasados e, após, mês a mês de forma descrescente, atualização das prestações em atraso pelo IGP-DI, salários do perito, dos assistentes técnicos, despesas processuais comprovadas e honorários advocatícios de 15% sobre o valor das prestações em atraso até a sentença (folhas 60/63). Recorreram: 1- O MM. Juiz de Direito ex officio. 2- O INSS. Aduz que a lesão do Segurado não é incapacitante e, no caso de não acolhimento, requer a redução da verba honorária para 10% sobre as parcelas vencidas até a sentença. Nesse sentido é o parecer do Assistente Técnico da Autarquia que assim esclarece:... o exame físico revelou que, apesar da amputação do terço distal das falanges distais dos 3º e 4º dedos da mão esquerda, havia presença de unha protegendo os cotos e estes estavam bem constituídos, sem sinais inflamatórios. A força muscular estava preservada, os movimentos presentes sem limitação. Não havia prejuízo da função pinça e da preensão... (folha 70). O Segurado apresentou contra-razões sustentando o acerto da decisão (folha 73 verso). A PROMOTORIA DE JUSTIÇA e a PROCURADORIA DE JUSTIÇA opinaram pelo não provimento do recurso. É o relatório, adotado no mais o da r. sentença. Tem aplicação às ações acidentárias a ordem de reexame necessário da sentença proferida contra o INSS. A matéria foi tratada pela Medida Provisória nº 1.561, de 1997, e na subseqüente Lei nº 9.469, de 1997, que, no art. 10 manda aplicar às Autarquias o disposto no artigo 475, - 2 -

3 caput, inc. II, do Cód. de Proc. Civil. Inqüestionável a natureza autárquica do ente previdenciário, em que pese sua atuação como segurador de empresas privadas. Daí sua equiparação à Fazenda Pública para os fins de reexame obrigatório das decisões de primeiro grau que lhe sejam desfavoráveis. A mesma Lei nº 9.469/97, em seu artigo 1º, prevê a possibilidade de acordos ou desistências de recursos voluntários por parte das autarquias. Em igual sentido dispõe a Lei nº 8.213, de 1991, no art. 131, conforme redação dada pela Lei nº 9.528, de Mas nem por isso se há dizer incompatível o preceito com a revisão procedida através do chamado recurso de ofício. Basta lembrar que, em processos em que seja parte a Fazenda também se poderia aventar a hipótese de transigência ou desistência de recurso, procedimento excepcional que, todavia, não afasta a norma genérica do artigo 475, inc. II, do Cód. de Proc. Civil. Não constitui novidade essa previsão de reexame obrigatório no campo da legislação infortunística. Existiu norma expressa, a respeito, na Lei nº 5.316, de 1967, em seu artigo 15, 5º. Com a superveniência de outros diplomas, até a (vigente) Lei nº 8.213, de 1991, desapareceu aquela determinação, mas a questão restou em aberto, sem previsão em sentido contrário. Por isso é que não se há dizer incompatível o sistema de lei vigente com a norma especial agora reintroduzida pela Lei nº 9.469, de Há entendimentos respeitáveis em sentido contrário. Enquanto a jurisprudência não se posicionar afigura-se, permissa vênia, de melhor política econômica para o Segurado o conhecimento e a apreciação do recurso de ofício, evitando-se a interposição de recursos constitucionais 1 que, sem dúvida, demandariam tempo bem maior para possível execução da decisão que lhe for 1- Lei nº 8.038, de 1990, c.c. art. 541 e seguintes do Código de Processo Civil, com a redação da Lei nº 8.950, de 1994 Recursos Especial e Extraordinário

4 favorável. O caso era mesmo de procedência da ação. O exame físico comprovou que o Apelado sofreu amputação da falange distal ao nível do terço distal, com os cotos dolorosos à pressão-percussão e unhas de menor tamanho nos 3º e 4º dedos da mão esquerda. Não há dúvida que a lesão implica em prejuízo parcial da capacidade de preensão e do movimento de pinça da mão atingida, e, assim, demanda maior esforço para a execução de sua atividade habitual. Demonstrado pela perícia que a amputação de falange distal acarreta ao obreiro uma lesão impeditiva da atividade habitual, admissível a concessão de auxílioacidente 2. A perda de parte da falange de um dos dedos do obreiro acarreta-lhe déficit funcional, pela exigência de maior esforço, daí cabendo a reparação infortunística 3. No tocante aos honorários advocatícios, o percentual de 15% vem sendo fixado em lides acidentárias, remunerando de modo condigno o trabalho do advogado do segurado, de modo que incabível sua redução para 10%. A fixação dos honorários advocatícios na base de 15% mostra-se equilibrada e justa, guardando perfeita sintonia com a jurisprudência largamente dominante 4. Em face ao exposto, nega-se provimento ao 2-2ºTACivSP - Ap. s/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz ANTONIO VILENILSON - J (quanto a estivador). No mesmo sentido: - quanto a balconista: JTA (RT) 87/403; - quanto a prensista: JTA (RT) 112/383; Ap. s/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz FRANÇA CARVALHO - J ; - quanto a ajudante de mecânico: JTA (RT) 121/316; - quanto a servente: Ap. s/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz SOARES LIMA - J ; - quanto a carpinteiro: JTA (RT) 124/209; - quanto a mestre vidreiro: JTA (RT) 116/307; - quanto a marceneiro: Ap. s/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz SOUZA ARANHA - J ; - quanto a trabalhador rural: Ap. s/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz TEIXEIRA DE ANDRADE - J ; - quanto a costureira: Ap. s/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz ANDREATTA RIZZO - J ºTACivSP - Ap. s/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz EUCLIDES DE OLIVEIRA. 4-2ºTACivSP - Ap. s/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz MILTON SANSEVERINO - J No mesmo sentido:ap. s/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz CAMBREA FILHO - J Ap. s/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz CAMBREA FILHO - J

5 recurso. IRINEU PEDROTTI Relator - 5 -