ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DESEMB - DAIR JOSÉ BREGUNCE DE OLIVEIRA 31 de julho de 2012

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1 ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DESEMB - DAIR JOSÉ BREGUNCE DE OLIVEIRA 31 de julho de 2012 APELAÇÃO CIVEL Nº ( ) - VITÓRIA - VARA ESPECIALIZADA ACIDENTE DE TRABALHO APELANTE :LUIZ CARLOS DRUMOND DA CONCEICAO APELADO : INSS INSTITUTO NACIONAL DE SEGURO SOCIAL RELATOR SUBSTITUTO DES. ELISABETH LORDES REVISOR DES. ROBERTO DA FONSECA ARAÚJO R E L A T Ó R I O LUIZ CARLOS DRUMOND DA CONCEIÇÃO interpôs apelação em face da respeitável sentença de fls que, com fundamento na ausência de redução da capacidade laboral, julgou improcedente o pedido de concessão do auxílio-acidente. Nas razões recursais (fls ), o apelante aduziu que a prova pericial é equivocada, vez que a perda de parte do dedo médio da mão direita em razão de acidente típico de trabalho retira-lhe parte da capacidade laboral. O apelado apresentou contrarrazões às fls Manifestação da douta Procuradoria de Justiça às fls vº. É o relatório. À revisão. Vitória-ES., 02 de julho de DESEMBARGADORA SUBSTITUTA ELISABETH LORDES RELATORA

2 V O T O S O SR. DESEMBARGADOR RONALDO GONÇALVES DE SOUSA :- Voto no mesmo sentido O SR. DESEMBARGADOR DAIR JOSÉ BREGUNCE DE OLIVEIRA (RELATOR):- Luiz Carlos Drumond da Conceição ajuizou em face do Instituto Nacional do Seguro Social ação para concessão de benefício de auxílio-doença acidentário (auxílio-acidente). Com base na perícia médica e nas demais provas produzidas, a MM. Juíza de Direito da Vara Especializada em Acidentes de Trabalho de Vitória, Comarca da Capital, proferiu a respeitável sentença de fls , julgando improcedente o pedido deduzido, eis que não ficou comprovada a redução da capacidade laborativa do autor, requisito essencial à concessão do benefício de auxílio-acidente. Irresignado, o autor interpôs recurso de apelação pugnando pela concessão do benefício, afirmando que a perda de parte do dedo médio da mão direita lhe resulta redução laboral, haja vista o maior esforço que necessita fazer para realizar suas tarefas. Afirmou, outrossim, que embora esteja ainda trabalhando na mesma função de estivador, não são todas as tarefas que consegue executar. Nos autos, restou comprovada a ocorrência de acidente típico de trabalho ocorrido em , conforme informações contidas no CAT de fls É cediço, para a concessão do benefício de auxílio-acidente almejado, a demonstração do nexo etiológico entre o acidente de trabalho sofrido pelo obreiro, as lesões dele decorrentes e a comprovação da redução da sua capacidade laborativa causada pelo infortúnio, conforme prevê o art. 86, caput, da Lei n /91, com a redação dada pela Lei n /97, in verbis: "Art. 86. O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao segurado quando, após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultarem seqüelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia. 1º. O auxílio-acidente mensal corresponderá a cinquenta por cento do salário-de-benefício e será devido, observado o disposto no 5º, até a véspera do início de qualquer aposentadoria ou até a data do óbito do segurado. 2º O auxílio-acidente será devido a partir do dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença, independentemente de qualquer remuneração ou rendimento auferido

3 pelo acidentado, vedada sua acumulação com qualquer aposentadoria". O Decreto n /99, também regulamenta a matéria: "Art O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao segurado empregado, exceto o doméstico, ao trabalhador avulso e ao segurado especial quando, após a consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultar seqüela definitiva, conforme as situações discriminadas no anexo III, que implique: I - redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exerciam; II - redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exerciam e exija maior esforço para o desempenho da mesma atividade que exerciam à época do acidente; ou III - impossibilidade de desempenho da atividade que exerciam à época do acidente, porém permita o desempenho de outra, após processo de reabilitação profissional, nos casos indicados pela perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social". De conseguinte, apenas quando comprovado o nexo causal entre a moléstia e o trabalho desempenhado, bem como a redução da capacidade laborativa do obreiro, lhe será concedido o benefício de auxílio-acidente. Na hipótese vertente, dessume-se da percuciente análise da prova pericial acostada aos autos, ter o apelante, no exercício de sua profissão de estivador, sofrido acidente típico de trabalho em , culminando na amputação traumática das falanges distal e medial do dedo médio da mão direita. Acerca do quadro clínico do segurado, atestou o perito que o autor "Sofreu uma amputação traumática das falanges distal e medial do dedo médio da mão direita, quando da realização de suas atividades laborais, e que encontram-se consolidadas" (quesito 2 - fl. 181). A despeito da amputação parcial do dedo médio da mão direita, afirmou o perito encontrar-se o autor apto para o exercício de sua atividade profissional habitual (quesito 3 - fl. 181). Conforme se extrai do processado, o ofício exercido pelo obreiro evidentemente requer a utilização das mãos em sua plenitude (pois é estivador e invariavelmente precisa realizar trabalhos de força, pinça, extensão, distensão da mão), inexistindo dúvida acerca do prejuízo no exercício de sua função habitual, sendo necessário maior esforço físico para a realização de seu mister. Assim, forçoso reconhecer - a despeito do laudo pericial e ao contrário do que concluiu a douta Juíza sentenciante - a diminuição da capacidade para o exercício da atividade habitual, ainda que em pequeno percentual, fazendo jus, portanto, à percepção do benefício de auxílio-acidente. Importa destacar que recentes decisões do egrégio Superior Tribunal de Justiça assentam posicionamento no sentido de que o grau da lesão e da redução de capacidade de trabalho não interferem na concessão do benefício, pois este será devido ainda que a lesão e a diminuição da aptidão sejam mínimas. Nesse sentido é o venerando acórdão: "PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA

4 CONTROVÉRSIA. AUXÍLIO-ACIDENTE. LESÃO MÍNIMA. DIREITO AO BENEFÍCIO.Conforme o disposto no art. 86, caput, da Lei n /91, exige-se, para concessão do auxílio-acidente, a existência de lesão, decorrente de acidente do trabalho, que implique redução da capacidade para o labor que habitualmente exercido.o nível do dano e, em consequência, o grau de maior esforço, não interferem na concessão do benefício, o qual será devido ainda que mínima a lesão". (Resp n /SC, rel. Min. Celso Limongi, j. em 25/08/2010). Outros Tribunais pátrios, adotano o mesmo posicionamento: "AÇÃO ACIDENTÁRIA. AMPUTAÇÃO PARCIAL DO TERCEIRO DEDO DA MÃO DIREITA. PERÍCIA QUE NEGA A REDUÇÃO DA CAPACIDADE LABORAL. CONCLUSÃO EQUIVOCADA. AUXÍLIO-ACIDENTE DEVIDO. TERMO INICIAL. CORREÇÃO MONETÁRIA. JUROS DE MORA. RECURSO PROVIDO.É equivocada a conclusão pericial que nega a existência de redução da capacidade laboral de obreira que, em acidente típico, sofreu a amputação parcial de dedo da mão, pois que "a mão funciona como um conjunto harmônico, em que cada um dos dedos tem função própria e ajuda os outros na tarefa de apreensão dos objetos, movimentação e posicionamento das estruturas a serem trabalhadas e manuseadas. A alteração funcional de um deles acarreta o dispêndio de energia" (RT 700/117).A perda parcial, mesmo mínima, de dedo da mão rende ensejo à percepção do auxílio-acidente". (AC n , de Jaraguá do Sul, rel. Des. Newton Janke, j. em 8/09/2009). APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ACIDENTÁRIA. INSS. AUXÍLIO-ACIDENTE. AMPUTAÇÃO PARCIAL DA FALANGE MÉDIA. NEXO CAUSAL E REDUÇÃO DA CAPACIDADE LABORAL CONFIGURADOS. BENEFÍCIO DEVIDO. Hipótese dos autos em que o obreiro sofreu amputação parcial da falange média, em razão de típico acidente do trabalho. De rigor, reconhecer que a sequela ortopédica acarretou um déficit funcional ao infortunado, ocasionando prejuízos ao desempenho da sua atividade profissional, especialmente porque a atividade laboral do acidentado requer necessariamente a utilização, de forma constante e habitual, das mãos e dos movimentos dos dedos, razão pela qual a alteração funcional diagnosticada acarretará a necessidade de emprego de maior esforço, para exercer com um mínimo de eficiência o seu lavor habitual(...) Na espécie, o auxílio-acidente é devido a partir do dia seguinte a cessação do auxílio doença. DESPROVERAM O APELO E CONFIRMARAM A SENTENÇA EM REEXAME NECESSÁRIO. UNÂNIME. (Apelação e Reexame Necessário Nº , Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Tasso Caubi Soares Delabary, Julgado em 30/05/2012). Insta esclarecer que a perícia realizada no curso do processo é meio de prova que apenas visa a auxiliar o juízo, não vinculando a formação do convencimento do julgador, que pode enjeitá-la ou julgar a lide de modo diverso às conclusões apontadas na prova técnica. Logo, ainda que a perícia, como no caso dos autos, indiscutivelmente tenha influência na solução jurídica adotada na sentença, mantém ela caráter secundário em relação ao ato judicial. Cabe ao julgador, caso não se convença das conclusões da perícia, mediante livre convencimento motivado levar em consideração provas outras, bem como regras de experiência, baseadas em um juízo de razoabilidade, para solucionar a lide. A meu ver, resta evidente, diante dos fatos incontroversos dos autos, a redução, ainda que pequena, da capacidade laboral do demandante, que faz jus ao direito

5 previsto no art. 86, 1º, da Lei n , de 24 de julho de 1991, que deve ser pago desde o dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença, com os acréscimos legais devidos. Assim sendo, conheço do recurso de apelação e a ele dou provimento, reformando in totum a respeitável sentença objurgada. De conseguinte, 0sobre o valor das parcelas vencidas, conforme a condenação, devem incidir: A) correção monetária de acordo com o índice utilizado por este Tribunal de Justiça e juros de mora de 1% ao mês desde a data da citação até , e B) atualização na forma do artigo 1º-F da Lei n /1997 a partir de até a data do efetivo pagamento. Deixo de condenar o apelado ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios sucumbenciais em razão da previsão do artigo 129, parágrafo único, da Lei n /1991. É como voto

6 O SR. DESEMBARGADOR ROBERTO DA FONSECA ARAÚJO :- Voto no mesmo sentido O SR. DESEMBARGADOR WILLIAN SILVA :- Voto no mesmo sentido D E C I S Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos, APELAÇÃO CIVEL Nº ( ), em que são as partes as acima indicadas, ACORDA o Egrégio Tribunal de Justiça do Espírito Santo (Terceira Câmara Cível), na conformidade da ata e notas taquigráficas da sessão, que integram este julgado, em, à unanimidade, conhecer da apelação cível e a ela negar provimento; e conhecer da remessa necessária e a ela dar parcial provimento.