PODER JUDICIÁRIO SEGUNDO TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL DÉCIMA CÂMARA

Transcrição

1 APELAÇÃO SEM REVISÃO N º /4 SÃO PAULO Apelante: Nilton Ribeiro dos Santos Apelado : Instituto Nacional do Seguro Social - INSS AÇÃO DE PRESTAÇÕES POR ACIDENTE DE TRABALHO. HIDROCEFALIA. Não comprovado o nexo etiológico da moléstia com o ambiente do trabalho, inexiste incapacidade para sustentar a prestação acidentária. Em infortunística o que se repara em forma de prestações mensais, é a incapacidade resultante do acidente ou da doença profissional, e não o fato em si mesmo considerado. Voto n º Visto. NILTON RIBEIRO DOS SANTOS ingressou com ação de Prestações por Acidente do Trabalho contra o INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, qualificação e caracteres das partes nos autos, alegando que: "... passou a ter fortes dores de cabeça pela inalação dos gazes que operava para a tintura de tecidos e mais, e outros males..." (folha 3). Encartados o laudo do Perito Judicial e o parecer do Assistente Técnico do INSS, inviabilizada a conciliação em audiência e, vencida a instrução, houve entrega da prestação jurisdicional julgando improcedente a pretensão (folhas99/102). NILTON RIBEIRO DOS SANTOS recorreu. Pugnou pela reforma da decisão aduzindo que: "... adquiriu os males em sua jornada de trabalho..." (folha 105)

2 O INSS apresentou contra-razões defendendo o acerto da decisão (folhas 107/111). A PROMOTORIA DE JUSTIÇA e a PROCURADORIA DE JUSTIÇA pugnaram pelo não provimento do recurso. É o relatório, adotado no mais o da r. sentença. A doença profissional ou do trabalho assentase nos requisitos de causalidade, de prejudicialidade e do nexo etiológico. Causalidade porque, em princípio, não há dolo. Prejudicialidade em razão da lesão corporal ou perturbação funcional que pode causar a morte, ou a perda, ou a redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. A configuração do nexo etiológico ou causal, aliado aos demais elementos caracterizadores, conduz, inevitavelmente, à procedência da pretensão que for deduzida em Juízo. NEXO, do latim nexu, significa vínculo ou ligação. ETIOLÓGICO refere-se à etiologia, do grego aitologia, que pode ser entendido em infortunística como o estudo sobre a origem do mal incapacidade. CAUSAL, do latim causale, é o que se relaciona com a causa. É essencial para o reconhecimento do acidente e da doença profissional ou do trabalho, a relação de causa e efeito, o nexo etiológico ou causal. Está constitucionalmente garantido que todo dano decorrente de acidente do trabalho deve ser reparado, e que esse dano é coberto pelo seguro obrigatório acidentário a cargo do INSS. Dano, derivado do latim damnun, de forma genérica quer dizer todo o mal ou ofensa sofrido por alguém. No sentido jurídico é apreciado em razão do efeito que produz. É o prejuízo causado. O INSS informou em relação ao Apelante Nilton Ribeiro dos Santos: "... Auxílios-Doença Previdenciários: 31/ , data afastamento do trabalho em , data início do benefício em , data cessação do benefício em , - 2 -

3 coeficiente de cálculo: 91%, renda mensal inicial: R$413,33. 31/ , data entrada do requerimento em , encerrado por restabelecimento do benefício anterior. 31/ , data entrada do requerimento em , indeferido por causas diversas..." (folha 32). O Complexo Hospitalar Padre Bento de Guarulhos explicitou: "... o(a) Sr(a) Nilton Ribeiro dos Santos, deu entrada em nosso PS em , encaminhado por colega neurocirurgião para realização de cirurgia de drenagem de hematoma subdural crônico e distúrbio de comportamento + cefaléia. O mesmo havia sido internado em para cirurgia de derivação ventrículo peritoneal para cura de hidrocefalia no Hosp. Stella Maris. Operado em de drenagem de hematoma subdural crônico. Exames: CT crânio HSD crônico FTP à D exercendo efeito de massa. Evoluiu bem recebendo alta em " (folha 66). A Congregação das Filhas de Nossa Senhora Stela Maris elucidou: "... o senhor Nilton Ribeiro Santos, internado neste Hospital no dia , com cefaléia, vômito turvação visual (quadro de hipertensão intracraniano). Tomografia: mostra dilatação ventricular. Diagnóstico: Hidrocefalia. Tratamento: cirúrgico em , com derivação ventrículo-peritoneal com interposição de válvulo de holter de pressão média. Alta hospitalar em e acompanhamento ambulatorial..." (folha 77). Sobre a doença da qual é portador o Segurado - Hidrocefalia, extrai-se do laudo pericial: "... Hidrocefalia significa a distensão dos espaços liquóricos e particularmente dos espaços ventriculares resultantes de uma perturbação do fluxo normal do - 3 -

4 líquido cefaloraquidiano (LCR). Na caixa craniana o LCR circula em torno de todo o cérebro, através dos espaços subaracnóideos (espaço virtual formado pelas várias membranas que constituem as meninges que recobrem o cérebro) e penetra no parênquima cerebral através de ductos e foramens ligando a espaços liquóricos, denominados ventrículos e cisternas. É descrito na literatura médica as seguintes patologias que levam a obstrução da circulação normal do LCR, mediante lesões dos foramens e ductos que unem os ventrículos, a cisterna magna e os espaços subaracnoideos (Cambier, Neurologia, 1980 e Dugdale & Eisenberg, Medical Diagnosis, 1992): a) hidrocefalia pós-traumática decorrente de trauma craniano grave; b) hidrocefalia ocasionada por sequela de processos infecciosos, como meningite ou abcesso cerebral com lesão das meninges; c) hidrocefalia decorrente de hemorragias meníngeas, especificamente da membrana subaracnoidea; d) hidrocefalia por neoformações intracranianas, como tumores. A título de esclarecimento, existem outras formas de hidrocefalia, mas são todas de origem congênita e que se manifestam antes do nascimento ou já nos primeiros meses de vida da criança e também por problema de reabsorção do LCR ou por obstruções na sua circulação intracraniana. A hidrocefalia e a consequente dilatação ventricular levam progressivamente a lesões do parênquima cerebral, com probabilidade de ocorrer um quadro de deterioração intelectual e formação de focos epileptógenos responsáveis pelas crises convulsivas (quadro comicial)..." (folhas 86/87). A perícia médica foi categórica: "... apesar da grande diversidade de produtos químicos que são utilizados nos processos industriais modernos, procedemos a análise das principais substâncias que poderiam ser encontradas nas atividades desenvolvidas pelo autor. Não observamos relação potencial de causarem a patologia básica encontrada hidrocefalia com dilatação ventricular, e somente correlacionando a outras patologias que nãos as encontradas no autor. Analisamos, ainda de acordo com os conhecimentos médicos disponíveis, que entre as - 4 -

5 causas de hidrocefalia em adultos, não existem hipóteses relacionadas a intoxicações por substâncias químicas. Portanto, não se pode concluir de forma segura e objetiva, a existência de nexo causal entre essa patologia e as atividades ocupacionais que o autor realizou. "... Observa-se que o autor apresenta uma patologia hidrocefalia e quadro comicial crônico, mas que não apresenta nexo causal com as atividades desenvolvidas por ele ao longo de sua vida laboral. Assim, apesar de ser incapacitante para algumas atividades laborais que o exponham a riscos mecânicos, não se enquadra em critérios objetivos para sua definição como doença profissional ou do trabalho e, portanto, não sujeito ao benefício do auxílio-acidentário..." (folha 89). Restou demonstrado que a doença da qual o Requerente é portador não é de origem ocupacional. Não comprovado o nexo etiológico da moléstia com o ambiente do trabalho, inexiste incapacidade para sustentar a prestação acidentária. Em infortunística o que se repara em forma de prestações mensais, é a incapacidade resultante do acidente ou da doença profissional e não o fato em si mesmo considerado. O pressuposto do reconhecimento do direito ao benefício acidentário é a incapacidade e a prova de que ela resultou do trabalho 1. recurso. Em face ao exposto, nega-se provimento ao IRINEU PEDROTTI Relator 1-2º TACivSP - Ap. s/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz MARCIAL HOLLANDA - J