TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de, em que é apelante BRAZÃO DO LESTE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO LTDA sendo apelado POSTO DE SERVIÇOS ISIKAWA LTDA. ACORDAM, em 28ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MELLO PINTO (Presidente) e CESAR LACERDA., 22 de novembro de JÚLIO VIDAL RELATOR Assinatura Eletrônica

2 APELAÇÃO nº APELANTE: BRAZÃO DO LESTE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO LTDA APELADO: POSTO DE SERVIÇOS ISIKAWA LTDA COMARCA: SÃO PAULO VOTO N.º Ação declaratoria incidental ajuizada pelo réu, tem caráter de reconvenção e, assim, deve ingressar no prazo da resposta. O artigo 252 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça de prestigiado pelo Superior Tribunal de Justiça que autoriza nos recursos em geral, ser facultado ao relator limitar-se a ratificar os fundamentos da decisão recorrida quando, suficientemente motivada, houver de mantê-la. Recurso desprovido. Vistos. Cuida-se de ação declaratória incidental ajuizada por BRAZÃO DO LESTE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO LTDA contra POSTO DE SERVIÇOS ISIKAWA LTDA, julgada pela sentença (fls ) extinta sem exame de mérito nos termos do artigo 295, inciso III, cc artigo 267,I e VI do CPC. Fundam-se as razões do recurso no pedido de reforma por incorreção do julgado (fls ) nos termos que expôs. Sustenta a recorrente pretender a reforma da sentença que indeferiu a inicial ação declaratória incidental que teve por objetivo declaração de invalidade de documento e locação entabulada pelas partes. Diante do princípio iura novit curia não poderia o juízo monocrático julgar improcedente o pedido por inadequação de ritos e alegações inoportunas em ofensa ao princípio ventilado pelos doutrinadores (fls. 161). Aponta ipsis litteris como motivo a justificar a reforma da sentença toda a matéria deduzida na ação de despejo por falta de pagamento cumulada com cobrança de alugueres e encargos (fls. 164). Cita fatos a revelar violação do artigo 13 da Lei 8.245/91 que estaria a exigir do proprietário do imóvel prévio consentimento por escrito deste a possibilitar ao réu ceder, sublocar, emprestar o total ou parcialmente. Fatos não observados pelo réu que leva ao não reconhecimento do contrato de locação (fls. 11 dos autos principais Ação de despejo por falta de pagamento), estando o procedimento utilizado pelo apelado o disposto no artigo 138 do Código Civil pátrio. Pede a reforma da decisão de primeiro grau para os devidos fins de direito. Anota-se que o recurso é tempestivo, foi recebido, APELAÇÃO Nº SÃO PAULO VOTO Nº /6

3 processado, não contrariado, vieram os autos. É o relatório. A ação declaratória incidental atrelada a ação de despejo por falta de pagamento cumulada com cobrança de alugueres e encargos ajuizada em 30 de outubro de 2009, foi extinta sem exame de mérito por ter a recorrente utilizado de procedimento inadequado a solução da lide. No caso concreto de fato ajusta-se a matéria posta em discussão o princípio Iura Novit Cúria, mas não na hipótese a que se apega a recorrente (fls. 161). De fato o princípio latino identificado por Iura Novit Cúria é de pleno conhecimento da magistrada, a revelar que o juiz conhece o Direito. Assim cabe ao julgador apreciar a matéria posta em discussão observando as formalidades recomendadas pela legislação pertinente e, as circunstâncias de cada caso por ocasião da entrega da atividade jurisdicional. O pedido deduzido na ação declaratória vem atrelado à ação de despejo por falta de pagamento julgada procedente, conforme revela a prova dos autos principais. No caso concreto de fato a locatária é carecedora da ação declaratória incidental por ausência de interesse. Através deste procedimento busca em verdade, em razão do ajuizamento de uma ação de usucapião, anular o contrato de locação ou de sublocação firmado com a ré em julho de 1993, objeto de discussão nos autos da ação principal sob o fundamento da ocorrência de erro essencial (artigo 138 do CC pátrio) uma vez que a ré teria omitido quando da celebração do contrato que era locatária do imóvel objeto da sublocação e, que também, não havia esclarecido não ser a proprietária do imóvel o que invalida o contrato (fls.11 autos principais), insistindo na improcedência da ação de despejo por falta de pagamento cumulada com cobrança de alugueres e encargos. Em outras palavras a pretensão aqui deduzida pela recorrente quanto a anulação de ato jurídico (contrato ou negócio jurídico), amparada no vício de consentimento, diante do disposto no artigo 138 do CC pátrio, não encontra amparo na ação declaratória incidental. A ação declaratória incidental vem amparada no artigo 5º e 325 do CPC. Tem cabimento quando houver uma questão a ser decidida e declarada pelo julgador por dela depender a existência ou inexistência do direito discutido na ação principal. APELAÇÃO Nº SÃO PAULO VOTO Nº /6

4 A ação declaratória incidental não se ajusta a hipótese quando a parte pretende anular ato jurídico. Eventual ocorrência de erro (artigo 138 do Código Civil) vício de consentimento tem efeito constitutivo negativo e não declaratório o que, por sua vez, inviabiliza o ajuizamento da ação nos termos da inicial. Na hipótese dos autos pretende a promovente discutir o negócio entabulado entre as partes litigantes objetivando o não reconhecimento do contrato firmado em 1993 entre as partes com anulação do documento a impedir que o mesmo continue produzindo efeitos a justificar as alegações contidas na ação principal por não ter a ré obtido anuência das pessoas ali identificadas (Espólio e herdeiros das pessoas ali identificadas como possuidores ou titulares do imóvel objeto da locação). Como o consignado pela Doutora Daniela Carla Russo Greco de Lemos, que deu correta solução a lide, a ação declaratória incidental deveria ter sido apresentada no prazo da contestação por se tratar de matéria preexistente e não através da via autônoma, cujo procedimento vem utilizado pela promovente de forma intempestiva. A ação declaratória incidental, ajuizada pelo réu, tem caráter de reconvenção e, assim, deve ingressar no prazo da resposta. A título de mera ilustração - entendimento que de há muito vem sendo prestigiado pela doutrina e jurisprudência. Nesse sentido (AC. da Câmara Especial do TA-RS, Vol.27, página 305). Acórdão inserto in Alexandre de Paula O processo Civil à Luz da Jurisprudência Artigo 1º a 90, Editora Forense Rio de Janeiro 1982 página 77 nota 291 Artigo 5º do CPC. A ação declaratória foi ajuizada em peça autônoma em 19 de outubro de 2009 (fls.02), enquanto que a contestação foi apresentada pela apelante nos autos da ação principal em 21 de novembro de Artigo 325 do CPC Contestando o réu o direito que constitui o fundamento do pedido, o autor poderá requerer, no prazo de dez dias, que sobre ele o juiz profira sentença incidente, se da declaração da existência ou da inexistência do direito depender, no todo ou em parte o julgamento da lide. A não deixar dúvida o dispositivo legal disciplina especificamente a ação declaratória incidental pelo autor, enquanto, que o artigo 5º regulamenta a mesma ação declaratória incidental de forma genérica, o que possibilita a propositura da declaratória pelo APELAÇÃO Nº SÃO PAULO VOTO Nº /6

5 réu. O preceito consagra a chamada ação declaratória incidental. Incidental porque proponível no mesmo processo, a ser deduzido pelo autor (artigo 325 do CPC) ou pelo réu (artigo 5º do CPC) porquanto a lei fala em qualquer das partes, no prazo do artigo 297 do CPC, sob a forma procedimental de reconvenção. Como no artigo 4º a lei exige que se trate de relação jurídica, mas aqui é necessário que esta seja prejudicial, isto é, que tenha de ser apreciada antes como pressuposto lógico necessário da decisão sobre o pedido (a lei fala em depender do julgamento da lide). É o que acontece nas hipóteses de alegação de nulidade ou inexistência de um contrato. Tal relação precisa ainda ser objeto de controvérsia no processo (a lei diz se (...) se tornar litigiosa relação jurídica, sob pena de carência por falta de interesse; por isso a existência de contestação é indispensável. E, finalmente, a sentença em que o juiz realiza a declaração é a mesma que se dá o julgamento da causa, ficando, também coberta pela coisa julgada a decisão incidente ( v. artigo 470 do CPC). São requisitos da declaração incidente: a) o pedido deve versar sobre relação jurídica e não de fato; b) a relação jurídica precisa ter se tornado controvertida pela contestação; c) o juiz deve ser competente para a causa incidente. A sentença que a lei diz incidente, deve ser entendida apenas que a decisão da declaratória estará embutida na sentença única do processo: não tem o menor cabimento a idéia de que uma sentença autônoma deva ser proferida. (v. nota ao artigo 5º e remissões respectivas). Costa Machado, Código de Processo Civil Interpretado, 8ª Edição, 2009, página 371 e seguintes. De maneira que a não tornar repetitiva a apreciação da matéria posta em discussão neste procedimento levando em consideração que os fatos foram bem analisados pela magistrada dando correta solução a demanda, merece ser prestigiada por seus jurídicos fundamentos, observando o disposto no artigo 252 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça de São Paulo prestigiado pelo Superior Tribunal de Justiça e pelo Supremo Tribunal Federal a revelar que nos recursos em geral, o relator poderá limitar-se a ratificar os fundamentos da decisão recorrida, quando suficientemente motivadas, houver de mantê-las. Nesse sentido, pode-se citar inúmeras decisões originárias não só do Superior Tribunal de Justiça,como também originárias do Supremo Tribunal Federal. APELAÇÃO Nº SÃO PAULO VOTO Nº /6

6 Nesse sentido Resp nº RS, 2ª Turma, Rel. Min. João Otavio de Noronha, j ; Resp nº Al, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, j Originários do Supremo Tribunal Federal ao adotar os fundamentos de parecer do Ministério Publico com fundamento para decidir, Ministro Dias Toffoli, Re e , j , ao acompanhar na integra o parecer da Procuradoria Geral da Republica, adotando ao estilo prestigiado pela corte ( cf. Aço 804/RR, Relator Ministro Carlos Brigo, DJ ; AO 24-RS, Rel. Ministro Mauricio Correa, DJ ; RE /SP, Relator Ministro Neri da Silveira DJ 01/08/2000). Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso. Júlio Vidal Relator APELAÇÃO Nº SÃO PAULO VOTO Nº /6