Cine Imperator a Relevância de um Reduto Cultural no Bairro do Méier, Rio de Janeiro
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- Carlos Galindo Carrilho
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1 Cine Imperator a Relevância de um Reduto Cultural no Bairro do Méier, Rio de Janeiro Stephane Rodrigues do Amaral Graduanda do Instituto de Geografia da UERJ stephanerodrigues19@yahoo.com.br O bairro do Méier, como diversos do subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, desde o fim do século XIX tem experimentado sua expansão e desenvolvimento a partir de fluxos e demandas comandadas pela maturidade e primazia urbana do Centro da cidade. Segundo o geógrafo Maurício Abreu, a ocupação urbana do subúrbio carioca inicia-se com a estrada de Ferro D. Pedro II, em 1858, em locais outrora ocupados por chácaras, fazendas e engenhos. A partir de então passou a servir de diferentes formas, primeiro como área estritamente residencial, e em meados do século XX concentrando uma cadeia de estabelecimentos comerciais e de serviços conferindo uma centralidade exponencial e uma área de abrangência formada pelos bairros do entorno, tais como Lins, Pilares, Todos os Santos, entre outros, atendendo a um mercado consumidor em meio ao crescimento populacional. O processo de descentralização e formação de núcleos secundários na tentativa de resolver problemas de repulsão econômica no âmbito industrial na década de 40 impulsionou uma nova lógica de produção do espaço da área suburbana promovendo uma nova dinâmica espacial para o bairro do Méier. Nesse sentido, a promoção da modernidade experimentada pela estrutura consolidada de fixos e fluxos materiais e imateriais produzidos no espaço por equipamentos urbanos e principalmente culturais, nos proporciona uma análise da lógica espacial e do cotidiano vivido capaz de criar intrinsecamente identidades e noções de pertencimento nos seus moradores. Neste contexto, busca-se neste trabalho através de bases teóricas que privilegiam a noção de (re) valorização espacial, identidade, valor simbólico e produção do espaço analisar os diversos referenciais simbólicos e culturais que o antigo Cine Imperator, e atual Centro Cultural João Nogueira, imprimem nos moradores e na dinâmica espacial do bairro do Méier desde a década de 80. O Méier, bairro residencial de grande expressão na 1
2 urbe carioca, possui um subcentro que originalmente era embrionário e, hodiernamente, tornou-se amplo e rico em comercio e serviços, um domínio espacial que se consolidou como referência de lazer, cultura, comércio e moradia para todo o Grande Méier e adjacências, cujo logradouro primaz é a Rua Dias da Cruz. Portanto, a construção do Cine Imperator, em 1954, com capacidade para 2400 espectadores, a maior sala de cinema da América Latina, em seu tempo inaugural, produziu uma nova centralidade no espaço em tela e em pleno desenvolvimento econômico e social. O bairro, nestas circunstâncias, tornou-se referência cultural na cidade ao longo da década de oitenta, com a sucessiva (re) funcionalização desta casa de espetáculos, garantindo sua dinâmica cultural na década de noventa, onde se apresentaram artistas internacionais como Shirley MacLaine, bem como nacionais (Antônio Carlos Jobim, Zeca Pagodinho, entre outros). O bairro, mereceu por vários anos um programa radiofônico intitulado Méier, uma Cidade o que ratificou seu vigor e palco de intensas interações espaciais. Diante das transformações sócio-espaciais empregadas pela herança simbólica e cultural do Cine Imperator, descortinamos toda a influência espacial do fixo em questão. Atualmente o Imperator, como é conhecido pelos moradores das cercanias, abrigando uma feira de artesanato, algo bastante típico em parte da urbe carioca. Entretanto, o Governo do Estado em parceria com a Prefeitura propôs uma refuncionalização do espaço com a criação do Centro Cultural João Nogueira, homenagem ao compositor/cantor, que contemplará uma sala de espetáculos, três cinemas, área para exposição, livraria, midioteca e uma área de convivência para os residentes do perímetro em tela e seus arredores, bem como reverenciando a obra do sambista João Nogueira, natural do bairro e patrono do espaço., com um acervo sobre a sua trajetória artística. A metodologia da pesquisa foi baseada em trabalhos de campo e coleta de dados através de entrevistas com os moradores, além de conversas informais que detectaram o caráter simbólico deste reduto de entretenimento ou de compras. Tais entrevistas são elementos relevantes para se traduzir as dimensões econômica e simbólica que esse novo projeto abarcará no extinto Cine Imperator. Este é, sem dúvida, o nosso desafio: descortinar a carga simbólica do referido cinema e sua metamorfose a ser empreendida pela Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. Justificando a temática: 2
3 Quando escolhemos um tema nossos motivos sempre estão relacionados á nossa experiência de vida carregada de algum posicionamento científico e ideológico. Nesse sentido o presente estudo e a busca por uma abordagem do valor simbólico e identitário do fixo em questão, se dá, em primeiro lugar pela minha experiência no subúrbio carioca desde o meu nascimento e o meu enorme prazer em trabalhar conceitos geográficos como Espaço e Lugar, termos, aliás, cada vez mais solicitados por outras áreas além da geografia. Objetivos e questionamentos: O trabalho utiliza-se de abordagens teóricas sobre o espaço geográfico para oferecer subsídios relevantes a um estudo de caso sobre como os usos e desusos de certos lugares estão totalmente relacionados á reestruturação de um conjunto de relações abstratas que formam um todo integrado e subjacente à variedade dos fenômenos em termos funcionais, a intervenção do poder público e seus novos projetos de revitalização, assim como a disseminação de outras redes de serviço, provocadas a partir da construção de um centro cultural para o bairro do Méier, podem apresentar um grande impacto para o grande sub-centro Regional. Compreender a carga simbólica do Cine Imperator para a população do Méier e a dinâmica espacial torna-se o foco da nossa investigação, na busca dos principais agentes produtores do espaço. Espaço este que assume uma dimensão simbólica, já que é materializado por diversas classes sociais que vivem e se reproduzem nele. Fragmentado e Articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas esse é o Espaço. O espaço não é um objeto científico afastado da ideologia e da política; sempre foi político e estratégico. Se o espaço tem uma aparência de neutralidade e indiferença em relação aos seus conteúdos e, desse modo, parace ser puramente formal, a epítome da abstração racional, é precisamente por ter sido ocupado e usado e por já ter sido foco de processos passados cujos vestígios nem sempre são evidentes na paisagem. O espaço foi formado e moldado a partir de elementos históricos e naturais, mas esse foi um processo político. O espaço é político e ideológico. È um produto literalmente repleto de ideologias. (LEFEBVRE, 1991, p. 64) Segundo Haesbaert (2206), a idéia de produção do espaço cunhada por Lefebvre pode ser entendida através da associação do Binômio apropriação/dominação. 3
4 Nesse contexto entendemos o Cine Imperator como espaço apropriado, por ser preenchido de carga simbólica, tendo assim um caráter mais subjetivo. Essa construção subjetiva de identidades locais a geografia vidaliana chama de vida de relações as relações espaciais que são capazes de ligar os lugares torna-se um ponto essencial para a abordagem contemporânea da identidade geográfica. Massey definiu o lugar como fenômeno social expresso no espaço: nessa medida, os lugares não mais se oferecem necessariamente ao exame como recipientes identitários fixos e voltados para eles mesmos, mas como redes porosas, abertas ás relações sociais, que situam toda a efervescência identitária local em um contexto de fluxos relacionais mais amplos. Descortinando inúmeras possibilidades de revalorização desse lugar, seja por parte do Estado ou de outros atores sociais provedores daquele espaço material, sempre ocorrerá divergência de idéias e interesses com relação ao destino do nosso Cine Imperator. È bem verdade, que para a população classe média baixa que vive do comercio de feirinha de artesanato estabelecido atualmente no Imperator, a criação de um espaço cultural talvez não se apresente como um bom projeto. Mas até que ponto um espaço público deve ser reaproveitado para atender a uma classe e ignorar o interesse de outra. E quais impactos a recuperação desse reduto cultural acarretará não só para o bairro mais para todo um entorno extremamente carente de investimentos e alternativas culturais. Nesse início de pesquisa acredito não chegar a conclusões definitivas, mas desenvolver algumas pistas a respeito da dimensão econômica e simbólica que esse projeto revitalizador apresenta como meta para a dinâmica daquele espaço. Referência Bibliográfica: ABREU, M. Evolução urbana do Rio de Janeiro. IPLANRIO, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, CORRÊA, R. L. O espaço urbano. 4 ed. Série Princípios. São Paulo: Àtica, HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização: do fim dos territórios á multiterritorialidade. 2 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006,p LEFEBVRE, H. O direiro à cidade. São Paulo: Moraes,
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