GÊNESE E ARRANJO ESPACIAL DO COMÉRCIO NO BAIRRO DE CACHAMBI*
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1 GÊNESE E ARRANJO ESPACIAL DO COMÉRCIO NO BAIRRO DE CACHAMBI* Ana Paula Silva de Araújo INTRODUÇÃO Este projeto analisará os impactos provocados pela implantação de um subcentro planejado, o Norte Shopping, a partir de sua mais nova ampliação no comércio de rua do bairro de Cachambi, pertencente à XII Região Administrativa do Méier. A interferência de um Shopping Center no desenvolvimento de uma nova configuração na organização da estrutura do mercado no espaço, anteriormente inexistente, sendo simultaneamente concentrador de grande parte das atividades terciárias e centralidade para a instalação de outras atividades em seu entorno, despertou o interesse em estudar as transformações no espaço urbano em tela. OBJETIVOS Diante disso, o objetivo será analisar o arranjo espacial do comércio de rua do bairro em estudo a partir da implantação de um Shopping Center, tendo como uma das finalidades específicas, analisar a funcionalidade de um subcentro planejado em expansão. METODOLOGIA Quanto ao caminho de investigação foram elaboradas as seguintes questões: Qual o impacto do subcentro planejado no setor de bens e serviços em Cachambi? Que tipos de bens e serviços são encontrados em Cachambi? O objetivo e questionamentos apresentados serão respaldados numa revisão bibliográfica conduzida aos temas da geografia urbana, assim como, trabalhos voltados para os impactos provocados por Shopping Centers no que diz respeito ao setor de bens e 1 1
2 serviços no espaço urbano. No manejamento da parte empírica do presente trabalho, lançamos mão de um trabalho de campo, que se fundamentou em entrevistas a moradores, lojistas, entre outros, além do mapeamento do setor terciário existente. 1. CARACTERIZANDO UM SUBCENTRO. Para darmos início a um trabalho sobre as transformações no comércio de rua geradas por um empreendimento comercial de grande porte, como um Shopping Center num determinado bairro, a idéia de subcentro deve ser considerada para que possamos obter uma introdutória compreensão a respeito do processo de construção do espaço suburbano carioca e aliar nosso objeto de estudo a uma fundamentação teórico-conceitual. Compreendemos subcentro como a área que apresenta uma concentração de atividades terciárias integradas de menor deslocamento exercendo intensa influência em outras áreas, mas ainda submissa à Área Central, ocupando espaços representados por logradouros de um bairro. Para uma maior complementação apresentaremos algumas características próprias a um subcentro, sendo elas, segundo Duarte (1974, p.59): maior acessibilidade em relação ao transporte e aos meios de comunicações; atividade comercial diversa e especializada; presença de bancos, agências de financiamentos e investimentos; serviços profissionais superiores: consultórios médicos, escritórios de advocacia, contabilidade etc; atividades culturais e de lazer, que tornam o centro atrativo. Uma das inúmeras resultantes do processo de descentralização das atividades terciárias da Área Central e elemento característico da dinâmica organização espacial intra-urbana, o subcentro, representa a flexibilidade do capital em se infiltrar em áreas periféricas distantes subúrbio, fornecedoras de uma grande demanda de consumidores e de força de trabalho, além de tornar acessível à população suburbana determinados serviços restritos à Área Central. Por outro lado, o subcentro antes de se consolidar como tal é uma resultante de forças do passado e de fatores do presente, mas em todos eles, já se esboçam alguns traços do futuro, que cabe ao geógrafo distinguir (SOARES, 1981, p.49). Tais elementos podem ser analisados por meio do crescimento horizontal de um determinado centro urbano, populacional e de bens e serviços, que propicia uma diligência à disposição da acomodação dessa estrutura expansionista no espaço. Inicialmente isto procederia a partir de 2 2
3 um crescimento demográfico, tendo igualmente motivações financeiras, ora pela saturação do centro, ora pela especulação imobiliária e comercial, sendo esta última (comercial) em decorrência da valorização da localidade, que empurra certos serviços de menor prestígio para novas áreas de acomodação pelo fato de o centro estar inexequível economicamente de abranger estes serviços. Existem subcentros de diferentes funções e categorias hierárquicas, mesmo assim, todos possuem uma característica comum às Áreas Centrais: o processo de coesão, (...) um movimento que leva as atividades a se localizarem juntas (CORRÊA, 1995, p.56), cada um desenvolvendo um padrão espacial de comércio. Quanto a esse teremos na descentralização do setor varejista, uma nova configuração no espaço suburbano, sendo, portanto, o próximo tema a ser trabalhado. 2. O COMÉRCIO VAREJISTA E SUAS NUANCES O processo de descentralização do sistema de comércio varejista nas áreas mais afastadas ao núcleo central teve papel essencial nas profundas transformações no espaço urbano carioca no que tange o alargamento de seus serviços. Tal processo ligado a uma atividade intensamente dinâmica representa uma distribuição espacial do comércio de forma dispersa e seguidora de uma lógica organizacional que também indicará outros pontos de atração. Analisar o comércio varejista como importante mecanismo de transformação da estrutura urbana é considerar que o seu processo de inserção nas áreas periféricas, a descentralização, representa um momento onde um núcleo central sofre com perdas de determinadas amenidades e desenvolvimento de certos obstáculos que dificultarão o custeio de algumas atividades, isto é, deseconomias de aglomeração, que para uma melhor exemplificação nos basearemos em CORRÊA, (1979, p.102) ao indicar que: uma alta valorização do solo urbano; um congestionamento e encarecimento dos meios de transporte e de comunicações; falta de espaço para a implantação e ampliação de determinados empreendimentos; baixa qualidade de vida nos grandes centros entre outros. Ademais, vale enfatizar as atrações próprias às áreas periféricas que vão servir como uma nova alternativa para grande parte das atividades econômicas do grande centro, como 3 3
4 recursos naturais às indústrias; força de trabalho e mercado consumidor disponíveis; terrenos de baixo valor. Devemos considerar que este deslocamento econômico não tornou o Central Business District (CBD) totalmente desprovido de importância econômica e administrativa, porquanto cada atividade comercial e industrial teve uma distinta reação consoante suas diversas particularidades, permanecendo ainda como uma centralidade, referência, a centros secundários detendo as sedes administrativas de diversos empreendimentos. Dando um salto nas incongêneres racionalidades econômicas que contribuíram na estruturação do espaço urbano carioca, seguiremos para a distribuição do comércio varejista direcionada ao modo de produção capitalista flexível. Esse deslocamento de atividades terciárias articuladas sob um único empreendimento comercial nos revelará, segundo Vargas (1993, p.746) que, as transformações na economia e as mudanças tecnológicas, aliadas às grandes concentrações populacionais, levam a uma alteração na forma da apropriação do espaço destinado às atividades comerciais varejistas. Em síntese, a descentralização vigente aparecerá na maior parte em meio a esse complexo logístico comercial remodelando as atividades preexistentes em seu entorno e contribuindo num movimento continuo de geração de novos centros urbanos. 3. PANORAMA ECONÔMICO NA IMPLANTAÇÃO DO SHOPPING CENTER NO BRASIL E NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO No intuito de atingirmos uma melhor compreensão do papel do Shopping Center na ordenação do espaço urbano, far-se-á oportuno analisar a estrutura econômica vigente que influenciou intensamente a implantação desses empreendimentos comerciais e imobiliários. Para isso trataremos sumariamente este fenômeno no Brasil, refletido também na cidade do Rio de Janeiro. Intencionando uma acumulação ampliada do capital, segundo Gaeta (1992, P.45), o governo brasileiro adotou uma racionalidade burguesa, (GAETA, 1992, P.45) representando um aumento de investimentos financeiros inseridos de acordo com uma monopolização. Tais investimentos serão concentrados na região sudeste do país, onde há uma maior industrialização e urbanização; um grande contingente populacional indicando um 4 4
5 forte mercado consumidor; mão-de-obra; sendo também necessário considerarmos o fato de ser esta a região que concentra maior poder aquisitivo. Serão esses os principais fatores de atração que exemplificarão num contexto geral a inserção da maioria dos Shopping Centers no Sudeste brasileiro. Quanto à monopolização desses investimentos financeiros feitos pelo setor público e privado que orbitam sobre os Shopping Centers, teremos um comércio varejista bem articulado e centralizado seguindo minuciosamente as regras de um contrato estabelecido por um setor administrativo e essencialmente planejado que gerará em curto prazo um lucro máximo. Sob outro ângulo de análise, podemos constatar que o Shopping Center, também um empreendimento monopolista, provocará um impacto na configuração do arranjo espacial do comércio, mesmo sendo um núcleo comercial varejista concentrador do poder econômico de uma determinada área, porque simultaneamente, poderá influenciar na geração de atividades terciárias fora de seu circuito de controle expondo o potencial de seu raio de influência como uma centralidade. Realizando uma avaliação do estágio atual de transformações no espaço urbano pelo Shopping Center, veremos que sua inserção como subcentro planejado, mais especificamente no Rio de Janeiro, não esterilizará o comércio de rua em seu entorno, ou como nas palavras de Bienenstein (S/N, S/D): Sua existência, tanto nas cidades dos países capitalistas hegemônicos quanto nos países periféricos, não anula a permanência de outras formas de ambiente construído destinado ao consumo; quais sejam as galerias e os centros comerciais, assim como o tradicional comércio de rua. Muito pelo contrário, o Shopping Center será parte de um subcentro planejado em expansão redefinindo formas e criando fluxos, o que será retratado mais à frente tendo como modelo o Norte Shopping em questão. 4. CACHAMBI: UM SUBCENTRO PLANEJADO EM EXPANSÃO Um dos bairros pertencentes à XII Região Administrativa do Méier, Cachambi, foi adquirindo um significativo relevo com a implantação de um hipermercado Carrefour e posteriormente com a inauguração do Norte Shopping. Tal relevância não está enfocada somente nas centralidades apresentadas acima, mas foi se desenvolvendo através do 5 5
6 processo de valorização do solo urbano e de um incremento paulatino do comércio de rua local. Assim como a maior parte dos bairros do subúrbio carioca, Cachambi já recebeu fábricas de portes variados, abrigando a mão-de-obra empregada e tendo, com efeito, um comércio de bairro tradicional oferecendo produtos de primeira necessidade para os moradores que em sua maioria freqüentavam o subcentro Méier em busca de outras atividades e artigos mais específicos. Com a chegada de um Shopping Center próximo à antiga Avenida Suburbana, o comércio de rua inicia o empreendimento de adaptação à nova dinâmica de fluxos para sobreviver na competição pelo mercado consumidor e a configuração espacial do comércio de rua nos mostra variados rearranjos em sua forma e conteúdo ao longo da realização das expansões da estrutura física do Shopping Center. Pela operacionalização do projeto considerado, ainda não nos foi possível coletar dados referentes ao histórico das possíveis evoluções do comércio do bairro, sendo assim, poderemos analisar o arranjo espacial do comércio em função da externalidade do Shopping Center em estudo. As atividades exógenas ao Norte Shopping, no que diz respeito ao bairro de Cachambi, estarão ligadas aos itens de primeira necessidade tendo ainda um caráter de comércio de um bairro tradicional, porém, existindo agências bancárias próximas ao recente edifício empresarial pertencente ao Shopping, o que não ocorria no momento anterior à sua implantação, filiais de lojas de ladrilhos e de motos, concessionárias, dois centros de informática e uma considerável concentração de camelôs no arredor do Shopping, além de pontos de transportes alternativos indubitavelmente oportuno para atender o fluxo de pessoas que se avultou ulteriormente a seu funcionamento, que já vivenciaram variadas transformações em sua organização territorial. O Norte Shopping possui um raio de influência que possivelmente abrangeria um número considerável de outras áreas e por outro lado não é o único a ter importância na composição da estrutura de seu bairro de inserção, mas a proximidade com a Avenida Dom Hélder Câmara e a Catedral Mundial da Fé apontam para uma superposição de centralidades que contribuem para a gênese e arranjo espacial de um subcentro planejado em expansão. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 6 6
7 Baseando-se no breve retrospecto de alguns temas apresentados como subcentro, comércio varejista e Shopping Center, mesmo na ausência de determinados dados estatísticos ligados ao comércio, poderemos solucionar os questionamentos levantados atingindo os objetivos propostos neste trabalho. Deste modo, consideraremos que o impacto do subcentro planejado no setor de bens e serviços foi o de incrementar sua forma e seu conteúdo inserindo novos agentes e elaborando uma teia de relações sociais e econômicas apontando para um Shopping Center que tenta concentrar e monopolizar as atividades comerciais em seu raio de influência, mas que não conseguirá finalizar com o comércio tradicional e sim o remodelará. Quanto à tipologia comercial apresentada pelo bairro em fusão ao Shopping Center teremos uma gama de serviços de diferentes qualidades e categorias que justificarão a enorme abrangência do raio de influência desta centralidade. Por conseguinte, Cachambi representa mais um subcentro planejado que possui atividades terciárias descentralizadas na forma de Shopping Center havendo uma monopolização do espaço do comércio e do consumo e uma resistência desse mesmo espaço na competição por um mercado de consumo. Nesse sentido vemos exemplificado a convivência de circuitos superiores e inferiores da economia, onde de acordo com Bienenstein (S/N, S/D), combinando os interesses dos investidores e dos comerciantes, concentrando e explorando adequada e racionalmente as diversas vantagens relacionadas à economia de escala e de aglomeração, ele (re) define a centralidade, (re) valoriza as áreas e engendra novas possibilidades. (...). O impacto espacial provocado por um Shopping Center numa localidade, além de concentrar determinadas atividades e expandir o seu raio de influência, irá gerar um arranjo espacial do comércio de rua em seu entorno que se beneficiará de sua externalidade. REFERÊNCIAS BIENENSTEIN, G. Shopping: O Fenômeno e sua essência capitalista. Universidade Federal do Rio de Janeiro. S/N, S/D. 7 7
8 CORRÊA, Roberto Lobato. Processos Espaciais e a Cidade. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v.43, n.3, 1979, pp O Espaço Urbano. São Paulo: Ática S.A., DUARTE, Haidine da Silva Barros. A Cidade do Rio de Janeiro: Descentralização das Atividades Terciárias. Os Centros Funcionais. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v.36, n.1, 1974, pp GAETA, Antonio Carlos. Gerenciamento dos shoppings centers e transformação do espaço urbano. In: PINTAUDI, Silvana Maria & FRÚGOLI JR., Heitor (Orgs). Shopping centers: espaço, cultura e modernidade nas cidades brasileiras. São Paulo: Ed. UNESP, 1992, pp VARGAS, Heliana Comin. Shopping Centers: novas relações entre a atividade comercial e o espaço urbano. Anais do V Encontro Nacional da ANPUR, Belo Horizonte, 1993, pp SOARES, Maria Therezinha de Segadas. O Conceito Geográfico de Bairro e sua Exemplificação na Cidade do Rio de Janeiro. Boletim Carioca de Geografia, Rio de Janeiro, v.11, n.3/4, 1981, pp
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