Maria Augusta Ribeiro Pedrão. Ana Heloisa Molina (orientadora). 3
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1 GEORGINA DE ALBUQUERQUE E ANITA MALFATTI: REPRESENTAÇÕES SOBRE A MULHER NA PRIMEIRA REPÚBLICA. 1 Maria Augusta Ribeiro Pedrão guta.ribeiro@hotmail.com 2 Ana Heloisa Molina (orientadora). 3 RESUMO: O objetivo desse texto é apresentar apontamentos teóricos, dentro do campo das visualidades, acerca da condição feminina na Primeira República ( ). Através de obras das pintoras Anita Malfatti e Georgina de Albuquerque, produzidas nas primeiras décadas do século XX, buscaremos compreender as representações das mulheres, assim como a mulher enquanto pintora e dentro do contexto do Movimento Modernista brasileiro. Palavras-chave: Representação, mulher, Primeira República. ABSTRACT: The objective of this text is to present theoretical notes, inside of the field of the visuality, concerning the feminine condition in the First Republic ( ). Through workmanships of painters Anita Malfatti and Georgina de Albuquerque, produced in the first decades of century XX, we will search to understand the representations of the women, as well as the woman while painter and inside of the context of Brazilian Modernist Movement. Keywords: Representation, woman, First Republic. A representação da mulher nas telas das pintoras Georgina de Albuquerque e Anita Malfatti é semelhante? A visão que elas tinham sobre a figura da mulher era a mesma? Como essas artistas constroem essas representações? Em quais pontos se assemelham? Em quais pontos diferem? Existe uma afinidade, uma compatibilidade entre suas obras? Essas são algumas das respostas que pretendemos encontrar, ao longo de nossa pesquisa, às perguntas feitas às fontes textuais e imagéticas. Dentro do campo das visualidades, buscamos perceber qual a concepção de mulher as pintoras Georgina de Albuquerque ( ) e Anita Malfatti ( ) expressaram através de suas obras, nas três primeiras décadas do século XX. As diferenças e semelhanças na visão dessas duas artistas; localizadas no mesmo período, porém em 1 Tema a ser desenvolvido como Trabalho de Conclusão de Curso. 2 Graduanda em História. Universidade Estadual de Londrina. 3 Professora do Departamento de História. Universidade Estadual de Londrina. 786
2 espaços diferentes, vivenciaram o mesmo contexto e mudanças mundiais advindas do chamado Modernismo, que influenciou não apenas a arquitetura e as artes, como também as ciências, as religiões, enfim, todas as relações. Georgina de Albuquerque nasceu em Taubaté no estado de São Paulo mas ainda jovem muda-se para o Rio de Janeiro, onde irá morar até sua morte. Sua formação artística começa cedo, quando aos 15 anos tem aulas com o pintor Rosalbino Santoro que vai passar uma temporada em sua casa. Já no Rio de Janeiro estuda na Escola Nacional de Belas Artes e casa-se com, o também pintor, Lucílio de Albuquerque. Viaja para Paris onde estuda na Ècole Nationale Supérieure des Beaux-Arts e na Académie Julian. Anita Malfatti, assim como Georgina, começa bem jovem seus estudos artísticos com sua mãe Bety Malfatti, também vai estudar no exterior, principalmente em Berlim onde recebe sua principal influência: o expressionismo. Posteriormente estuda também em Nova Iorque e Paris. Essa breve história da formação dessas duas artistas nos permite perceber suas principais influências. Georgina, com viés impressionista, e Anita, particularmente expressionista, foram figuras importantes do Movimento Modernista brasileiro, assim como na trajetória e conquistas femininas, em uma sociedade onde as mulheres encontravam-se em posição de buscas e conquistas sociais. Apesar da posição preterida da mulher, essas duas pintoras irão inovar e romper com padrões aceitos na época. Georgina ousou ser a primeira mulher a pintar uma tela com tema histórico 4, tema próprio antes apenas a homens, e utilizar técnica impressionista, até então não aceita na Academia. Anita é ainda mais ousada, para romper definitivamente com os padrões da época, apropria-se de técnicas expressionistas aliadas a temas inovadores. Atitudes essas sempre acompanhadas de críticas severas, que irão influenciar em suas trajetórias, mas não desestimulá-las a ponto de desistirem da pintura. Georgina lutou por maiores espaços para as mulheres inclusive ao conseguir o cargo de diretora da Escola Nacional de Belas Artes ( ), sendo a primeira mulher a consegui-lo. O Movimento Modernista brasileiro representou uma insatisfação com a arte vigente e o questionamento dos valores dominantes, buscando a reflexão e construção de uma arte nacional, é nesse contexto que pretendemos analisar quais as representações que essas duas pintoras tinham, e expressavam através de suas obras, da mulher. Esse estudo irá também nos proporcionar uma maior compreensão acerca das questões femininas na primeira metade do século XX. Não apenas a representação que a Em 1922 Georgina pinta a tela Sessão do Conselho de Estado que decidiu a Independência.
3 mulher fazia sobre si, mas também as questões da mulher enquanto pintora e membro dessa sociedade, que poucas alternativas proporcionavam principalmente no que diz respeito a assuntos profissionais - principalmente em espaços públicos e na Academia. Essas mulheres tinham anseios, medos, vontades, encontraram muitas barreiras e fizeram muitas conquistas, que acabaram por abrir caminhos e abriram espaço às mulheres que iriam, no futuro, entrar no universo da arte e da Academia Utilizaremos os fundamentos propostos por Ulpiano T. Bezerra de Meneses para refletir sobre História Visual, deslocando a atenção dos historiadores do campo das fontes visuais para o da visualidade como objeto da historicidade, onde qualquer que seja o documento, o objetivo será sempre a dimensão visual da sociedade. Para isso: Nessa passagem do visível para o visual, foi necessário reconhecer e, de certa maneira, integrar três modalidades de tratamento: o documento visual como registro produzido pelo observador; o documento visual como registro ou parte do observável, na sociedade observada; e, finalmente, a interação entre observador e observado. (MENESES, Ulpiano T. B. de, 2003:17) Além desses pontos, outros, segundo Meneses, devem ser tratados com atenção: as condições técnicas e sociais em que foram produzidos e consumidos esses documentos; a importância de se construir conhecimento novo a partir das fontes visuais e não acrescentar às imagens informações históricas externas a elas; e, também, estudar a cultura material como dimensão intrínseca à produção e reprodução social Outros autores nos auxiliam a tratar do tema em questão e podemos citar Peter Burke, Eduardo França Paiva, Carlo Ginzburg entre vários. Ginzburg nos auxilia também na metodologia, e irá nos propor o que ele chama de um paradigma indiciário. Para esse autor os historiadores, assim como os caçadores, detetives e médicos, devem buscar seus objetivos nos efeitos, já que a causa é perdida. Ou seja, devemos buscar no presente vestígios do passado, sejam documentos, cartas, imagens, sons, qualquer tipo de vestígio pode ser útil em nossa busca, para melhor compreendê-lo. Peter Burke em Testemunha Ocular nos aponta como trabalhar com imagem enquanto evidência histórica, e principalmente nos adverte dos perigos para quem faz essa escolha. Para o autor não devemos nos limitar a fontes tradicionais, como documentos oficiais, pois essas fontes nos permitirão compreender apenas uma visão, uma parcela da sociedade estudada. Daí a importância de buscarmos outros tipos de fontes como as imagens e os testemunhos orais. Contudo não se trata de uma tarefa fácil, no caso das imagens para que sejam utilizadas de forma eficaz devemos estar ciente de suas 788
4 fragilidades; como os propósitos dos produtores dessas imagens, assim como não esquecer que essas imagens registram um ponto de vista e não a verdade incontestável dos fatos. Mas se tomarmos esses cuidados poderemos então interpretar as estruturas e representações de uma determinada época. O livro, História e Imagem de Eduardo França Paiva, convida-nos a refletir também acerca das questões metodológicas no estudo das imagens enquanto evidências históricas. Segundo Paiva, devemos partir de uma leitura crítica problematizando (através das perguntas iniciais: quando? Onde? Quem? Para quem? Para quê? Por quê?), contextualizando, relativizando e desconstruindo. Como pesquisar também qual uso vem sendo feito dessas imagens, buscar o que nelas não se encontram como os vazios, os silêncios, as ausências. Entretanto, assim como Burke, nos alerta para alguns perigos como o fato da fonte histórica trazer embutida as escolhas e valores do produtor bem como o contexto na qual foi realizada e o fato de que essas leituras são sempre feitas do presente em direção ao passado, ou seja, parte-se sempre de inquietações e padrões do presente para se investigar uma sociedade com inquietações e padrões diferentes. Mediante tais considerações teóricas e metodológicas sobre o campo da visualidade, realizaremos um exercício visual com a tela Tropical (1917) de Anita Malfatti e a tela Canto do Rio (1920) de Georgina de Albuquerque, que seguem em anexo. Nessa atividade nos propomos a perceber afinidades e diferenças entre as telas inseridas no mesmo contexto temporal. Na tela Canto do Rio, de Georgina, vemos a pintura de duas moças, pertencentes à alta classe da sociedade carioca, à frente de uma praia do Rio de Janeiro. Essas moças são retratadas com delicadeza e de maneira comportada. A tela pode ser considerada suave, em tons, traços e tema, diferentemente da tela Tropical, de Anita. A tela é considerada como a primeira tela com tema nacional, como nos atenta o título, dentro da arte moderna brasileira. Retrata uma mulher de sociedade mestiça, com traços ásperos e cores fortes. Uma possível trabalhadora em meio a frutas típicas de nosso país. Contrária a tela de Georgina trata-se de uma tela exótica e marcante em cor, técnica e temática. Dessa forma, pretendemos em nossa pesquisa, partindo dos fundamentos apontados, aprofundar as discussões acerca da representação da mulher, a partir de imagens pictóricas produzidas pelas pintoras Anita Malfatti e Georgina de Albuquerque na Primeira República. 789
5 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: ABBUD, Fabiana G. M. A Presença Ausente de Anita Malfatti na Arte Moderna Brasileira. Monografia Especialização em História Social e Ensino de História. UEL. Londrina, BURKE, Peter. Testemunha Ocular. Bauru: Edusc, GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário In Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: CIA das Letras, MENDONÇA, Áureo G. Georgina de Albuquerque nos primórdios do Modernismo brasileiro In 180 Anos de Escola Nacional de Belas Artes. do Seminário EBA 180. Rio de Janeiro, UFRJ, 1997, p MENESES, Ulpiano T. B. de. Fontes Visuais, cultura visual, História visual: balanço provisório, propostas cautelares. Revista Brasileira de História, jul. 2003, v.23, n.45, p MOLINA, Ana Heloisa. A Influência das Artes na Civilização: Eliseu D Ângelo Visconti e modernidade na primeira república. Tese (História), UFPR, OLIVEIRA, Míriam A. de. As pintoras das Exposições Gerais da Academia Imperial das Belas Artes e Escola Nacional de Belas Artes na Primeira República In Rio de Janeiro, UFRJ, 1997, p PAIVA, Eduardo F. História & Imagens. Belo Horizonte: Autêntica, SIMIONI, Ana Paula C. Entre convenções e discretas ousadias: Georgina de Albuquerque e a pintura histórica feminina no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, out. 2002, v.17, n.50, p Anos de Escola Nacional de Belas Artes. do Seminário EBA
6 ANEXOS: Georgina de Albuquerque. Canto do Rio, 1920, óleo sobre tela. Anita Malfatti, Tropical, 1917, óleo sobre tela, 77 cm x 102 cm. 791
Da década de 30 em diante, além da atividade docente, a artista estaria engajada nos movimentos de classe dos artistas plásticos, ajudando a fundar a
. Anita Catarina Malfatti nasceu em São Paulo, dia 2 de dezembro de 1889 e faleceu em São Paulo, no dia 6 de novembro de 1964, foi pintora, desenhista, gravadora e professora brasileira. Filha do engenheiro
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