REFLEXÕES ACERCA DO OLHAR DA PSICOLOGIA FRENTE A ATUAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS EM ORGANIZAÇÕES

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1 REFLEXÕES ACERCA DO OLHAR DA PSICOLOGIA FRENTE A ATUAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS EM ORGANIZAÇÕES OLIVEIRA, Bruna Brandt²; SILVEIRA, Juliana Freitas da²; MOREIRA, Marcelo²; TRAESEL, Elisete Soares³. 1 Trabalho de Pesquisa realizado como atividade prática da disciplina Psicologia e Saúde do Trabalhador. 2 Acadêmicos do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. ³ Professora do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, Rs, Brasil. bruninha_brandt@hotmail.com; julianafs_1@hotmail.com; marcelomoreira0@yahoo.com.br; elisetetraesel@unifra.br. RESUMO Este trabalho é uma revisão de literatura que visa discutir questões ligadas à atuação profissional dentro de empresas, partindo da visão de profissionais das áreas da Administração e Ciências Contábeis. A coleta de dados foi através do método de entrevista semi-estruturada que foi gravada, transcrita e posteriormente apagada. O título de curso superior não garante o sucesso profissional para o trabalhador que necessita estabelecer relações e assumir liderança para se desenvolver no campo do trabalho, e que a satisfação não esteja intimamente ligada à remuneração e sim a possibilidade de reconhecimento de seus superiores e colaboradores. O trabalho faz parte da construção da identidade do sujeito, permeando as relações sociais sendo necessário um conhecimento das áreas antes da escolha profissional para que não se torne alienante. Observou-se semelhança nos discursos que os profissionais apresentaram em relação à atuação do administrador no sentido de organizar, planejar e orientar recursos da empresa. Palavras-chave: Administração; Psicologia Organizacional; Escolha Profissional; Organizações; Colaboradores. 1. INTRODUÇÃO Atualmente consideram-se os colaboradores como peças fundamentais para manter uma empresa funcionando com agilidade, competitividade e competência. Estimular, motivar, transmitir e administrar conhecimento é algumas das funções realizadas pelos Gestores de Recursos Humanos. Para Zanelli (1994), as atividades de trabalho são fatores fundamentais na construção das interações humanas, nas suas formas de subjetivação, de 1

2 constituição de agrupamentos humanos e da sociedade e no que afeta seus valores e projetos de vida. A contemporaneidade trouxe em seu bojo transformações sociais, econômicas, tecnológicas e geopolíticas em escala mundial, com implicações para os modos de ser dos sujeitos e suas formas de agir na sociedade. Sendo que a construção da subjetivação acaba se dando de maneira diferente do que acontecia no século passado, quando as relações de trabalho caracterizavam-se pela fidelidade, permanência no emprego e continuidade na atividade profissional e/ou empresa escolhida. O sujeito continua procurando organizar suas experiências cotidianas em um conjunto relativamente estável, que pode ser percebido como o seu eu. É a continuidade da busca pela construção de uma biografia que tenha e faça sentido, para o próprio sujeito e para o mundo em seu entorno (SANTOS, 2001). Considerando tais aspectos, o presente artigo propõe uma revisão de literatura que visa discutir questões ligadas à atuação profissional dentro de empresas, a partir da visão de profissionais das áreas da Administração e Ciências Contábeis. Esta reflexão é fruto da atividade de campo de acadêmicos do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA) por meio da disciplina Psicologia e Saúde do Trabalhador. A coleta de dados se deu através do método de entrevista semi-estruturada que foi gravada, transcrita e posteriormente apagada com o intuito de preservar a identidade dos participantes. Além disso, observou-se critérios éticos referentes a pesquisas com seres humanos, buscando preservar totalmente a identidade dos participantes (FLICK; 2009). 2. RESULTADOS E DISCUSSÃO Atualmente a ocupação profissional tem sido considerada um dos grandes pólos da vida do indivíduo. Uma escolha adequada é almejada por todos e acarreta benefícios para as pessoas e para a sociedade. Dessa maneira a escolha profissional assume grande importância no que diz respeito ao indivíduo, já que o tema envolve a definição das experiências profissionais futuras, significando principalmente a definição de quem ser muito mais do que a escolha do que fazer. Deste modo, durante as entrevistas realizadas com os profissionais da área de Administração e Contabilidade observou-se que os mesmos não possuíam o desejo de cursarem a área a qual se formaram e também não se viam atuando na função que estão atualmente. Nos relatos fica explicito que a maior motivação para a escolha da formação acadêmica estava ligada às oportunidades que acreditavam ser maiores na área da administração e da contabilidade. Sendo que o entrevistado 1 relata que nunca atuou na área da contabilidade, mas que foi ela que possibilitou que entrasse na 2

3 empresa como estagiário e que ficasse atuando na mesma ate os dias de hoje. Ele ainda complementa a satisfação do trabalho não esta intimamente ligada à formação e sim a área que se esta atuando. Além disso, durante a entrevista da participante 3 observa-se que a mesma considera a atuação profissional como sendo uma maneira de construção da identidade do sujeito. Portanto, no que tange o desenvolvimento da identidade ocupacional podemos mencionar que a mesma ocorre a partir da análise do contexto sociocultural, das instituições, das organizações existentes, das tecnologias disponíveis, relacionando-se às oportunidades que os adolescentes podem vivenciar, significando quando, onde e como poderá se dar a profissão escolhida. O jovem está, deste modo, na etapa da exploração, em busca de respostas à escolha profissional e da definição de seus projetos de vida (BOHOSLAVSKY, 1977/1998; PRIMI ET AL; 2000). Durante as entrevistas dos profissionais da área da Administração observou-se que os mesmos apresentaram discursos semelhantes em relação à atuação do administrador. Segundo os participantes os administradores possuem como responsabilidade organizar, planejar e orientar o uso dos recursos financeiros, físicos, tecnológicos e dinâmicos das empresas sempre buscando soluções para diversos tipos de problemáticas administrativas. Exigindo de certa forma, um dinamismo profissional do trabalho para se evitar falhas de comunicação, escassez e/ou excesso de empregados. Valorizando a comunicação entre os colaboradores, possibilitando que os mesmos participem na criação e sugestões para melhoras significativas na organização, fazendo com que os sintam-se valorizados pela empresa, pois hoje as organizações não administram as pessoas e sim administram com as pessoas. Em suma, a Administração pode ser considerada como o ramo da Ciência Social que possui como objetivo cuidar do bem estar das empresas como um todo. Buscando interpretar os objetivos organizacionais e transformá-los em ações empresariais por meio do processo de planejamento, organização dos recursos, direção dos planos e controle dos resultados. A fim de que os focos empresariais sejam alcançados através da execução de tarefas eficientes por meio das pessoas. Portanto, hoje a ciência da Administração é vista como um sistema que busca integrar os objetivos da empresa e dos colaboradores, não possuindo um fim em si mesma, tornando-se assim um meio de fazer com que as ações sejam realizadas da melhor maneira possível, com o menor custo e com a maior eficiência e eficácia (CHIAVENATO, 2007; FREEMAN & STONER, 1999). Ao refletir-se sobre a globalização verifica-se que o conhecimento trouxe mudanças significativas ao mundo do trabalho. Atualmente o conceito de emprego está sendo substituído pelo de trabalho. A atividade produtiva passa a estar associado ao 3

4 conhecimento, e o colaborador terá que desenvolver-se como um sujeito criativo, crítico e pensante, preparado para agir e se adaptar rapidamente às mudanças dessa nova sociedade. O titulo de curso superior passa a não significar uma garantia de sucesso profissional, pois o colaborador será valorizado na medida em que tiver a capacidade para estabelecer relações e assumir liderança. Deste modo, nas entrevistas realizadas observamos que os participantes demonstram pleno desejo de estar crescendo profissionalmente, superando a si mesmo no seu dia-a-dia. Sendo que os mesmos demonstram, que atualmente a satisfação no trabalho não esta intimamente ligada à remuneração e sim a possibilidade de reconhecimento de seus superiores e colaboradores, pois a satisfação pessoal é expressa através de um trabalho que tenha sentido e que de prazer a quem o exerce. Estando o mesmo relacionado à contribuição pessoal do indivíduo para a própria função. Além disso, as ações acabam tendo sentido quando são executadas com a sensação de superação dos próprios desafios (CUNHA & SILVA, 2002; DRUCKER, 1997). A sociedade contemporânea considera que o trabalho caracteriza-se como uma atividade tão específica do homem que pode funcionar como fonte de construção, realização, satisfação, riqueza. Da mesma forma que pode significar escravidão, exploração, sofrimento, doença e morte. Sendo algo da essência humana, que pode vir a gerar relações peculiares entre as pessoas e os objetos, no qual se unem o subjetivo e o objetivo. Ao considerarmos o trabalho, verificaremos que o sofrimento ocupa uma posição central, pois ele sempre esta presente, sendo que a única possibilidade é transformá-lo. De fato, o trabalho tem efeitos muito poderosos sobre o sofrimento psíquico, porque o mesmo poderá contribuir para agravar a aflição, levando a pessoa, progressivamente a loucura. Ou, ao contrário, poderá contribuir para subverter o sofrimento em prazer. Por conseguinte, se o sofrimento não é sempre seguido de uma descompensação é porque as pessoas acabam desenvolvendo defesas suficientemente eficazes contra o mesmo. As defesas podem se dar na forma de estratégias coletivas ou individuais, que vão além dos mecanismos clássicos descritos pela psicanálise. Estas possibilitam aos trabalhadores, um enfrentamento do sofrimento causado pelo trabalho. No entanto, o sofrimento é, antes de tudo, algo do corpo, engajado no mundo e nas relações com os outros, não podendo existir sofrimento sem carne. Portanto, o mesmo refere-se à ordem do singular (ALBORNOZ, 2004; DEJOURS, 1999 JACQUES, 2003; SELLIGMAN-SILVA, 1987). 4

5 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em suma, a partir da transcrição e análise das entrevistas podenrou-se que o novo modelo econômico acarreta a formação de um novo perfil profissional que requer maior qualificação, maior envolvimento emocional e social do colaborador. Elegendo-se assim como ideal aquele profissional que potencialize a interpretação de dados, a comunicação, a integração funcional, a flexibilização, a absorção e troca de conhecimento. Devendo ser capaz de operacionalizar seu conhecimento profissional de modo integrado às suas aptidões e vivências socioculturais. Sendo que o profissional deve ser capaz de interpretar os dados e sinais emitidos pelos sistemas autômatos, agindo, desta maneira, de forma próativa como agente do processo de inovação. Devendo se diferenciar pela capacidade de ser responsável por mais de uma tarefa, demonstrando responsabilidade pelo seu processo de trabalho. Portanto, na pós-modernidade, estão presentes as dimensões da mudança e da continuidade, requerendo dos sujeitos que se identifiquem, a cada momento, com algo novo, e reconheçam em suas trajetórias uma dimensão temporal, integrando passado, presente e futuro, no mundo laboral. De um lado, os colaboradores ainda precisam vender sua força de trabalho sob condições que lhes são determinadas pelo capital. De outro, as mudanças nas formas de emprego e o desemprego estrutural, entre outras, trazem exigências de novas competências, habilidades e talentos para se manter empregado. Todas estas situações levam o sujeito a ter que enfrentar cotidianamente o novo e reescrever sua trajetória de vida e sua identidade. Desta forma, uma vez que o trabalho faz parte da construção da identidade do sujeito, e permeia suas relações sociais, é preciso ter um cuidado para que este não se torne alienante ou causador de alguma patologia. Acreditando-se que se faz necessário um melhor conhecimento das áreas de atuação antes da escolha profissional, para tentar conciliar satisfação com a profissão e o retorno financeiro. REFERÊNCIAS ALBORNOZ, S. O que é Trabalho. São Paulo: Brasiliense, BOHOSLAVSKY, R. (1998). Orientação Vocacional: a estratégia clínica. Ed. 11ª ed.. São Paulo: Martins Fontes (Texto original publicado em 1977). CHIAVENATO, I. Administração: teoria, processo e prática. Ed. 4. Rio de Janeiro: Elsevier,

6 CUNHA, M. V.; SILVA, E. L. A Formação Profissional no Século XXI: desafios e dilemas. Ci. Inf. Brasília, V 31, N 3, p , set./dez DEJOURS, C. Conferências Brasileiras: identidades, reconhecimento e transgressão no trabalho. São Paulo: Fundação do Desenvolvimento Administrativo, DRUCKER, P. Sociedade de pós-capitalista. Ed. 6. São Paulo: Pioneira, FLICK, U. Introdução à Pesquisa Qualitativa. Ed. 3. Porto Alegre: Artmed, FREEMAN, R. E; STONER, J. A. F. Administração. Ed. 5. Rio de Janeiro: Prentice Hall do Brasil, JACQUES, M. G. C. Abordagens Teórico-Metodológicas em Saúde/ Doença Mental e Trabalho. Psicologia Social. V. 15, n. 1. Porto Alegre, jan./jun PRIMI, R. et al. Desenvolvimento de um Inventário de Levantamento das Dificuldades da Decisão Profissional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2000, 13(3), pp SANTOS, B. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. Ed. 8. São Paulo, SP: Cortez, SELIGMANN-SILVA, E. Saúde Mental e Trabalho. In: Tundis, S; Costa, N. (Org.). Cidadania, ZANELLI, J.C. O Psicólogo nas Organizações de trabalho: formação e atividades profissionais. Florianópolis: Paralelo,