O DIÁRIO COMO INSTRUMENTO REFLEXIVO MEDIANDO OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO RESUMO
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- Bruna Silveira Castelo
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1 O DIÁRIO COMO INSTRUMENTO REFLEXIVO MEDIANDO OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO Ana Gabriela Nunes Fernandes Universidade Estadual do Piauí - UESPI RESUMO No presente artigo, optamos por discutir sobre a utilização do diário como instrumento mediador do desenvolvimento e da aprendizagem de graduandos do segundo período de um curso de Pedagogia na disciplina de Psicologia da Educação, em uma turma composta por quinze alunos. O trabalho foi realizado de forma assistida devido à necessidade das discussões e orientações individuais e coletivas para a produção.diante dessa proposta, os alunos relataram a cada aula as dificuldades em compreender, internalizar os conteúdos e, em seguida, elaboraram uma produção original resultante desse processo interativo entre aluno, texto e aula.a opção teórica dessa prática foi baseada nos autores que trabalham com narrativas de formação a partir das histórias de vida, como Josso (2004), Finger e Nóvoa(1998), Chene (1988),Zabalza (1991) ao compreenderem que a reflexão sobre si e seu processo formativo estimula e propicia a autoformação e em Vigotski (2007; 2009) ao apontar que a interação social desempenha papel fundamental no processo de desenvolvimento humano, que, por sua vez, tem relação com a aprendizagem. Os resultados dessa pesquisa foram avaliados a partir das produções que apresentaram resultados favoráveis em mais de setenta por centro dos diários, sendo que os trinta por cento tiveram limitações no sentido de expressar as ideias compreendidas ou articular as questões pessoais e inquietações, situações essas relatadas por eles durante a confecção do material. Concluímos, assim, que a elaboração do diário como instrumento mediador permitiu a organização do pensamento, elaboração do raciocínio e sistematização das ideias dos graduandos, bem como ampliação dos conteúdos necessários para a aprendizagem dos conceitos básicos da disciplina. Palavras-chave: Diário. Desenvolvimento. Aprendizagem. 1. Aspectos introdutórios na investigação formativa de professores O processo de formação de professores considera a reflexão como ação necessária para o aperfeiçoamento profissional e para efetivação de uma práxis pedagógica, conforme afirma Souza et al (2009), que envolva não somente a ação docente, mas a instituição e todos os participantes do processo de construção do conhecimento. No contexto da formação de professores, optamos por discutir considerandoo enfoque da pesquisa narrativa,em que Finger e Nóvoa (1988) informam 04477
2 2 sobre a utilização do método (auto) biográfico, ao final do século XIX na Alemanha, utilizado de maneira incipiente por sociólogos da Escola de Chicago. É a partir do seu surgimento que as discussões com relação aos aspectos teóricos e metodológicos no campo da formação são intensificados, pois passam a ser consideradas em relação a essa temática, categorias como a subjetividade, a relação sujeito-objeto, a historicidade, bem como o processo de investigação/formação. Com a utilização da narrativa individual passa a ser considerada a subjetividade das pessoas, que passam a ser relevantes no processo de construção do conhecimento acerca desses sujeitos, valorizando a sua real contribuição, tendo como base os processos de investigação-formação.em consonância ao exposto, Josso (2004), ao discutir sobre o surgimento da perspectiva biográfica, revela que após a supremacia dos modelos anteriores, já apresentados, tem-se a reabilitação do sujeito, que passa a assumir o ponto de partida para o processo reflexivo, considerando com isso a individualidade do mesmo. Nessa discussão, a perspectiva biográfica mostra a possibilidade da utilização de instrumentos como diários, memoriais, registros orais e escritos pessoais como produtores de dados para a escrita de si e consequente reflexão acerca das trajetórias pessoais, formativas e profissionais. No presente artigo, optamos por discutir sobre as contribuições da utilização do diário como instrumento mediador dos processos de desenvolvimento e aprendizagem de graduandos do segundo período de um curso de Pedagogia na disciplina de Psicologia da Educação, em uma turma composta por quinze alunos, quantidade que permitiu a realização do trabalho de forma assistida devido à necessidade das discussões e orientações para a produção. Nesse cenário, lançamos a proposta de registro de cada aula trabalhada após a leitura dos textos em um diário que além do registro dos conhecimentos e compreensões adquiridas deveria contemplar reflexões pessoais sobre o processo de aprendizagem de cada um, inquietações e questionamentos sobre o processo de narrar sobre si. A opção teórica dessa prática foi baseada nos autores que trabalham com histórias de formação a partir das histórias de vida, como Josso (2004), Finger e Nóvoa (1998) e Zabalza (1991) ao compreenderem que a reflexão sobre si e seu processo formativo estimula e propicia a autoformação e em Vigotski(2007; 2009) ao apontar que a interação social desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da cognição, atuando na "zona de desenvolvimento proximal". O conceito de mediação simbólica do mesmo autor é também relevante por ser um pressuposto essencial para explicar o 04478
3 3 funcionamento das funções mentais superiores sendo uma característica presente em toda atividade humana, pois dentro da teoria vigotskiana a relação do homem com o mundo não é direta e sim mediada através dos instrumentos e signos. 2. O diário como instrumento de mediação: considerações sobre a pesquisa desenvolvida Ao trabalharmos com as ideias de Vigotski (2007; 2009) adotamos como ponto de partida a relação proposta pelo autor entre aprendizagem e desenvolvimento, quando o mesmo defende que o bom ensino é aquele que se antecipa ao processo de desenvolvimento do aluno. A partir da compreensão dessa ideia, que havia sido trabalhada na disciplina de Psicologia da Educação em unidade anterior, buscamos experiênciá-la ao lançar o desafio da produção do diário, objetivando o registro das compreensões acerca de cada texto trabalhado, as possíveis inquietações em relação às temáticas e as transformações pessoais que a disciplina aos poucos acarretava em cada um. Diante dessa proposta, os alunos relataram a cada aula as dificuldades em compreender, internalizar os conteúdos e, em seguida, elaboraram uma produção original resultante desse processo interativo entre aluno, texto e aula. Em consonância com a proposta trabalhada, Chené(1988) ressalta quea formação enraíza-se na articulação do espaço pessoal com o espaço socializado, progredindo a partir do sentido que a pessoa lhe dá, tanto na experiência de aprendizagem com o formador como no âmbito pessoal. Diante de reflexões como esta, o autor destaca que a prática da formação é reforçada por uma prática de comunicação.com isso, tem-se que ao passar pela narrativa, o indivíduo utiliza a instância do discurso através do qual ele pode introduzir sua experiência e depois, se colocar, por meio da análise, com ele no lugar de intérprete para sublinhar o distanciamento do texto em relação à experiência. Percebe-se neste aspecto que a compreensão da experiência de formação é a compreensão do eu e essa construção é reencontrada na transformação da narrativa. Os resultados desse processo foram avaliados a partir das produções que apresentaram resultados favoráveis em mais de setenta por centro dos diários, sendo que os trinta por cento tiveram limitações no sentido de expressar as ideias compreendidas ou não conseguir articular à questões pessoais e inquietações, situações essas relatadas por eles durante a confecção do material. Observamos registrosvariados no sentido de 04479
4 4 termos a possibilidade de trocas subjetivas intensas, visíveis no compartilhamento das dificuldades na elaboração do material solicitado, por se tratar de alunos do segundo período que ainda não tinham experiência nas produções escritas em formato acadêmico e, portanto, apontavam as dificuldades com o vocabulário adequado, com a expressão das ideias e com a compreensão de textos que apresentavam níveis mais elevados que os usualmente trabalhados. Isto porque partimos inicialmente dos textos dos apropriadores para posteriormente trabalharmos textos dos próprios autores. Nesse exercício, os alunos em sua maioria relataram dificuldades de compreensão, linguagem pouco compreensível e limitações na generalização, entendimento e aplicabilidade dos conceitos. A partir desses relatos, buscou-se a cada aula fazer discussão das dúvidas que o texto e a posterior escrita tinham deixado e assim iniciamos cada aula, debatendo temáticas ainda não compreendidas após o exercício de produção gradual do diário. Observamos assim que a elaboração do diário como instrumento permitiu segundo o registro da maioria dos alunos a organização do pensamento, elaboração do raciocínio e sistematização das ideias tal qual nos propõe Vigostki (2007), possibilitando que os alunos evoluíssem em suas zonas de desenvolvimento proximal, ou seja, permitiu crescimento dentro do nível de raciocínio e forma de compreensão de cada um. A Zona de Desenvolvimento Proximal, de acordo com o referido autor, é o que a criança pode adquirir em termos intelectuais quando lhe é dado o suporte educacional devido (através de um adulto, criança mais velha ou com maior facilidade de aprendizado, etc.), ou seja, é a diferença entre o que a criança é capaz de aprender e fazer sozinha e aquilo que, embora não consiga realizar sozinha, e é capaz de aprender e fazer com a ajuda de uma pessoa mais experiente. Entretanto, considerando que os graduandos ainda não dominavam algumas habilidades, esse processo de ampliação da zona de desenvolvimento pode ser observada, a partir das aprendizagens que foram conquistadas. Como o desenvolvimento é um processo evolutivo e as funções psicológicas superiores, propostas por Vigostki (2009) como a atenção, a memória, o pensamento, por exemplo se desenvolvem a partir de um plano interpsicológico de desenvolvimento, pudemos notar a gradual ampliação de habilidades acadêmicas importantes, como formas de elaboração do pensamento de conceitos abstratos, que os alunos apresentam geralmente dificuldade em compreender, a aplicabilidade dos conceitos em situações práticas, entre outras
5 5 Com a utilização do diário como mediador entre as aprendizagens dos conteúdos e o desenvolvimento, esse desafio avaliativo trouxe também algumas marcas pessoais observadas nos registros dos alunos envolvendo aspectos psicológicos, como: inseguranças, percepção e reconhecimento de limitações em algumas habilidades acadêmicas que o exercício oportuniza e que o processo de refletir sobre si possibilita. De acordo com Chené (1988) e Josso (2004) pode-se articular a narrativa à compreensão do percurso de formação, como um processo de julgamento e reapropriação sobre si mesmo. Com isso, consideramos que esses aspectos psicológicos foram também significativos para o desenvolvimento da autocrítica e investimento nas fragilidades constatadas para investimento no processo formativo. REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS CHENE, A. A narrativa de formação e a formação de formadores. In: NOVOA, A; FINGER, M. (orgs.). O método (auto) biográfico e a formação. Lisboa: Ministério da Saúde,1988. FINGER, M. As implicações sócio-epistemológicas do método biográfico.in: NÓVOA, António; FINGER, M. (Orgs.) O método (auto) biográfico e a formação. Lisboa: MS/DRHS/CFAP, 1988, p JOSSO, M. C. Experiências de vida e formação. São Paulo: Cortez, SOUZA, J; NETO, J.B; SANTIAGO, E. (orgs).prática Pedagógica e Formação de Professores.Recife: Editora Universitária UFPE, VIGOTSKI, L. S. A Formação Social da Mente. 7. ed. São Paulo: Martins Fortes, VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da Linguagem. 7. ed.são Paulo: Martins Fortes, ZABALZA, M. A. Los diarios de classe: documento para estudiarcualitativamentelos dilemas prácticos de losprofesores. Barcelona: Promociones ypublicacionesuniversitarias, S. A,
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