filosofia contemporânea
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- Eliana Avelar Garrau
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1 filosofia contemporânea carlos joão correia ºSemestre
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8 Caso a alma de um príncipe, levando consigo a consciência da vida passada do príncipe, entrasse e informasse o organismo de um sapateiro, tão logo abandonado por sua própria alma, [então] qualquer um veria que ele seria a mesma pessoa do que o príncipe, responsável apenas pelas suas acções: mas quem diria que era o mesmo homem? Locke. An Essay
9 1973: 52
10 Sou condenado a ser torturado e sei que vou sofrer horrivelmente. Mas vou ser acompanhado por um médico que me diz: não se preocupe pois, quando chegar o momento, não se lembrará de que irá ser torturado. Será que isso me descansa? Sei muito bem que se podem esquecer coisas terríveis e, no entanto, elas não deixam de ser traumáticas. Como não fico nada satisfeito, o médico diz-me: vou injectar-lhe uma droga e ficará amnésico em relação a toda esta situação. Nem se recordará desta conversa nem da situação que o trouxe aqui. Será que isso me descansa? Não, porque me posso perfeitamente imaginar com dores intensas e amnésico. Finalmente, diz-me que encontrou a solução final: vou injectar-lhe uma substância que o fará crer que é outra pessoa. Será que isso me sossega? Claro que não. Pois posso-me imaginar louco, com outra personalidade (julgar que sou, por exemplo, Donald Trump [George IV]) e sofrer violentamente. Resumo do caso descrito por Bernard Williams no artigo The Self and the Future (1970) Cf. Bernard Williams. Problems of the Self. Cambridge et al: Cambridge Univ.Press. 1973, 52.
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14 Quando penetro mais intimamente naquilo a que chamo eu próprio [myself], tropeço sempre numa ou outra percepção particular, de frio ou calor, de luz ou sombra, de amor ou ódio, de dor ou prazer. Nunca consigo captar-me a mim próprio, em qualquer momento, sem uma percepção, e nada posso observar a não ser a percepção (...) A mente é uma espécie de teatro em que diversas percepções fazem sucessivamente a sua aparição; passam, voltam a passar, fogem deslizando e misturam-se numa variedade infinita de atitudes e situações. David Hume. A Treatise of Human Nature (Of personal identity)
15 É evidente que a ideia, ou melhor a impressão de nós próprios, nos está sempre intimamente presente e que a nossa consciência nos dá uma concepção tão viva da nossa própria pessoa, que não é possível imaginar que qualquer outra coisa possa ultrapassá-la neste ponto. David Hume. A Treatise of Human Nature
16 Mediante um exame mais rigoroso da secção relativa à identidade pessoal, encontro-me envolvido em tal labirinto que tenho de confessar que nem sei corrigir as minhas opiniões anteriores, nem torná-las consistentes. David Hume. A Treatise of Human Nature. Apêndice. 633
17 "A objecção que devemos pôr a Hume é que as experiências são igualmente parasitárias em relação às pessoas. Não podemos imaginar a dor, por exemplo, como uma coisa vogando por aí à espera de ser apanhada num feixe de outras experiências, de modo a ser acidental que essa mesma dor se prenda a um outro feixe. (...).Kant defende esta ideia ao falar do eu penso que acompanha todas as minhas representações. Por outras palavras, as minhas experiências vêm assinaladas como minhas. Não me familiarizo primeiro com a experiência, procuro depois o proprietário e só então anuncio que a experiência é uma das minhas (desde que, contra Hume, esta última busca seja bem sucedida). Pelo contrário, quando sinto uma dor, isso é em si e por si ter consciência de que sou eu que tenho uma dor. ( ) O eu é o ponto de vista a partir do qual a interpretação começa. Não é mais uma coisa dada na experiência, pois nada dado na experiência poderia resolver o problema formal para o qual um eu é necessário. Mas é sempre necessário um ponto de vista: representar uma cena para si mesmo é, de uma forma ou outra, representar-se a si mesmo tendo experiência dela. (...) Devemos a linha de argumentação que acabei de apresentar a Immanuel Kant. Simon Blackburn. Think. Oxford University Press. 1999, /140
18 Apercepção Transcendental O eu penso deve poder acompanhar todas as minhas representações; se assim não fosse, algo se representaria em mim, que não poderia, de modo algum, ser pensado, que o mesmo é dizer, que a representação ou seria impossível ou pelo menos nada seria para mim. Kant B 132
19 Gato de Cheshire
20 Hipótese não-substancialista [A intuição intelectual] é a consciência imediata de que eu efectuo um acto [...]. Não se pode demonstrar por conceitos no que ela consiste. Cada um de nós deve encontrá-la imediatamente em si mesmo porque senão nunca a encontrará. A pretensão de alguém que quisesse que eu a demonstrasse através do poder da argumentação é tão credível como um cego de nascença que quisesse que lhe explicassem o que são as cores, sem ter a capacidade de as ver. Pode-se contudo mostrar a cada um, na experiência que ele reconhece como sendo sua, que esta intuição intelectual intervém em todos os momentos da sua consciência. Não posso dar um passo, levantar a mão ou um pé sem [possuir], nestes mesmos actos, a intuição intelectual da minha consciência de si. É apenas por esta intuição que eu sei que eu faço; é graças a ela que eu distingo o meu acto e, nele, eu próprio, no objecto intencionado pelo acto. Aquele que se atribui um acto faz sempre apelo a esta intuição. Nela encontra-se a fonte da vida e sem ela há apenas morte. Todavia esta intuição não surge nunca só, como um acto completo da consciência Fichte. Primeira Introdução à Doutrina da Ciência 1:463
21 Hipótese substancialista "Este próprio princípio substancial é o que se designa como alma nos seres vivos e a forma substancial nas outras coisas; na medida em que, em conjunto com a matéria, constitui a substância que é verdadeiramente una, ou algo uno per se, organizando-se, assim, o que eu designo como uma mónada." "On nature itself" [De Ipsa Natura, 1698] in G.W. Leibniz. Philosophical Essays. Ed. and transl. Roger Ariew and Daniel Garber). Indianapolis [Indiana]: Hackett. 1989, 162 (G 4:511) "Uma mónada, do grego monas, unidade, é uma unidade por si, analisável num princípio activo chamado alma, forma substancial, ou enteléquia, e um princípio passivo, dito massa ou matéria primeira; i.e. um princípio activo e um princípio passivo. A mónada contém uma espécie de percepção e de apetite. É uma substância simples, sem partes, tendo acções próprias que alteram continuamente as suas relações. Cada mónada é um espelho vivo, representativo do universo, segundo o seu ponto de vista. Na medida em que todo o ser é uma mónada ou um composto de mónadas, uma mónada é uma espécie de átomo substancial. É uma mónada dominante que faz de princípio da unicidade composta." Martine de Gaudemar. Le Vocabulaire de Leibniz. Paris: Ellipses. 2001, 39.
22 "Uma substância deve ter uma diversidade que não é uma diversidade de partes ou de formas, uma diversidade que não conflitua com a unidade e a simplicidade. O modelo que Leibniz utiliza para explicar tal diversidade e unidade é-nos muito próxima - a nossa própria consciência. À medida que observo esta cafetaria, é inegável que eu tenho uma multiplicidade de percepções.vejo mesas e cadeiras, ladrilhos axadrezados no chão, múltiplas pessoas, automóveis passando no exterior da janela. Com efeito, poder-se-ia dizer que esta visão contém uma multiplicidade infinita de percepções, um facto ilustrado pela simples questão: quantas cores vejo agora? Uma cadeira de madeira contém uma variedade infinita de matizes de castanho.
23 ( ) A complexidade infinita destas percepções está fundada na infinita divisibilidade de qualquer continuidade - qualquer aspecto que eu apreendo pode ser dividida e dividida em pormenores cada vez mais subtis. Simultaneamente é também inegável que a minha percepção tem uma certa unidade. A minha própria capacidade de ver uma cadeira mostra que eu assumo as diferentes matizes em conjunto como sendo uma. Num sentido amplo, a visão global da cafetaria parece ser distintivamente minha. Todas essas percepções aparecem como uma multiplicidade na minha consciência. Esta unidade aplica-se não apenas a cada momento, mas também ao longo do tempo. A multiplicidade de qualidades na minha consciência pode mudar radicalmente num único momento. Posso simplesmente virar a cabeça, ou fechar os meus olhos e imaginar-me deitado ao sol numa praia, vendo tantos pormenores quantos a minha imaginação permite. Mas apesar da mudança radical da cafetaria para a praia, parece ser a mesma consciência. Estas percepções têm uma uma unidade fundamental simples porque todas elas são minhas." Franklin Perkins. Leibniz. A Guide for the Perplexed. London/New York: Continuum. 2007,
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