PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

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1 ACÓRDÃO 1ª TURMA RECURSO ORDINÁRIO. VENDEDOR EMPREGADO OU REPRESENTANTE COMERCIAL AUTÔNOMO. Não há no Direito do Trabalho Brasileiro lei que defina o vendedor-empregado e o representante comercial autônomo, cujas funções são análogas às do primeiro, o que torna difícil a distinção entre esses dois trabalhadores, sobretudo quando a Lei nº 4.886/65 (com as alterações advindas da Lei nº 8.420/92), disciplinando o trabalho deste último, passou a estabelecer, para ele, além dos serviços de natureza não eventual (art. 1º), certos elementos a que os tribunais se apegavam para caracterizar a subordinação jurídica. Diante dessa dificuldade, resta ao intérprete do caso concreto, que envolve figura intermediária das que se situam nas chamadas zonas grises existentes no campo da Ciência Jurídica, valer-se dos critérios apontados pela Doutrina para a verificação da subordinação jurídica, ainda reconhecida, universalmente, como o elemento determinante da relação de emprego. A doutrina abalizada fornece uma classificação capaz de ajudar na aferição dessa subordinação jurídica, a qual considera a verificação de três espécies de elementos: elementos de certeza (trabalho controlado pela empresa em certo lapso de tempo; comparecimento periódico obrigatório; obediência a métodos de vendas; fixação de viagens pela empresa; recebimento de instruções sobre o aproveitamento da zona de vendas; e obediência a regulamento da empresa); de indício (recebimento de

2 quantia fixa mensal; utilização de material e papel timbrado da empresa; obrigação de produção mínima; recebimento de ajuda-de-custo; e pessoalidade na prestação); e excludentes(existência de escritório próprio e admissão de auxiliares; substituição constante do representante na prestação dos serviços; pagamento de ISS; registro no Conselho Regional de Representantes Comerciais e utilização do tempo de forma livre). Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Ordinário nº TRT-RO , em que são partes: MANOEL FEITOZA IRMÃO, como Recorrente, e LILÁS INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE COSMÉTICOS LTDA., DISTRIMAX DISTRIBUIDORA DE BELEZA LTDA. e STADIUM COMÉRCIO DE PRODUTOS DE HIGIENE PESSOAL LTDA., como Recorridas. Trata-se de recurso ordinário interposto pelo reclamante, fls. 586/594, contra a sentença de fls. 581/583,vº, proferida pelo MM. Juiz Carlos Medeiros da Fonseca, da 1ª Vara do Trabalho de Nilópolis, que julgou procedente em parte o pedido. Em suas razões de recurso, se insurge contra a decretação da prescrição bienal aplicada e o reconhecimento do vínculo de emprego com a 1ª reclamada somente no período de 24/05/1999 a 02/05/2010, alegando que trabalhou para a ré até 16/01/2013, devendo ser anotado seu contrato de trabalho na função de vendedor até esta data com o pagamento de todas as parcelas dele decorrentes, bem como ser declarada a condenação solidária das demais reclamadas. Contrarrazões das 1ª e 2ª reclamadas, fls. 600/604, defendendo a manutenção do julgado. Os autos não foram remetidos ao Ministério Público do Trabalho, nesta instância revisora, por não ser hipótese de intervenção legal (Lei Complementar nº 75/1993) e/ou das situações arroladas no Ofício PRT/1ª Região

3 nº 214/13-GAB, de 11/03/2011. É o relatório. legais de admissibilidade. F U N D A M E N T A Ç Ã O 1 - CONHECIMENTO. Conheço do recurso interposto, pois presentes os requisitos 2 - MÉRITO. VENDEDOR EMPREGADO A. REPRESENTANTE COMERCIAL AUTÔNOMO X Insurge-se o reclamante contra o indeferimento do reconhecimento do vínculo de emprego com a 1ª reclamada até o término do contrato, em 16/01/2013, alegando que trabalhou na primeira ré como vendedor, sem salário fixo e, desde o ano de 2011, passou a perceber cada vez menos o valor das comissões sobre vendas. Aduz que as empresas reclamadas fazem parte de um grupo de empresas, já que seus sócios são comuns e, embora a segunda ré tenha personalidade jurídica distinta, é dirigida, controlada e administrada pela empresa principal. Discorre acerca da prova documental, argumentando que, diversamente do entendimento do julgador de origem, a prova dos autos corrobora as assertivas da inicial quanto a presença dos elementos caracterizadores do vínculo de emprego com a 1ª reclamada, considerando que este foi reconhecido, mas somente até 02/05/2010, com o argumento de que, após essa data, foi firmado contrato de prestação de serviços entre a ré e o autor. Analisa-se. Na exordial, o reclamante postulou a declaração da existência de vínculo de emprego com a reclamada, com a respectiva anotação do contrato na sua CTPS, no período de 24/05/1999 a 16/01/2013, na função de vendedor,

4 com salário médio mensal de R$2.500,00, cumprindo todos os requisitos do art. 3º da CLT. Afirmou que foi contratado para vender os produtos da primeira reclamada e que a segunda reclamada é a atual distribuidora dos produtos dessa e, que, atualmente, ambas têm as mesmas sócias. Sustentou que recebia ordem de supervisores (gerentes de vendas), que participava de reuniões semanais, quinzenais e mensais nas dependências da ré, que possuía metas a serem alcançadas, comparecia a convenções e exposições em feiras de negócios representando a 1ª ré, e que tinha o compromisso de vender exclusivamente os produtos da reclamada Lilás Cosméticos. As 1ª e 2ª reclamadas, em defesa única, negaram a existência do vínculo de emprego, ao argumento de que o autor, no período requerido na inicial, era representante comercial, sócio da empresa Feitoza e Fabrício Representações Comerciais Ltda. ME, e que mantinha contrato de representação comercial com a 3ª reclamada, Stadium. Que somente a partir de 03/05/2010 iniciou-se, entre autor e 2ª ré, Distrimax, contrato de representação comercial que foi rescindido em 16/01/2013. Salientaram ainda que o contrato de representação comercial firmado com a empresa do autor é totalmente legal, fls. 462/469, já que a empresa preenche os requisitos específicos da Lei Federal nº 4.886/65, bem como os do artigo 104 do Código Civil, constituída e registrada no CORE Conselho Regional dos Representantes Comerciais do Estado do Rio de Janeiro sob o nº , com inscrição e situação cadastral regular na RFB, conforme documento de fl Colacionam jurisprudências sobre o tema. A 3ª reclamada, Stadium, chamada aos autos, arguiu preliminares, especialmente a prescrição extintiva do direito, rechaçando de pronto a condenação solidária requerida: a uma, por que ajuizada a ação em 17/01/2013, estando prescritos os direitos anteriores a 17/01/2008; a duas, porquanto ter sido constituída em 30/07/2007 e desativada em 30/06/2009. A r. Sentença revisanda reconheceu o vínculo empregatício

5 entre autor e 1ª Ré, Lilás Cosméticos, de 24/05/1999 a 02/05/2010, por entender que neste período se configuraram os requisitos do art. 3º da CLT, ao dizer:...a prova oral produzida (fls. 470/474,vº) evidencia que até o ano de 2010 havia a necessidade de comparecimento na sede da 1ª ré às segundas-feiras, para participação de reuniões. Além disso, até 2010, ficou caracterizada a sujeição do reclamante (e de todos os vendedores) ao controle e coordenação dos serviços e da vendas por um gerente, também da 1ª reclamada, inclusive, com o fornecimento de telefone celular pela empresa..., que... no que se refere ao período até 02/05/2010, as reclamadas não lograram êxito em comprovar fatos impeditivos ao direito do autor (de ter reconhecido o alegado vínculo de emprego). Assim, na forma dos artigos 818 da CLT e 333, II, do CPC, as rés atraíram o ônus de comprovar tais fatos impeditivos (relação de mera representação comercial), ônus que não foi satisfeito, no período retromencionado. Pelo contrário, a prova oral foi bastante esclarecedora quanto à caracterização dos requisitos da relação empregatícia até maio/2010, sobretudo, quanto a pessoalidade, não eventualidade e subordinação ao diretor (Sr. Jure) e ao gerente (Sr. Paulo Roberto), ambos da 1ª reclamada (Lilás). Em relação à remuneração, a sentença a quo asseverou que:...com relação à remuneração auferida pelo autor, há bastante controvérsia e o conjunto probatório não fornece elementos capazes de uniformizar a questão. No entanto, o depoimento da testemunha da reclamada (fl. 472 e verso), que exercia a mesma atividade do autor, aponta para a mesma faixa remuneratória indicada na peça de ingresso. Assim, fixo a remuneração mensal do reclamante em R$2.500,00. No que tange ao período posterior a 03/05/2010, o Juízo de origem entendeu que:...resta incontroverso (eis que não impugnado pelo autor) que foi mantido contrato de representação comercial entre a empresa Feitoza e Fabrício Representações Comerciais Ltda ME (que tem o autor como sócio) e a 2ª reclamada (Distrimax)..., que:... A partir de meados do ano de 2010, com a saída do Sr. Jure da administração da 1ª ré, as circunstâncias de trabalho foram alteradas. As reuniões semanais foram extintas e a figura do gerente comercial foi

6 suprimida... ; que:... a subordinação porventura havida até 2010, restou descaracterizada..., que:...nesse sentido, é certo que a partir de 03/05/2010 o reclamante representava a 2ª reclamada, promovendo vendas externas dos produtos da 1ª ré por intermédio de sua própria empresa de representação comercial (Feitoza e Fabrício Representações Comerciais Ltda. ME), sem se sujeitar à subordinação típica da relação empregatícia. Registre-se que se faz tal afirmação sem prejuízo da relação diversa mantida anteriormente à maio de A Desembargadora Alice Monteiro de Barros, que compôs a 2ª Turma do TRT da 3ª Região relata, brilhantemente, a distinção e os critérios para análise da questão, verbis: Não há no Direito do Trabalho Brasileiro lei que defina o vendedor-empregado e o representante comercial autônomo, cujas funções são análogas às do primeiro, o que torna difícil a distinção entre esses dois trabalhadores, sobretudo quando a Lei nº 4.886/65 (com as alterações advindas da Lei nº 8.420/92), disciplinando o trabalho deste último, passou a estabelecer, para ele, além dos serviços de natureza não eventual (art. 1º), certos elementos a que os tribunais se apegavam para caracterizar a subordinação jurídica. Diante dessa dificuldade, resta ao intérprete do caso concreto, que envolve figura intermediária das que se situam nas chamadas zonas grises existentes no campo da Ciência Jurídica, valerse dos critérios apontados pela Doutrina para a verificação da subordinação jurídica, ainda reconhecida, universalmente, como o elemento determinante da relação de emprego. A doutrina abalizada (CARDONE, Marly, in: Viajantes e Pracistas no Direito do Trabalho. São Paulo: LTr Editora, 1998, p

7 32 e seguintes) fornece uma classificação capaz de ajudar na aferição dessa subordinação jurídica, a qual considera a verificação de três espécies de elementos: elementos de certeza (trabalho controlado pela empresa em certo lapso de tempo; comparecimento periódico obrigatório; obediência a métodos de vendas; fixação de viagens pela empresa; recebimento de instruções sobre o aproveitamento da zona de vendas; e obediência a regulamento da empresa); de indício (recebimento de quantia fixa mensal; utilização de material e papel timbrado da empresa; obrigação de produção mínima; recebimento de ajuda-de-custo; e pessoalidade na prestação); e excludentes (existência de escritório próprio e admissão de auxiliares; substituição constante do representante na prestação dos serviços; pagamento de ISS; registro no Conselho Regional de Representantes Comerciais; e utilização do tempo de forma livre). (...) (TRT 3R 2T RO/15600/02 Rel. Juíza Alice Monteiro de Barros DJMG ). O documento de fls. 462/469 comprova que o autor firmou contrato de representação comercial através de sua empresa Feitoza e Fabrício Representações Comerciais Ltda. ME com a 2ª reclamada, Distrimax, a partir de 03/05/2010, declarando que sua empresa era registrada no CORE. Ademais, conforme depoimento pessoal de fl. 473 e verso o reclamante admite que não havia data específica para prestação de contas, nem um roteiro dos clientes a serem visitados, e declara, também, que não deu baixa na empresa porque há possibilidade de prestar serviços para outras empresas que exigem emissão de nota; que depois que saiu da Lilás o depoente fez vendas para Never e Fio de Gotas, ou seja, confessa que passou a prestar serviços para outras empresas,

8 portanto, correta a r. sentença a quo. Mantenho o reconhecimento do vínculo empregatício entre o reclamante e a 1ª reclamada, Lilás, de 24/05/1999 a 02/05/2010, na função de vendedor, com salário mensal de R$2.500,00, por presentes os elementos de certeza formadores do vínculo, mantendo a caracterização de existência de relação de representação comercial no período de 03/05/2010 a 16/01/2013. Nego, pois, provimento. B. PRESCRIÇÃO BIENAL A prescrição declarada, in casu, veio em análise posterior para que a relação havida entre as partes estivesse posta de forma cristalina. Reconhecido vínculo empregatício entre autor e 1ª ré com prazo final em 02/05/2010 e ajuizada a presente ação em 15/01/2013, forçoso declarar a prescrição bienal das pretensões condenatórias ora postuladas, na forma do art. 7º, XXIX, da CF/88. Mantenho. Nego provimento. CONCLUSÃO Ante o exposto, conheço do recurso e, no mérito, nego-lhe provimento, nos termos da fundamentação, mantendo íntegra a r. sentença a quo. ACORDAM os Exmos. Desembargadores que compõem a 1ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso e, no mérito, negar-lhe provimento, nos termos da fundamentação. Rio de Janeiro, 23 de setembro de JORGE ORLANDO SERENO RAMOS Juiz Convocado Relator