VOTO Conhecimento Pressupostos atendidos. Apelo tempestivo. Conheço. (Pág. 1/5)

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1 PROCESSO TRT/SP Nº ª TURMA RECURSO ORDINÁRIO RECORRENTE : RITA DE CASSIA DA SILVA 1.RECORRIDO : BASE BRASIL PLUS CORRETORA SEGUROS LTDA 2.RECORRIDO : BASE BRASIL BI CORRETORA DE SEGURO LTDA ORIGEM: 8ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO CORRETOR DE SEGUROS VÍNCULO EMPREGATÍCIO O simples rótulo de corretor com inscrição na SUSEP, por si só, não é apto a afastar a situação de vínculo, mormente quando na prática resta demonstrada a subordinação à empresa corretora, invocando-se aqui o princípio da primazia da realidade. Destaca-se, ainda, que o óbice legal (artigo 17 da Lei n.4594/1964) impede que a relação empregatícia se estabeleça com a seguradora que possui o produto, não alcançando empresas corretoras que o comercializam. Recurso a que se dá provimento. Inconformada com a r. sentença de fls.370/373, complementada pela r. decisão de fl.384, cujo relatório adoto, que julgou improcedente a ação, recorre a reclamante conforme razões de fl.386/393. Pretende a reforma do julgado e consequente reconhecimento do vínculo empregatício. Procuração às fl.22. Contrarrazões às fls. 395/402 e fl.403/407. Custas isentas. É o relatório. VOTO Conhecimento Pressupostos atendidos. Apelo tempestivo. Conheço. Preliminar (Pág. 1/5)

2 Do cerceamento de defesa indeferimento de perguntas Aduz a recorrente que indeferimento de duas perguntas à segunda testemunha Sra. Elaine Leite Lopes Gimenez- configuraram cereceamento de defesa tendo em vista que pretendia comprovar os requisitos da pessoalidade e subordinação. Incontroverso nos autos que a prestação de serviços da autora perdurou de a A testemunha Elaine declarou que trabalhou na 1ª. reclamada no período de setembro/2009 a , tendo trabalhado na mesma área com a reclamante nos seis primeiros meses. Informou que após esse período não tinha mais contato com a reclamante, afirmando que a reclamante trabalhou até abril/2010. Acertadamente entendeu a r. julgadora de origem que as perguntas formuladas (fl.215): quem passava as ordens de serviço para a reclamante e qual era a jornada de trabalho na área comercial, não eram relevantes ao deslinde do feito, não se vislumbrando o alegado vício. Rejeito. Mérito Do vínculo de emprego Incontroverso nos autos que a reclamante realizava a comercialização de planos de saúde e ondontológico. Insiste a reclamante na tese inicial de que a contração para a prestação de serviços foi entabulada ao arrepio das normas que regulam a relação de emprego. À análise. De início, oportuno transcrever algumas das cláusulas do Contrato de Prestação de Serviços, ajustado entre as partes (fl.30/32 e fl.280/282):... CLÁUSULA TERCEIRA DO LOCAL E PERIODICIDADE DA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS

3 3.1. A prestação de serviços aqui pactuada será realizada nas dependências da CONTRATANTE, de forma não exclusiva e de segunda a sexta feira das 08:30 às 17:30hs. CLÁUSULA QUARTA DA REMUNERAÇÃO E FORMA DE PAGAMENTO 4.1. A remuneração mensal a ser satisfeita pela CONTRATANTE, e devida como contra prestação à representação autônoma pelo CONTRATADO será de R$ 2.000,00, devendo ser paga todo dia 30, mediante contra entrega do Recibo devidamente assinado a ser emitido pela CONTRATANTE. (sic)... CLÁUSULA QUINTA DAS DISPOSIÇÕES GERAIS A carga horária destinada à prestação dos serviços ora contratados deverá ser compatível com as atividades normais da CONTRATANTE A prestação dos serviços objeto deste contrato, não poderá ser cedido, e/ou transferido a terceiros, no todo ou ainda que parcialmente, por parte do CONTRATADO, sem anuência prévia, expressa e escrita da CONTRATANTE.... (gn) Em depoimento pessoal informou o preposto da 1 ª reclamada que (fl.214):...a reclamante recebia cerca de R$ 2000,00 a título de ajuda de custo e que recebia comissões; que não sabe dizer a média de remuneração mensal da reclamante;... que provavelmente tinha que fazer relatórios de vendas;...que cada um tinha uma agenda; que havia uma diretriz; que o telemarketing fazia as ligações e agendava as visitas, repassando para os consultores;...que haviam metas.... A primeira testemunha ouvida a rogo da reclamante, que com ela trabalhou de outubro/2010 a , esclareceu que:...fazia os agendamentos de reuniões com clientes;...que no período em que não estava visitando clientes reclamante trabalhava na empresa diariamente; que havia uma agenda no outlook onde constava o horário das visitas agendadas e efetivada; que a esta agenda tinha uma acesso a depoente, a reclamante e a supervisora Liliana; que a reclamante tinha horário fixo das 8h:30 às 17h:30, que havia controle de jornada através de sistema biométrico; que caso a reclamante não pudesse comparecer a empresa, esta tinha que avisar a supervisora Liliana;...que havia metas de número de visitas e que sabe do fato pelo fato de haver o agendamento de 30 visitas ao mês; que a reclamante participava de reuniões na empresa com a Sra. Liliana e de algumas com o Sr. Alisson;...que as ordens de serviços eram passadas para a reclamante pela Sra. Liliana; que a Sra. Liliana escolhia os clientes que a reclamante iria (Pág. 3/5)

4 visitar.... A única testemunha da reclamada informou que:...que trabalhou com a reclamante de abril/2009 a março/2011; que trabalhou no mesmo local porém, em departamentos diferentes da reclamante; que trabalhavam no mesmo andar, mas em salas diferentes; que não tinha visão física da reclamante;... (gn) e, contrariando as declarações do preposto afirmou que não havia metas. A r. decisão de origem firmou seu convencimento na ocorrência de prova dividida o que, com a devida vênia, não ocorreu. Mesmo que verificada a hipótese de prova empatada, estaria em desfavor do detentor do ônus da prova, no caso a reclamada que alegou trabalho autônomo (art.818, da CLT c/c art.333, II, do CPC). Ainda, a prova documental estampa a exigência de cumprimento de jornada de trabalho e contraprestação pelos serviços prestados e pessoalidade na prestação dos serviços, situação que não se coaduna com a propalada autonomia. A prova oral, por sua vez, reforça tal convicção comprovando a subordinação, cumprimento de ordens de serviço pré-agendadas e alcance de metas disciplinados pela reclamada. No caso, inaplicável o disposto no artigo 17 da Lei n.4594/1964, que veda a formação de vínculo de emprego entre o corretor e a empresa seguradora, eis que desconfigurada a prestação de serviços de forma autônoma. Por qualquer ângulo que se analise a questão resta insofismável a presença do vínculo empregatício (art.3 o, da CLT). De outra parte, há que se ter em vista que a lei obsta a existência de vínculo do corretor com a seguradora visando a proteção do consumidor que ao procurar o melhor do seguro, seja quanto ao valor do prêmio, seja quanto aos benefícios espera que o corretor tenha a necessária isenção ao apresentar o produto. Na hipótese dos autos a relação se estabeleceu com uma empresa corretora de seguros, impondo-se a distinção entre uma e outra: a seguradora é quem oferece o produto e a corretora é quem o comercializa. O simples rótulo de corretor com inscrição na SUSEP, por si só,

5 não é apto a afastar a situação de vínculo, mormente porque na prática restou demonstrada a subordinação à empresa corretora, invocando-se aqui o princípio da primazia da realidade. À propósito a jurisprudência de nossa mais alta Corte: CORRETOR DE SEGUROS VÍNCULO EMPREGATÍCIO. O exercício de atividade profissional de corretor de seguros mediante relação de emprego não depende de ato judicial de natureza constitutiva. Se esse vínculo empregatício se estabelece não obstante vedação legal, sua eficácia jurídicotrabalhista é completa. (Ac. SDI 3358/89, Rel. Min. Ermes Pedro Pedrassani, ) Como à reclamada competia a comprovação dos fatos impeditivos direito da autora, encargo do qual não se desvencilhou, impõe-se a reforma do julgado para declarar a existência do liame empregatício no período de a , considerando-se a prova documental constante dos autos (fl.354/355 Termo de Rescisão Contratual), bem assim a prova oral que confirma o labor no mês de abril, reconhecido pela autora como cumprimento de aviso prévio. DISPOSITIVO Acordam os magistrados da 16ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Segunda Região em conhecer do recurso e, no mérito DAR-LHE PROVIMENTO para, reconhecendo o vínculo no período a determinar o retorno dos autos à Vara de origem para apreciação dos demais pedidos. Não há custas nesta fase processual. mhcf ORLANDO APUENE BERTÃO Desembargador Relator (Pág. 5/5)