PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 2ª TURMA

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1 PROC.TRT/SP nº RECURSO ORDINÁRIO DA 45ª VT/SÃO PAULO RECORRENTES : ANHANGUERA EDUCACONAL LTDA AMANA SALLES RECORRIDOS : OS MESMOS JORNADA ESPECIAL DO JORNALISTA: Não só à empresa jornalística ou de radiodifusão e difusão de imagens se aplica a jornada diferenciada, mas também às não jornalísticas, consoante disposições do parágrafo terceiro, do artigo 3º, do Decreto-Lei 972/69. Inconformada com a r. sentença de fls.289/296, complementada pela decisão de embargos declaratórios de fls.301, cujo relatório adoto, que julgou procedente em parte a ação, interpõe a reclamada Recurso Ordinário às fls.303/316 verso, pretendendo a reforma da r. sentença quanto aos seguintes tópicos: a) prescrição bienal aditamento à inicial; b)vínculo empregatício; c)litigância de má fé; d)horas extras; e)intervalo do art. 384, da CLT; f)diferenças de seguro desemprego. A reclamante, por sua vez, interpõe recurso adesivo às fls.345/350, buscando a reforma do julgado quanto: a)vale transporte; b)multas dos art.467 e 477, da CLT. Custas às fls.317 verso. Depósito recursal às fls.317/318. Contrarrazões pela reclamante às fls.323/341; e pela reclamada às fls.354/355 verso. 1

2 É o relatório. V O T O Presentes os pressupostos legais de admissibilidade, conheço dos recursos impetrados. DO RECURSO DA RECLAMADA 1 DA PRESCRIÇÃO BIENAL ADITAMENTO À INICIAL Pretende a reclamada a reforma da sentença recorrida, a fim de que seja declarada a prescrição dos pedidos formulados no aditamento de fls.170/172. Com razão. Considerando-se que a rescisão do contrato de trabalho entre as partes ocorreu em e o aditamento à inicial somente foi protocolado em , quase três anos após, encontram-se prescritos os pedidos só ali formulados. Certo que a propositura de ação anterior interrompe a prescrição. No entanto tal se dá, apenas, com reação a pedidos idênticos, conforme Súmula 268, do C.TST: 268 Prescrição. Interrupção. Ação trabalhista arquivada (Res. 1/1988, DJ Nova redação - Res. 121/2003, DJ ) A ação trabalhista, ainda que arquivada, interrompe a prescrição somente em relação aos pedidos idênticos. E esta não é a hipótese dos autos, uma vez que o aditamento de fls.170/172 versa sobre pedidos não constantes da inicial. Assim, prescritos os pedidos formulados pelo reclamante em aditamento, nos termos do artigo 7º, inciso XXIX da Constituição Federal. Nestes termos, reformo a sentença 2

3 recorrida para julgar extintos com resolução do mérito, os pedidos de FGTS + 40% do período, expedição de ofício ao INSS, intervalo do art.384, da CLT, vale transporte e diferenças de seguro desemprego, nos termos do art.269, inciso IV do CPC. 2 DO VÍNCULO EMPREGATÍCIO UNICIDADE CONTRATUAL Insurge-se a recorrente contra o reconhecimento do vínculo de emprego desde e consequente unicidade contratual. Argumenta que o depoimento prestado pela testemunha da reclamante não pode ser utilizado como meio de prova, vez que presentes incongruências. Sem razão. A única contradição na prova testemunhal que a recorrente indica em recurso é o fato da testemunha nomear um dos chefes como Renato e, após, como Ronaldo. Ora, mera troca de nomes não tem o condão de invalidar o extenso, firme e convincente depoimento prestado pela testemunha da autora. Com efeito, no tocante ao início do vínculo de emprego, consta do depoimento testemunhal que: "trabalhou junto com a autora desde o ingresso da referida na "Folha Universitária" da ré, na época UNIBAN; que a referida iniciou a prestação de serviços no início de 2008 até 2011; que as atividades da referida sempre foram as mesmas; que a referida era fotógrafa e acompanhava todos os repórteres da época; que a autora tinha mesa, cadeira, participava da reunião de pauta, tinha computador, senha para ingressar no sistema da UNIBAN e, em diversos momentos, dada a qualificação técnica da autora, fazia edição de imagens e trabalhava em parceria com o Sr.. Ronaldo, que era diretor de imagem - diagramador e o Sr.. Ricardo; isso depois de fazer demais atividades como fotografar e acompanhar repórter;... Como se vê, a prova oral confirmou o início da prestação laboral no ano de 2008 e que esta perdurou até 2011, tendo a reclamante sempre se ativado nas mesmas funções, tudo nos termos do narrado na inicial, sendo 3

4 irrelevantes os nomes dos chefes aos quais a reclamante foi subordinada. Ademais, o depoimento testemunhal transcrito não foi infirmado por qualquer contra prova da ré. Não procede, portanto, a insurgência recursal quanto ao reconhecimento do vínculo empregatício e unicidade contratual, fundamentada exclusivamente na alegação de ser a prova testemunhal inservível. Mantenho o decidido pela origem. 3 DA LITIGÂNCIA DE MÁ FÉ Intenciona a recorrente a reforma da sentença recorrida que a condenou por litigância de má fé. Com razão a recorrente, já que, a meu ver, não se acham presentes os requisitos necessários à caracterização da litigância de má-fé. Isto porque, o fato da preposta, em depoimento pessoal, ter lançado afirmações que não se sustentaram não implica, necessariamente, litigância de máfé, mesmo porque referido depoimento foi afastado, não acarretando qualquer prejuízo à reclamante. Desta forma, não vejo na hipótese a presença de deslealdade processual, pelo que, reformo a sentença de primeiro grau para excluir da condenação a multa por litigância de má-fé e a indenização pertinente. Provejo o apelo, no particular. 4 DAS HORAS EXTRAS Busca a recorrente a reforma da sentença recorrida que reconheceu o direito da autora à jornada prevista nos artigos 302 e 303, da CLT. Argumenta não ser empresa jornalística, nem de radiodifusão ou difusão de imagens e que o periódico publicado tem circulação interna e gratuita, o que exclui a incidência da jornada diferenciada. Sem razão, no entanto. De início, cumpre destacar que não só à empresa jornalística ou de radiodifusão e difusão de imagens se aplica a jornada diferenciada, mas também às não 4

5 jornalísticas, consoante disposições do parágrafo terceiro, do artigo 3º, do Decreto-Lei 972/69 que reza: 3º A empresa não jornalística sob cuja responsabilidade se editar publicação destinada a circulação externa, promoverá o cumprimento desta lei relativamente aos jornalistas que contratar, observado, porém, o que determina o artigo 8º, 4º. Nesse sentido, a jurisprudência do C.TST sedimentada na Orientação Jurisprudencial nº 407, da SDI -1, in verbis : JORNALISTA. EMPRESA NÃO JORNALÍSTICA. JORNADA DE TRABALHO REDUZIDA. ARTS. 302 E 303 DA CLT. O jornalista que exerce funções típicas de sua profissão, independentemente do ramo de atividade do empregador, tem direito à jornada reduzida prevista no artigo 303 da CLT. Por outro lado, ao revés do sustentado em recurso, não houve confissão da reclamante quanto à circulação interna do periódico denominado Folha Universitária, mas sim que sua distribuição era gratuita. Além do que a testemunha ouvida pela reclamante comprovou que a circulação do jornal era tanto externa quanto interna: que a "Folha Universitária" era distribuída dentro das unidades da ré, em todas as universidades de São Paulo para algumas pessoas dentro dessas, também era distribuída para Assembléia de São Paulo, Prefeitura, para o Congresso Nacional - todos os parlamentares e senadores, todos faziam parte do mailing; o jornal da FOLHA UNIVERSITÁRIA era feito exclusivamente por profissionais jornalistas; NÃO SE CONFUNDIA COM O CURSO DE 5

6 COMUNICAÇÃO, EXPLICA QUE O CURSO TINHA UM OUTRO VEículo; que por poucos meses tiveram estagiários depois contratados como profissionais jornalistas do meio de comunicação.. (sic). Por fim, consoante já explicitado no tópico pertinente ao vínculo de emprego, restou comprovado nos autos que a reclamante, durante todo o período (2008 a 2011), exerceu as mesmas funções, motivo pelo qual não há que se falar em limitação temporal do exercício da função de jornalista. Ressalte-se, ademais, que o Plenário do STF, através do julgamento do Recurso Extraordinário (RE) , já afastou a exigência de registro e diploma para o exercício da profissão de jornalista. Incensurável, portanto, a sentença recorrida que reconheceu o direito da autora à jornada especial do jornalista, prevista no artigo 303, da CLT, deferindo as horas extras daí consequentes. Nada a reformar. 5 DO INTERVALO PREVISTO NO ART.384, DA CLT E DAS DIFERENÇAS DE SEGURO DESEMPREGO Prejudicada a análise das argumentações da ré quanto aos tópicos, diante da extinção dos pedidos, nos termos acima decididos. DO RECURSO DA RECLAMANTE 1 DO VALE TRANSPORTE Prejudicada a análise das argumentações da reclamante quanto ao tópico, diante da extinção do pedido, nos termos acima decididos. 2 DAS MULTAS DOS ARTIGOS 467 E 477, DA CLT Ao contrário do que pretende a reclamante, inexistiam verbas rescisórias incontroversas a 6

7 seu favor, não havendo que se falar na aplicação da penalidade prevista no art.467, da CLT. Ainda, diferenças de verbas rescisórias não atraem o pagamento da multa do art.477, da CLT, motivo pelo qual também improcede a pretensão. Mantenho a sentença recorrida que assim decidiu. Pelas razões expostas, ACORDAM os Magistrados da 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Segunda Região em: DAR PROVIMENTO EM PARTE ao recurso ordinário da reclamada para julgar extintos com resolução do mérito, os pedidos de FGTS + 40% do período, expedição de ofício ao INSS, intervalo do art.384, da CLT, vale transporte e diferenças de seguro desemprego, nos termos do art.269, inciso IV do CPC, bem como a fim de excluir da condenação a multa por litigância de má fé; e NEGAR PROVIMENTO ao recurso adesivo da reclamante, na forma da fundamentação constante do voto da Relatora. No mais, resta mantida a r. sentença, inclusive quanto ao valor e as custas. SÔNIA MARIA FORSTER DO AMARAL DESEMBARGADORA RELATORA / 7