PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO

Transcrição

1 1 PROCESSO TRT/SP N.º ( ) ORIGEM: 06ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO RECURSO ORDINÁRIO 1º RECORRENTE: SAMIR JABAQUARA COMÉRCIO DE PLÁSTICOS E ESPUMAS LTDA. 2º RECORRENTE: SIRLENE BATISTA DA SILVA RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO DESCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS. Apenas o descumprimento pelo empregador, das obrigações contratuais previstas na legislação obreira, de forma reiterada e cumulativa, se reveste de tal gravidade que justifica a rescisão indireta do contrato de trabalho. Recurso ordinário interposto pela reclamada às fls. 286/296 e recurso adesivo interposto pela reclamante às fls. 318/327, em face da r. sentença de fls. 274/284, cujo relatório adoto, que julgou procedente em parte a reclamatória. A reclamada invoca nulidade processual por cerceamento de defesa em razão do indeferimento da oitiva de sua testemunha. No mérito sustenta que que são indevidas as horas extras e seus reflexos acessórios, inclusive as decorrentes da fruição parcial do intervalo intrajornada; que o dano moral não restou comprovado; que, alternativamente, a indenização deve ser arbitrada observando-se os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade; que os requisitos que dariam ensejo à rescisão indireta do contrato de trabalho não restaram configurados, sendo indevidos os títulos rescisórios. A reclamante sustenta que a indenização por danos morais deve ser majorada; que são devidos honorários advocatícios. Depósito recursal às fls. 297/298 e custas processuais às fls Contrarrazões da reclamante às fls. 304/312 e da reclamada às fls. 330/334. É o relatório.

2 2 V O T O DO CONHECIMENTO Conheço dos recursos ordinários interpostos pelos litigantes por presentes os pressupostos processuais de admissibilidade. Ao revés do sustentado pela reclamante nas contrarrazões, a reclamada externa de forma precisa os fundamentos contrários à r. sentença, atendendo o disposto no artigo 514, II, do CPC, não havendo justificativas para o não conhecimento do apelo. Por uma questão de boa ordem processual dou preferência ao exame da preliminar de nulidade processual por cerceamento de defesa, invocada pela reclamada no curso do arrazoado, uma vez que seu acolhimento prejudicaria o exame dos demais tópicos recursais. RECURSO DA RECLAMADA DA NULIDADE PROCESSUAL POR CERCEAMENTO DE DEFESA Intenta a recorrente o pronunciamento da nulidade processual pelo fato de ter sido acolhida a contradita de sua testemunha restando fustigada, no seu entender, a possibilidade de provas no tocante as horas extras. Ocorre que a teor do disposto no artigo 795 da CLT as nulidades não serão declaradas senão mediante provocação das partes, as quais deverão argui-las à primeira vez em que tiverem que falar em audiência ou nos autos. Como pode ser observado a fls. 269, a recorrente não protestou contra o acolhimento da contradita, não requereu a oitiva da testemunha como informante e, por fim, concordou com o encerramento da instrução processual sujeitando-se aos efeitos da preclusão consumativa. Rejeito. DAS HORAS EXTRAS DO INTERVALO INTRAJORNADA Insurge-se a recorrente contra a r. sentença, calcada na premissa de que não poderia ter sido valorado o depoimento da única testemunha obreira, em razão das evidentes discrepâncias no depoimento. Algumas considerações iniciais se fazem necessárias. O pedido de horas extras foi fundamentado no cumprimento de jornada de trabalho das 08h30min às 19h00min de 2ª feira a 6ª feira, com uma hora de intervalo, e aos sábados das 08h30min às 14h00min com quinze minutos de intervalo, até 23 de janeiro de 2013 e, após essa data das 08h30min às 18h00min, mantidos os mesmos intervalos e a mesma jornada aos sábados; de acordo com a causa de pedir, muito embora a jornada legal tivesse sido suplantada, não foram pagas horas extras. 2

3 3 Pois bem. O fato de a testemunha obreira não ter sabido esclarecer os meses efetivos de seu afastamento, não invalida a prova, até porque, a suplementação da jornada foi corroborada. Tampouco favorece a recorrente a circunstância de a testemunha ter reportado que, em determinado período, a saída era às 18:00, uma vez que não destoa da jornada que, de acordo com a prefacial, teria sido cumprida após janeiro de Releva considerar que o Juízo de origem não fixou o horário de saída, após a data em destaque, de forma distinta daquela reportada na causa de pedir. No que concerne as horas extras derivadas da fruição irregular do intervalo intrajornada, não vislumbro interesse recursal tendo em vista que o pedido foi julgado improcedente. Mantenho. DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS De acordo com a testemunha obreira, a supervisora hierárquica se referia aos empregados como postes, quando estavam parados sem trabalhar, ao passo que, em determinada ocasião, gritou com a reclamante quando o telefone celular começou a tocar. Pois bem. Tendo em vista que o tratamento era usual, atingindo todos os empregados e que o contrato de trabalho perdurou por mais de seis anos, à evidência a reclamante não se sentiu atingida em sua honra ou boa imagem. Ademais se portava celular no momento dos préstimos laborais e o mantinha ativo, pertinente a censura. Ainda que a superiora hierárquica tivesse elevado a voz, tal circunstância, de forma isolada, não revelaria o dano moral. Provejo, restando prejudicado o exame do recurso no que concerne ao valor da reparação pecuniária. DA RUPTURA CONTRATUAL POR JUSTA CAUSA DO EMPREGADOR Tanto a ruptura contratual por justa causa do empregado, quanto do empregador, deve se embasar em fato de tamanha gravidade que justifique o rompimento do

4 4 contrato do trabalho. No caso, o pressuposto legal não restou configurado, O dano moral não ficou evidenciado, ao passo que a sonegação de horas extras de forma isolada não impede a continuidade dos préstimos laborais, obstando o intento da reclamante. Provejo, expurgando da condenação os títulos rescisórios eis que embasados na ruptura contratual por justa causa do empregador. RECURSO DA RECLAMANTE DA MAJORAÇÃO DA INDENIZAÇÃO PELO DANO MORAL Prejudicado o exame do apelo, em razão do provimento do recurso patronal. DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DA REPARAÇÃO PELAS PERDAS E DANOS Nas lides trabalhistas os pressupostos para concessão dos honorários advocatícios não foram alterados com o advento do Novo Código Civil. A Lei n.º 5.584/70 estabelece os pressupostos legais para o deferimento da verba honorária e são eles: assistência da entidade de classe e salário inferior ao dobro do mínimo legal, de forma cumulativa. Levando em conta que a reclamante poderia ter procurado os profissionais mantidos pela Entidade de Classe, e não o fez, fica evidente que os ônus da opção pessoal, não podem ser imputados à reclamada. No mesmo sentido a Súmula 18 deste Egrégio Tribunal Regional e as Súmulas 219, 329 do Colendo TST. A legislação ordinária tem aplicação nas lides trabalhistas apenas no caso de omissão da CLT. Como visto, não é o caso. Mantenho. CONCLUSÃO: ACORDAM os Magistrados da 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Segunda Região em: CONHECER dos recursos interpostos pelos litigantes em REJEITAR a preliminar de nulidade processual por cerceamento de defesa invocada pela reclamada e, no mérito, DAR-LHE PROVIMENTO PARCIAL para expurgar da condenação a indenização pelo dano moral e os títulos rescisórios, segundo os fundamentos do voto da Desembargadora Relatora. Manter o valor arbitrado, de forma meramente estimativa, à condenação e às custas processuais. 4

5 5 ROSA MARIA VILLA DESEMBARGADORA RELATORA RMV/11.