Tribunal de Contas da União. Número do documento: DC /00-P. Identidade do documento: Decisão 817/ Plenário

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1 Tribunal de Contas da União Número do documento: DC /00-P Identidade do documento: Decisão 817/ Plenário Ementa: Representação formulada pela Justiça Federal, Seção Judiciária do Pará. Possíveis irregularidades praticadas pela Companhia Docas do Pará. Permanência, sem concurso público, de empregados aposentados em seus respectivos cargos. Conhecimento. Procedência. Acolhimento das justificativas apresentadas. Determinação. Juntada às contas. Grupo/Classe/Colegiado: Grupo I - CLASSE I - Plenário Processo: / Natureza: Representação Entidade: Companhia Docas do Pará - CDP Interessados: INTERESSADA: Drª Hind Ghassan Kayath, Juíza Federal Dados materiais: ATA 38/2000 DOU de 19/10/2000 INDEXAÇÃO Representação; Justiça Federal; PA; CDP; Cargo; Aposentadoria; Suspensão; Servidor Inativo; Concurso Público; Legislação; Pagamento; Entidade Fechada de Previdência Privada; Sumário: Representação. Conhecimento. Permanência, sem concurso público, de empregados aposentados em seus respectivos cargos. Demissão e posterior reintegração pela justiça trabalhista. Advento da Lei 9.528/1997. Determinações. Juntada destes autos às contas anuais para análise em conjunto e em confronto.

2 Relatório: Trata-se de ofício da lavra da Drª Hind Ghassan Kayath, Juíza da Justiça Federal de 1ª Instância, Seção Judiciária do Pará, encaminhando cópia integral do processo , conforme solicitado pelo Procurador da República Dr. Ubiratan Cazetta, referente ao inquérito policial 102/98-SR/DPF/PA instaurado para apurar possíveis irregularidades relacionadas a permanência, sem concurso público, de empregados aposentados em seus respectivos cargos na Companhia Docas do Pará - CDP, no período de 1993 a 1996, contrariando o disposto no art. 37, incisos I, II, XVI e XVII, da Constituição Federal. O encaminhamento sugerido pelo Procurador da República Dr. Ubiratan Cazetta deu-se pelas seguintes razões: "No que tange ao aspecto administrativo da questão, a punição prevista no 2º do art. 37 há de ser adotada pelos órgãos de controle, o que leva o Ministério Público Federal a requerer envio de cópia deste procedimento ao Tribunal de Contas da União." Após analisar o processo, a Secex/PA, na instrução fls. 165/9, conclui pelo conhecimento da presente representação para, no mérito, considerá-la procedente, ante a hegemonia do estabelecido no art. 37, inciso II, da Constituição Federal. Opina, de forma alternativa, pelas seguintes decisões: a) o arquivamento dos autos, considerando que o ato praticado pelo responsável foi sanado pela Resolução CDP 147/96, cujo fato foi ressalvado em legislação superveniente por efeito do art. 11 da Lei 9.528/97; b) audiência do sr. Carlos Acatauassú Nunes, Diretor-Presidente da Companhia Docas do Pará, nos termos do art. 40 da Lei 8.443/92, considerando o 1º do art. 37-A da Resolução TCU 77/96, para apresentar razões de justificativa para a permanência, sem concurso público, de empregados aposentados em seus respectivos cargos, no período de 1993 a 1996, contrariando o disposto no art. 37, incisos I, II, XVII, da Constituição Federal, informando sobre o estágio atual da situação de tais empregados, face ao contido no art. 11 da Lei 9.528/97 e parágrafos. Mediante despacho fl. 170, foi autorizada a realização da audiência sugerida na alínea "b" acima. Em atendimento, o responsável encaminhou o arrazoado fls. 174/9, acompanhado dos elementos fls. 180/280. No essencial, as ponderações são as seguintes:

3 - mencionou a permanente preocupação administrativa quanto à existência de servidores, admitidos cinco anos antes da vigência da CF/88, que, após aposentados, permaneceram no exercício de suas funções, sob o amparo do art. 19 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias; - assinalou a crescente dificuldade de solucionar a situação, face ao entendimento dos Tribunais Trabalhistas quanto à disciplina do art. 49, inciso I, letra "b", da Lei 8.213/91, considerando não ser a aposentadoria por tempo de serviço, causa da extinção do contrato de trabalho, com a expedição de mandados judiciais para reintegração de aposentados e recursos da empresa para o Tribunal Superior do Trabalho, aguardando decisão final; - informou que neste interregno, foi formulada consulta ao Ministério Supervisor, atendida pelo ofício-circular 734/Sepro, de (fl. 180), concluindo, nos termos do parecer Conjur/MT 7, de (fls. 181/5), quanto aos casos já consumados, pelo sobrestamento do feito até a completa elucidação da matéria pelo Supremo Tribunal Federal, sem prejuízo da adoção dos procedimentos recomendados; - a Companhia solicitou orientação ministerial quanto ao novo entendimento expresso no Parecer Conjur/MT 7, de , concluindo pela "...imediata rescisão do contrato de trabalho dos empregados aposentados voluntariamente, em observância ao art. 37, II, XVI e XVII, da Constituição Federal, sem qualquer pagamento a título de indenização, devidas apenas as verbas referentes aos dias trabalhados (FGTS, sem a multa de 40%, 13º salário proporcional e férias integrais e/ou proporcionais), não podendo enquadrá-los no programa de incentivo de desligamento"; - pela Resolução CDP 147, de (fls. 200/1), foi cumprida a determinação ministerial (fl. 192), para atendimento do disposto no Parecer Conjur/MT 7/96, dispensados até dezembro de 1996, todos os servidores aposentados, na forma disciplinada na aludida Resolução; - após as demissões, a Companhia foi acionada judicialmente perante a justiça trabalhista, expressando entendimento divergentes sobre a matéria, apontados no item 7 (fls. 175/6), ora considerando a aposentadoria espontânea de empregado como causa de extinção do contrato de trabalho, sem nenhum ônus ao empregador, ora condenando ao pagamento do aviso prévio e da multa do FGTS e, em alguns casos, determinando a reintegração do empregado; - tais demandas motivaram a interposição de Recurso de Revistas para o

4 Tribunal Superior do Trabalho (fl. 176); - as decisões judiciais foram acatadas pela Companhia, sob pena de processo de crime de responsabilidade e desobediência, cujos processos encontram-se pendentes de julgamento no Tribunal Superior do Trabalho; - ante as razões expendidas e a documentação acostadas aos autos, o responsável nega qualquer ato de desrespeito aos princípios da legalidade e moralidade estabelecidos na Constituição Federal, uma vez observadas rigorosamente as determinações superiores emanadas da Consultoria Jurídica do Ministério supervisor e do Conselho de Administração da Empresa. A Secex/PA realizou diligência junto à Companhia Docas do Pará - CDP para que apresentasse esclarecimentos e informações adicionais necessários ao saneamento dos autos (fl. 278). Fizeram-se presentes os seguintes esclarecimentos (fl. 279/80): - a diretoria da companhia procedeu à rescisão dos contratos de trabalho dos empregados aposentados, em cumprimento às orientações do Parecer Conjur/MT 7/96. Posteriormente, os empregados aposentados foram reintegrados, em decorrência de decisões judiciais, sendo esclarecido que não foi formalizada solicitação nem de suspensão da aposentadoria concedida pelo INSS, nem da suplementação do Portus, em face de estarem as referidas decisões pendentes de julgamento perante o Tribunal Superior do Trabalho; - o retorno dos empregados aposentados à empresa ocorreu por força de determinações judiciais, cumpridas pela Diretoria, sob pena de responder por crime de responsabilidade e desobediência; e - foram interpostos pela companhia recursos judiciais contra todas as decisões de Juntas e do Tribunal Regional, ora pendentes de julgamento no Tribunal Superior do Trabalho. Na instrução fls. 281/4, a unidade técnica, em pareceres uniformes, considerando a adoção de providências por parte da Companhia Docas do Pará - CDP para o saneamento da questão e o cumprimento de decisões judiciais decorrentes de reclamações trabalhistas impetradas contra a empresa, propõe: a) sejam acolhidas as razões de justificativa apresentadas pelo responsável para a permanência, sem concurso público, de empregados aposentados em seus respectivos cargos, no período de 1993 a 1996, sem prejuízo de determinação para que seja formalizada pelos empregados a

5 solicitação exigida no art. 11 da Lei 9.528/1997, quanto à suspensão da aposentadoria e do pagamento feito por entidade fechada de previdência privada complementar patrocinada pela empresa empregadora; b) seja determinada a juntada do processo às contas do exercício de 1999, para exame em conjunto e em confronto, expedindo-se comunicação da decisão adotada ao Controle Interno, para fins de análise e avaliação prevista no art. 17, inciso III, letra "i", da Instrução Normativa TCU 12, de , com vistas ao acompanhamento dos feitos judiciais. Ouvido o Ministério Público, este manifesta-se de acordo com as proposições da unidade técnica (fl. 216). É o relatório. Voto: Conheço o expediente encaminhado pela Drª Hind Ghassan Kayath, Juíza da Justiça Federal de 1ª Instância, Seção Judiciária do Pará, como representação, por preencher os requisitos do art. 37-A, inciso III, da Resolução 77/96, e alterações posteriores. A questão objeto da presente representação subsume-se à permanência, sem concurso público, de empregados aposentados, em seus respectivos empregos, no período de 1993 a 1996, contrariando o disposto no art. 37, incisos I, II, XVI e XVII, da Constituição Federal e no 1º do art. 453 da Consolidação das Lei do Trabalho. A diretoria da Companhia Docas do Pará - CDP procedeu à rescisão dos contratos de trabalho dos empregados aposentados, em cumprimento à orientação do Parecer Conjur/MT 7/96 (fls. 187/90). Posteriormente, ocorreu a reintegração desses mesmos empregados em cumprimento a decisões judiciais, sob pena de o administrador responder por crime de responsabilidade e desobediência. Com o advento da Lei 9.528, de 10 de dezembro de 1997, para os empregados aposentados que retornaram à atividade, ou aqueles que se aposentaram e optaram por continuar trabalhando, é assegurado a não extinção do vínculo empregatício, nas condições que especifica, in verbis: "Art. 11. A extinção do vínculo de que trata o 1º do art. 453 da CLT não se opera para os empregados aposentados por tempo de serviço que permaneceram nos seus empregos até esta data, bem como para aqueles que foram dispensados entre 13 de outubro de 1996 e 30 de novembro de 1997,

6 em razão da aposentadoria por tempo de serviço, desde que solicitem, expressamente, até 30 de janeiro de 1998, a suspensão da aposentadoria e, quando houver, a do pagamento feito por entidade fechada de previdência privada complementar patrocinada pela empresa empregadora. 1º O disposto no caput deste artigo não se aplica aos que, em face do desligamento, receberam verbas rescisórias ou indenizatórias, ou quaisquer outras vantagens a título de incentivo à demissão. 2º O retorno ao trabalho do segurado aposentado dar-se-á até 2 de fevereiro de 1998, não fazendo jus a qualquer indenização, ressarcimento ou contagem de tempo de serviço durante o período situado entre a data do desligamento e a data do eventual retorno. 3º O pagamento da aposentadoria será restabelecido, a pedido do segurado, quando do seu afastamento definitivo da atividade, assegurando-se-lhe os reajustes concedidos aos benefícios de prestação continuada da Previdência Social no período da suspensão da aposentadoria." É verdade que a lei estabeleceu condições específicas para que não se opere a extinção do vínculo. Contempla somente os empregados aposentados por tempo de serviço que permaneceram nos seus empregos até a data da sanção da lei e, ainda, aqueles dispensados em certos períodos e que solicitaram, até , a suspensão da aposentadoria e, quando houver, a do pagamento feito por entidade fechada de previdência privada complementar, patrocinada pela empresa empregadora. Entretanto, como não há nestes autos os elementos essenciais para análise individualizada de cada caso e por estar a matéria ainda pendente de decisão definitiva na esfera trabalhista, parece-me adequado acompanhar esta questão nas próximas contas da Companhia Docas do Pará - CDP. Considero, também, pertinente determinação à entidade para que observe os procedimentos previstos no art. 11 e da Lei 9.528/97, no que tange à suspensão da aposentadoria e do pagamento por parte da entidade fechada de previdência privada complementar patrocinada pela empresa empregadora, e ao controle interno para que, na forma do art. 17, inciso III, letra "i", da Instrução Normativa TCU 12, de , acompanhe também os feitos judiciais. Dessa forma, VOTO por que o Tribunal adote a DECISÃO que ora submeto ao Egrégio Plenário.

7 Sala das Sessões, em 27 de setembro de Walton Alencar Rodrigues Ministro-Relator Assunto: I - Representação. Relator: WALTON ALENCAR Representante do Ministério Público: PAULO SOARES BUGARIN Unidade técnica: SECEX-PA Quórum: Ministros Presentes: Humberto Guimarães Souto (na Presidência), Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça, Bento José Bugarin, Valmir Campelo, Adylson Motta, Walton Alencar Rodrigues (Relator) e o Ministro-Substituto José Antonio Barreto de Macedo. Sessão: T.C.U., Sala de Sessões, em 27 de setembro de 2000 Decisão: O Tribunal Pleno, diante das razões expostas pelo Relator, DECIDE, com fulcro no art. 37-A, inciso III, da Resolução 77/96: 8.1. conhecer da presente representação para considerá-la procedente; 8.2. acolher as razões de justificativa apresentadas pelo responsável, sr. Carlos Acatauassú Nunes, e determinar à atual administração da Companhia Docas do Pará - CDP que seja formalizada pelos empregados a exigência prevista no art. 11 da Lei 9.528/1997, quanto à suspensão da aposentadoria e do pagamento feito por entidade fechada de previdência privada complementar patrocinada por empresa empregadora; 8.3. comunicar ao controle interno competente para que acompanhe os feitos judiciais objeto da presente representação, para os fins previstos no art. 17, inciso III, letra "I", da Instrução Normativa TCU 12/96; e

8 8.4. determinar a juntada deste processo às contas da Companhia Docas do Pará - CDP, exercício de 1999, para exame em conjunto e em confronto. Parecer do Ministério Público: Processo TC nº / Representação Excelentíssimo Senhor Ministro-Relator. Examina-se Representação para que sejam apuradas possíveis irregularidades relacionadas a contratos de trabalho celebrados com a Companhia Docas do Pará - CDP. 2.A instrução do processo concluiu, alternativamente, pelo arquivamento ou pela audiência do Sr. Carlos Acatauassú Nunes, nos termos do art. 40, da Lei nº 8.443/92. 3.Em despacho de fl. 170, o Excelentíssimo Senhor Ministro-Relator WALTON ALENCAR RODRIGUES determinou a audiência do responsável. 4.Retorna, agora, com a apresentação das justificativas pelo responsável, anexando documentos de fls. 172 a A Unidade Técnica analisa detalhadamente as razões de justificativa apresentadas nos itens a Conclui, finalmente: "a) sejam acolhidas as razões de justificativa apresentadas pelo responsável para a permanência, sem concurso público, de empregados aposentados em seus respectivos cargos, no período de 1993 a 1996, haja vista a adoção de providências para saneamento do feito, e o cumprimento de decisões judiciais decorrentes de reclamações trabalhistas impetradas contra a empresa, sem prejuízo de determinação para que seja formalizada pelos empregados a solicitação exigida no art. 11 da Lei nº 9.528/1997, quanto à suspensão da aposentadoria e do pagamento feito por entidade fechada de previdência privada complementar patrocinada pela empresa empregadora; b) seja determinada a juntada do processo às contas do exercício de 1999, para exame em conjunto e confronto, expedindo-se comunicação da decisão adotada ao Controle Interno, para fins de análise e avaliação previstas no art. 17, inciso III, letra 'l', da instrução Normativa TCU nº 12, de 24/04/1996, com vistas ao acompanhamento dos feitos judiciais."

9 6.Ante os elementos que constam dos autos, este Representante do Ministério Público aquiesce à proposição da Unidade Técnica acima transcrita. Ministério Público, em 26 de maio de PAULO SOARES BUGARIN Subprocurador-Geral