AS SENSAÇÕES SEGUNDO A TEORIA DAS IDEIAS NAS MEDITAÇÕES METAFÍSICAS DE DESCARTES

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1 AS SENSAÇÕES SEGUNDO A TEORIA DAS IDEIAS NAS MEDITAÇÕES METAFÍSICAS DE DESCARTES Juliana Abuzaglo Elias Martins Mestranda em Filosofia do PPGLM/UFRJ Resumo O presente texto tem como tema as sensações, ou as ideias dos sentidos. Procuraremos tratar aqui da maneira como o filósofo René Descartes problematiza e/ ou se utiliza deste assunto nas Meditações Metafísicas, no sentido de esclarecer seus diferentes aspectos e modos de tratamento ao longo dessa obra. Assim, analisaremos algumas passagens das Meditações nas quais o filósofo trata dos sentidos. A ênfase será sobre as Meditações Terceira e Sexta, onde ocorre respectivamente, a introdução do conceito de ideia materialmente falsa e o tratamento das ideias dos sentidos como fonte de certos tipos de conhecimentos. Palavras-chave: Descartes. Ideias. Sentidos. Abstract: The present paper has as its theme, sensations or ideas of sense. We work here in the way the philosopher René Descartes discusses and / or uses this theme in his Metaphysical Meditations, in order to clarify its different aspects and modes of treatment throughout this book. Therefore, we will analyze some passages of the Meditations in which the philosopher investigates the senses. Our emphasis will be on the Third and Sixth Meditations, in which occurs respectively, the introducing of the concept of material false ideas and the treatment of sense ideas as being a source of certain types of knowledge. Keyword: Descartes. Ideas. Senses. 1 - A questão dos sentidos nas Meditações Não seria de todo correto afirmar que a obra Meditações Metafísicas 1 possui como tema principal ou mesmo como objetivo principal, a problematização dos sentidos, ou, da percepção sensorial. Contudo, é inegável que ao ler a obra, percebe-se que tal ponto se faz presente em momentos importantes do texto. A Meditação Primeira, Segunda, Terceira e Sexta são momentos nos quais podemos perceber o filósofo tratando do tema dos sentidos. Neles, em diversas passagens é possível afirmar que nossas percepções sensoriais estão sendo discutidas ou estão sendo utilizadas em argumentos para a refutação ou para a ratificação de alguma tese. 1 DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 3ª ed., (Col. Os Pensadores). Adotamos no texto a divisão por parágrafos e a consequente numeração dos mesmos estabelecida por Bento Prado Junior nesta tradução para o português do texto cartesiano. 17

2 A princípio poderia soar estranho se, levando em consideração o título da obra, Meditações Metafísicas, constatássemos que os sentidos 2 bem como a experiência sensorial de um modo geral, constituem parte relevante da obra; a palavra metafísica pode facilmente denotar aqui um sentido referente à produção teórica e especulativa de conhecimento, diminuindo consequentemente, um possível valor ou um possível papel da experiência sensorial. De fato, Descartes e mais especificamente esta obra, freqüentemente têm sido lidos e interpretados como referentes a tudo que diz respeito majoritariamente a possibilidade e afirmação de produção de conhecimento teórico que privilegia a razão em detrimento dos sentidos. É possível interpretar a obra de Descartes como estabelecendo conexões e diálogos diretos entre ele e os filósofos tomistas medievais, que por sua vez, em última instância adotam e se baseiam no modelo aristotélico de produção do conhecimento, segundo o qual todo conhecimento tem origem na percepção sensível. Levando em consideração que tal modelo, reconhecidamente, valoriza a experiência sensível, podemos então afirmar que a menção ou a referência em vários momentos da obra cartesiana aos sentidos, não é de modo algum estranha ou inapropriada. É com esta tradição, que de algum modo privilegia os sentidos, que Descartes dialoga. Sendo assim, ainda que em sua obra Descartes responda aos céticos, os quais duvidam e questionam a possibilidade do conhecimento, sua resposta tem como fio condutor a oposição a filósofos de tradição aristotélica segundo a qual todo conhecimento começa com dados ou imagens sensíveis. Um exemplo que ilustra bem a preocupação de Descartes com a tese de que o conhecimento tem origem nos sentidos, é o fato de logo no início das Meditações, no início da Primeira Meditação, Descartes afirmar: Tudo o que recebi, até presentemente, como o mais verdadeiro e seguro, aprendi-o dos sentidos ou pelos sentidos: ora, experimentei algumas vezes que esses sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar em quem já nos enganou uma vez 3. Trata-se da abertura da obra, de seu começo, e a primeira referência que o autor faz neste importante ponto é justamente à questão dos sentidos. Em seguida será desenvolvido o argumento da dúvida dos sentidos, onde Descartes vai constatar que não se deve fiar nos sentidos, isto é, nas opiniões provindas deles. Esse primeiro tratamento das ideias dos sentidos é, portanto, referente ao conteúdo dessas ideias; mais precisamente trata-se de problematizar a veracidade dos diferentes conteúdos das ideias dos sentidos. 2 Adotamos no texto os termos sentido, sensações e ideias dos sentidos como sinônimos. 3 Ibidem, pp

3 Neste argumento, o pensador expõe os motivos segundo os quais devemos crer que os sentidos não são fonte confiável de produção de conhecimento científico. Este questionamento se dá em dois momentos, ou, em dois níveis. O primeiro defende que há uma inconsistência nos enunciados baseados nas percepções dos sentidos em relação às propriedades ou qualidades das coisas particulares. Como exemplo, podemos citar que se de longe percebo um carro como sendo de tamanho pequeno e da cor preta, pode ocorrer que ao me aproximar deste mesmo carro, eu perceba nele o tamanho grande e a cor azul. Isto é, pode ocorrer (e frequentemente ocorre) que em diferentes circunstâncias e/ou diferentes momentos meus sentidos me forneçam informações discrepantes acerca das qualidades de uma mesma coisa e, por essa razão, não posso afirmar que as coisas têm as qualidades que percebo pelos sentidos. No caso do exemplo acima, não posso afirmar que o carro é pequeno e preto, ou grande e azul, se apelo apenas para os sentidos. Ora me aparece como tendo umas qualidades, ora como tendo outras. Porém, ainda que eu possa pelo motivo exposto acima duvidar do meu conhecimento das qualidades sensíveis de coisas particulares, eu não posso por esse mesmo motivo duvidar do conhecimento fornecido pelos sentidos acerca da existência destas. Embora eu possa ter percepções discrepantes acerca das qualidades dessas qualidades, a percepção que tenho da existência da coisa que tem qualidades não varia. Nesse sentido, ainda que minhas percepções das qualidades sensíveis sejam inconsistentes e por isso, dubitáveis, minha percepção da existência das coisas particulares é certa. Descartes então lança mão de um segundo argumento que questionará os enunciados vindos dos sentidos sobre o meu conhecimento da existência destas coisas particulares, o chamado argumento do sonho. Segundo esse argumento, não há marcas suficientemente fortes que permitam distinguir as percepções que tenho na vigília das percepções que tenho no sonho. Sei, entretanto que das percepções que tenho durante o sonho não posso inferir a existência das coisas percebidas. Mas se é assim, e se as percepções do sonho e da vigília não se distinguem, não há razão para crer que das percepções na vigília posso concluir pela existência das coisas percebidas. Em outras palavras, o que eu sinto durante um sonho parece tão real quanto aquilo que sinto quando estou acordado. Posto isto, Descartes então chama atenção para o fato de que se não possuímos com exatidão critérios para diferenciar as percepções sensíveis que temos nestes dois estados, isto é, o que eu sinto durante a vigília é semelhante ao que sinto quando sonho, e se quando sonho estou tendo na realidade percepções de coisas que não existem- visto que se trata de um sonho-, então tudo aquilo que sinto durante a vigília 19

4 pode não existir de fato, e assim como no sonho, posso ter simplesmente percepções de coisas que não existem. Deste modo, Descartes oferece razões que nos permitem questionar e duvidar dos sentidos como fonte de conhecimento. Cabe enfatizar aqui que não se trata de uma dúvida aleatória onde o pensador nega a existência da experiência empírica. Mas antes de uma refutação relativa à legitimidade dos sentidos enquanto fonte de conhecimento. Trata-se somente de negar uma função destes dentro de uma perspectiva cognitiva. 2 - As ideias de sentido na Terceira Meditação Tendo concluído a Segunda Meditação, aonde chegou à certeza da existência do eu enquanto pensamento, na Terceira, Descartes partirá de uma análise interna deste mesmo pensamento, para problematizar a questão da representação, isto é, da ideia em sentido estrito. Note-se que no início do texto, Descartes retoma a conclusão da Segunda Meditação reafirmando a certeza que possui da existência do pensamento, bem como dos atos de pensamento, incluindo nesses os atos de sentir e de imaginar. Diz ele: Sou uma coisa que pensa, isto é, que duvida que afirma, que nega, que conhece poucas coisas, que ignora muitas, que ama, que odeia, que quer e não quer, que também imagina e que sente 4. Percebemos aqui que ao enumerar diversos modos de pensamento, Descartes introduz os atos de sentir e de imaginar que conforme o mesmo elucida na Primeira Meditação, são considerados pela tradição como ligados à experiência empírica e sensorial do mundo físico. Contudo, como na Primeira Meditação Descartes pôs em questão o conhecimento que temos do mundo físico (não só através da dúvida relativa ao conhecimento sensível das coisas singulares, como mostramos acima, mas também através de uma dúvida mais geral a do Gênio Maligno que põe em questão a objetividade de qualquer representação, isto é, a correspondência de qualquer representação com coisas de um mundo independente do pensamento), e como mostrou na Segunda que o único conhecimento de existência que escapa às razões de duvidar é o conhecimento da existência do eu enquanto pensamento, então, ao introduzir os atos de sentir e de imaginar considerando-os como modos dessa coisa que sei que existe, Descartes parece igualar todos estes modos de pensamento. Todos esses atos de pensamento independem da existência ou não do mundo externo. Nesse sentido, o que escapa à dúvida no que diz respeito a sentir e imaginar, assim como a todos os atos de 4 Ibidem, p

5 pensamento, é o fato de que penso que sinto, penso que imagino, isto é, a consciência que tenho de que sinto, que imagino, que amo, que quero, etc. Nas palavras de Descartes:...conquanto as coisas que sinto e imagino não sejam talvez absolutamente nada foram de mim e nelas mesmas, estou, entretanto, certo de que essas maneiras de pensar, que chamo sentimentos e imaginações, somente na medida em que são maneiras de pensar residem e se encontram certamente em mim. 5 Desta forma, ainda que me ocorra sentir alguma coisa que possa não ter existência empírica, não é possível duvidar deste ato de sentir, pois em última instância se trata tão somente de pensar que sinto e isto se revela algo de cuja certeza não possuo, nem posso possuir, a menor dúvida. Até aqui portanto, sentir, imaginar, querer, amar, pensar, etc., é o mesmo que pensar que sente, pensar que imagina, pensar que quer, etc. Os sentidos aqui são considerados enquanto modos de pensar e não em seu conteúdo, e por isso são equivalentes a todos os outros. Sentir, negar, querer, imaginar são uma mesma coisa na medida em que penso que sinto, penso que nego, penso que quero ou penso que imagino referem-se e evidenciam uma mesma coisa: o meu pensamento (cogito). Prosseguindo, nessa mesma Meditação, após introduzir o que segundo ele seria o sentido estrito do termo ideia, Descartes passa a outra problematização das ideias relacionadas aos sentidos ao retomar algumas teses da tradição a respeito das ideias. Os tipos de ideia por ele mencionados são: as que nascem comigo (inatas), as que vêm de fora (adventícias), e as produzidas por mim mesmo (fictícias). Em suas palavras:...que eu tenha a faculdade de conceber o que é aquilo que geralmente se chama uma coisa ou uma verdade, ou um pensamento, parece-me que não obtenho em outra parte senão em minha própria natureza; mas se ouço agora algum ruído, se vejo o sol, se sinto calor, até o presente momento julguei que estes sentimentos procediam de algumas coisa que existiam fora de mim. 6 É sobre este último tipo mencionado, as adventícias, que as ideias de sentido estão associadas e que o senso comum tradicional parece atribuir veracidade, na medida em que se acredita que elas (as ideias) são produzidas exatamente a semelhança e conforme as respectivas coisas empíricas que as causam. Como veremos a seguir, nessa passagem Descartes problematiza as ideias dos sentidos não como mero ato do pensamento, mas sim a possibilidade de correspondência de seu conteúdo com coisas independentes da mente. O problema de Descartes nesses parágrafos é questionar a tese de que a semelhança das ideias com as coisas pode ser explicada por elas terem origem nas coisas. 5 Idem. 6 Ibidem, p

6 Os argumentos apresentados por ele são de dois tipos: primeiro problematiza a tese de que as ideias têm origem nas coisas e segundo problematiza se origem garante semelhança. Duas serão as explicações fornecidas por ele para verificar o porquê de se acreditar que tais ideias têm origem nos objetos fora da mente (nas coisas): o simples hábito, ou inclinação natural, que tenho de pensar deste modo e o fato dessas ideias parecerem ser involuntárias, ou seja, parecerem não depender de mim. A primeira dessas razões é que me parece que isso me é ensinado pela natureza; e a segunda, que experimento em mim próprio que essas ideias não dependem, de modo algum, de minha vontade; pois amiúde se apresentam a mim mau grado meu. 7 Descartes questiona então ambas as explicações acima lançando mão de dois argumentos: a diferença entre inclinação natural e luz natural e a possibilidade de uma faculdade oculta. Primeiro ele diz que crer em algo em virtude de um hábito natural não garante a verdade dessa crença. Logo, se é por uma inclinação natural ou hábito que creio que a origem das ideias são as coisas das quais elas são ideias, não tenho ainda nenhuma garantia de que é assim. Descartes ressalta que a inclinação natural difere da luz natural, que é fonte da verdade, na medida em que poso colocar em dúvida o que me é ensinado pela natureza mas não o que advém da luz natural. Diz ele: (...) essas duas coisas diferem muito entre si; pois eu nada poderia colocar em dúvida daquilo que a luz natural me revela ser verdadeiro (...) Mas no que se refere a inclinações que também me parecem ser para mim naturais, (...) notei que frequentemente (...) que elas não me levaram menos ao mal do que ao bem. 8 A seguir Descartes questiona a tese de que é legítimo crer que as ideias têm origem nas próprias coisas pelo fato de parecerem ser produzidas independente de minha vontade. Segundo ele, ainda que estas ideias pareçam não advir da minha vontade, isto não garante que assim ocorra, pois é possível que eu tenha uma certa faculdade oculta que produziria tais ideias sem que eu soubesse. Desta forma, embora eu pense que elas não dependem de mim, elas de fato dependeriam de mim. Em suas palavras: (...) talvez haja em mim alguma faculdade ou poder próprio para produzir essas ideias sem auxílio de quaisquer coisas exteriores, embora ela não me seja ainda conhecida (...) 9. Com esses dois argumentos o filósofo visa enfraquecer a tese de que as ideias tenham origem nas coisas materiais. Para completar sua argumentação Descartes introduz a hipótese de que mesmo se a origem dessas ideias for às coisas, os objetos empíricos, isso não garantiria que elas lhe sejam necessariamente semelhantes. Para ilustrar esse 7 Ibidem, p Ibidem, p Idem. 22

7 último argumento ele considera um exemplo: a ideia que possuímos de sol. Segundo ele, possuímos em nós duas ideias diversas de sol, uma que teria origem nas coisas percebidas pelos sentidos (que seria do tipo adventícia), que nos representa o sol como extremamente pequeno e uma outra ideia que teria origem apenas nas razões da Astronomia, segundo a qual o sol é grande, isto é, maior do que a terra inteira. Ora, argumenta Descartes, essas duas ideias diversas não podem ser ambas semelhantes ao mesmo sol. Com essa afirmação Descartes parece querer dizer que para que se possa defender a tese de que uma dessas origens (as coisas ou a razão da Astronomia) é a verdadeira, é necessário um outro argumento. Isto é, se posso ter duas ideias distintas de uma mesma coisa e se essas ideias têm origens distintas, é necessário um novo argumento que garante que uma origem é a que me fornece a ideia adequada e a outra não. Assim, após negar as explicações da tradição, concluindo ser possível que as ideias não tenham origem em coisas fora da mente e que a origem das ideias não explica a semelhança entre estas e as coisas, Descartes passa a introduzir o que seria a sua via explicativa acerca das ideias, ou seja, o que seria sua teoria da representação. Nela, novamente, as ideias dos sentidos estarão presentes. Agora porém, sob a noção de falsidade material que envolve também um exame do conteúdo dessas ideias. Inicia deste modo Descartes sua posição sobre as ideias de modo geral: Entre meus pensamentos, alguns são como as imagens das coisas, e só àqueles convém propriamente o nome de ideia Mais adiante, Descartes afirma que as ideias, de maneira geral, são um tipo de ato mental que pode ser considerado segundo dois aspectos: a realidade formal e a realidade objetiva. O primeiro aspecto diz respeito ao ato que caracteriza qualquer ideia: o ato de representar algo ao espírito. Por isso, segundo esse mesmo aspecto que é a realidade formal das ideias, todas elas são iguais e verdadeiras, ou seja, todas representam algo. Já o segundo aspecto, a realidade objetiva, equivale ao conteúdo da ideia, isto é, àquilo que é apresentado ao espírito, à mente, por este ato mental. Desta maneira, de acordo com a realidade objetiva, as ideias são diferentes umas das outras na medida em que exibem conteúdos distintos. É durante justamente a elucidação deste conceito de realidade objetiva que aparece a noção de falsidade material. Apesar de anteriormente na definição de realidade formal, ter dito que propriamente falando as ideias não podiam ser falsas (e que dentre os gêneros de pensamento, somente nos juízos podia ser encontrada alguma falsidade), 10 Ibidem, p

8 Descartes admite agora - no parágrafo que as ideias em um certo sentido, podem ser consideradas falsas: (...) pode, no entanto ocorrer que se encontre nas ideias uma certa falsidade material, a saber, quando elas representam o que nada é como se fosse alguma coisa. 12 Nas Meditações Metafísicas, quando inicialmente Descartes descreve o que são ideias materialmente falsas, é o aspecto representativo da ideia que parece desempenhar uma função determinante na sua condição de falsa. É porque ela representa como sendo algo que não é, ou seja, representa como positivo algo negativo, que ocorre sua falsidade. Os exemplos que o filósofo utiliza para ilustrar este tipo de ideia são ideias provenientes dos sentidos, a saber, as ideias de frio e de calor. : (...) se é certo dizer que o frio nada é senão privação do calor, a ideia que mo representa como algo de real e positivo será sem despropósito chamada falsa 13. Se o frio é uma privação ou falta de calor, ou se o calor é uma privação ou falta do frio, ou bem a ideia de calor, ou bem a ideia de frio que, os representem na mente como sendo algo positivo ou real será chamada de ideia materialmente falsa, pois estaria desta maneira representando o que nada é, como sendo alguma coisa. Fornecendo material falso para a formulação de juízos a respeito dessas ideias. A ideia falsa será deste modo aquela que representa coisas que necessariamente não existem, isto é, que não podem existir. Depois de introduzir assim o conceito de materialmente falsa, Descartes passa a questionar a causa dessas ideias, e pergunta se ele próprio (enquanto pensamento finito e participante do nada, não-ser, portanto), poderia causar tais ideias. se elas (as ideias) são falsas, isto é, se representam coisas que não existem, a luz natural me faz conhecer que procedem do nada, ou seja, que estão em mim apenas porque falta algo à minha natureza porque ela não é inteiramente perfeita. 14 Ele prossegue: (...) se são verdadeiras, todavia, já que me revelam tão pouca realidade, que não posso discernir nitidamente a coisa representada do não-ser, não vejo razão pela qual ela não possa ser produzida por mim mesmo e eu não posso ser seu ator. 15 Gostaríamos de frisar neste ponto o aspecto hipotético que estes pensamentos, bem como questionamentos da falsidade material possuem. Isto pode ser constatado nas citações acima mencionadas onde o filósofo diz Se são falsas para logo depois dizer 11 Conforme esclarecemos na nota, na tradução brasileira as Meditações Metafísicas, cada Meditação tem seus parágrafos numerados. 12 Ibidem, p Idem. 14 Idem. 15 Idem. 24

9 também Se são verdadeiras. Ou mesmo quando ele exemplifica o problema da falsidade material, com as ideias de frio e calor, ele diz (...) se é certo dizer que o frio nada é senão privação do calor(...) 16. Seria apenas coincidência esta repetição da conjunção condicional se? O que poderia significar esta recorrência? E mais, será que este fato tem alguma relevância pra o nosso tema, a saber, a compreensão do que são as ideias dos sentidos na teoria cartesiana das ideias? Se acreditarmos que o uso recorrente da conjunção se não é um mero acaso e que o filósofo possui razões para tal, podemos inferir que o mesmo não devia estar totalmente seguro para realizar afirmações absolutas em relação a estas ideias que são relacionadas aos sentidos e denominadas de materialmente falsas. Isto é, o fato de Descartes introduzir e inicialmente explicar o conceito de falsidade material com condicionais sugere que, ao menos inicialmente, Descartes está hesitante. Por isso mesmo, o caráter hipotético de suas afirmações nos parágrafos 19 e 20. Mas por que Descartes não pôde realizar afirmações categóricas sobre tal tema? Não estaria ele totalmente seguro para desenvolver este tema? 3 - A Ordem das Razões Tais questões se tornam mais claras se nos lembrarmos do método utilizado pelo filósofo para compor e escrever a obra aqui tratada: a ordem das razões. Este método se diferencia da ordem das matérias ou ordem dos tópicos utilizada pelos medievais 17. Estes quando escrevem suas obras tratam dos assuntos separadamente, esgotando-os em si, sem necessariamente estarem ligados com os outros que se seguem ou antecedem. Descartes rompe com esta tradição na medida em que nas Meditações Metafísicas ao lançar mão da ordem das razões e, mais ainda, da ordem analítica das razões, opta pela ordem da justificativa relativa tanto à introdução de questões quanto à tentativa de explicações. Qualquer nova questão ou tese defendida surge por uma exigência racional do próprio sistema apresentado. Isto significa, na prática, que não encontramos na referida obra um tema isolado ou tratado separadamente de outros. Pelo contrário, o surgimento dos assuntos (bem como das teses defendidas) é logicamente bem encadeado. Cada tese afirmada e cada assunto tratado são sustentados ou resultam de conclusões anteriormente inferidas. Mais ainda, na medida em que certas teses são necessárias para a defesa de outras teses, a argumentação cartesiana nem sempre é linear. Um mesmo tema 16 Idem. 17 GUEROULT, M. Descartes Selon l'ordre des Raisons, Paris: Aubier-Montaigne,

10 pode ser tratado várias vezes ao longo da obra, mas com argumentos diferentes. Como ele explica a ordem por ele adotada: A ordem consiste apenas em que as coisas propostas primeiro devem ser conhecidas sem a ajuda das seguintes, e que as seguintes devem ser dispostas de tal forma que sejam demonstradas só pelas coisas que as precedem....e foi o que me levou a não tratar na segunda [meditação] da distinção entre o espírito e o corpo, mas apenas na sexta, e a omitir muitas coisas em todo esse tratado, porque pressupunham a explicação de muitas outras. 18 Este parece ser o que acontece no caso que estamos aqui examinando. Se analisarmos os argumentos relacionados à falsidade material neste ponto da obra, e constatamos que a maioria deles é hipotética, isto pode estar diretamente ligado aos argumentos e a exposição que antecede a terceira meditação. O que temos então até a terceira meditação? Se entendermos as Meditações a partir da ordem das razões, verificaremos que no momento em que Descartes introduz conceito de falsidade material, só o que escapou da dúvida exposta na primeira meditação é a existência do eu enquanto coisa que pensa. Na primeira meditação, o filósofo introduz a questão da dúvida e com isso os juízos relativos a certos conhecimentos, a saber, da qualidade das coisas particulares, da existência das coisas particulares, da natureza dos corpos, são suspensos e postos de lado. Na segunda meditação, Descartes, apesar da dúvida e da conseqüente suspensão de juízos, alcança uma primeira certeza: a certeza da existência e da natureza do eu: a existência da substância pensante. Só mais tarde, depois de já introduzida sua teoria das ideias e seu conceito de falsidade material é que Descartes provará a existência de Deus e a veracidade de Deus, o que permitira ainda adiante provar que a essência do mundo físico é pura extensão. Isto é, de acordo com a ordem das razões, no momento da introdução do conceito de falsidade material das idéias, Descartes não pode se pronunciar a cerca da essência do mundo externo de tal forma que deve hesitar acerca da natureza do calor, do frio e de tudo que os sentidos nos dão como mundo externo. Desta maneira, na terceira meditação, no momento em que surgem as passagens acima citadas e examinadas, as únicas verdades de que Descartes dispõe são as de que ele é uma coisa pensante e que tal coisa pensante, entre outros atos, representa o mundo externo de uma certa maneira, permanecendo a dúvida em relação ao conhecimento relativo à existência e à natureza do mundo sensível, do mundo físico. Logo, concluímos que ali Descartes não podia mesmo tecer afirmações categóricas sobre o correspondente de qualquer conteúdo das ideias sensíveis, uma vez que ainda não conhecia se o mundo 18 DESCARTES, R. Objeções e respostas. São Paulo: Abril Cultural, (Col. Os Pensadores). 26

11 físico sensível de fato existia e nem se conhecia sua essência, conhecimentos que, entre outras teses, dependem da prova da existência de um Deus veraz só alcançada nas terceira e quarta meditações. Por essa razão Descartes ali na terceira meditação tem que afirmar que toda e qualquer afirmação e ideia relacionada aos sentidos é falsa, porque envolve ideias ao menos até então consideradas obscuras e confusas com relação àquilo a que elas correspondem, a saber, o mundo físico 19. Nesse sentido, as afirmações da terceira meditação que expomos e julgamos ser de cunho hipotético caracterizadas pelo uso constante da conjunção se tornam-se mais naturais. Mas quando é que elas deixam de ser hipotéticas para serem categóricas? Quando o filósofo poderá realizar uma exposição sobre o tema de modo não hipotético? A resposta para tais questões nos parece ser a seguinte: somente quando o mundo sensível tiver sua essência e existência conhecidas, as ideias relacionadas aos sentidos dentre elas as materialmente falsas vão poder ser compreendidas. Seguindo a ordem das razões a essência e existência do mundo externo, são demonstradas respectivamente na Quinta e na Sexta Meditação. Exporemos a seguir esta última, dado que é onde as sensações são problematizadas tratadas diretamente. 4- As ideias dos sentidos na Sexta Meditação Na Sexta Meditação, assim como na terceira, os sentidos ocupam papel importante. Entretanto, aqui e é isso que gostaríamos de enfatizar neste trabalho - sua relevância talvez seja mais fundamental e se dê até de modo mais evidente, pois eles são frequentemente mencionados, e diretamente utilizados na explicação e conclusão de três argumentos: o conhecimento da existência das coisas corpóreas materiais, o conhecimento de que corpo e alma encontram-se substancialmente unidos, e também o conhecimento de como o EU, entendido agora como a união de corpo e pensamento, alma, é afetado por outros corpos no mundo. No início dessa Meditação, Descartes reintroduz a noção reconhecida pela tradição das ideias dos sentidos como sendo do tipo adventícia. Podemos ler: (...) dado que as ideias que recebia pelos sentidos eram muito mais vivas, mais expressas e mesmo, à sua maneira, mais distintas do que qualquer uma daquelas que eu mesmo podia simular, ou do que as que encontrava impressas em minha memória (...) parecia que não podiam proceder de meu espírito; de 19 Inferimos tal explicação do texto do intérprete Richard Field. Ver, FIELD, Richard. Descartes on the Material Falsity of Ideas. The Philosophical Review, v. 102, n.3 julho de 1993, pp Neste texto, o intérprete defende que por conta da ordem das razões a noção cartesiana de matéria (substancia extensa) acaba mudando da Segunda para a Sexta Meditação. 27

12 sorte que era necessário que fossem causadas em mim por quaisquer outras coisas. Coisas das quais não tendo eu nenhum conhecimento senão o que me forneciam estas mesmas ideias, nada poderia considerar exceto crer que tais coisas eram semelhantes às ideias que elas causavam. 20 Assim, Descartes apresenta novas razões que segundo a tradição justificariam a crença de que tais ideias eram de fato ideias de corpos, a saber, sua vivacidade, expressividade, o que por sua vez, justificava a crença na semelhança dessas ideias com as coisas. Deste fato de que as ideias dos sentidos eram tidas como as mais expressivas e vivas que outras, Descartes chega a uma importante conclusão: eu me persuadia facilmente de que não havia nenhuma ideia em meu espírito que não tivesse antes passado pelos meus sentidos. 21 Esta nos parece ser a tese da tradição tomista escolástica visada aqui por Descartes. Como expomos no início do texto, é com esta tradição mais do que com a dos filósofos ditos céticos que Descartes dialoga, e uma vez que tal tradição leva em consideração os sentidos na produção de ideias é compreensível a menção e citação acima de Descartes a este ponto. O objetivo do pensador moderno nas Meditações é rejeitar esta tese de que toda ideia tem que necessariamente ter passado pelos sentidos. No decorrer das Meditações, Descartes mostra justamente que pelo menos as ideias de da natureza e da existência do pensamento, da natureza e existência de Deus existente e da essência do mundo externo expressam conhecimentos que não passaram pelos sentidos. Contudo, aqui na sexta meditação, os sentidos, através das ideias de sensação são resgatados, desempenhando papel chave para dois tipos de conhecimento. Primeiramente, as ideias dos sentidos aparecem como elemento fundamental no contexto da prova da existência das coisas materiais. É somente a partir da constatação de que tenho sensações, ou seja, de que possuo uma faculdade passiva que recebe ideias das coisas particulares físicas, que se desencadeia o argumento da prova: (...) Demais encontra-se em mim certa faculdade passiva de sentir, isto é, de receber e conhecer tais ideias das coisas sensíveis. 22 Partindo desta constatação, o argumento seguirá do seguinte modo: Ao reconhecer uma faculdade passiva que recebe tais ideias, tais sensações, o filósofo admite também por consequência a existência de uma faculdade ativa, que seria responsável pela produção de tais ideias. Lançando mão do princípio de causalidade, Descartes se pergunta, então, o que teria esse poder de causar estas sensações em mim. Três alternativas são as alternativas elencadas: ou eu, ou Deus, ou as próprias coisas sensíveis. 20 DESCARTES, R. Op. Cit. p Idem. 22 Ibidem pp

13 Conclui primeiro que não pode ser o próprio eu pensante, pois na medida em que se entende como sujeito de consciência, se o fosse, naturalmente poderia saber. Aqui Descartes, portanto, refuta o argumento anteriormente admitido de que ele poderia ter uma faculdade oculta que produziria suas ideias sem que ele soubesse. A seguir, verifica possuir uma forte inclinação a crer que são as próprias coisas e que não há meios de corrigir tal inclinação. Verificando também a bondade divina Descartes afirma então que se Deus não me dá meios para corrigir essa inclinação, então não há motivos para não fiar-se nela e crer que as próprias coisas físicas são a causa das sensações. As ideias de sentidos são desta maneira obliquamente legitimadas como fonte do conhecimento que possuo de que os corpos materiais existem no mundo. Embora a prova da existência do mundo externo não se baseie no conteúdo dessas ideias, elas têm um papel fundamental na medida em que atestam uma passividade da mente que resulta em meu conhecimento da existência das coisas. Trata-se, portanto, de uma legitimação restrita dos sentidos. Contudo, imediatamente após tal prova Descartes reitera que o conteúdo das ideias dos sentidos, na medida em que pretendem corresponder às coisas materiais tais como elas são, não é confiável. Diz o filósofo: talvez elas (as coisas corpóreas) não sejam, todavia, inteiramente como nós as percebemos pelos sentidos, pois esta percepção dos sentidos é muito obscura e confusa em muitas coisas. 23 O que podemos concluir disto? Alguma contradição na exposição do filósofo? O que nos parece haver aqui é uma garantia de que as sensações fornecem o conhecimento da existência de corpos no mundo físico. Corpos estes com propriedades. Entretanto, tais propriedades eu não sou capaz, com estas minhas mesmas ideias, de conhecer clara e distintamente. Prosseguindo em sua análise acerca das ideias dos sentidos, Descartes introduz uma nova prova baseada também nas ideias dos sentidos: que sua alma é substancialmente unida a um corpo. Tendo já demonstrado a distinção real entre corpo e alma, visto que cada uma delas é um substância completa e que possuem cada uma, um único atributo essencial e distinto, agora, novamente pelas sensações, ele pode concluir que apesar de distintos, são substancialmente unidos. É porque tenho sensações, é porque sinto coisas, que sou obrigado a concluir que a alma não está no corpo como se fosse um piloto em 23 Ibidem, p

14 seu navio : se assim fosse, como o piloto, ela observaria e compreenderia o que ocorre no corpo, mas não sentiria: (...) a natureza me ensina também por esses sentimentos de dor, fome e sede etc., que não estou meramente alojado em meu corpo, como um piloto em seu navio, mas que, lhe estou conjugado muito estreitamente de tal modo confundido e misturado que componho com ele um único todo. Pois se assim não fosse, quando meu corpo é ferido não sentiria por isso dor alguma, eu que não sou senão uma coisa pensante, e apenas perceberia este ferimento pelo entendimento. 24 Note-se que, mais uma vez, apesar das ideias dos sentidos terem um papel importante na prova da união substancial, não é o conteúdo representativo dessas ideias, mas antes o simples e objetivo fato de eu ter estas ideias - que são sensações - que é o elemento central do argumento. O que temos então até aqui? Dois argumentos centrais. Duas provas. A primeira relacionada à existência do mundo externo e a segunda à da união corpo\alma como sendo do tipo substancial. Verificamos em ambos os argumentos que as sensações são utilizadas e tratadas a partir de uma perspectiva mais formal, ou seja, enquanto ato. Mas o conteúdo de tais ideias não nos parece ser ter sido reconhecido ou legitimado enquanto sendo alguma base ou fonte para algum conhecimento. Tal situação parece mudar agora. Com a prova da união substancial, o Eu, é entendido agora não como apenas pensamento, ou alma, mas como um composto formado de pensamento/ corpo, Descartes sustenta a legitimidade dos sentidos como fonte de um certo tipo de conhecimento: o conhecimento do que é prejudicial e do que é benéfico para o composto pensamento/corpo, ou o homem. Entre essas diversas percepções dos sentidos, umas me são agradáveis e outras desagradáveis, posso tirar uma conseqüência completamente certa, isto é, que meu corpo [composto de corpo e alma] pode receber diversas comodidades ou incomodidades dos outros corpos que o circundam essa natureza [de ser uma união substancial] me ensina realmente a fugir das coisas que causam em mim o sentimento da dor e a dirigir-me para aquelas que me comunicam algum sentimento de prazer. 26 Nas passagens supracitadas, constatamos que além de reconhecer a existência de que possui percepções ou sensações, Descartes dá um passo além em relação às argumentações anteriores. Aqui vemos o filósofo reconhecendo e explicitando que tais 24 Ibidem, p Idem. Grifo nosso. 26 Ibidem, p.137. Grifo nosso. 30

15 percepções lhe transmitem algo, ainda que ele não defina isto muito bem. Em suas palavras: comodidades, incomodidades. Entretanto, as expressões causam em mim o sentimento da dor, bem como, me comunicam algum sentimento de prazer parece nos evidenciar que o pensador reconhece aquilo que tais ideias lhe transmitem, ou causam nele. O composto corpo\alma reconhece, pelas sensações, o que lhe é bom, ou ruim, o que lhe dá prazer ou dor. E deste modo pode se situar no mundo, entre os outros corpos: afastando-lhe daquilo que lhe causa dor, e aproximando-se do que lhe fornece prazer. Poderíamos dizer assim que trata-se de um conhecimento de sobrevivência, de como o homem, entendido como composto de corpo e alma, deve sobreviver e se manter no mundo físico. 5- Conclusão Nosso trabalho teve como objetivo mostrar como o tema das sensações foi tratado por Descartes na sua obra Meditações Metafísicas. A tese que procuramos defender aqui foi a de que ao longo desta obra ocorreu uma mudança de tratamento pelo filósofo em relação a este assunto. Para elucidar tal posição, expusemos algumas passagens da obra em questão, a saber, a Terceira e Sexta Meditação. Escolhemos estes dois momentos da obra por entendermos que ambos são bem ilustrativos de que ocorre uma transformação em relação a este tema. Vimos que os sentidos são tratados na obra em questão sempre dentro de uma perspectiva representacional, ou seja, própria das ideias que lhes correspondem. Por isso mesmo, no início do texto esclarecemos que os termos sensações e ideias de sentidos seriam por nós entendidos como sinônimos. A partir disto podemos afirmar que tais ideias são, nas Meditações, tratadas ora do ponto de vista do ato representativo, ora do ponto de vista de seu conteúdo. Na Terceira Meditação, embora as ideias dos sentidos não sejam o tema principal, ainda assim são problematizadas em momentos importantes da mesma e sob o ponto de vista de seu conteúdo: seja quando o filósofo menciona as ideias adventícias, seja quando introduz o problema da falsidade material. Em ambos os casos, nos parece natural concluir que, por neste momento da obra ainda existir a dúvida em relação à existência dos corpos materiais ou extensos, uma afirmação categórica sobre o quê ideias relacionados a objetos físicos representam no caso das ideias materialmente falsas -, bem como uma garantia de que eles possam lhe ser causa e semelhantes - no casa das ideias adventícias - não pode ocorrer agora. 31

16 Concluímos assim que é em virtude de seu método - a ordem das razões - que nesta meditação Descartes é hesitante quanto à explicação da falsidade material, bem como da validade das ideias adventícias. Uma vez que não conhece ainda que as coisas do mundo material existem e nem sua essência, e uma vez que as ideias dos sentidos pretendem representar que elas existem como elas são, Descartes não pôde na terceira meditação dar uma descrição categórica do conteúdo das ideias materialmente falsas, nem garantir que objetos físicos causem tais ideias. É também por causa da ordem das razões que constatamos que na Sexta Meditação ocorre uma transformação, uma mudança de tratamento em relação aos sentidos: as ideias dos sentidos são tratadas do ponto de vista de sua realidade formal, isto é, são consideradas como um verdadeiro ato de pensamento, e ocupam papel importante e central, pois são usadas como base epistêmica para fundamentar a existência do mundo externo, de uma união substancial entre corpo e pensamento, bem como de um conhecimento de como deve sobreviver no mundo físico, estando rodeado de outros corpos. Agora o pensador não está mais hesitante em relação a sua validade cognitiva, pois elas produzem conhecimento. É justo, desta maneira, afirmar que inegavelmente ocorre uma transformação na concepção das ideias dos sentidos ao longo das Meditações. Tendo sido questionados num momento inicial, como na primeira e terceira meditação, ao longo da obra seguindo a ordem das razões, Descartes pôde ao seu final, na sexta meditação, resgatar os sentidos, atribuindo-lhe um papel cognitivo; seja para lhe evidenciar que os corpos físicos e extensos existem, seja para levar a conclusão de que corpo e pensamento formam uma união substancial, seja para lhe demonstrar como existe diante dos outros corpos e o que lhe causa prazer ou dor. Bibliografia DESCARTES, R. Discurso do método, Meditações, Objeções e respostas, As Paixões da Alma, Cartas. São Paulo: Abril Cultural, 3ª ed., (Os Pensadores). FIELD, R. Descartes on the Material Falsity of Ideas. The Philosophical Review, v. 102, n.3 julho de 1993, pp GUEROULT, M. Descartes selon l'ordre des raisons. Paris: Aubier-Montaigne,

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