TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº Apelante: Semeg Saúde Ltda Apelado: Rosany Moreira Xavier Mourão Relator: Des. Elton M. C. Leme RELATÓRIO de fls Adota-se, na forma regimental, o relatório lançado na sentença Trata-se de ação indenizatória sob o rito sumário proposta por Rosany Moreira Xavier Mourão em face de Semeg Dental, alegando, em síntese, ser dependente seu marido em plano de odontologia contratado com a ré. Em setembro de 2007, foi atendida por dentista conveniado à ré, que após avaliação por radiografia constatou a necessidade de tratamento de canal do elemento dentário 21. Após o tratamento de canal foi encaminhada para o setor de prótese dentária onde foi informada que o material utilizado no curativo não era provisório e havia risco de fratura da raiz no momento da remoção, sendo encaminhada ao dentista que realizou o tratamento de canal, que informou tratar-se procedimento simples, retirando o cimentado. Contudo, ao retornar ao setor de prótese, a dentista informou que havia ocorrido fratura da raiz, afirmando que o dente em tratamento não poderia levar outro pino, restando como única solução o implante dentário, de custo muito superior à simples colocação de prótese. Entrou em contato com a ré por várias vezes, enviando inclusive carta, sem obter solução. Afirmou que passados alguns meses sem obter resposta, compareceu a uma clínica particular onde foi informada que a estrutura dentária estava comprometida

2 sem possibilidade de reabilitação protética, sendo indicado a remoção do elemento fraturado e colocação de prótese provisória removível, trabalho este executado em 23/05/2008, com orientação de substituição por implante ósseo e prótese fixa em cerâmica o mais breve possível. O trabalho foi orçado em R$ 2.210,00. Sustentou que ainda se encontra com a prótese provisória, o que lhe causa constrangimento, por ser um dente frontal e que este já soltou algumas vezes. Pugnou pela inversão do ônus da prova e a condenação da ré a suportar todas as despesas, incluindo exames, medicamentos e tratamento adequado, para o implante do elemento dentário 21, bem como danos morais em valor a ser arbitrado pelo juízo. sumário. O despacho de fls. 28 determinou a adequação ao rito audiência de conciliação. Emenda à inicial a fls , recebida a fls.35, designando A ré ofereceu contestação a fls , afirmando que o quadro clínico da autora já era grave antes do tratamento dentário realizado. Sustentou que o dano que gerou a perda do dente da autora foi causado por tratamento realizado três anos antes pelo dentista particular da paciente. Mencionou a ausência de nexo de causalidade entre a perda da raiz e a atuação dos dentistas da ré. Ressaltou que todos os dentistas que atenderam informaram sobre a precariedade do estado de seu dente e dos riscos decorrentes do tratamento efetuado por seu dentista particular. Alegou que o tratamento que a autora busca é eminentemente estético. Postulou a improcedência dos pedidos.

3 pericial. A decisão saneadora de fls. 105 deferiu a produção de prova Laudo pericial a fls A sentença de fls julgou procedentes os pedidos formulados na inicial para condenar a ré a: a) custear todas as despesas necessárias ao implante do elemento dentário 21; b) pagar em favor da parte autora a quantia de R$ 3.000,00, a título de danos morais, corrigida monetariamente e acrescida de juros de 1% ao mês, a contar da data da publicação da sentença; c) pagar custas processuais e honorários advocatícios, fixados em 20% sobre o valor da condenação. A ré apelou a fls , alegando que ficou comprovado que o dente da autora já se encontrava gravemente comprometido quando esta buscou tratamento. Ressalta que os danos causados pelo dentista particular da autora são a causa da extrema fragilidade e subsequente fratura do dente da paciente e que a fratura pode ter ocorrido antes durante ou após a atuação da ré. Sustenta a ausência de nexo causal. Acrescenta que o tratamento que a autora pretende não é coberto pelo contrato e resolve apenas questão estética, resolvida pela prótese parcial removível que a autora já utiliza. Salienta a ausência da obrigação de indenizar e a inexistência de danos morais. Requer a reforma da sentença para julgar improcedentes os pedidos.

4 sentença recorrida. Contrarrazões da autora a fls , prestigiando a É o relatório. Peço dia. Rio de Janeiro, 23 de janeiro de Des. Elton M. C. Leme Relator

5 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº Apelante: Semeg Saúde Ltda Apelado: Rosany Moreira Xavier Mourão Relator: Des. Elton M. C. Leme APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZATÓRIA. PLANO ODONTOLÓGICO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. FRATURA DA RAIZ E PERDA DE ELEMENTO DENTÁRIO APÓS TRATAMENTO. PERÍCIA CONCLUSIVA. DANO MATERIAL E MORAL CARACTERIZADOS. DESPROVIMENTO DO RECURSO. 1. A responsabilidade civil de clínica odontológica operadora do convênio por erro cometido durante tratamento dentário desafia responsabilidade civil objetiva, bastando que haja a demonstração do fato, do dano e do nexo causal, não se cogitando do elemento culpa. 2. Diante do laudo pericial conclusivo, apontando a fratura da raiz e a perda do elemento dentário 21 como decorrência de erro praticado no tratamento de canal e protético realizado por profissionais conveniados à ré, com prescrição de remoção cirúrgica do dente, situação esta não evidenciada no início do tratamento, está demonstrado o nexo de causalidade entre a prestação de serviço e o dano. 3. Danos materiais comprovados, apontando a perícia a necessidade de implante osteointegrado do elemento dentário danificado. 4. Danos morais configurados, diante da ocorrência de prejuízo à função mastigatória e à estética, e fixados em atenção à razoabilidade e proporcionalidade. 5. Desprovimento do recurso.

6 ACÓRDÃO VISTOS, relatados e discutidos estes autos da Apelação Cível nº , originária da 5ª Vara Cível Regional de Jacarepaguá da Comarca da Capital, julgada na sessão de 20/02/2013, figurando como apelante Semeg Saúde Ltda e apelado Rosany Moreira Xavier Mourão. ACORDAM os Desembargadores da Décima Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, nos termos do voto do relator. ACÓRDÃO apresentado na data da sessão. VOTO A hipótese dos autos versa sobre a responsabilidade civil objetiva do fornecedor de serviços, nos termos do art. 14, caput, do Código de Defesa do Consumidor. Para a configuração da responsabilidade objetiva, baseada no risco da atividade, basta que haja a demonstração do fato, do dano e do nexo causal, não se cogitando do elemento culpa. Tal responsabilidade é somente afastada em razão de fato exclusivo da vítima ou de terceiros, ou ainda pela inexistência de defeito na prestação do serviço.

7 Ocorrendo os fatos narrados na inicial com dentistas integrantes da rede credenciada da ré, esta é solidariamente responsável pelos serviços prestados a seus associados, nos termos do art. 7º, parágrafo único, combinado com o art. 25, 1º, do Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista sua obrigação de zelar pela qualidade e eficiência dos serviços que presta e disponibiliza. Constata-se por meio do laudo pericial odontológico que está evidenciado o nexo de causalidade entre o defeito da prestação dos serviços realizados por profissionais conveniados à ré e os danos sofridos pela parte autora. O vício técnico do serviço culminou na fratura longitudinal e consequente perda de elemento dentário frontal, o que tornou necessária a remoção cirúrgica do referido elemento dentário e a colocação de prótese parcial provisória removível, conforme descreve o laudo a fls. 23. Observe-se que o laudo pericial, a fls. 133, aponta que o preparo radicular e o pino intrarradicular observados ao exame radiográfico inicial proveniente da intervenção clínica pregressa pelo dentista particular da autora não se apresentavam dentro dos padrões técnicos ideais. Na indagação se o elemento dentário 21, por ocasião do início do tratamento da paciente por profissionais credenciados à ré, apresentava prognóstico favorável a perita afirmou que o prognóstico era muito duvidoso. Por outro lado, o laudo, a fls. 18, esclarece que a autora compareceu à clínica para confecção de coroa definitiva, mas não foi possível

8 remover o elemento dentário danificado, pois a cimentação foi feita com cimento não provisório, havendo risco de fratura da raiz, solicitando a remoção com ultrassom. Afirma a douta perita a fls. 134, que pela imagem radiográfica inicial pode-se sugerir a indicação de tratamento endodôntico mais núcleo definitivo (moldado) mais coroa, porém durante esses procedimentos não se pode afirmar quanto ao sucesso dos mesmos devido ao estado da raiz. Mesmo assim o tratamento foi realizado. Importa salientar que não ficou demonstrado nos autos que a autora recebeu informações claras e precisas sobre o risco do tratamento e a possibilidade de perda do dente. Assim, restou evidenciado que, embora o dente da autora apresentasse raiz frágil e desgastada, os dentistas credenciados à ré efetuaram o tratamento de endodontia, vindo a ocorrer fratura da raiz após a retirada de cimentação realizado com material não provisório por endodontista da ré. Dessa forma, o laudo pericial demonstra o nexo de causalidade entre o fato e o dano alegado pela autora, tendo em conta que o tratamento a que a autora foi submetida resultou na fratura longitudinal da raiz do elemento dentário 21, com a consequente necessidade de extração. Assim, comprovada a falha na prestação do serviço, reconhecido o nexo de causalidade entre o tratamento odontológico fornecido

9 à autora e o dano sofrido, impõe-se a obrigação de a ré indenizar a autora pelos danos sofridos, nos termos do art. 14 do CDC. O dano material foi comprovado, tendo em vista que a perita esclarece que a prótese provisória deve ser substituída por uma prótese definitiva, com implante osteointegrado para substituição do elemento dentário perdido, a ser custeado pela empresa ré, como estabelecido na sentença. Quanto aos danos morais, consideradas as circunstâncias do fato e a capacidade econômica das partes, tem-se por razoável o montante de R$ 3.000,00 arbitrado pelo douto juízo monocrático, porquanto é evidente o prejuízo à função mastigatória e à estética, bem como o desconforto suportado pela autora por todo este tempo devido à colocação de prótese parcial provisória. Por tais fundamentos, voto no sentido de negar provimento ao recurso, mantida na íntegra a douta sentença. Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de Des. Elton M. C. Leme Relator