PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL: APELANTE: CRISTOFER BERNARDES AZAMBUJA APELADO: BANCO CITICARD S.A.

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1 PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL: APELANTE: CRISTOFER BERNARDES AZAMBUJA APELADO: BANCO CITICARD S.A. R E L A T Ó R I O CRISTOFER BERNARDES AZAMBUJA propôs ação em face de BANCO CITICARD S.A., alegando que teve seus documentos roubados em novembro de 2004, tendo registrado o fato na delegacia. Aduz que, em razão de dívida que nunca contraiu com o Réu, em Agosto de 2005, teve seu nome incluído nos cadastros de maus pagadores. Requereu a desconstituição da dívida e indenização por danos morais de R$ (quinze mil reais). Tutela concedida (fls. 24). Contestação na qual é alegada a legitimidade da inscrição, em razão da inadimplência do Autor, afirmando que não houve defeito no serviço prestado. Defendeu a inexistência de danos morais (fls. 40/44). Sentença de improcedência do pedido de indenização por danos morais e procedência do pedido de declaração de inexistência de dívida, impondo as custas por metade e compensando-se os honorários diante da sucumbência recíproca (fls. 54/56). Apelação do Autor, pleiteando indenização por danos morais e a imposição da sucumbência ao Réu (fls. 59/82). Contrarrazões (fls. 91/96). É o relatório. Peço dia. Rio de Janeiro, 10 de Maio de F A B I O D U T R A DESEMBARGADOR RELATOR

2 PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL: APELANTE: CRISTOFER BERNARDES AZAMBUJA APELADO: BANCO CITICARD S.A. APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. SOLICITAÇÃO DE CARTÃO DE CRÉDITO EM NOME DO AUTOR MEDIANTE FRAUDE PRATICADA POR TERCEIRO. INSCRIÇÃO EM CADASTROS RESTRITIVOS DE CRÉDITO. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. FORTUITO INTERNO QUE NÃO EXCLUI O DEVER DE INDENIZAR. INTELIGÊNCIA DA SÚMULA Nº 94, DO TJRJ. FALHA NO SERVIÇO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DANO MORAL QUE DECORRE DA SIMPLES NEGATIVAÇÃO INDEVIDA. VERBA INDENIZATÓRIA DEVIDA EM PATAMAR MAIS MODESTO DO QUE O REQUERIDO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Vistos, relatados e discutidos os autos desta Apelação Cível que tem como Apelantes CRISTOFER BERNARDES AZAMBUJA e como Apelado BANCO CITICARD S.A., ACORDAM os Desembargadores que compõem a Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao recurso. O caso versa sobre relação de consumo, sendo aplicável à hipótese a teoria do risco do empreendimento, devendo todo aquele que se disponha a exercer alguma atividade no campo do fornecimento de bens e serviços, responder pelos fatos e vícios resultantes do empreendimento, cabendo-lhe, consequentemente, provar a ocorrência de uma das causas excludentes da responsabilidade para afastar o dever de reparar o dano, nos termos do artigo 14, 3º, do Código de Defesa do Consumidor. PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL - PROC PAG. 2/5

3 O banco Recorrente não conseguiu demonstrar que adotou as cautelas necessárias à habilitação de cartão de crédito por terceiro em nome do Autor. Na verdade, foi aprovado cartão sem a solicitação do consumidor. Além disso, deixou de produzir em tempo oportuno, provas que, em tese, poderiam demonstrar a culpa de terceiro e, dessa forma, afastar o dever de indenizar. A participação do terceiro falsário, em contrato do qual o Autor não participou, enseja a responsabilidade do Apelante consubstanciada na culpa in vigilando. Assim, não é plausível que o Autor arque com o débito ou suporte o prejuízo a que não deu causa, sendo certo que cabe ao banco diligenciar se o contratante é efetivamente a pessoa que diz ser, evitando a abertura de conta ou a obtenção de crédito por falsários. Nesse sentido tem-se a Súmula nº 94 deste Tribunal de Justiça, que assim dispõe: RELAÇÃO DE CONSUMO. FORTUITO INTERNO. FATO DE TERCEIRO. FORNECEDOR DE PRODUTO OU SERVIÇO. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR. CUIDANDO-SE DE FORTUITO INTERNO, O FATO DE TERCEIRO NÃO EXCLUI O DEVER DO FORNECEDOR DE INDENIZAR. Quanto ao dano moral, este decorre da simples negativação indevida, circunstância que causa vexame e humilhação à pessoa que teve o seu nome incluído em banco de dados dos devedores, sendo a inclusão indevida motivo pacífico a ensejar a indenização pelo dano moral experimentado. Apesar do entendimento da douta Juíza sentenciante, a existência de outras anotações no cadastro do Autor, em datas próximas realizadas por iniciativa da ASCP Associação Comercial de São Paulo, não pode servir para a presunção de que ele é um inadimplente contumaz, até por que, já na inicial o Autor informou que constatou a ocorrência de quatro anotações indevidas em seu nome (fls. 04). PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL - PROC PAG. 3/5

4 Portanto, os fatos narrados nos presentes autos denotam defeito no serviço prestado pelo Réu, inaceitável por aquele que se disponha a exercer alguma atividade no campo do fornecimento de bens e serviços e ao inscrever indevidamente o nome do Autor no rol de maus pagadores, verificou-se a responsabilidade pela ocorrência de dano moral e o dever de indenizar dele decorrente, visto que o fato fez com que o Apelante se mobilizasse para buscar o Judiciário, o que lhe causou aborrecimento e desgaste de tempo e dinheiro. Entretanto, sendo inquestionável o dever de indenizar, há que se arbitrar o quantum indenizatório sem perder de vista o princípio da razoabilidade, adequando a reprovação da conduta à gravidade do dano causado, de modo que se atenda à extensão do dano, às condições das partes e à tríplice função deste tipo de indenização: a de ser satisfativa para a vítima, dissuasória para o ofensor e pedagógica para a sociedade como um todo, prestigiando-se a efetividade da tutela jurisdicional e teoria do desestímulo. Nesse sentido, destaca-s, in verbis: DIREITO DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. NEGATIVAÇÃO INDEVIDA. FATO DO SERVIÇO. CARACTERIZADO. DANO MORAL EM RE IPSA. INDENIZAÇÃO. NATUREZA PREVENTIVO- PEDAGÓGICA. PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE. TEORIA DO DESESTÍMULO (ART. 6º, INCISO vi, DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR). 1) A JURISPRUDÊNCIA JÁ NÃO MAIS DISCREPA DE QUE A NEGATIVAÇÃO INDEVIDA EM BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES SE CARACTERIZA COMO FATO DE SERVIÇO. EM SENDO O CASO DE PRÁTICA MANIFESTAMENTE ABUSIVA E, PORTANTO, ILÍCITA, O DANO MORAL SE VERIFICA IN RE IPSA, BASTANDO A PROVA DA CONDUTA INADEQUADA DO FORNECEDOR. 2) A INDENIZAÇÃO, APÓS A ENTRADA EM VIGOR DO CÓDIGO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR, HÁ DE SER EFETIVA (PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE), NÃO SÓ PARA REPARAR COMO, TAMBÉM, PARA PREVENIR DANOS AOS CONSUMIDORES, EX VI DO ARTIGO 6º, INCISO VI, DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA. DESTARTE, NÃO SE PODE PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL - PROC PAG. 4/5

5 OLVIDAR A FUNÇÃO PREVENTIVO-PEDAGÓGICA DA INDENIZAÇÃO, QUE DEVE SERVIR DE DESESTÍMULO (TEORIA DO DESESTÍMULO) PARA A MANUTENÇÃO DE CONDUTAS QUE AGRIDAM E VIOLEM DIREITOS DOS CONSUMIDORES. Assim sendo, considerando a natureza do dano moral, bem como a dinâmica dos fatos, a quantia de R$ (dez mil reais) se mostra satisfatória, devendo ser levado em consideração o que estabelece a Sumula nº 89, deste Tribunal de Justiça, segundo a qual: razoável, em principio, a fixação de verba compensatória no patamar de até 40 salários mínimos em moeda corrente, fundada exclusivamente na indevida negativação do nome do consumidor em cadastro restritivo de crédito. Quanto aos ônus sucumbenciais, considerando-se que o Apelante decaiu de parte mínima do pedido, impõe-se ao Apelado o pagamento das custas e honorários advocatícios. Ante o exposto, acordam os Desembargadores que compõem a Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao recurso para condenar o Apelado ao pagamento de indenização de R$ (dez mil reais), a título de danos morais, alem das custas processuais e honorários advocatícios de 15% (quinze por cento) do valor da condenação. Rio de Janeiro, 28 de Setembro de F A B I O D U T R A DESEMBARGADOR RELATOR PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL - PROC PAG. 5/5 Certificado por DES. FABIO DUTRA A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço Data: 28/09/ :37:24Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: Tot. Pag.: 5