TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 fls. 1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de, em que é apelante BANCO DO BRASIL S/A, é apelado MARIA CHAGAS DE OLIVEIRA (JUSTIÇA GRATUITA). ACORDAM, em 4ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao apelo da autora e negaram provimento ao recurso do réu. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores FÁBIO QUADROS (Presidente sem voto), ENIO ZULIANI E MAIA DA CUNHA., 29 de janeiro de 2015 NATAN ZELINSCHI DE ARRUDA RELATOR Assinatura Eletrônica

2 fls. 2 Apelação Cível n.º Apelantes e reciprocamente apelados: MARIA CHAGAS DE OLIVEIRA E BANCO DO BRASIL S/A Comarca: SÃO PAULO Voto n.º Declaratória de inexistência de débito, cumulada com indenização por danos morais. Apontamento do nome da autora no cadastro de inadimplentes. Ausência de relação negocial entre as partes. Procedimento inadequado do requerido expôs a requerente à situação vexatória, além de ter a dignidade da pessoa humana afrontada. Réu deve assumir o risco profissional decorrente da atividade que exerce. Relação de consumo se faz presente. Danos morais configurados. Polo ativo possui outras anotações no rol dos maus pagadores, cuja legitimidade fora impugnada judicialmente. Inaplicabilidade da Súmula 385 do Superior Tribunal de Justiça ao caso em exame. Verba reparatória apta a sobressair. Indenização fixada em valor condizente com as peculiaridades da demanda. Apelo da autora provido em parte. Recurso do réu desprovido. 1. Trata-se de apelações interpostas tempestivamente, com base na r. sentença de fls. 84/88, que julgou procedente em parte ação declaratória de inexistência de débito, cumulada com indenização por danos morais, envolvendo apontamento do nome da autora no cadastro de inadimplentes. Alega a autora que a sentença merece reforma, pois não cabe a aplicação da Súmula 385 do Superior Tribunal de Justiça, visto que não houve Apelação nº VOTO Nº 2/7

3 fls. 3 demonstração de que as outras inscrições nos órgãos de proteção ao crédito sejam legítimas. A seguir disse que o ônus da prova era do réu, porquanto seria o beneficiário da excludente de responsabilidade, porém, o polo passivo não fora demonstrou a legalidade das outras anotações. Continuando asseverou que houve impugnação judicial de todos os apontamentos, portanto, os registros desabonatórios não constituem óbice para a pretensão reparatória. Na sequência transcreveu ementas de acórdãos, ressaltando que os danos morais decorreram da negligência do requerido, devendo ser arbitrada a respectiva indenização. Por último, requereu o provimento do apelo, para que a ação seja julgada totalmente procedente. O réu também apelou aduzindo que os títulos não poderiam ser declarados inexigíveis, ante o contrato anuído pela autora, sob pena de ensejar o enriquecimento sem causa do polo ativo. Prosseguindo expôs que a quitação das dívidas era obrigação da requerente, que solicitou a concessão do crédito, por conseguinte, a anotação no cadastro de inadimplentes configurou exercício regular de direito, tendo se reportado a trechos jurisprudenciais. Afinal, pleiteou o provimento do apelo, com a improcedência da ação. Sem contrarrazões, conforme certidões de fls. 119 e fls É o relatório. 2. A r. sentença apelada merece reforma em parte. O apontamento do nome da autora no cadastro de inadimplentes está materializado a fls. 15, ao passo que o réu não comprovou a existência de relação negocial entre as partes. Com efeito, caberia à instituição financeira demonstrar, de plano, o que fora pactuado, todavia, optou pela omissão, deixando de apresentar a documentação pertinente. Importante ressaltar que o requerido não trouxe sequer um documento assinado pela requerente que evidenciasse a celebração de contrato, portanto, o polo passivo não se desincumbiu de seu ônus probatório. Apelação nº VOTO Nº 3/7

4 fls. 4 Destarte, os danos morais estão caracterizados, porquanto vinculados ao comportamento irregular do banco réu, sendo dispensáveis outras provas para tanto, haja vista que, pelo fato de ter sido equiparada a má pagadora, a autora sofreu angústia e desgosto. Em casos análogos, assim se manifestou este Egrégio Tribunal: Declaratória de inexistência de relação jurídica c.c. Indenização por danos morais. Procedência. Inscrição do nome do autor em cadastro de inadimplência por suposto débito referente a contrato de financiamento-arrendamento mercantil firmado em seu nome por terceira pessoa. Patente a negligência, representada pela falta de cautela do requerido ao proceder a contratação sem verificar a autenticidade dos documentos que lhe foram apresentados. Contrato sequer juntado aos autos. Abalo demonstrado pela injustificada negativação. Dano moral que é imediato e decorre da indevida inscrição. (...) Sentença mantida. Recurso improvido. (Apelação Cível n.º Relator Desembargador Salles Rossi. Oitava Câmara de Direito Privado. J ). Apelação. Responsabilidade Civil Indenização por danos morais. Inscrição do nome da autora em Órgão de Proteção do Crédito (SCPC). Ausência de comprovação de que as partes firmaram contrato de financiamento com alienação fiduciária. Dever do Banco de examinar cuidadosamente a documentação. Incumbia ao réu comprovar os fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor (CPC, art. 333, inc. II). Responsabilidade objetiva que dispensa a verificação de culpa. Dano moral que, no caso, Apelação nº VOTO Nº 4/7

5 fls. 5 dispensa provas ('damnum in re ipsa'). Indenização fixada com moderação, observado o princípio da razoabilidade. Decisão mantida. Recursos improvidos. (Apelação Cível n.º Relator Desembargador Egídio Giacoia. Terceira Câmara de Direito Privado. J ). 3. Cumpre anotar que a instituição financeira deve assumir o risco profissional, ante a responsabilidade objetiva decorrente da atividade que exerce, nos termos da Súmula 479 do Superior Tribunal de Justiça, mesmo porque, o caso em exame configura notória relação de consumo. Oportunas as transcrições jurisprudenciais: (...) A responsabilidade dos bancos, pelos danos causados aos seus clientes e a terceiros, é objetiva, isto é, independentemente da existência de ato culposo, conforme dispõe o art. 14, caput, c/c o art. 17, ambos do CDC. Assim, a responsabilidade do banco recorrido prescinde de culpa sua, satisfazendo-se apenas com o dano e o nexo de causalidade. (REsp. n.º SP. Relatora Ministra Nancy Andrighi. Terceira Turma. J ). (...) deve o banco arcar com os ônus de seu exercício profissional, de modo a responder pelos danos causados a clientes e a terceiros, pois são decorrentes da sua prática comercial lucrativa. Assim, se a instituição financeira obtém lucros com a atividade que desenvolve, deve, de outra parte, assumir os riscos a ela inerentes. (REsp n.º /PE. Relator Ministro João Otávio de Noronha. Quarta Turma. J ). Desta forma, os danos morais se fazem presentes, sobretudo porque quem foi considerado inadimplente sem o ser, já teve o patrimônio imaterial atingido, sendo desnecessárias outras provas. Apelação nº VOTO Nº 5/7

6 fls. 6 A jurisprudência assim entende: Inscrição indevida em cadastro de inadimplentes. Dano moral 'in re ipsa'. ( ) A inscrição indevida nos cadastros restritivos de crédito é suficiente para a configuração dos danos morais. (AgRg no REsp n.º /AL. Relatora Ministra Nancy Andrighi. Terceira Turma. J ). Por outro lado, embora constem do documento de fls. 15 outras pendências da autora nos órgãos de proteção ao crédito, estas anotações também foram impugnadas judicialmente, fls. 67/78, por conseguinte, tais circunstâncias não têm o condão de arredar o dever indenizatório do réu, não podendo ser aplicada, ao caso em exame, a Súmula 385 do Superior Tribunal de Justiça. 4. Assim, fica arbitrada a verba reparatória em R$10.000,00, quantia que se mostra compatível com as peculiaridades da demanda, pois afasta o enriquecimento sem causa em relação à requerente, a qual é beneficiária de gratuidade de justiça, conforme interlocutória de fls. 17, bem como tem finalidade pedagógica para que o requerido não reitere o procedimento abusivo. Segundo o entendimento do Colendo Superior Tribunal de Justiça: Os danos morais indenizáveis devem assegurar a justa reparação do prejuízo sem proporcionar enriquecimento sem causa do autor, além de sopesar a capacidade econômica do réu, devendo ser arbitrável à luz da proporcionalidade da ofensa, calcada nos critérios da exemplariedade e da solidariedade. (REsp n.º /RJ. Relator Ministro Luiz Fux. Primeira Turma. J ). A indenização por dano moral deve ter conteúdo didático, de modo a coibir a reincidência do causador do dano, sem, contudo, proporcionar enriquecimento sem causa à vítima. Apelação nº VOTO Nº 6/7

7 fls. 7 Recurso especial parcialmente provido. (REsp /TO. Relatora Ministra Denise Arruda. Primeira Turma. J ). Os juros moratórios devem incidir a contar da citação, nos termos do artigo 405 do Código Civil, ao passo que a correção monetária deve ser aplicada a partir do arbitramento definitivo da indenização, ou seja, a contar do presente julgamento, em observância à Súmula 362 do Superior Tribunal de Justiça. Em decorrência do desfecho da demanda, condena-se o réu no pagamento das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 15% do valor da condenação, montante que remunera de modo compatível o titular da capacidade postulatória que representa a autora, bem como leva em conta a relativa complexidade do processado. 5. Com base em tais fundamentos, dá-se provimento em parte ao apelo da autora e nega-se provimento ao recurso do réu. NATAN ZELINSCHI DE ARRUDA RELATOR Q192 Apelação nº VOTO Nº 7/7