VISTOS, relatados e discutidos os autos

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1 ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gab. Des. Genésio Gomes Pereira Filho ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL N / 001 RELATOR: Des. Genésio Gomes Pereira Filho APELANTE: Maria Cavalcanti de Sousa ADVOGADOS: João Evangelista Vital e lrenaldo Virginio de Araújo e outros APELADA: Clínica Santa Cruz ADVOGADOS: Magnaldo Nicolau da Costa. RESPONSABILIDADE CIVIL Apelação Cível Indenização por danos morais e materiais - Procedimento Cirúrgico para cálculo renal Adiamento Novo Exame - Ausência de comprovação de erro médico Seqüelas não ocorridas - Dano moral não configurado Não configuração de emergência e/ou risco de vida Dano material inexistente Manutenção da sentença Desprovimento. lnexistindo a comprovação de erro médico, a repetição de procedimentos para melhor resultado diante do quadro médico não pode ser considerado dano moral, uma vez que não houve conseqüências gravosas para a paciente. A relação que se estabelece entre médico e paciente é obrigação de "meio" e não de "resultado", de maneira que, tendo procurado de diversas maneiras solucionar o quadro da paciente, apesar de isto não ter sido possível, não há que se concluir que há dano moral. acima descritos. VISTOS, relatados e discutidos os autos ACORDAM os integrantes da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO a apelação cível, nos termos do voto do Relator e da certidão de julgamento de f1.98.

2 RELATÓRIO Maria Cavalcanti de Sousa interpôs apelação cível nos autos da Ação de Indenização por Danos Morais e Materiais movida em face da Clínica Santa Cruz, perante a 12 a Vara Cível da Comarca da Capital. A apelante ajuizou ação indenizatória aduzindo, em síntese, que se submeteu, na referida clínica, com o médico Dr. Anibal Moura Santa Cruz, à uma intervenção cirúrgica para a retirada de um cálculo renal. Contudo, na ocasião a cirurgia não pôde ser realizada por ter sido constatado que o cálculo estava "encravado na posição intra-mural do ureter", tendo sido marcado para outra data outro procedimento para a solução do problema. Para tal, arcou com o custo de R$ 200 (Duzentos reais), referente ao valor da anestesia, uma vez que foi atendida como uma paciente carente. Na ocasião seguinte, após exames para constatar a atual localização do cálculo, foi realizada uma nova intervenção, contudo, não foi possível concluir, pois o médico percebeu que poderia ocasionar uma "fístula uretero-vaginal", de maneira que não concluiu o procedimento, medicando a paciente para facilitar a saída do cálculo. Tendo continuado as graves dores, a paciente procurou uma nova clínica, tendo que realizar o pagamento da quantia de R$ (Hum mil reais) para buscar a solução do problema. Sentindo-se lesada, pelo fato de haver sido "cortada" para a realização dos procedimentos, bem como o problema não ter sido resolvido, continuando a sentir dores, a autora busca o ressarcimento pelos supostos danos morais e materiais sofridos. Juntou documentos de fls. 05/17. Foi deferida a gratuidade da Justiça conforme fl 18. O promovido apresentou contestação de fls. 21/24 e documentação às fls. 25/54. A impugnação foi juntada às fls. 207/214. A MM. Juíza a quo, às fls. 70/73, julgou o pedido, nos seguintes termos: "Isto posto, e de tudo o mais que dos autos consta, JULGO IMPROCEDENTE a presente AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS, para conz fizkro no art. 269, I do CPC, determinar a extinção do processo COm julgamento de mérito. Sem custas por se tratar de Justiça Gratuita." xiew Inconformada com a decisão, a promovente interpôs a presente apelação de fls. 75/77 alegando, em síntese, além de ratificar os termos da exordial, que existe a responsabilidade civil do médico, uma vez que não precisaria resultar na morte da paciente para que se considerasse uma seqüela, bem como o dano moral. O constrangimento psicológico causado pelas diversas tentativas de solução do problema, bem como o dinheiro que despendeu para submeter-se aos procedimentos são motivos suficientes para configuração do dano.

3 O apelado contra-arrazoou às fls. 79/82, rebatendo os argumentos expendidos nas razões recursais e pugnando pelo desprovimento do recurso. A douta Procuradoria de Justiça, em seu parecer de fls. 89/91, opinou pelo prosseguimento da irresignação, sem manifestação sobre o mérito. É o breve relato. VOTO Trata-se de uma Apelação Cível interposta por Maria Cavalcanti de Souza, contra a decisão que julgou improcedente o pedido em ação indenizatória movida pela mesma. Do exame percuciente dos autos, percebe-se que o recurso não merece provimento, devendo a sentença ser mantida in totum. O caso em tela, referente aos procedimentos realizados na autora para a solução do seu problema de cálculo renal, não pode ser considerado como dano, nem moral ou material, pelo fato deste não ter sido plenamente resolvido. Em primeiro lugar, cabe ressaltar que a natureza jurídica da relação médico-paciente origina obrigação de meio e não de resultado, na qual o primeiro, utilizando-se dos recursos disponíveis, deve comportar-se diligente e cuidadosamente, de acordo com a ética; não sendo a medicina, assim como o direito, uma ciência matemática, com métodos obrigatórios e rígidos de diagnóstico, não se pode presumir culpa pela infelicidade ocorrida, apenas,em razão da orientação equivocada dada ao caso. Portanto, para que se possa falar em dever de indenizar decorrente de erro de diagnóstico, ou erro médico, impõe-se a caracterização de conduta negligente, imprudente ou imperita do médico. Diante do diagnóstico constatado, "Litiase Urinária com Pielonefrite", foram realizados ainda outros exames, conforme se demonstra nos autos, que confirmaram o mesmo diagnóstico. Desta forma, o médico procedeu, conforme seu entendimento profissional, submetendo a autora à retirada endoscópica do cálculo renal. O fato de não ter sido possível a retirada, por este se encontrar encravado, não pode ser considerado atitude danosa por parte do médico. Sobre a determinação da responsabilidade civil médica bem se manifestou Miguel Kfouri Neto 1: "Caracteriza-se pela eleição do tratamento inadequado à patologia instalada no paciente, com resultado danoso. O erro de diagnóstico é em princípio escusável, a menos que seja, por completo, grosseiro. Assim, qualquer erro de avaliação de diagnóstico induzirá responsabilidade se um médico prudente não o cometesse, atuando nas mesmas condições externas que o demandado." I KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade civil do médico 4. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, p k

4 Deste modo, não pode se considerar que houve atitude inadequada por parte do profissional, uma vez que, buscou o procedimento que seria adequado, diante do diagnóstico obtido, mesmo não conseguindo o resultado. Salienta-se que este resultado não foi obtido devido às condições físicas da paciente, não pela ausência de vontade do profissional. Um novo procedimento, com a finalidade de resolver o problema, mesmo sendo desgastante para a paciente, não pode ser considerado para esta uma afronta, um dano. Ao contrário, trata-se do cumprimento do ofício médico, na busca da cura do paciente. Danosa seria uma atitude omissiva, onde o médico podendo agir, não o fizesse. Neto 2: Sobre a imperícia se manifesta Miguel Kfouri "É a falta de observação da normas, deficiências de conhecimentos técnicos da profissão, o desp reparo prático. Também caracteriza a imperícia a incapacidade para exercer determinado oficio, por falta de habilidade ou ausência dos conhecimentos necessários, rudimentares, exigidos numa profissão." (..) Adverte Veloso de França que diagnóstico errado rido é sinal de imperícia, dadas as circunstâncias que envolvem a análise dos sintomas, às vezes confusos. Ocorreria aí o chamado 'erro honesto. Do acima exposto, conclui-se que pelo fato de não ter tido êxito na retirada dos cálculos renais, apesar das tentativas, não impõe o dever de indenizar, uma vez que é escusável, tendo em vista que a medicina não é uma ciência exata. Cabe salientar, que o procedimento médico foi interrompido diante do risco de "perfuração do ureter" e possibilidade de provocar uma "fístula-vesico-vaginal", danos estes que, se ocorressem, seriam graves e permanentes para a paciente, conforme demonstrados nos autos. 010 Outra possibilidade de indenização adviria da incapacidade intelectual do profissional, ou seja, se este tivesse assumido o risco de proceder diante de uma situação na qual não tinha o conhecimento suficiente para fazê-lo. Ocorre que, o profissional do caso em questão, é figura idônea e respeitada nesta cidade, sendo especialista na área e pertencente ao quadro do Hospital Universitário (UFPB), admitido por concurso público, há cerca de 25 anos. Atua na área de cirurgia todo este tempo, com certificados de vários cursos médicos, no país e no exterior. A apelante alega que, seria preciso que esta viesse a óbito para que fosse reconhecido o dano moral, uma vez que mesmo tendo sido "retalhada", sofrido constrangimentos psíquicos por não ter resolvido o seu problema, não foi este o entendimento da Juíza a quo. Ocorre, contudo, que a configuração do dano independe do resultado morte, e sim, como fora dito, se comprovada a negligência, imprudência ou imperícia do profissional. Ou seja, se não comprovada nenhuma destas, tendo o médico agido com todo o seu esforço para obter o resultado, dentro dos padrões médicos, isto basta para não configurar o dever de indenizar. Se o fosse, o médico teria a obrigação de curar todas as doenças. No caso em tela, tendo o médico agido com toda a prudência que lhe 2 KFOURI NETO, Miguel - Ob. cit. p n

5 cabia, inclusive evitando possíveis danos na paciente, não há como impor o dever de indenizar. Jurisprudência. Vejamos: Este entendimento é amplamente presente na AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO ORDINÁRIA DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA INDEFERIDA. DECISÃO CORRETA - CDC (ART. 14, 4, CDC). PROFISSIONAL LIBERAL - EXCEÇÃO À RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO PRESTADOR DE SERVIÇOS. RECURSO IMPROVIDO. 1- O ônus da prova e da parte autora em ação que busca indenização por danos materiais e morais na qual se alega culpa do médico na prestação dos serviços, exceção prevista no par.4 do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor, afastada a responsabilidade objetiva. 2- "... O encargo assumido pelo médico configura obrigação de meio - E só por exceção constituirá obrigação de resultado. O desdobramento, quanto ao ônus da prova, e que, nesta última, ao paciente/vitima incumbira apenas demonstrar que o resultado não foi alcançado - E ao médico competirá a prova de um fato que o exima da responsabilidade. Quanto à primeira, a vítima deverá fazer prova de que o médico não agiu com o grau de diligência razoável e houve descumprimento culposo."(k_fouri, Miguel Neto, in "responsabilidade civil do médico", 3 edição, p.65, 1998, R7)3 Cumpre ainda dizer que, quanto ao dano material, não merecem guarida as alegações da apelante. O fato da autora ter procurado outro estabelecimento e ter despendido a quantia de R$ (hum mil reais), para solucionar o problema, apesar de já ter gasto na Clinica Santa Cruz a quantia de R$ 200 (Duzentos reais), não pode ser considerado dano. Conforme documentos nos autos, a autora foi atendida pela Clínica considerada uma paciente "carente", tendo arcado apenas com o valor referente à anestesia. Procurou a outra Clínica de livre vontade, uma vez que na primeira tudo foi feito para que o problema fosse resolvido, e como outrora dito, a obrigação médica não é de "resultado". Diante do exposto, NEGO PROVIMENTO a presente Apelação, mantendo a sentença do Juízo a quo em todos os seus termos. É como voto. - Presidiu os trabalhos o Exmo. Des. Márcio Murilo da Cunha Ramos. Participaram do julgamento, além do Relator, Excelentíssimo Desembargador Genésio Gomes Pereira Filho, o Excelentíssimo Desembargador Márcio Murilo da Cunha Ramos e o Excelentíssimo Juiz convocado Dr. Carlos Neves da Franca Neto. 3 TAPR - AI Ac C.Civ. - Rel. Juiz Miguel Pessoa - J DJPR

6 .. Presente o parquet Estadual, na pessoa do Dr. Doriel Veloso Gouveia, Procurador de Justiça. Sala de Sessões da Terceira Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça da Paraíba, aos 28 de Julho de Des. G J4 's--1 o Pereira Filho Rel r

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