Tribunal de Justiça do Estado o do Rio de Janeiro Terceira Câmara Cível Apelação Cível nº

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1 APELANTE: APELADO 1: APELADO 2: RELATOR: RONALDO BARROS PERES ITAÚ SEGUROS S.A. CASA BAHIA COMERCIAL LTDA. Desembargador MARIO ASSIS GONÇALVES Consumidor. Obrigação de fazer. Danos materiais e morais. Indenização. Defeito do produto. Garantia estendida. Frustração das expectativas do consumidor. Responsabilidade objetiva. Solidariedade. Configuração do dever de reparação. Não realização de troca ou conserto do bem adquirido, como era de direito do consumidor, dentro do prazo da garantia estendida. Sentença julgando parcialmente procedente o pedido para condenar fornecedor e seguradora, solidariamente, no reparo do refrigerador ou, na impossibilidade, efetuarem a troca do produto, julgando improcedente o pedido relativo aos danos morais. Relação de consumo submetendo-se aos ditames da Lei nº 8.078/90. Responsabilidade do comerciante pelo fato do produto (art. 13 do CDC). Em que pese à identificação do fabricante do produto, foram os réus que possibilitaram e celebraram o contrato de garantia estendida. Nos termos do art. 18, caput, e 25, 1º e 2º, do mesmo diploma legal, o fornecedor de produtos de consumo duráveis ou não duráveis responde solidariamente com o fabricante pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo. Responsabilidade solidária dos réus, a empresa revendedora e o banco mantenedor do seguro concernente à garantia estendida, diante da incidência do art. 7º, parágrafo único c/c art. 25, 1º, do CDC. Não havendo prova de que o defeito tenha sido ocasionado por culpa do consumidor, aplica-se a regra contida no art. 18 do CDC, que consagra a responsabilidade objetiva do fornecedor de bem de consumo durável pelos vícios de qualidade que o tornem impróprio ou inadequado ao uso a que se destina ou lhe diminuam o valor, cabendo o ressarcimento integral dos prejuízos sofridos. Prova dos autos que aponta para a ocorrência de falhas na correção do defeito do refrigerador adquirido, resultando em imprestabilidade do bem ao fim a que se destina. Inércia da empresa ré na resolução do defeito. Danos materiais e morais reconhecidos. Reversão de expectativas do consumidor que ultrapassam o mero aborrecimento. Inaplicabilidade, no caso, do enunciado nº 75 da Súmula do TJERJ. Reforma da sentença para determinar a substituição do bem defeituoso e condenar os réus, solidariamente, a indenizarem o autor em R$ 3.000,00 (três mil reais), a título de danos morais. Recurso provido. A C O R D AM os Desembargadores que compõem a Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade, em dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator. Rio de Janeiro, 02 fevereiro de Pág. 1

2 R E L A T Ó R I O Cuida-se de ação de obrigação de fazer cumulada com indenizatória por danos morais, com pedido de tutela antecipada, pelo rito sumário, que Ronaldo Barros Peres promove em face de Casa Bahia Comercial Ltda. e Banco Unibanco (atual Itaú Seguros S.A.), objetivando a obtenção de antecipação de tutela no sentido de que sejam os réus instados a consertar ou substituir o refrigerador por ele adquirido, sob pena de multa diária a ser arbitrada pelo juízo e, ao final, a confirmação da tutela antecipada, condenando-se os réus, ainda, ao pagamento de indenização por danos morais. Aduz que adquiriu, junto à primeira ré, em 28/03/2008, um refrigerador marca Cônsul, no valor de R$ 899,00 (oitocentos e noventa e nove reais), o qual passou a apresentar defeitos em menos de trinta dias, o que foi sanado. Na oportunidade da compra, foi-lhe oferecido um seguro do segundo réu, denominado Garantia Estendida, no valor de R$ 194,00 (cento e noventa e quatro reais), com vigência até 26/09/2011, com o qual anuiu. Relata que, em 13/03/2010, o refrigerador parou de funcionar, não tendo sido corrigido o problema pelas rés, apesar das tentativas nesse sentido, o que obriga o autor a valer-se de vizinhos para guardar seus alimentos. Decisão (fls. 24/25), deferindo a gratuidade de justiça e indeferindo a antecipação de tutela postulada. Audiência de conciliação (fls. 44), infrutífera. Contestação (fls. 45/55), arguindo a primeira ré preliminar de ilegitimidade passiva em relação à garantia do produto, a qual seria da empresa Garantech Garantias e Serviços, constituída pelo Unibanco AIG e pela Multibrás/Whirpool e, no mérito, asseverando a ausência de responsabilidade em razão de excludentes a merecerem prova pericial hábil a provar a alegação do autor, afirmando não ser sua a responsabilidade pela eventual indenização dos danos materiais e morais que o autor alega suportar, postulando, dada a eventualidade, a fixação de indenização segundo o princípio da razoabilidade e proporcionalidade. Pág. 2

3 Réplica (fls. 73/75). Nova audiência de conciliação (fls. 79), também infrutífera. Contestação do segundo réu (fls. 80/87), arguindo a inexistência de defeito na prestação do serviço, salientando que a finalidade da garantia estendida é arcar com os custos do reparo do produto, e que o autor foi atendido pela assistência técnica sem qualquer custo, tendo sido cumprido o contrato. Defende, ainda, que o demandante não se desincumbiu de provar os fatos alegados e, quanto aos danos morais, aplica-se o verbete sumular nº 75, pois o evento narrado se trata de mero aborrecimento. Sentença (fls. 107/121), julgando parcialmente procedente o pedido para condenar os réus, solidariamente, ao reparo do refrigerador adquirido pelo autor, sem qualquer ônus para este, determinando, ainda, que caso se apresente impossível o conserto do produto, deverá o primeiro réu efetuar a sua troca no prazo razoável de dez dias, por outro igual ou similar, mas nunca em condições inferiores ao efetivamente adquirido. Definiu as custas processuais pro rata e a compensação dos honorários advocatícios, com observância, em relação ao autor, do disposto no art. 12 da Lei nº 1.060/50. Inconformado, apela o autor (fls. 126/129), repisando as razões já deduzidas para postular a reforma da sentença, com a procedência do pedido e condenação dos réus ao pagamento de indenização de danos morais e dos ônus sucumbenciais. Contrarrazões do segundo réu (fls. 134/141), prestigiando a sentença hostilizada. Contrarrazões da primeira ré (fls. 146/157), postulando o desprovimento do recurso. É o relatório. Pág. 3

4 V O T O Primeiramente, cumpre destacar que é incontroverso que a parte autora se insere no conceito de consumidor, como previsto no art. 2º da Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), e a parte ré, no conceito de fornecedor, como disposto no art. 3º do mesmo diploma legal, respondendo o réu pelos danos causados no fornecimento de bens ou serviços. Dessa forma, Impõe-se reconhecer que a questão em foco trata de relação de consumo, submetendo-se aos ditames da Lei nº 8.078/90. O cerne da questão consiste no fato de que as rés, revendedora e seguradora, não lograram solucionar o defeito do refrigerador da marca Cônsul adquirido pelo demandante. Assim, encontra-se impossibilitado de utilizar o bem desde quando se apresentou o problema, em março de 2010, sendo obrigado a valer-se do auxílio de vizinhos para guardar e conservar seus alimentos, extraindo-se dos autos, por fim, que a falha não foi negada ou impugnada validamente. Não há dúvida quanto à solidariedade dos réus. Nesse ponto, correta a douta sentença. In verbis: Art. 7 Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e eqüidade. Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo. O artigo 13 do Código de Defesa do Consumidor menciona as hipóteses em que o comerciante responde pelo vício do produto. De fato, a referida responsabilidade será verificada subsidiariamente, nos casos de impossibilidade de identificação do fabricante, produtor ou importador. No caso, em que pese ser conhecido o fabricante, não se pode desconsiderar a questão da solidariedade, haja vista que, nos termos dos artigos 18, caput, e 25, parágrafos 1º e 2º, do mesmo diploma legal, o fornecedor de produtos de consumo duráveis ou não duráveis responde Pág. 4

5 solidariamente com o fabricante pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo, assim como é solidário o dever de indenizar os danos causados. Os réus não se desincumbiram do ônus de desconstituir os fatos alegados na inicial ou de comprovar que eventual defeito tenha sido ocasionado por culpa do consumidor, pelo que se aplica a regra contida nos artigos 14 e 18 da legislação consumerista, que, repita-se, consagra a responsabilidade objetiva do fornecedor de bem de consumo durável pelos vícios de qualidade que o tornem impróprio ou inadequado ao uso a que se destina ou lhe diminuam o valor, cabendo o ressarcimento integral dos prejuízos sofridos. O fato é que não havendo nos autos prova de que o defeito tenha sido ocasionado por culpa do consumidor, aplica-se a regra do artigo 18, referida acima. Cumpre ressaltar que as empresas rés, mesmo sabendo do defeito do produto, houveram por bem não dar a ele nenhuma solução, não consertando nem substituindo a geladeira ao autor. A prova dos autos aponta, assim, para a ocorrência de falhas na correção do defeito do refrigerador, resultando em imprestabilidade do referido bem ao fim a que se destina. Ora, como já salientado, tratando-se de vício do produto, e, uma vez não sanado o defeito no prazo legal estabelecido, necessário se faz observar o que dispõe o 1º do art. 18 do CDC, que lhe confere a opção de requerer a substituição do produto por outro da mesma espécie, ser restituído da quantia paga, ou o abatimento proporcional do preço. Consigne-se, também, que a primeira ré tinha pleno conhecimento da aquisição da garantia contratual pelo autor, o qual acedeu à oferta da chamada garantia estendida, negando-lhe, todavia, o cumprimento do ajuste, inobstante o pagamento da contraprestação. Tal comportamento viola o princípio da boa-fé objetiva. Com efeito, no momento da compra, o autor pactuou com a seguradora ré a garantia estendida, conforme contrato de fls. 56/65, com Pág. 5

6 validade a contar do término da garantia do fabricante que acompanha o produto (fls. 57), valendo ressaltar a regra posta no art. 50 do Código de Defesa do Consumidor, a qual consigna que a garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo escrito. O contrato de garantia estendida estabelece como objetivo cobrir custos de mão-de-obra e de reposição de peças ou componentes para conserto do produto afetado pela ocorrência de vício de qualidade que torne o produto impróprio ou inadequado ao uso. Desse modo, incumbe a todos aqueles incluídos na cadeia de consumo a prestação de serviço adequado e seguro. Posto isto, tem-se que resulta evidente a existência dos alegados danos materiais e, inclusive, dos danos morais, não cabendo aqui o disposto no enunciado nº 75 da Súmula do TJERJ, eis que, a toda evidência não pode ser tido a conta de meros aborrecimentos tudo o que vem o autor suportando. Pereira ensina: E, com relação à fixação dos danos morais, Caio Mario da Silva "O problema de sua reparação deve ser posto em termos de que a reparação do dano moral, a par do caráter punitivo imposto ao agente, tem de assumir sentido compensatório. Sem a noção de equivalência, que é própria da indenização do dano material, corresponderá à função compensatória pelo que tiver sofrido. Somente assumindo uma concepção desta ordem é que se compreenderá que o direito positivo estabelece o princípio da reparação do dano moral. A isso é de se acrescer que na reparação do dano moral insere-se uma atitude de solidariedade à vítima." (in Responsabilidade Civil, 6 ed., Editora Forense, 1995, 60 p). Por fim, no que tange à fixação da verba indenizatória, é necessário se levar em conta a intensidade do sofrimento da vítima, a reprovabilidade do ato do causador do dano e o caráter punitivo da reparação, o qual deve ser suficiente para dissuadi-io de igual e novo descuido. Portanto, não obstante os fundamentos contidos na sentença hostilizada, impõe-se a sua reforma para se determinar a substituição do bem defeituoso, considerando-se que o pedido do autor consiste na condenação dos réus em efetuarem o conserto ou procederem à substituição do refrigerador por ele adquirido, bem assim considerando fato de não ser Pág. 6

7 exequível o seu conserto, vez que ausente do polo passivo o fabricante. E ainda, para reconhecer a existência dos danos morais. Por tais motivos, voto no sentido de conhecer do recurso e dar-lhe provimento, para julgar procedente o pedido, determinando que a primeira ré proceda à substituição do produto descrito na inicial, por outro de tecnologia similar ou superior, no prazo de 05 dias, sob pena de multa diária de R$ 100,00 (cem reais), e para condenar os réus, solidariamente, a pagarem ao autor a quantia de R$ 3.000,00 (três mil reais) a título de compensação pelo dano moral, corrigida monetariamente a contar desta data e com juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, a contar da data da citação, condenando-os, ainda, ao pagamento das despesas processuais e dos honorários advocatícios, que fixo em 20% (vinte por cento) do valor da condenação. Rio de Janeiro, 25 de janeiro de Certificado por DES. MARIO ASSIS GONCALVES A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço Data: 16/02/ :59:23Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: Tot. Pag.: 7 Pág. 7

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