Supremo Tribunal Federal

Transcrição

1 RECURSO EXTRAORDINÁRIO RIO GRANDE DO SUL RELATOR RECTE.(S) : MIN. ROBERTO BARROSO :ASSOCIAÇÃO HOSPITAL DE CARIDADE DE TRÊS PASSOS ADV.(A/S) : FÁBIO ADRIANO STURMER KINSEL E OUTRO(A/S) RECTE.(S) :UNIÃO PROC.(A/S)(ES) :PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL RECDO.(A/S) :OS MESMOS RECDO.(A/S) :INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS PROC.(A/S)(ES) :PROCURADOR-GERAL FEDERAL AM. CURIAE. :CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - CFOAB ADV.(A/S) :OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JUNIOR E OUTRO(A/S) DECISÃO: Trata-se de dois recursos extraordinários interpostos contra acórdão da 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, assim ementado: TRIBUTÁRIO CONTRIBUIÇÕES PARA A SEGURIDADE SOCIAL ENTIDADE DE FINS FILANTRÓPICOS IMUNIDADE ART. 195, 7º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1 A entidade que preenche os requisitos do art. 14, do CTN e, concomitantemente, aqueles do art. 55 da Lei 8.212/91, é reconhecida como filantrópica, sem fins lucrativos, estando imune à cobrança das contribuições previdenciárias. 2 Hipótese em que a autora preenche os requisitos legais. 3 O Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social tem natureza declaratória e produz efeitos ex tunc, vez que o CNAS nada mais faz do que reconhecer uma situação preexistente. 4 Verba honorária majorada. O recurso extraordinário interposto pela União busca fundamento no art. 102, III, a, da Constituição Federal. A parte recorrente alega

2 violação ao art. 195, 7º, da Carta. Sustenta, em síntese, que a concessão de Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social ocorreu sem que houvesse o preenchimento dos requisitos estabelecidos pela legislação que disciplina a matéria. O recurso extraordinário interposto pela Associação Hospital Caridade de Três Passos busca fundamento no art. 102, III, a, da Constituição Federal. A parte recorrente alega violação ao art. 5º, XXXVI, da Carta. Sustenta, em síntese, que a aplicação do art. 20, 4º, do Código de Processo Civil em benefício da Fazenda Pública para fixar honorários abaixo de 10% (dez por cento) afronta o princípio da igualdade. O recurso extraordinário da União foi admitido na origem e sobrestado, em face da Repercussão Geral reconhecida no RE , Rel. Min. Marco Aurélio (certidão de fls. 707). Já o recurso da Associação foi inicialmente inadmitido. Consigno, entretanto, que em virtude do provimento do AI , Rel. Min. Joaquim Barbosa, os autos principais subiram a esta Corte. Ressalto ter sido deferido o ingresso como do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil na condição de Amicus Curiae. Feitos esses registros, passo a apreciar a matéria. De início, saliento que, no julgamento do RE RG, julgado sob a relatoria do Ministro Luiz Fux, a Corte definiu três pontos essenciais sobre a matéria em questão: (i) o PIS é uma contribuição social vertida em favor da seguridade social, razão pela qual sujeita-se ao regime jurídico constante do art. 195 da Carta; (ii) a lei de que trata o art. 195, 7º, da Constituição é a lei ordinária que prevê os requisitos formais de estrutura, organização e funcionamento das entidades beneficentes de assistência social; (iii) ainda que se admita, hipoteticamente, que o dispositivo constitucional demanda complementação pela via da lei complementar, destacou-se que a imunidade possui eficácia imediata, 2

3 devendo ser reconhecida em favor do contribuinte ainda que pendente de regulamentação. seguinte: No caso dos autos, verifico que o acórdão recorrido consignou o Embora essa decisão não diga respeito à imunidade do art. 195, 7º, da CF/88, serve de norte à sua compreensão e recomenda que, na análise das lides que lhe são relacionadas, tenham-se em conta não só os parâmetros do art. 14 do CTN como também aqueles do art. 55 da Lei nº 8.212/91, salvo quando estes estejam desbordando nitidamente dos limites reservados à lei ordinária. 4 - A autora juntou aos autos seu estatuto, no qual consta ser uma entidade de caráter assistencial, sem fins lucrativos (art. 1º), que tem por finalidade manter, mediante convênios, serviços de assistência médico-hospitalar a seus associados e à população em geral (art. 3º). A associação não distribui resultados, dividendos, bonificações, participações ou parcela de seu patrimônio, sob nenhuma forma ou pretexto (art.33). Não percebem seus diretores, conselheiros, sócios, instituidores, benfeitores ou equivalentes, remuneração, vantagens ou benefícios, direta ou indiretamente, por qualquer forma ou título, em razão das competências, cargos, funções ou atividades que lhes sejam atribuídas pelos respectivos atos constitutivos (art. 34). Juntou a autora, também, um grande elenco de documentos comprobatórios de estar cumprindo os demais requisitos do art. 14 do CTN: não distribuir qualquer parcela de seu patrimônio ou rendas, a qualquer título; aplicar integralmente no País seus recursos, na manutenção de seus objetivos institucionais; manter escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão. Verifico, mais, que a autora foi declarada de utilidade pública pela Lei Municipal nº 2.244/1973, o mesmo ocorrendo no âmbito federal (Decreto de 15 de abril de 1991). Ela juntou, 3

4 ainda, o Certificado Provisório de Entidade de Fins Filantrópicos fornecido em 14/11/1976, o Certificado de Entidade de Fins Filantrópicos fornecido em 24/2/1997 e o Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social fornecido em 26/3/2003, com validade até 25/3/2006. Com efeito, dissentir das conclusões adotadas demandaria apenas o reexame do acervo probatório constante dos autos e da legislação infraconstitucional correlata, providência vedada nesta fase processual. Nesse sentido, veja-se ementa do RE RG, julgado sob a relatoria do Ministro Cezar Peluso: RECURSO. Extraordinário. Inadmissibilidade. Imunidade tributária. Entidade beneficente de assistência social. Requisitos legais. Tema infraconstitucional. Precedentes. Ausência de repercussão geral. Recurso extraordinário não conhecido. Não apresenta repercussão geral recurso extraordinário que, tendo por objeto o preenchimento dos requisitos impostos pelo art. 55 da Lei 8.212/1991, aptos a caracterizar pessoa jurídica como entidade beneficente de assistência social, para efeitos de reconhecimento de imunidade tributária, versa sobre tema infraconstitucional. Ademais, assevero não desconhecer a controvérsia que pende de análise por esta Corte quanto aos parâmetros para reconhecimento da imunidade tributária na espécie. Ocorre que o sobrestamento dos autos não demanda apenas uma identidade em tese com a questão de direito em debate. É preciso que o julgamento do leading case tenha o condão de interferir na apreciação do caso sobrestado. E não é o que ocorre na espécie. Isso porque, caso prevaleça a constitucionalidade formal da Lei nº 8.212/1991, nada se alterará. Caso contrário, na hipótese de ser declarada a inconstitucionalidade do dispositivo, o contribuinte permanecerá imune, na medida em que comprovou requisitos que vão além daqueles previstos no art. 14 do Código Tributário Nacional. 4

5 Relativamente à controvérsia suscitada pelo contribuinte, verifico que a Associação Hospital de Caridade de Três Passos pleiteou a homologação de desistência do recurso (Petição /2015). Diante do exposto, com base no art. 557 do CPC e no art. 21, 1º, do RI/STF, nego seguimento ao recurso extraordinário da União. Quanto ao recurso extraordinário do contribuinte, tendo em vista o disposto no art. 501 do CPC e no art. 21, VIII, do RI/STF, homologo o pedido de desistência. Publique-se. Brasília, 23 de março de Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO Relator 5