: MIN. GILMAR MENDES

Transcrição

1 RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO RIO DE JANEIRO RELATOR ADV.(A/S) RECDO.(A/S) PROC.(A/S)(ES) : MIN. GILMAR MENDES :JULIANA AGUIAR DA CRUZ :GERMILURDES AGUIAR MENDES :GERMILUCIA DA CRUZ OLIVEIRA :ZAQUEO DE AGUIAR COUTINHO : LUIZ ROBERTO LEVEN SIANO E OUTRO(A/S) :UNIÃO :ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO DECISÃO: Trata-se de agravo interposto contra decisão de inadmissibilidade de recurso extraordinário em face de acórdão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, cuja ementa reproduzo a seguir: RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MATERIAIS E MORAIS. RECONHECIMENTO DA CONDIÇÃO DE EX- COMBATENTE. TRIPULANTE DA EMBARCAÇÃO PESQUEIRA. OMISSÃO DA ADMINISTRAÇÃO. INOCORRÊNCIA. 1. Os apelantes, descendentes de tripulante da embarcação pesqueira Changri-lá, postulam indenização por danos materiais e morais, supostamente causados pela demora da Administração em apurar as causas do naufrágio e sua omissão em conferir de pensão especial a ex-combatente à viúva e aos descendentes do pescador falecido. 2. O agravo retido deve ser conhecido, vez que sua apreciação foi requerida em apelação (art. 523, 1º, do CPC). Infundada a irresignação dos agravantes, vez que a prova documental indeferida prestava-se a comprovar fatos conhecidos. 3. Conquanto não se postule a percepção de pensão especial de ex-combatente, a comprovação dessa condição constitui questão prejudicial à apreciação dos pedidos. Considera-se ex-combatente aquele que tenha participado efetivamente de operações bélicas durante a Segunda Guerra Mundial (art. 53 do ADCT c/c art. 1º da Lei nº 5.315/67), prova da qual não se desincumbiram os autores.

2 4. Não se configura alegada omissão da Administração. A uma, porquanto não poderia conceder a pensão a quem não tem direito. A duas, porque o reconhecimento da condição de ex-combatente não decorre do procedimento administrativo instaurado pelo Tribunal Marítimo nem por este é obstado. A três, pois o órgão, decorrido um ano do naufrágio (1943), concluiu que a embarcação foi despedaçada por possível explosão, embora não houvesse associado o evento a um ataque submarino. Logo, independentemente de sua real causa ou do tempo transcorrido entre o fato e as novas conclusões a seu respeito, é certo que não se pode atribuir à Administração a responsabilidade pelos danos supostamente experimentados pelos familiares em razão do falecimento do tripulante. 5. Agravo retido e apelação improvidos. (edoc 12, p. 14). Opostos embargos de declaração, foram estes rejeitados. No recurso extraordinário, interposto com fundamento no art. 102, III, a, da Constituição Federal, sustenta-se, em preliminar, a repercussão geral da matéria. No mérito, alega-se que houve ofensa aos artigos 1º, III; 5º, V, XXXV, LXXV, LXXVIII e 2º; e 37, 6º todos da Constituição Federal, além do art. 53 do ADCT. Os recorrentes, descendentes de Apúlio Vieira de Aguiar (náufrago da embarcação Changri-lá, torpedeada por submarino alemão durante a II Guerra Mundial), defendem, em síntese, que fazem jus à pensão prevista no art. 53 do ADCT por entenderem ser descendentes de excombatente. Sustentam que a demora no reconhecimento da condição de excombatente do falecido se deu por culpa exclusiva da União Federal, que, através de um de seus órgãos, o Tribunal Marítimo, à época do acidente, deixou de apurar o caso devidamente, como lhe é determinado pelo art. 13 da lei 2.180/54, arquivando o processo, sob a alegação de que o naufrágio daquela embarcação se deu por causa fortuita (edoc 11, p. 32). Entendem, portanto, que em virtude da dita omissão estatal, foram privados de vários benefícios garantidos aos descendentes de ex-combatentes (como alegam ser o caso do seu ascendente falecido). 2

3 Entendem ter havido, pelo acórdão recorrido, violação à dignidade da pessoa humana pelo fato de que os recorrentes, Durante 60 anos, ( ) não tiveram conhecimento sobre a verdadeira causa da morte do seu familiar e, ainda, passaram por diversas dificuldades sem ter como se sustentar devidamente, especialmente no campo da saúde e da educação. (edoc 11, p. 35) Pretendem, portanto, a reparação por danos materiais e morais em decorrência da alegada inércia da União em apurar as razões do naufrágio; em conferir, ao ascendente falecido, o título de ex-combatente; e pelo fato de não terem sido beneficiados pela pensão prevista no art. 53 do ADCT. Decido. As razões recursais não merecem prosperar. O Tribunal a quo, no que tange à suposta condição de ex-combatente do falecido, assentou a sua decisão na seguinte premissa: Conquanto não seja postulada a percepção da pensão especial de ex-combatente, a apreciação dos pedidos de indenização deve ser precedida da análise de questão prejudicial, qual seja: a condição de ex-combatente de Apulio Vieira de Aguiar, tripulante da embarcação pesqueira Changrilá, bombardeada por submarino alemão em mar territorial brasileiro. De acordo com o art. 53 do ADCT, para tanto, é necessário que haja participação efetiva em operações bélicas durante a Segunda Guerra Mundial ( ). Do exame dos autos, a despeito da vasta documentação que instrui o processo, não há qualquer prova de que o falecido tenha integrado qualquer das Forças. ( ) Destarte, como o próprio falecido não faria jus à percepção do benefício, por óbvio, seus dependentes também não o fazem, de modo que qualquer indenização decorrente da ausência de concessão mostra-se descabida. (edoc 10, p. 8-10) Lado outro, no tocante aos danos morais, assentou: 3

4 No que se refere ao pedido de danos morais, supostamente causados pela falta de celeridade da Administração em apurar a causa do naufrágio do Changri-lá e reconhecer a condição de ex-combatente do ascendente dos apelantes, de igual modo, não merece acolhimento. Não se configura a alegada omissão da Administração em averiguar os fatos, vez que, em 1944, o Tribunal Marítimo concluiu que a embarcação foi despedaçada, tendo alguns de seus destroços, que foram recolhidos e identificados, confirmado que a embarcação não foi partida ao meio ou coisa semelhante, parecendo ter havido uma explosão de dentro para fora, provando, segundo a PEM, a materialidade forte e robustante do evento (fl. 55), arquivando o procedimento. Dessa forma, a descrição reproduzida acima não se prestaria a nutrir qualquer expectativa de que os tripulantes desaparecidos houvessem sobrevivido. Assim, independentemente da real causa do naufrágio ou do tempo transcorrido entre o evento as novas conclusões a seu respeito, é certo que não se pode atribuir à Administração a responsabilidade pelos danos morais experimentados pelos familiares dos pescadores falecidos. (edoc 10, p ) Assim, verifico que divergir do entendimento adotado pelo acórdão recorrido demandaria o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, providência vedada na via extraordinária, em face do óbice previsto no Enunciado 279 da Súmula do STF. Sobre e o tema, confira-se o seguinte julgado: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Ofensa ao art. 5º, incisos XXXV, LIV e LV, da Constituição Federal. Prequestionamento. Ausência. Alegação de omissões no acórdão recorrido. Não ocorrência. Coisa julgada material. Formação. Discussão. Legislação infraconstitucional. Fatos e provas. Reexame. Impossibilidade. Precedentes. 1. Não se admite o recurso extraordinário quando os dispositivos constitucionais que nele se alega violados não estão 4

5 devidamente prequestionados. Incidência das Súmulas nºs 282 e 356/STF. 2. A jurisdição foi prestada pela Corte de origem mediante decisão suficientemente motivada. 3. Inadmissível, em recurso extraordinário, a análise da legislação processual e o reexame dos fatos e das provas dos autos. Incidência das Súmulas nºs 636 e 279/STF. 4. Agravo regimental não provido. (grifei) (ARE AgR/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe ) Ante o exposto, conheço do presente agravo para negar-lhe provimento (art. 544, 4º, II, a, do CPC). Publique-se. Brasília, 26 de agosto de Ministro GILMAR MENDES Relator Documento assinado digitalmente 5