ACÓRDÃO. Poder Judiciário do Estado da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete da Desembargadora Maria das Neves do Egito de A. D.

Transcrição

1 AC no /001 Poder Judiciário do Estado da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete da Desembargadora Maria das Neves do Egito de A. D. Ferreira ACÓRDÃO APELAÇÃO Cá/EL No /001 - CATOLÉ DO ROCHA RELATOR: Juiz Marcos William de Oliveira, convocado, em substituição à Desembargadora Maria das Neves do Egito de A. D. Ferreira APELANTE: Ervanildo Pereira da Silva ADVOGADO: Jaques Ramos Wanderley APELADO: Bradesco Auto/Re Cia de Seguros Ltda. ADVOGADOS: Samuel Marques e outros PRELIMINAR. ILEGITIMIDADE PASSIVA. APELADO INTEGRANTE DE CONSÓRCIO DE SEGURADORAS RESPONSÁVEIS PELO PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO PREVISTA NO DPVAT. ART. 7 DA LEI N 6.194/74. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DE TODAS AS SEGURADORAS. REJEIÇÃO. - As seguradoras integrantes do consórcio criado para o pagamento do seguro DPVAT são responsáveis de forma solidária quando não há identificação da seguradora responsável, ou o seguro obrigatório encontra-se vencido ou não foi realizado. Inteligência do art. 7 0 da Lei no 6.194/74. PRELIMINAR. FALTA DE INTERESSE DE AGIR. AUSÊNCIA DE PRÉVIA PROVOCAÇÃO ADMINISTRATIVA. INEXIGIBILIDADE. PRINCIPIO DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. ART. 5, XXXV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. REJEIÇÃO.

2 AC no / A possibilidade de pleitear-se direito na via administrativa não impede a provocação direta do Poder Judiciário, nos termos do art. 5 0, inciso XXXV, da Constituição Federal. APELAÇÃO CÍVEL. ACIDENTE EM MOTOCICLETA. SEGURO DPVAT. PERÍCIA JUDICIAL. INVALIDEZ TEMPORÁRIA. CONSTATAÇÃO. FRATURA CONSOLIDADA. INDENIZAÇÃO INDEVIDA. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. DESPROVIMENTO. "Em tendo a perícia judicial constatado a ausência de invalidez de caráter permanente da vítima, não há como ser modificada a sentença que atribuiu juízo de improcedência ao pedido indenizatório. Indenização indevida." (DRS, Apelação Cível no , Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Romeu Marques Ribeiro Filho, Julgado em 20/04/2011). VISTOS, relatados e discutidos estes autos. ACORDA a Colenda Segunda Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, por unanimidade, rejeitar as preliminares e, no mérito, negar provimento à apelação. Trata-se de apelação cível interposta por ERVANILDO PEREIRA DA SILVA em face de BRADESCO AUTO/RE CIA DE SEGUROS S/A contra sentença (fls. 107/108) prolatada pelo Juízo de Direito da 2a Vara da Comarca de Catolé do Rocha, que, nos autos da ação de cobrança de seguro obrigatório DPVAT, julgou improcedente o pedido, por entender que, de acordo com o laudo médico, a fratura sofrida pelo autor encontra-se consolidada, não importando em perda anatômica ou funcional, prevista na tabela inserida na Lei no / O apelante alega que a sentença deve ser reformada, pois as perícias constantes dos autos confirmam a debilidade permanente em razão do

3 AC no /001 3 acidente automobilístico sofrido (fls. 110/115) Contrarrazões ofertadas às fls. 119/132, nas quais o apelado aduz, preliminarmente, que é parte ilegítima para figurar no feito, e a carência da. ação, ante a necessidade de requerimento administrativo prévio. No mérito, caso as preliminares não sejam acolhidas, roga que a sentença seja mantida em todos os seus termos. Neste grau de jurisdição, instada a manifestar-se, a Procuradoria de Justiça opinou pelo desprovimento do recurso, para que a sentença seja mantida incólume (fls. 142/150). É o relatório. VOTO: Juiz MARCOS WILLIAM DE OLIVEIRA Relator Inicialmente, analiso as preliminares de ilegitimidade passiva e de carência da ação, que foram suscitadas pelo apelado. vejamos. Sua alegação de que é parte ilegítima não deve subsistir, senão Como é cediço, as seguradoras responsáveis pelo pagamento do seguro obrigatório integram um consórcio, respondendo, cada uma delas, solidariamente, pela satisfação da quantia a título de indenização. É o que se depreende do art. 7 da Lei n 6.194/74, com redação dada pela Lei n /92, in verbis. Art. 7 0 A indenização por pessoa vitimada por veículo não identificado, com seguradora não identificada, seguro nã realizado ou vencido, será paga nos mesmos valores, condições e prazos dos demais casos por um consórcio constituído, obrigatoriamente, por todas as sociedades seguradoras que operem no seguro objeto desta lei. o, Assim, qualquer seguradora pode figurar no polo passivo da demanda, respondendo pelo pagamento de indenização do seguro obrigatório a pessoa vitimada por acidente de trânsito, por não ser imperativa a identificação do

4 AC no /001 4 veículo causador do sinistro, ou mesmo da seguradora responsável por ele, bastando apenas o nexo causal entre o sinistro automobilístico e o dano, vínculo este suficientemente configurado, segundo as provas colhidas nos autos. Eis jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça nesse sentido: Processual civil. Recurso especial. Agravo no agravo de instrumento. Seguro obrigatório. Acidente de trânsito. Seguradora. Legitimidade passiva. Prequestionamento. Ausência. Fundamentação deficiente. Valor da indenização. Legalidade. (...) - Qualquer seguradora que opera no sistema pode ser acionada para pagar o valor da indenização correspondente ao seguro obrigatório assegurado direito de regresso. (...) Agravo não provido. 1 Também não merece acolhimento a preliminar de carência de ação por não ter o autor/apelante intentado o recebimento da indenização na via administrativa. O requerimento administrativo não é pressuposto para que se possa ajuizar uma ação judicial como a presente, pois, se assim fosse, ferir-se-ia o princípio da inafastabilidade da jurisdição, uma vez que a Constituição Federal garante o livre acesso ao Judiciário, independentemente de prévio ingresso na via administrativa. Esse entendimento já está pacificado neste Tribunal de Justiça, conforme se vê adiante: DPVAT. SEGURO OBRIGATÓRIO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. VÍTIMA FATAL. INDENIZAÇÃO. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO. APELAÇÃO CÍVEL. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA. REJEIÇÃO. PRELIMINAR DE FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL. REJEIÇÃO. ALEGAÇÃO DE COMPETÊNCIA DA CNSP (CONSELHO NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS) PARA EDITAR INSTRUÇÕES. IMPOSSIBILIDADE D VINCUIAÇÃO DE INDENIZAÇÃO AO SALÁRIO MÍNIMO. APELAÇÃO CÍVEL DESPROVIDA. li s -g - Possuem legitimidade para figurar no pólo ativo da ação de cobrança para recebimento de connplementação do seguro, os herdeiros legais em razão do falecimento da beneficiária 1 AgRg no Ag /RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/04/2006, CU 24/04/2006 p. 397.

5 AC no /001 5 do seguro DPVAT, por força dos direitos sucessórios. Desnecessário o requerimento administrativo anterior à propositura da ação para recebimento da indenização do DPVAT, se a Seguradora não comprova o pagamento espontâneo. O valor da indenização devida em virtude do seguro, DPVAT, em caso de morte da vítima, é de 40 (quarenta) salários mínimos, nos termos do art. 3 0 da Lei 6.194/74, devendo prevalecer essa norma frente ao teto fixado pela CNSP. É legítima a fixação do valor devido em razão do seguro DPVAT com base no salário mínimo, nos termos da Lei 6.194/74, por não traduzir um fator de correção, mas de simples fixação do valor da indenização Rejeito, portanto, as preliminares de ilegitimidade passiva ad causam e de carência da ação. Passo à análise do mérito. O apelante afirma que, em 15 de junho de 2006, foi vítima de acidente automobilístico, tendo fraturado o membro inferior esquerdo e, por conseguinte, ficou com debilidade permanente. Para comprovar suas alegações, juntou perícia realizada em clínica médica particular (fls. 10), que concluiu que o apelante apresenta deficiência de uso do membro inferior esquerdo em torno de 70% (setenta por cento). Também acostou aos autos laudo de exame de corpo de delito complementar, produzido pelo Núcleo de Medicina e Odontologia Legal de Patos/PB (fls. 13), no qual se infere que o acidente resultou em debilidade permanente de membro, sentido ou função. Ao analisar o feito, o Magistrado observou "que o laudo apresentado não estabelece o grau de debilidade do autor. Igualmente, o Boletim de Ocorrência foi lavrado em data bastante posterior ao suposto acidente." (fls. 93). Ato contínuo, o Julgador determinou a realização de perícia médica, a fim de que fosse avaliado o eventual percentual de debilidade permanente. De acordo com o exame realizado pelo médico perito (fls. 103/105), é possível constatar a existência, tão-somente, de incapacidade parcial 2 Apelação Cível no /001. Rel. Juiz Carlos Antônio Sarmento. D3 de

6 AC no /001 6 temporária (fratura consolidada), sem resultar em incapacidade permanente para o trabalho ou enfermidade incurável. A redação do art. 3 0, caput e incisos da Lei no 6.194/1974, vigente à época do acidente (15/06/2006), era a seguinte: Art Os danos cobertos pelo seguro estabelecido no art. 20 desta Lei compreendem as indenizações por morte, invalidez permanente e despesas de assistência médica e suplementares, nos valores que se seguem, por pessoa vitimada: I R$ ,00 (treze mil e quinhentos reais) no caso de morte; II até R$ ,00 (treze mil e quinhentos reais) no caso de invalidez permanente; e III até R$ 2.700,00 (dois mil e setecentos reais) como reembolso à vítima no caso de despesas de assistência médica e suplementares devidamente comprovadas, Como se observa, a invalidez permanente pode ser total ou parcial, de modo que as alterações posteriores desse dispositivo legal não inovaram, apenas especificaram que existe essa diferenciação, a ser feita pelo aplicador do direito, não sendo consignado, portanto, a possibilidade de sua aplicação em casos de invalidez parcial temporária. Contudo, como já fora mencionado, quando o apelante foi submetido à perícia judicial, constatou-se que sua invalidez é temporária, situação não acobertada pela Lei n 6.194/1974. Destaco decisões dos Tribunais de Justiça do Rio Grande do S e de Minas Gerais, respectivamente, acerca da matéria: APELAÇÃO CÍVEL. DPVAT. INVALIDEZ TEMPORÁRIA. PERÍCIA JUDICIAL. INDENIZAÇÃO INDEVIDA. SENTENÇA MANTIDA. O seguro obrigatório foi criado para indenizar as vítimas de seqüelas permanentes ocasionadas em acidente de trânsito. Em tendo a perícia judicial constatado a ausência de invalidez de caráter permanente da vítima, não há como ser modificada a sentença que atribuiu juízo de improcedência ao pedido

7 AC no /001 7 indenizatorio. Indenização indevida. O Laudo Médico particular é dotado de unilateralidade, não servindo para o fim de comprovar a permanência da incapacidade, quando desacompanhada de contexto probatório a complementá-lo. Sentença mantida. APELO DESPROVIDO.' APELAÇÃO CÍVEL - DPVAT - INCAPACIDADE TEMPORÁRIA - INDENIZAÇÃO INDEVIDA. Só faz jus ao recebimento da indenização do seguro DPVAT a vítima de acidente que ficou inválida, parcial ou totalmente, em caráter permanente.' Como visto, a temporariedade da incapacidade não foi prevista na legislação que trata do seguro DPVAT, pois a proteção legal é dada nas hipóteses em que, em decorrência do acidente de trânsito, resultem morte ou invalidez permanente, seja total ou parcial. Por oportuno, transcrevo trecho do parecer do Ministério Público nesse norte: Portanto, para ser devida a indenização decorrente do seguro obrigatório DPVAT a que faz alusão a Lei n 6.194/74, necessário se faz que o postulante comprove a sua invalidez permanente, ainda que parcial, o que não se verificou no caso em análise. (fls. 150). Destarte, rejeito as preliminares e, no mérito, nego provimento à apelação, para manter incólume a sentença objurgada. É como voto. Presidiu a Sessão a Excelentíssima Desembargadora MARIA DE FÁTIMA MORAES BEZERRA CAVALCANTI, que participou do julgamento com ESTE RELATOR (Juiz de Direito Convocado, com jurisdição limitada, para 3 Apelação Chiei No , Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Romeu Marques Ribeiro Filho, Julgado em 20/04/ Apelação Cível No /001,10a CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, Relator: Des. ALBERTO ALLÁZIO PACHECO DE ANDRADE Relator do Acórdão: Des.(a) ALBERTO ALUÍZIO PACHECO DE ANDRADE Data do Julgamento: 07/06/2011 Data da Publicação: 17/06/2011.

8 AC no /001 8 substituir a Excelentíssima Desembargadora MARIA DAS NEVES DO EGITO DE A. D. FERREIRA) e com o Excelentíssimo Desembargador JOSÉ RICARDO PORTO, convocado para compor o quórum, face à ausência justificada do Excelentíssimo Desembargador MARCOS CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE. Presente à Sessão o Excelentíssimo Doutor FRANCISCO ANTÔNIO SARMENTO VIEIRA, Promotor de Justiça Convocado. Sala de Sessões da Segunda Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, e João Pessoa/PB, 03 de julho de Juiz MA e pr0 AM DE OLIVEIRA lá ar