Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina

Transcrição

1 Fl. TRESC Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina Relator: Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto Requerente: Paulo Roberto Tesserolli França ACÓRDÃO N ELEIÇÕES PRESTAÇÃO DE CONTAS - CANDIDATO A DEPUTADO ESTADUAL - DESPESA COM LANÇAMENTO INDEVIDO DO CNPJ DO CANDIDATO - DOAÇÃO ESTIMÁVEL EM DINHEIRO - DOAÇÃO QUE NÃO CONSTITUI PRODUTO DO SERVIÇO OU ATIVIDADE ECONÔMICA DO DOADOR - LIMITAÇÃO IMPOSTA PELA RESOLUÇÃO DO TSE SEM AMPARO NA LEI DAS ELEIÇÕES - OFENSA AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE (CF, ART. 5 o, II) - RECONHECIMENTO DA ILEGALIDADE DA NORMA - DOAÇÃO ORIUNDA DE PESSOA JURÍDICA CONSTITUÍDA NO ANO DA ELEIÇÃO - NÃO APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTAÇÃO FISCAL IMPROPRIEDADES RELEVADAS - IRREGULARIDADES QUE NÃO ATINGEM A CONFIABILIDADE E IMPOSSIBILITAM A AFERIÇÃO DA REGULARIDADE DAS CONTAS - APROVAÇÃO COM RESSALVAS. Vistos, etc, A C O R D A M os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, à unanimidade, em aprovar as contas com ressalva, nos termos do voto do Relator, que fica fazendo parte integrante da decisão. Sala de Sessões do Tribunal Regional Eleitoral. Florianópolis, 20 de junhoxde Juiz OSCAR JUVÊNCIO BORGES NETO \ Relator

2 R E L A T Ó R I O Trata-se de prestação de contas de campanha do candidato Paulo Roberto Tesserolli França, que concorreu ao cargo de Deputado Estadual nas últimas eleições. Analisando os documentos apresentados pelo candidato (fls ), a Coordenadoria de Controle Interno (COCIN) emitiu relatório preliminar apontando algumas inconsistências (fls ).. Determinada a baixa dos autos em diligência, o candidato apresentou manifestação com documentos e Prestação de Contas retificadora (fls ). Em seguida, o órgão técnico emitiu o primeiro parecer conclusivo (fls ), manifestando-se péla desaprovação das contas. Intimado a se manifestar sobre o referido parecer, o candidato apresentou manifestação com documentos (fls ). Após análise dos documentos apresentados, a Coordenadoria de Controle Interno ratificou o parecer anterior pela desaprovação das contas (fl. 297). Com vista dos autos, a Procuradoria Regional Eleitoral (fls ) também se manifestou pela desaprovação das contas. É o relatório. VOTO O SENHOR JUIZ OSCAR JUVÊNCIO BORGES NETO (Relator): Sr. Presidente, a Coordenadoria de Controle Interno (COCIN) manifestou-se pela desaprovação das contas (fl. 297), em razão da permanência das seguintes irregularidades: 1-) lançamento indevido do CNPJ do candidato como fornecedor O órgão técnico detectou impropriedade relativa ao lançamento indevido do CNPJ do candidato como fornecedor em despesa relativa ao fornecimento de combustíveis e lubrificantes. Cotejando os autos, verifica-se no Relatório de Despesas Efetuadas que a despesa em comento é originária do Posto de Miranda LTDA, no valor de R$ 616,78 (fl. 24), paga mediante cheque da conta bancária específica de campanha, conforme extrato bancário (fl. 162) e nota fiscal (fl. 254) apresentada. Desse modo, tenho que a falha relativa ao lançamento equivocado do CNPJ do candidato não teve o condão de macular a credibilidade das contas, uma vez que foi possível demonstrar a origem e destinação dos recursos de campanha, portanto, afasto a impropriedade apontada pelo órgão técnico. 2

3 terceiros. 2-) utilização de recurso estimável em dinheiro oriundo de Constata-se o recebimento de recurso estimável em dinheiro proveniente de Haroldo Voigt, no valor de R$ 3.604,20, referente à locação de bem imóvel, consoante nota explicativa no Relatório de Descrição das Receitas Estimadas (fl. 192). Verifica-se, também, a emissão do respectivo recibo eleitoral de n (fl. 104), acompanhado do Contrato de Locação Comercial (fls ). No entanto, o órgão, técnico manifestou-se pela impropriedade da doação (fl. 271), a teor do disposto no art. 1 o, 3 o, da Res. TSE n /2010, que determina, litteris: Art. 1 o [...] [...] 3 o Os bens e/ou serviços estimáveis doados por pessoas físicas e jurídicas devem constituir produto de seu próprio serviço, de suas atividades econômicas e, no caso dos bens permanentes, deverão integrar o patrimônio do doador. Em que pese o entendimento esposado pela COCIN, este Tribunal tem decidido pela possibilidade de pessoas físicas e jurídicas contribuírem para a campanha eleitoral, por meio do fornecimento gratuito de bens ou serviços por ela custeados, independentemente de sua natureza, sendo a única restrição imposta à doação aquela referente aos limites de valores estabelecidos pela lei, que, se ultrapassados, impõem aplicação de multa ao doador e não ao candidato ou partido político. Desse modo, firmou-se o entendimento de que o Tribunal Superior. Eleitoral, ao autorizar apenas a doação de bens e/ou serviços vinculados à atividade econômica ou ao patrimônio do doador, estabeleceu limites sem respaldo legal, sendo portanto inaplicável a restrição prevista no 3 o do art. 1 o da Res. TSE n /2010. Nesse sentido, a ementa transcrita a seguir: - ELEIÇÕES PRESTAÇÃO DE CONTAS DE CANDIDATO - DEPUTADO ESTADUAL - APRESENTAÇÃO EXTEMPORÂNEA DA PRIMEIRA PRESTAÇÃO DE CONTAS PARCIAL - AUSÊNCIA DE CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DE BEM ESTIMÁVEL EM DINHEIRO - NÃO EMISSÃO DE RECIBO ELEITORAL RELATIVAMENTE À CESSÃO DE VEÍCULO PRÓPRIO UTILIZADO EM CAMPANHA - COMPROVAÇÃO DA PROPRIEDADE DO VEÍCULO - DOAÇÃO ESTIMÁVEL EM DINHEIRO - LIMITAÇÃO IMPOSTA PELA RESOLUÇÃO DO TSE SEM AMPARO NA LEI DAS ELEIÇÕES - OFENSA AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE (CF, ART. 5 o, II) - RECONHECIMENTO 3

4 DA ILEGALIDADE DA NORMA - POSSIBILIDADE DE AFERIR A REGULARIDADE DAS CONTAS - INEXISTÊNCIA DE MÁ-FÉ - IRREGULARIDADES RELEVADAS - APROVAÇÃO DAS CONTAS [TRESC. Ac. n /2011, de , rei. Juiz Rafael de Assis Horn] (grifei) Assim, entendo que a falha apontada deve ser afastada. eleição 3-) doação oriunda de pessoa jurídica constituída no ano da A Coordenadoria de Controle Interno apontou irregularidade em doação originária da pessoa jurídica Paulo Sergio Erdmann, tendo em vista a constituição da empresa no ano da eleição, o que afronta o disposto no 2 o do art. 16 da Res /2010. Compulsando os autos, verifica-se tratar-se de doação estimada em dinheiro, no valor de R$ 100,00, referente a anúncio no Informativo Milenium no mês 8/2010, com apresentação de nota fiscal e emissão de recibo eleitoral n (fl. 150) ): Intimado o candidato apresentou os seguintes esclarecimentos (fls. A doação foi feita na verdade pelo senhor Paulo Sergio Erdmann CPF que possui uma firma individual denominada "Paulo Sergio Erdmann", o que ocorreu é que ao fazer o recibo de doação o mesmo foi emitido erroneamente contra sua empresa quando na verdade deveria ser emitido contra sua pessoa física. Estamos retificando o lançamento através de Prestação de Contas com status de Retificadora. Aduzimos ainda que por se tratar de valor inferior a mil UFIR's sequer seria necessária sua indicação, no entanto, buscando ser o mais preciso em suas informações o Requerente também a indicou em sua prestação de contas. De fato consta da Prestação de Contas Retificadora, no Demonstrativo dos Recursos Arrecadados (fl. 187), a doação em comento, com doador a pessoa física de Paulo Sergio Erdmann, CPF , no valor supramencionado e sob mesmo número de recibo eleitoral. Intimado novamente para manifestação acerca do primeiro conclusivo, o candidato apresentou o seguinte esclarecimento (fl. 284): parecer Como já informamos anteriormente a doação foi feita pelo senhor Paulo e não pela sua pessoa jurídica e acostamos junto com a nota explicativa ESCRITURA PÚBLICA DE DECLARAÇÃO a qual afirma de forma contundentes e esclarecedoras que a doação foi feita pela sua pessoa física e não pela pessoa jurídica. Portanto o que realmente aconteceu foi um erro de formalidade, aproveitamos o momento para juntar cópia da Escritura Pública de Declaração. 4

5 Nesse contexto, ainda que a doação decorra de pessoa jurídica constituída no ano da eleição, tenho que em face do valor ínfimo, R$ 100,00 e da plausibilidade da justificativa apresentada pelo candidato, à irregularidade não enseja a rejeição das contas, devendo ser anotada apenas como ressalva. 4-) não apresentação de documentação fiscal Verificou-se irregularidade referente à fornecedora Liane de Marchi de Oliveira, CPF , no valor de R$ 1.400,00, pela não apresentação da documentação fiscal solicitada em relatório preliminar. Compulsando os autos, constata-se no Relatório de Despesas Efetuadas (fls. 25 é 37) duas despesas da supramencionada fornecedora referentes à locação de bem imóvel no valor unitário de R$ 700,00, pagas em 30.8 e , mediante cheque em conta bancária específica de campanha, com comprovação de trânsito em conta corrente por meio dos extratos bancários acostados à presente prestação de contas (fls. 162 e 164). Intimado para manifestação acerca do primeiro parecer conclusivo, o candidato apresentou o seguinte esclarecimento (fl. 286): Esta despesa se trata de aluguel do Comitê de Campanha sediado em Blumenau o qual encaminhamos o Recibo de pagamento bem como Contrato de Aluguel. Esclarecemos ainda que neste tipo de transação o documento fiscal é o recibo do aluguel pago. Com efeito, o candidato apresentou cópia dos cheques pagos (fls ), bem como cópia do instrumento particular de contrato de locação firmado entre Liane de Marchi de Oliveira e o candidato (fls ). Nesse contexto, tenho que a impropriedade apontada encontra-se satisfatoriamente esclarecida, uma vez que foi possível comprovar a origem e a destinação dos recursos na prestação de contas, restando preservada a credibilidade das contas. Assim, ante as considerações expostas, voto pela aprovação ressalvas das contas de campanha de Paulo Roberto Tesserolli França. com É como voto. 5

6 Fl. TRESC Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina EXTRATO DE ATA PRESTAÇÃO DE CONTAS N PRESTAÇÃO DE CONTAS - DE CANDIDATO - DEPUTADO ESTADUAL RELATOR: JUIZ OSCAR JUVÊNCIO BORGES NETO REQUERENTE(S): PAULO ROBERTO TESSEROLLI FRANÇA ADVOGADO(S): MIGUEL ANGELO SOAR PRESIDENTE DA SESSÃO: JUIZ SÉRGIO TORRES PALADINO PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL: CLAUDIO DUTRA FONTELLA Decisão: à unanimidade, aprovar as contas com ressalvas, nos termos do voto do Relator. Foi assinado o Acórdão n Presentes os Juízes Irineu João da Silva, Rafael de Assis Horn, Oscar Juvêncio Borges Neto, Ivorí Luis da Silva Scheffer, Nelson Maia Peixoto e Vânia Petermann Ramos de Mello. SESSÃO DE