MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL DE GOIÁS
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- Paula Castro Canário
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1 Ex.mo(a) Sr. (a) Juiz(a) Auxiliar do TRE/GO. O MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL, pelo Procurador Regional Eleitoral de Goiás, com fundamento no art. 47, da Resolução TSE n /2006, c/c 25, I, IV e VII, do RITRE/GO, vem a douta presença de V. Ex.a REPRESENTAÇÃO ELEITORAL p o r C A P T A Ç Ã O e G A S T O I L Í C I T O S D E R E C U R S O S em face de JÚLIO SÉRGIO DE MELO, candidato eleito terceiro suplente de deputado estadual pelo PSDB, nº , pelos fatos e fundamentos a seguir expostos: I FATOS: a) Realização de despesas em momento anterior à abertura da conta bancária específica, bem como da obtenção dos recibos eleitorais Da prestação de contas apresentada pelo representado consta que houve realização de gastos em momento anterior à abertura de conta bancária específica, bem como da obtenção dos recibos eleitorais. Com efeito, conforme atesta a nota fiscal nº , acostada a fls. 275 dos autos protocolados sob o nº , o candidato adquiriu, junto à Grafopel Gráfica e Editora Ltda., (trinta e seis mil) santinhos, no valor total de R$1.080,00, na data de 12/07/2006, sendo que os recibos eleitorais foram obtidos somente em 18/07/2006 e a conta bancária foi aberta apenas em 20/07/2006. b) Pagamento de despesas diversas em dinheiro vivo Da análise detida dos documentos acostados aos autos em referência, sobretudo aqueles de fls. 28 a 91, constata-se que o candidato em questão realizou saque na boca do caixa para o pagamento de despesas, ou seja, efetuou pagamento de despesas diversas em dinheiro vivo, no valor total de R$ ,00, o que corresponde a 42,12% de todas as suas declaradas despesas de campanha, senão vejamos: 1- O cheque de nº foi utilizado para pagamento de aproximadamente 53 (cinqüenta e três) cabos eleitorais, 03 (três) locações de bens móveis e 08 (oito) prestadores de serviços diversos, no valor total de R$7.000,00; 2- O cheque de nº foi utilizado para pagamento de aproximadamente 87 (oitenta e sete) cabos eleitorais, 03 (três) prestadores de serviços diversos e conta de água, no valor total de R$14.700,00; 3- O cheque de nº foi utilizado para pagamento de aproximadamente 08 (oito) locações de bens móveis, no valor total de R$6.000,00; 4- O cheque de nº foi utilizado para pagamento de aproximadamente 29 (vinte e nove) cabos eleitorais, no valor total de R$3.000,00; 5- O cheque de nº foi utilizado para pagamento de aproximadamente 08 (oito) cabos eleitorais, no valor total de R$1.500,00; 6- O cheque de nº foi utilizado para pagamento de Representacao - Centro Cultural (Samuel Belchior) - VAJA
2 aproximadamente 14 (quatorze) cabos eleitorais e despesas com alimentação, no valor total de R$2.800,00; 7- O cheque de nº foi utilizado para pagamento de aproximadamente 07 (sete) cabos eleitorais, no valor total de R$1.000,00; 8- O cheque de nº foi utilizado para pagamento de aproximadamente 75 (setenta e cinco) cabos eleitorais, 10 (dez) locações de bens móveis, 06 (seis) carros de som, publicidade em jornais e revistas, publicidade por materiais impressos, alimentação, combustível e eventos de promoção de candidatura, no valor total de R$ ,00. c) Recebimento de recursos de fonte vedada Conforme consta do Demonstrativo dos Recursos Arrecadados de fls daqueles autos, o candidato recebeu a quantia de R$1.000,00 (mil reais) da RÁDIO TROPICAL LTDA., CNPJ / , que, conforme Ato nº , de 25 de agosto de , cuja cópia segue em anexo, é pessoa jurídica permissionária do serviço de radiodifusão sonora, sendo, portanto, fonte vedada. II - DIREITO: a) No caso específico, a conduta do representado contrariou o disposto no art.1º, IV e V, da Resolução TSE nº22.250/06: Art. 1º Sob pena de rejeição das contas, a arrecadação de recursos e a realização de gastos por candidatos e comitês financeiros só poderão ocorrer após observância dos seguintes requisitos: (...) IV- abertura de conta bancária específica para a movimentação financeira de campanha, salvo para os candidatos a vice e a suplente; V - obtenção dos recibos eleitorais. De acordo com a mesma Resolução, verbis: Art. 3º Os recibos eleitorais são documentos oficiais que viabilizam e tornam legítima a arrecadação de recursos para a campanha, considerando-se imprescindíveis seja qual for a natureza do recurso, ainda que do próprio candidato, não se eximindo desta obrigação aquele que, por qualquer motivo, não disponha dos recibos. Art. 4º Os diretórios nacionais dos partidos políticos são responsáveis pela confecção dos recibos eleitorais, conforme anexo I, e pela distribuição aos respectivos comitês financeiros nacionais, estaduais ou distritais, que deverão repassá-los aos candidatos antes do início da arrecadação de recursos. 1º omissis. 2º omissis. 1 Extraído do site 2
3 3º O candidato que não receber os recibos eleitorais deverá retirá-los no respectivo comitê financeiro, antes do início da arrecadação. Art. 10. É obrigatória a abertura de conta bancária específica em nome do candidato e do comitê financeiro da campanha, inclusive dos recursos próprios dos candidatos e dos oriundos da comercialização de produtos e realização de eventos, vedado o uso de conta bancária preexistente. b) Quanto à segunda irregularidade apontada, é cediço que todos os pagamentos efetuados pelos candidatos, sejam eles decorrentes de prestação de serviços, aquisição de produtos ou contratos diversos, por força da legislação, devem ser feitos com cheque nominal a cada um dos respectivos beneficiários. Da forma como o candidato efetuou os pagamentos devidos dificulta-se o alcance do objetivo maior da legislação eleitoral vigente, qual seja: a transparência na prestação de contas eleitorais, indo de encontro com a inteligência do dispositivo 10, 4º, Resolução n.º do TSE, in verbis: 4º. A movimentação bancária de qualquer natureza será por meio de cheque nominal ou transferência bancária. O caso específico em apreço se apresenta de maior gravidade, na medida em que grande parte das despesas realizadas pelo candidato foi paga em dinheiro vivo, inclusive para pessoas jurídicas em datas diferenciadas, tais como, ) locações de bens móveis, carros de som, publicidade em jornais e revistas, publicidade por materiais impressos, alimentação, combustível e eventos de promoção de candidatura etc.. Não se desconhece que o TRE/GO tem aceitado, sem ressalvas, esse tipo de procedimento, porém em todos os casos analisados, cuidou-se de pequenos pagamentos a cabos eleitorais (que em geral são pessoas humildes, residentes em cidades pequenas, que na maioria das vezes não possuem conta bancária), o que justificaria descontar o cheque para pagá-los em dinheiro, desde que houvesse comprovação cabal desse pagamento. Entretanto, o caso em tela revela-se em absoluto descontrole. Veja-se que não há qualquer justificativa para o pagamento, em dinheiro vivo, de gráficas, aluguel de imóveis, carros de som e postos de gasolina. Os pagamentos em dinheiro vivo representaram 42,12% de todas as despesas declaradas pelo candidato em sua prestação de contas, o que revela a magnitude da irregularidade. c) A captação de recursos advindos de pessoa jurídica permissionária de serviço público (radiodifusão) consubstancia a situação vedada pela Lei nº 9.504/97, que assim dispõe: Art. 24. É vedado, a partido e candidato, receber direta ou indiretamente doação em dinheiro ou estimável em dinheiro, inclusive por meio de publicidade de qualquer espécie, procedente de: (...) III concessionário ou permissionário de serviço público. (grifei) 3
4 Sobre o assunto, a Resolução TSE nº , em seu artigo 13, parágrafo único, determina que o uso de recursos recebidos de fontes vedadas constitui irregularidade insanável e causa para rejeição das contas, ainda que o valor seja restituído. Sobre a sindicância das contas de campanha, a Resolução TSE nº /2006 é expressa: Art. 47. Qualquer partido político ou coligação poderá representar à Justiça Eleitoral relatando fatos e indicando provas e pedir a abertura de investigação judicial para apurar condutas em desacordo com as normas desta Lei, relativas à arrecadação e aos gastos de recursos. 1o Na apuração de que trata este artigo, aplicar-se-á o procedimento previsto no art. 22 da Lei Complementar no 64, de 18 de maio de 1990, no que couber. 2o Comprovados captação ou gastos ilícitos de recursos, para fins eleitorais, será negado diploma ao candidato, ou cassado, se já houver sido outorgado (Lei nº 9.504/97, art. 30-A, acrescentado pela Lei nº /2006). Por fim, quanto à legitimidade do Ministério Público Eleitoral para a representação, a Constituição Federal assim dispõe a respeito das suas funções institucionais: Art O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Regulamentando esse dispositivo constitucional, a Lei Complementar 75/93 determina, verbis: Art. 72. Compete ao Ministério Público Federal exercer, no que couber, junto à Justiça Eleitoral, as funções do Ministério Público, atuando em todas as fases e instâncias do processo eleitoral. O Regimento Interno do TRE/GO é expresso, verbis: Art. 25. São atribuições do Procurador Regional Eleitoral: I propor ações de competência originária do Tribunal; II omissis; III omissis; IV representar ao Tribunal, no interesse da fiel observância das leis, bem como da Constituição Federal, no tocante a matéria eleitoral; V omissis; VI omissis; VII representar ao Tribunal sobre matéria financeira para exame da escrituração contábil dos partidos políticos e filiados, para apuração de qualquer ato que viole as prescrições legais ou estatutárias. 4
5 A representação é instrumento adequado para investigar, judicialmente, as irregularidades no financiamento da campanha, bem como para punir o candidato, caso reste ao final evidenciado que houve captação ou gasto ilícito de recursos com fins eleitorais. III - PEDIDOS: Em vista do exposto, requer-se: a) o recebimento da inicial, abrindo-se investigação judicial e imprimindo-se ao feito o rito previsto no art. 22, da Lei Complementar 75/93; b) a notificação do Representado para, em cinco dias, querendo, apresentar resposta (art. 22, I, a, da Lei Complementar 64/90); c) ao final, a procedência desta Representação para o fim de negar o diploma ao representado, ou cassar-lhe, se no curso da ação vier a lhe ser outorgado, por violação ao art. 30-A, da Lei 9.504/97; Pede deferimento. Goiânia, 14 de dezembro de HELIO TELHO CORRÊA FILHO PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL 5
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