Autor e imagens na Revista Brasileira de Psicanálise ( )

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1 Autor e imagens na Revista Brasileira de Psicanálise ( ) Prof. Me. Roger Marcelo Martins Gomes Universidade do Sagrado Coração, Bauru/SP roger.gomes@usc.br Comunicação Oral Eixo 6 - Memória, cultura e poder Pesquisa em andamento RESUMO EXPANDIDO Palavras-chave: Autor; Imagens; Revista Brasileira de Psicanálise Introdução Nesta Comunicação Oral, pretendo mostrar parte da pesquisa sobre a Revista Brasileira de Psicanálise realizada no meu Doutorado em História ainda em andamento. A discussão teórica realizada durante o levantamento de referenciais e autores que pudessem dar sustentação às análises e interpretações nesta pesquisa possibilitou uma breve avaliação sobre o que é autoria, autor e imagens em periódicos científicos. Dentre diversos autores lidos e estudados para esta pesquisa, indagamos se poderia a discussão de Michel Foucault sobre a função-autor contribuir para perscrutarmos a Revista Brasileira de Psicanálise? Para além de seu tempo, o texto O que um autor?, de Michel Foucault, permitiu-nos uma reflexão sobre autoria e imagem na Revista Brasileira de Psicanálise. Metodologia

2 Para entendermos as possibilidades oferecidas pela discussão de Foucault, primeiramente, mostraremos de forma introdutória os estudos de Michel de Certau sobre História e Psicanálise, as aproximações teóricas entre Certeau e Foucault, as definições de função-autor em Foucault e Roger Chartier e, por fim, demonstraremos como na Revista Brasileira de Psicanálise a função-autor está explicita já na capa deste periódico científico com as imagens de precursores e fundadores da Psicanálise. Discussão Preciosas contribuições para iniciar o debate teórico deste estudo são encontradas em Michel de Certeau, em suas obras A Invenção do Cotidiano quando trata da escrita em A Escrita da História assim como a relação entre História e Psicanálise. Michel de Certeau, entre outros autores 1, demonstram de maneira mais rica esta interface. Em sua obra-prima, A Escrita da História, Certeau dedica a quarta parte do livro aos escritos freudianos. No capítulo VIII O que Freud fez da História A propósito de uma Neurose Demoníaca no século XVII e no capítulo IX Ficção da História A escrita de Moisés e o Monoteísmo, a análise de Certeau parte do valor dado às escritas de Freud para revelar aquilo a que corresponde às incursões dele na região histórica de sua cultura. Frequentemente, leitores de Certeau o colocam em tensão à Foucault, alegando que o primeiro oferece uma interpretação mais dinâmica das estruturas que organizam a sociedade. É, sem dúvida, uma posição problemática quando considera-se as teorias como estanques. Para Josgrilberg (2005, p. 54): Talvez fosse mais apropriado localizar os insights de Foucault sobre o aparato disciplinar no âmbito das estratégias descritas por Certeau. Esta relação aparece de duas formas: a) Foucault trata da função das estratégias quando ele analisa as micropolíticas de poder; b) a escrita do próprio Foucault, paradoxalmente, faz uso de uma visão panóptica (uma estratégia) para organizar sua pesquisa. 1 Como exemplo podemos citar autores que em suas obras tratam diretamente da interface entre História e Psicanálise ou a subjetividade e sociedade temos: Peter Gay; François Dosse; Michele Bertrand; Bernard Doray; Pierre Nora; Jacques Revel; Lucien Febvre; Marc Bloch; Alain Besançon; Paul Ricoeur.

3 Em A Invenção do Cotidiano encontramos uma interlocução com a obra Vigiar e Punir de Foucault, o estudo das práticas do tipo micro dá continuidade à análise de poder feita por Foucault. Certeau não nega o aparato disciplinar ou os procedimentos estratégicos organizadores do espaço, poderes sustentados por uma técnica não é problema, mas um fato a ser reconhecido. No ano em que a Revista Brasileira de Psicanálise completava três anos de existência, 1969, Michel Foucault publicava um de seus mais polêmicos trabalhos, O que é um autor?. Obra ainda discutida nos meios acadêmicos tem sido referência em vários trabalhos. Sabemos, entretanto, a importância de discuti-la em seu tempo, daí a necessidade de avaliá-la e questioná-la diante a historiografia atual. Para tanto, buscamos os comentários e sugestões de Roger Chartier quando trata da questão autor e autoria como veremos a frente. O texto de Michel Foucault inicia discutindo a questão ética da escrita contemporânea em que o autor ocupa um lugar vazio. O essencial, segundo ele, não é constatar o que sabemos que acontece com o autor - a indiferença, o desaparecimento e o apagamento - mas os locais onde sua função é exercida. Foucault, segundo Chartier, fez uma distinção radical entre dois problemas frequentemente confundidos pelos historiadores: por um lado, a análise sócio-histórica do autor como indivíduo e, por outro, o problema da construção da função-autor, isto é, a maneira pela qual o texto aponta para essa figura. Para Chartier (2012, p.19), a função de um autor é descrever a existência e a circulação de determinados discursos dentro da sociedade. A função-autor, portanto, pressupõe uma radical distância entre o próprio indivíduo e a construção do sujeito a quem o discurso é atribuído. Trata-se de uma ficção semelhante à das leis que definem e manipulam sujeitos jurídicos que não têm ligação com indivíduos concretos. Por um lado, a unidade da função-autor como princípio para garantir a coerência do discurso pode referir-se a vários indivíduos que competem e cooperam entre si. Por outro, a pluralidade das vozes e das posições do autor no mesmo texto é remetida de volta a um único criador. Neste sentido, a funçãoautor está fundamentalmente separada da realidade fenomenológica e da experiência do escritor como indivíduo.

4 Para Chartier, Foucault propôs o projeto de uma análise histórica do discurso que exigia uma mudança radical na localização de textos no qual o sujeito seria despojado de sua criatividade e analisado como uma função complexa e variável do discurso. Chartier, nos proporciona a partir de Foucault uma categoria de análise que contribuirá ricamente para a nossa análise da revista, desde que considerados os cuidados sugeridos por este autor, entender que a função-autor não é somente uma função discursiva, mas também uma função da materialidade do texto.. Considerações finais Percebemos que nas publicações durante os primeiros dez anos de existência da revista, 1967 a 1976, há uma grande quantidade de artigos que utilizam temas da cultura como mitos, literatura, pintura, escultura, artes em geral, como meio de sustentar a teoria psicanalítica. As categorias teóricas e discussões vistas em De Certeau, Foucault e Chartier nos permite avaliar a escrita sobre temas da literatura, arte e mitos da revista, nos permite iniciar o trabalho de investigá-la e perscrutá-la e entender a construção do discurso científico da revista no campo da cultura. Referências CERTEAU, M. de. A escrita da história. Trad. Maria de Lourdes Menezes; rev. tec. Arno Vogel. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense, CERTEAU, M. A Invenção do cotidiano. Trad. De Ephraim F. Alves. Rio de Janeiro: Vozes CHARTIER, R. Autoria e história cultural da ciência. Priscilla Faulhaber, José Sérgio Leite Lopes (orgs). Rio de Janeiro: Beco do Azougue, FOUCAULT, M.. "O que é um autor?", Bulletin de la Societé Française de Philosophic, 63º ano, no 3, julho-setembro de 1969, p 2. Acesso em 10/08/2014. JOSGRILBERG, F. B. Cotidiano e invenção: os espaços de Michel de Certeau. São Paulo: Escritas Editora, 2005.

5 LUCA, T. R. de. Fontes Impressas In: Fontes Históricas. Carla Bassanezi Pinsky (organizadora). 2.ed. São Paulo: Contexto, p. 130.