ACESSO AO DIREITO E AOS TRIBUNAIS, ENQUANTO GARANTE DE DEFESA DOS DIREITOS LIBERDADES E GARANTIAS - QUE MODELO?
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- Débora Caetano
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1 ACESSO AO DIREITO E AOS TRIBUNAIS, ENQUANTO GARANTE DE DEFESA DOS DIREITOS LIBERDADES E GARANTIAS - QUE MODELO? Cabe-nos lembrar e cumprir a atribuição primeira da Ordem dos Advogados, de defender o Estado de direito e os direitos, liberdades e garantias, assumindo a responsabilidade de cooperar com o Estado no cumprimento do preceituado no artigo 20º/1 da Constituição da República Portuguesa, assegurando a todos o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus interesses legalmente protegidos. Bem tem andado o Estado, e assim deve continuar, ao optar por promover a sua responsabilidade em matéria de acesso ao direito e aos tribunais, designadamente através de mecanismos de cooperação com as instituições representativas das profissões forenses, recusando a opção de um serviço nacional de protecção jurídica e o quanto de negativo comportaria este último. Um sistema de acesso ao direito e aos tribunais em cooperação com a OA, é um sistema estruturalmente assente em todas as regras éticas da advocacia, não esquecendo a independência e a especial relação de confiança entre o advogado e o patrocinado, fugindo a vínculos de funcionalização e de dependência. Um sistema que conta com as atribuições da Oa, a quem cabe promover o acesso ao conhecimento e aplicação do direito, bem como o nível técnico dos seus profissionais, cabendo a estes últimos aceitar o patrocínio oficioso, atenta a exclusividade do mandato forense, bem como o cumprimento dos deveres estatutários a que estão vinculados,
2 designadamente os deveres para com a comunidade, que os obriga a colaborar no acesso ao direito. Um sistema cuja previsão legal e regulamentar, aponta para a selecção de profissionais que assegurem a qualidade dos serviços prestados, impondo-lhes uma série de deveres específicos para além dos estatutários; obrigando-os a caminhar na linha da frente pela obrigatoriedade do uso exclusivo da via electrónica (onerando-os com uma acrescida carga, designadamente burocrática) que muito contribui para um modelo eficaz do sistema de Justiça a que os demais intervenientes judiciários parecem continuar avessos. Um sistema que como única contrapartida do Estado, aos profissionais forenses que nele participem, prevê uma adequada compensação, com pagamento a ser processado até ao termo do mês seguinte àquele em que fosse devido, o que seria da mais elementar e merecida justiça, ao invés da reiterada falta de pagamento, dos prolongados atrasos nos pagamentos e de insultuosas desculpas de mau pagador, como as que se verificam no tempo que corre. Por onde anda a pessoa que no VI Congresso dos Advogados Portugueses subscrevia moções sobre Apoio Judiciário, onde se pugnava pelo pagamento dos honorários em 8 dias, por uma verba mínima para despesas de escritório, etc.? É hoje Ministra da Justiça. A falta de pagamento da compensação devida é absolutamente insustentável e inaceitável, pois que acrescendo à crise económica que a todos afecta, condiciona de forma gravíssima o reunir de condições para o bom exercício do patrocínio que legalmente é exigido, a que o cidadão carenciado tem legítimo direito e a que o sistema pode e deve dar resposta. Porque o sistema existente tem falhas, carece de reapreciação e melhorias, mas é o menos mau dos modelos que assegure um dos pilares do nosso Estado de direito democrático.
3 Não esqueçamos que, o acesso ao direito e aos tribunais, consubstancia um direito fundamental imprescindível a nível nacional e internacionalmente, uma obrigação a vincular entidades públicas e privadas, que não pode pautar-se por critérios meramente economicistas de concessão de protecção jurídica, nem fazer depender a apreciação do pedido de apoio judiciário de documentos entregues pelos requerentes. A prática permite-nos atestar que existem requerentes do benefício do apoio judiciário a omitir deliberadamente bens e rendimentos, sem que os advogados nomeados, vinculados pelo dever de sigilo profissional, possam denunciar a situação. Também nada os advogados podem fazer contra os autênticos profissionais da protecção jurídica, que conseguem sucessivos deferimentos de apoio judiciário, com intuito de intentarem acções relacionadas com indemnizações pedidas a tudo e a todos, que se recebidas e não declaradas, alimentam novos, sucessivos e ilimitados pedidos de apoio judiciário. Nas acções em que o beneficiário viesse a receber uma indemnização, o próprio Tribunal não poderia informar a Segurança Social desse recebimento, de modo a que se procedesse a uma reavaliação da situação económica? De modo a permitir o acesso à justiça e à defesa dos direitos, liberdades e garantias, melhor fora que o legislador fosse moderado no fixar do valor das custas judiciais e demais encargos, não tornando tão oneroso o acesso aos tribunais A criação do sistema informático SINOA, teve o mérito de permitir que através dele se realizassem todos os actos, desde o pedido de nomeação de patrono ou defensor até ao término do processo, passando pelo pagamento do profissional forense e pelas comunicações entre as diversas entidades envolvidas no sistema, mas enferma de vários defeitos, nomeadamente o não reflectir a legislação vigente no que concerne a honorários a pagar aos advogados pelos serviços prestados neste âmbito.
4 O SINOA não acolhe devidamente os conceitos legais, todas as situações jurídicas passíveis de ocorrer num processo, nem todas as situações de pagamento previstas na Portaria 1386/2004, nem sequer a cláusula residual prevista na Tabela. São muitas e de todos conhecidas, as situações existentes com pagamento de honorários previsto na Portaria mas que o advogado nomeado, não tem como pedi-los no SINOA. A desadequação do SINOA com o regime legal, levou os advogados, em certos casos, a seleccionarem de entre os itens previstos na plataforma o que mais se assemelha à situação, vendo-se agora e por isso, acusados de cometer irregularidades. CONCLUSÕES: I) O rigoroso e eficaz cumprimento do preceituado no artigo 20º/1 da Constituição da República Portuguesa, que a todos assegure o acesso ao direito e aos tribunais e a defesa dos seus interesses legalmente protegidos, passa por um sistema que conte com a cooperação da OA., num modelo estruturalmente assente em todas as regras éticas da advocacia, designadamente a independência e a especial relação de confiança entre o advogado e o patrocinado, fugindo a vínculos de funcionalização e de dependência, que um serviço nacional de protecção jurídica comportaria e que cabe evitar. I) A OA deve pugnar pelo rigoroso cumprimento da lei em matéria de adequada compensação aos advogados oficiosos, de modo a garantir a obtenção dos meios necessários ao desempenho dos serviços de qualidade que se lhes exigem. II) Uma OA que pugne por um elevado nível técnico de todos os seus profissionais, obviamente incluindo os participantes no acesso ao direito e aos tribunais, apostando numa necessária formação permanente de carácter obrigatório, de modo a assegurar não só a qualidade dos serviços prestados, como o prestigio do advogado e a consequente dignidade da advocacia. III) A OA deve pugnar por uma reapreciação e melhoria do SINOA, adequando a plataforma ao regime legal, acolhendo devidamente os conceitos legais, todas as situações jurídicas passíveis de ocorrer num processo, bem como todas as situações de pagamento previstas na Portaria 1386/2004, de modo a evitar que os advogados integrem lacunas por situação mais próxima e por isso sejam
5 insultuosamente acusados de cometer irregularidades IV) A Segurança Social deve encontrar critérios de concessão do benefício do apoio judiciário a quem verdadeiramente dele carece, de modo a evita situações crónicas, sucessivas e ilimitadas. V) Deve continuar a cooperação da OA no Acesso ao Direito e aos Tribunais, porque integrante do interesse público da instituição, mas não podem ser os advogados e as suas quotas a suportar um encargo que cabe ao Estado. Manuela Frias Cátia Marisa Gaspar Largo de São Domingos, 14 1º LISBOA-PORTUGAL Tel congressoadvogados@cg.oa.pt
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