Não prestou declarações, sem antes saber qual a posição do Conselho Distrital sobre esta matéria, colocando a final a seguinte questão:
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- Lúcia César Bicalho
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1 PARECER nº 8/PP/2015-P CONCLUSÕES 1. Os atos, tradicionalmente próprios da função notarial e os atos de registo on line, praticados pelo advogado no âmbito das competências que lhe foram atribuídas, considerados apenas na sua formalidade externa, não estão abrangidos pelo segredo profissional. 2. Relativamente à existência e conteúdo dos documentos particulares facultados para preparação e elaboração dos atos, tal como o notário, o advogado está vinculado ao dever de sigilo. 3. Excecionalmente, no que concerne aos atos de registo automóvel promovidos on line, estando o advogado, ao abrigo do disposto no artº 4º da Portaria nº 99/2008 de 31 de Janeiro, obrigado a arquivar os originais dos documentos, não estará vinculado ao dever de guardar sigilo sempre que, para comprovação da correspondência do registo com a realidade material, seja necessária a revelação de tais documentos. 4. Os factos advindo ao conhecimento do advogado por via da assessoria (aconselhamento) jurídico prévia ou simultânea à prática do ato notarial ou ato de registo estão, por princípio, abrangidos pelo segredo profissional. I A Sra. Dra. ( ), advogada com escritório em ( ), titular da Cédula Profissional nº ( ), foi notificada para comparecer nos Serviços de Ministério Público para, na qualidade de testemunha, prestar declarações no âmbito do processo nº ( ). No dia e hora designado, compareceu no Tribunal tendo sido informada que aquele processo de inquérito se reportava a um crime de falsificação de assinatura aposta em documento relacionado com o acto de registo de propriedade de veículo automóvel que promoveu on line no seu escritório. Não prestou declarações, sem antes saber qual a posição do Conselho Distrital sobre esta matéria, colocando a final a seguinte questão: Se no âmbito da realização do registo automóvel o advogado encontra-se obrigado ao segredo profissional, ou se pelo contrário, e uma vez que se trata de um ato que pode ser realizado em qualquer conservatória do registo automóvel, se não existe a obrigação de segredo profissional e dessa forma pode prestar declarações no âmbito daquele processo na qualidade de testemunha, respondendo a tudo o que venha a ser perguntado, sobre a matéria relacionada com a feitura do registo automóvel. (sic)
2 II Trata-se de uma questão de relevante interesse para o exercício da profissão de advogado, assistindo ao Conselho Distrital, por via do disposto no artº 50º al. f) do EOA, competência para sobre ela se pronunciar, justificando até uma abordagem mais abrangente. Indo para além da situação concreta promoção on line do registo automóvel pretende-se abordar os atos, tradicionalmente próprios da função notarial, para a prática dos quais foi atribuída competência aos advogados. A questão tem sido recorrente, sobretudo em processos de dispensa do segredo profissional do advogado. A natureza e finalidade específica daqueles atos, são susceptíveis de gerar zonas de confronto com o princípios e regras fundamentais a observar no exercício da advocacia. Chamamos aqui à colação as esclarecidas considerações que o Vogal Pedro Costa Azevedo teceu no editorial do Ipso Iure de Dezembro de Delas retiramos as seguintes questões: 1. Como conjugar a imparcialidade e independência, exigível a quem confere e atesta a fé pública, e a parcialidade (ou o risco dela), de quem representa interesses de parte, e tem por dever de ofício a sua defesa? 2. Como conjugar a prática de um ato por sua natureza público com o caráter reservado do exercício da advocacia? 3. Como estremar a atividade do advogado enquanto sujeito ativo da prática de um ato próprio da função notarial e a atividade do advogado enquanto sujeito ativo da pratica um ato próprio da sua profissão? Rematava no mesmo editorial: São questões de difícil resposta, num terreno cada vez mais pantanoso e em que a figura do advogado assume contornos híbridos que, em última análise, podem acabar por não beneficiar a profissão. De facto assim o é. Mas é com esta realidade que temos de conviver a partir do momento em que foi conferida ao advogado competência para a prática de atos próprios da função notarial e promoção de atos de registo.
3 E, difíceis ou não, as respostas terão de ser encontradas no quadro das normas legais que regulam estes atos e das regras estatutárias que regem a profissão de advogado. III O artº 1º do CN preceitua que a função notarial destina-se a dar forma legal e conferir fé pública aos actos jurídicos extrajudiciais. O artº 87º nº 1 do EOA, impõe ao advogado o dever de guardar segredo profissional no que respeita a todos os factos advindo ao seu conhecimento por via do exercício das suas funções ou da prestação dos seus serviços. artº 87º nº 1 do EOA. Numa primeira análise somos confrontados com zona de potencial conflito entre a finalidade específica do ato notarial e o dever consignado naquela norma estatutária. Mas que tal confronto é apenas aparente. No que respeita à existência e conteúdo dos documentos particulares para a preparação e elaboração do ato, se o notário, por força do disposto no artº 32º nº 1 do CN está vinculado ao dever de guardar segredo profissional, por igual razão, ou maioria dela, o advogado também está. Mas outras questões se colocam neste particular aspeto, e que antevemos de difícil resolução. Impondo-se, por qualquer circunstância, a necessidade de revelação da existência e conteúdo dos documentos particulares que estiveram na base da prática do ato, dispõe o artº 32º nº 1 do CN que o segredo profissional só pode ser afastado caso a caso e por motivo de interesse público, mediante despacho do Director-Geral dos Registos e do Notariado. (sublinhados nossos) Só por motivo de interesse público! E nos casos em que a revelação se impõe para defesa da dignidade, direitos e interesses do advogado ou do seu cliente, o segredo profissional também pode ser afastado (dispensado)? O interesse público a que alude a citada norma do CN, corresponde ao interesse preponderante a que alude o artº 135º nº 3 do C.P.Penal?
4 Mediante despacho do Director-Geral dos Registos e do Notariado! Conjugando a parte final do artº 32º do CN com o disposto no artº 3º nº 3 do mesmo código - os actos praticados no uso da competência de que gozam os órgãos especiais da função notarial devem obedecer ao preceituado neste Código, na parte que lhes for aplicável- relativamente ao advogado: O Presidente do Conselho Distrital deixa de ter a sua competência em matéria de sigilo? O Tribunal Superior, na previsão do nº 3 do artº 135 do C.P.Penal, deixa também de ter essa competência? Deixamos as questões com alguma preocupação, mas sem a preocupação de no presente momento lhes dar uma resposta, já que tanto não exige a resposta à questão que nos é colocada pela Sra. Dra. ( ). IV A Portaria nº 99/2008 de 31 de Janeiro veio a conceder ao advogado competência para promover on line atos de registo automóvel. Na efetivação de tal competência, o artº 7º da mesma Portaria concedeu ao advogado a faculdade de, como utilizador devidamente autenticado, aceder ao respectivo sítio. O ato de registo e o utilizador que o promove, destinado a publicitar a existência do direito e o respectivo titular, não é passível de estar abrangido pelo segredo profissional. Relativamente aos documentos que servem de base ao registo on line, por força do disposto no artº 4º da mesma Portaria, o advogado é obrigado a arquivar os respectivos originais. Esta exigência, outra finalidade não tem que a de comprovação, quando exigível, da correspondência da realidade registal com a realidade material. Assim os referidos documentos que serviram de base ao registo, não estarão abrangidos pelo segredo profissional do advogado se, por qualquer circunstância devidamente justificada, é pedida a sua revelação.
5 Quanto à questão que é colocada pela Requerente, e passamos a citar: se não existe a obrigação e dessa forma pode prestar declarações no âmbito daquele processo na qualidade de testemunha, respondendo a tudo o que venha a ser perguntado, sobre a matéria relacionada com a feitura do registo automóvel : É consabido que, previa ou simultaneamente, à prática quer de atos de registo quer de atos próprios da função notarial, são praticados atos de aconselhamento (assessoria) jurídica, e paralelamente, não raras vezes, é exercido patrocínio forense, por via do que são levados ao conhecimento do advogado determinados factos. E aqui voltamos à terceira questão inicialmente colocada: É fundamental delimitar a atividade do advogado enquanto sujeito ativo da prática de um ato de registo ou ato notarial, da sua atividade, enquanto sujeito ativo da prática de um ato próprio da sua profissão, e ponderar as particulares circunstâncias em que os factos chegaram ao conhecimento do advogado. Remetemo-nos novamente para o caso colocado pela Requerente, não será possível dar uma resposta concreta, porquanto, desconhecemos quais os factos do conhecimento da Requerente, as circunstâncias em que advieram ao seu conhecimento, e quais os factos sobre os quais é pretendido o seu depoimento, o que a Requerente por certo também desconhecerá. Desconhecendo a Requerente quais, em concreto, os factos sobre os quais irá ser questionada, terá no decurso do depoimento de fazer aquela ponderação, na certeza de que a todo o momento, mesmo em caso de dúvida, poderá recusar-se a depor sob a invocação do sigilo, o que lhe é legitimado pelo disposto no artº 135º nº 1 do C.P.Penal. C O N C L U S Õ E S: 1. Os atos, tradicionalmente próprios da função notarial e os atos de registo on line, praticados pelo advogado no âmbito das competências que lhe foram atribuídas, considerados apenas na sua formalidade externa, não estão abrangidos pelo segredo profissional.
6 2. Relativamente à existência e conteúdo dos documentos particulares facultados para preparação e elaboração dos atos, tal como o notário, o advogado está vinculado ao dever de sigilo. 3. Excecionalmente, no que concerne aos atos de registo automóvel promovidos on line, estando o advogado, ao abrigo do disposto no artº 4º da Portaria nº 99/2008 de 31 de Janeiro, obrigado a arquivar os originais dos documentos, não estará vinculado ao dever de guardar sigilo sempre que, para comprovação da correspondência do registo com a realidade material, seja necessária a revelação de tais documentos. 4. Os factos advindo ao conhecimento do advogado por via da assessoria (aconselhamento) jurídico prévia ou simultânea à prática do ato notarial ou ato de registo estão, por princípio, abrangidos pelo segredo profissional. Este, s.m.o. o m/ parecer. Porto, 10 de Abril de 2015 O Relator, Domingos Ferreira
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