PARECER Nº 47/PP/2011-P CONCLUSÕES
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- Lorenzo Bacelar Mendes
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1 PARECER Nº 47/PP/2011-P CONCLUSÕES a) Não está vedado ao advogado, genericamente e em abstracto, exercer o patrocínio contra anterior cliente, impondo-se apenas verificar se tal patrocínio configurará uma situação de conflito de interesses. b) A matéria de conflito de interesses, tal como está regulada no art. 94º do Estatuto da Ordem dos Advogados é uma questão de consciência, competindo ao advogado, no caso concreto, ajuizar se a relação de confiança estabelecida com um seu antigo cliente lhe permite assumir agora de forma isenta, independente e sem constrangimentos, o patrocínio contra ele. c) Não configura uma situação de conflito de interesses a aceitação de nomeação para o patrocínio de um cônjuge, em processo de divórcio, apesar de ter sido nomeado, para o patrocínio do outro cônjuge, para o mesmo fim, se esta nomeação tiver cessado por escusa por falta de contacto deste. d) Não existe conflito de interesses mesmo que, posteriormente ao deferimento da escusa, tenha havido um contacto do qual resultou uma informação de teor meramente administrativo. e) É dever do advogado informar o actual beneficiário da existência de anterior nomeação para o patrocínio do seu cônjuge, para o mesmo fim, e todas as suas circunstâncias. I. Por correio electrónico de 01/07/2011, foi remetido pelo Conselho de Deontologia do Porto ao Senhor Presidente do Conselho Distrital do Porto da Ordem dos Advogados, o pedido de parecer do Dr. ( ), portador da cédula profissional n.º ( ), sobre o eventual conflito de interesses ao aceitar a nomeação como patrono oficioso de um beneficiário para propor acção de divórcio, quando já havia sido nomeado patrono da mulher daquele. Sendo que, o consulente não foi contactado pela interessada mulher, pelo que pediu escusa, a qual lhe foi deferida. 1
2 Tratando-se inegavelmente de uma questão de carácter profissional, tem este Conselho Distrital competência para emitir parecer (alínea f) do n.º 1 do art. 50º do Estatuto da Ordem dos Advogados). II. O consulente foi nomeado patrono oficioso de ( ), para um processo de divórcio. Como não foi possível o contacto com a interessada, aquele requereu a escusa do processo, a qual veio a ser deferida. Posteriormente a interessada contactou o Sr. Dr. ( ), o qual a informou que já não a poderia representar, aconselhando-a a requerer novo pedido de apoio judiciário. Posteriormente, o Distinto Advogado foi nomeado patrono oficioso do marido da referida ( ), para propor acção de divórcio. Informa o Distinto Advogado que não lhe foi transmitida qualquer informação sobre a pretensão do divórcio, por parte da mulher, ( ). Assim, todo o presente parecer tem por assente que não houve qualquer contacto com esta beneficiária, com a excepção da recomendação para que efectuasse novo requerimento do apoio judiciário. III. Esta situação pode, eventualmente, consubstanciar o conflito de interesses previsto no art. 94º do Estatuto da Ordem dos Advogados que estipula: 1 - O advogado deve recusar o patrocínio de uma questão em que já tenha intervindo em qualquer outra qualidade ou seja conexa com outra em que represente, ou tenha representado, a parte contrária. 2 - O advogado deve recusar o patrocínio contra quem, noutra causa pendente, seja por si patrocinado. 3 - O advogado não pode aconselhar, representar ou agir por conta de dois ou mais clientes, no mesmo assunto ou em assunto conexo, se existir conflito entre os interesses desses clientes. 4 - Se um conflito de interesses surgir entre dois ou mais clientes, bem como se ocorrer risco de violação do segredo profissional ou de diminuição da sua independência, o advogado deve cessar de agir por conta de todos os clientes, no âmbito desse conflito. 2
3 5 - O advogado deve abster-se de aceitar um novo cliente se tal puser em risco o cumprimento do dever de guardar sigilo profissional relativamente aos assuntos de um anterior cliente, ou se do conhecimento destes assuntos resultarem vantagens ilegítimas ou injustificadas para o novo cliente. 6 - Sempre que o advogado exerça a sua actividade em associação, sob a forma de sociedade ou não, o disposto nos números anteriores aplica-se quer à associação quer a cada um dos seus membros. IV. Entendemos que o conflito de interesses é, para o advogado, antes demais, uma questão de consciência. Cabe ao advogado, face à situação concreta, avaliar se a relação de confiança que estabeleceu com um determinado antigo cliente lhe permite assumir agora de forma isenta, independente e sem constrangimentos, o patrocínio contra ele. Sobre situações semelhantes já se pronunciaram o Conselho Geral da Ordem dos Advogados (parecer de 20/03/1987, in R.O.A, n.º 47, págs. 634 e segs.) e o Conselho Distrital do Porto (parecer n.º 33/PP/2009-P, de 10/08/2009, relator Dr. António Rio Tinto Costa), dando respostas opostas. No caso do parecer do Conselho Geral, elaborado na vigência do anterior Estatuto da Ordem dos Advogados, considerou que o defensor oficioso do arguido, apesar de aí não ter praticado qualquer acto e de nenhum contacto ter mantido com o assistido está inibido de, na mesma questão, aceitar mandato do ofendido, por quem foi procurado depois de extinto o mandato oficioso, apesar de o ter previamente avisado da anterior nomeação. Entendimento diferente teve o Conselho Distrital do Porto que, no referido parecer, considerou: Não configura uma situação de conflito de interesses a aceitação de mandato conferido pelo ofendido, quando o mandatário, apesar de ter sido nomeado, no mesmo processo, defensor oficioso do arguido funções entretanto cessadas por despacho judicial, não teve qualquer intervenção no processo, nem sequer contactou o arguido. Entendemos que a resposta mais adequada a esta questão, designadamente a colocada pelo Sr. Dr. ( ), é esta segunda, do Conselho Distrital do Porto, à qual aderimos e para a qual remetemos. 3
4 Com efeito, como consta do referido parecer, com o art. 94º do Estatuto da Ordem dos Advogados procura-se, por um lado, defender a comunidade, em geral, e os clientes dos advogados, em especial, das actuações ilícitas destes, conluiados ou não com outros clientes. Por outro lado, visa-se defender o advogado da hipótese de sobre ele recair a suspeita de uma actuação visando qualquer outro fim, que não a defesa dos interesses do seu cliente. Contudo, acrescentaremos um outro requisito: que o advogado informe o novo cliente no caso concreto, o actual beneficiário do apoio judiciário, para cujo patrocínio foi nomeado da anterior nomeação. Assim, entendemos que não há conflito de interesses, se o advogado nomeado: - Não teve qualquer participação no âmbito da anterior nomeação; - Não teve qualquer contacto com o anterior beneficiário (ou se esse contacto, foi uma mera informação, aconselhando a que efectuasse novo requerimento de apoio judiciário); - Informar o actual beneficiário da existência de nomeação anterior para patrocinar o outro cônjuge. Satisfeitos estes requisitos, utilizando a expressão do parecer que vimos seguindo, não se vê como possa afectar o decoro e a dignidade profissionais o facto de o advogado aceitar a nomeação para um patrocínio contra quem, em rigor, nunca foi seu patrocinado V. Conclusão a) Não está vedado ao advogado, genericamente e em abstracto, exercer o patrocínio contra anterior cliente, impondo-se apenas verificar se tal patrocínio configurará uma situação de conflito de interesses. b) A matéria de conflito de interesses, tal como está regulada no art. 94º do Estatuto da Ordem dos Advogados é uma questão de consciência, competindo ao advogado, no caso concreto, ajuizar se a relação de confiança estabelecida com um seu antigo cliente lhe permite assumir agora de forma isenta, independente e sem constrangimentos, o patrocínio contra ele. 4
5 c) Não configura uma situação de conflito de interesses a aceitação de nomeação para o patrocínio de um cônjuge, em processo de divórcio, apesar de ter sido nomeado, para o patrocínio do outro cônjuge, para o mesmo fim, se esta nomeação tiver cessado por escusa por falta de contacto deste. d) Não existe conflito de interesses mesmo que, posteriormente ao deferimento da escusa, tenha havido um contacto do qual resultou uma informação de teor meramente administrativo. e) É dever do advogado informar o actual beneficiário da existência de anterior nomeação para o patrocínio do seu cônjuge, para o mesmo fim, e todas as suas circunstâncias. Este é, salvo melhor opinião, o meu parecer. À sessão Maia, 02 de Setembro de 2011 O Relator Rui Silva 5
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