TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 fls. 149 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Jundiaí, em que é agravante UNIMED JUNDIAÍ COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO, é agravado CÂMARA DE DIRIGENTES LOJISTAS DE JUNDIAÍ. ACORDAM, em 9ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores EDSON LUIZ DE QUEIROZ (Presidente sem voto), PIVA RODRIGUES E GALDINO TOLEDO JÚNIOR., 11 de junho de [ANGELA LOPES] [Relatora] Assinatura Eletrônica

2 fls. 150 VOTO Nº 6397 Agravo de Instrumento n Origem: 2ª Vara Cível da Comarca de Jundiaí Agravante: UNIMED JUNDIAÍ COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO Agravado: CÂMARA DE DIRIGENTES LOJISTAS DE JUNDIAÍ AÇÃO CIVIL PÚBLICA Seguradora agravante que pretende reforma da decisão que obstou a aplicação do reajuste anual devido em 2018 (apurado em 82,33%, aceitando-se mínimo 35%, ou, subsidiariamente, 22%, como no ano anterior), ao contrato 'sub judice', relegando a discussão a respeito do percentual cabível às vias apropriadas Decisão que comporta parcial reforma Demanda coletiva ajuizada pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Jundiaí contra a seguradora agravante e que visou justamente à manutenção do contrato coletivo por adesão mantido entre as partes, o qual havia sido rescindido unilateralmente pela ré Denúncia realizada pela seguradora justificada pelo desequilíbrio contratual invencível, ocasionado pela alta sinistralidade do grupo Liminar concedida para obstar a rescisão que pressupõe, necessariamente, seja a ré remunerada pelos serviços prestados Uma vez que o contrato completou novo aniversário 'sub judice', deve ser autorizada a incidência do reajuste anual de 2018, da mesma forma como foi em 2017, uma vez que o ajustamento do contrato, anualmente, é necessário à manutenção do sinalagma Reajuste financeiro que é previsto no instrumento que se visa a manter e que, portanto, deve ser aplicado - Perícia atuarial para verificar o percentual de recomposição efetivamente devido em 2017 que ainda não foi realizada, pelo que deverá englobar, também, o percentual devido em 2018, pelo que fica, por ora, autorizada somente a incidência do percentual mínimo previsto para o período, de novos 22%, retroativos ao aniversário do contrato RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO Trata-se de agravo de instrumento interposto contra r. decisão que, nos autos da ação civil pública, relegou o pleito formulado pelo agravante, de aplicação do reajuste anual da competência de 2018 ao contrato 'sub judice', às vias apropriadas. Agravo de Instrumento nº Voto nº

3 fls. 151 Sustenta a seguradora agravante que, nos autos da ação civil pública ajuizada pela agravada visando obstar a rescisão contratual, houve acolhimento do pedido de tutela antecipada formulado, tendo sido, outrossim, acolhido pelo Juízo de Primeira Instância o pedido de aplicação de reajuste de sinistralidade, relativamente ao ano de 2017, no importe de 22%. Todavia, completado mais um aniversário do contrato, faz-se necessário novo reajustamento, pelo que peticionou nos autos pleiteando autorização para fazer incidir, sobre o contrato objeto da demanda, reajuste de 82,33%, o que foi, contudo, indeferido, sobre seguinte fundamento: (...) Com efeito, a autora pretende, por meio desta demanda, a manutenção do contrato celebrado pela ré, mas não discute acerca de percentuais de reajuste. Portanto, o requerimento de fls. 530/532 deverá ser formulado pela ré por meio da via própria (despacho agravado). Defende ser necessária aplicação do reajuste de 82,33%, inclusive, retroativamente ao aniversário do contrato, a fim de recomporem-se as perdas, atualizando-se a contraprestação devida pelos usuários do plano. Afirma a pertinência da discussão a respeito do reajuste devido no ano de 2018 nos autos da ação civil pública, certo que nestes mesmos autos houve deferimento da produção de prova pericial (ainda não realizada), tendo sido fixados, como pontos controvertidos justamente a existência de desequilíbrio econômico financeiro no contrato (fl. 63), tendo sido, a respeito do reajuste devido para o ano de 2017, sido proferido seguinte despacho: Até decisão final, autorizo a aplicação para reajuste do índice incontroverso, de 22%, desde o último reajuste, de modo retroativo, a ser cobrado de modo apartado. (fl. 60). Pede a concessão de efeito suspensivo ativo à Agravo de Instrumento nº Voto nº

4 fls. 152 decisão atacada, bem como seu integral provimento, possibilitando-se a aplicação de reajuste por sinistralidade no importe de 82,33% ou de 35%, ou, no mínimo, 22%, como no ano anterior. A antecipação de tutela recursal foi indeferida (fls. 130/132). Contraminuta às fls. 137/139. A Ilustre Procuradora de Justiça opinou pelo parcial provimento ao agravo (fls. 142/144). É o relatório. Trata-se, na origem, de ação civil pública movida pela Câmara dos Dirigentes Lojistas de Jundiaí contra a Unimed Jundiaí Cooperativa de Trabalho Médico. Para tanto, deduziu ofertar aos seus associados plano de saúde coletivo para cerca de 3 mil vidas, consoante contrato formado em 2001 e cuja última renovação se deu em 28/06/2015. Em 03/07/2017, a ré notificou a autora que a partir de 30/09/2017 estaria rescindido o contrato firmado entre as partes, diante da ausência dos rendimentos esperados. Reclamou que a rescisão unilateral do contrato ofende ao Código de Defesa do Consumidor, bem como ao art. 13, único, II da Lei 9.656/98. Esclareceu que grande parte dos segurados (mais de 70%) são idosos, havendo usuários em tratamento de doenças graves. Pediram, ao final, a manutenção do contrato. Apresentou o referido comunicado, no qual a ré informa a denúncia do contrato se deu em razão do grande desequilíbrio econômico financeiro deste. Abriu prazo para manifestação a respeito do interesse Agravo de Instrumento nº Voto nº

5 fls. 153 na adesão de plano coletivo coparticipativo, com estrutura de 10 faixas etárias, sem novos prazos de carência ou cobertura parcial temporária. Às fls. 191/192 foi concedida a liminar para a manutenção do plano, sob pena de multa diária. Tal decisão foi objeto de irresignação recursal (agravo de instrumento nº , distribuído para esta 9ª Câmara de Direito Privado, sob relatoria do Des. José Aparício Coelho Prado Neto), tendo sido negado provimento ao recurso. Em sua contestação, dentre diversos argumentos, a ré postulou a aplicação do reajuste necessário para a manutenção do equilíbrio do contrato, no percentual de 49,8%, ou, no mínimo, de 22%, valor que havia sido aceito pela autora, e, portanto, incontroverso. Esclareceu que as mensalidades estão sem reajuste desde junho de 2017, pelo que pediu a cobrança retroativa. Por conseguinte, foi proferida decisão de fls. 457, a qual autorizou a aplicação do reajuste de 22%, desde o último reajuste, de modo retroativo, a ser cobrado em apartado. Foi saneado o processo, oportunidade na qual foi determinada a realização de perícia atuarial (fl. 470). Às fls. 530/532, a ré informou novo aniversário do contrato, em julho de 2018, pelo que necessária aplicação de novo reajuste. Indicou a necessidade de reajustamento do contrato em 82,33%. Subsidiariamente, pediu a incidência do reajuste de 35%, de forma a parcialmente recompor as perdas, tudo de forma retroativa a julho/2018. A respeito, a Nobre Magistrada Daniella Aparecida Soriano Uccelli assim consignou: Com efeito, a autora pretende, por meio desta Agravo de Instrumento nº Voto nº

6 fls. 154 demanda, a manutenção do contrato celebrado pela ré, mas não discute acerca de percentuais de reajuste. Portanto, o requerimento de fls. 530/532 deverá ser formulado pela ré por meio da via própria. (fl. 570). Foi interposto o presente agravo de instrumento, contra a decisão acima reproduzida. Pois bem. Tudo considerado, é de rigor o parcial acolhimento do recurso. A determinação judicial de manutenção do contrato, implica, necessariamente, na assunção direitos e deveres por ambas as partes, certo que se por um lado cumpre à ré manter o fornecimento de seus serviços, por outro, assiste-lhe o direito de receber, por eles, a justa contraprestação. Equivale dizer que a aplicação dos reajustes contratualmente previstos para a modalidade é questão intimamente ligada à própria mantença do acordo, cabendo lembrar que a denúncia, a princípio, se deu justamente em razão de alegado desequilíbrio contratual, questão esta controvertida. Ora, congelar o preço das mensalidades não apenas geraria situação insustentável para a seguradora ré, mas também é medida incompatível com a legislação de regência da matéria e com o próprio contrato, que prevê a incidência de reajustes anuais. Destarte, é do pleno conhecimento dos segurados que os valores da mensalidade sofrem reajustamento anual, devendo a medida ser autorizada sobre o mesmo fundamento que permitiu a aplicação de 22% de acréscimo em julho de 2017, inclusive com cobrança retroativa: o equilíbrio contratual. Agravo de Instrumento nº Voto nº

7 fls. 155 Assim, ainda que a ação não tenha sido ajuizada com o objetivo principal de discutir índices de reajuste anuais, tal questão não pode ser divorciada da pretensão principal, que é a manutenção da avença, certo que o contrato só pode ser mantido na medida em que preservado o sinalagma. Em relação ao percentual, acolhe-se o parecer na Nobre Representante da Pr5ocuradoria de Justiça, que assim opinou: A justeza sobre a necessidade de reajuste não passou despercebido na decisão de fls. 457 dos autos principais como denunciado a fls. 120/122. Assim, data vênia no percentual mínimo é de acolher-se o pretendido, deixando que os valores de mensalidade e o devido percentual sejam apurados pela perícia já determinada em primeiro grau. (...) Somos pelo acolhimento parcial do agravo determinando que se aprecie em primeiro grau o percentual mínimo de aplicação, porquanto a sinistralidade apurada em mais de 82% é unilateral e exigirá na instrução probatória demonstração acurada. Assim, como antes foi determinado é preciso que haja minimamente o cumprimento do contrato e não apenas parte do contrato como pretende a agravada. Uma vez que no presente recurso a agravada aceita o reajustamento mínimo de 22%, reputando-o apto a evitar grandes prejuízos, fica sua incidência autorizada, sujeito o percentual devido a verificação atuarial, a ser realizada em perícia (ainda não realizada, conforme consulta realizada nos autos principais), que deverá englobar também o reajuste devido em Ficam as partes intimadas desde logo que, havendo interposição de embargos de declaração contra o presente acórdão, que se manifestem no próprio recurso sobre eventual oposição ao julgamento virtual, nos termos do artigo 1º da Resolução nº 549/2011, com a redação alterada pela Resolução nº 772/2017 do Órgão Especial deste E. Tribunal de Agravo de Instrumento nº Voto nº

8 fls. 156 Justiça. No silêncio, os autos serão automaticamente incluídos no julgamento virtual. ao recurso. Do exposto, pelo meu voto, dou parcial provimento ANGELA LOPES Relatora Agravo de Instrumento nº Voto nº