Produção de alface em consórcio com cebola em diferentes densidades sob manejo orgânico

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1 Produção de alface em consórcio com cebola em diferentes densidades sob manejo orgânico Dayana Lucia Mota P. Bernadino 1 ; Wagner Ferreira da Mota 2 ; Janielle Cássia Barbosa Vieira 1 ; Joyce Gomes Damascena 1 ; Luan Mateus Silva Donato 1 1- Unimontes Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas Departamento de Ciências Agrárias, , Janaúba MG; dayanalucy@yahoo.com.br, wagner.mota@unimontes.br, jani_cassia@yahoo.com.br, joyce_pcd@hotmail.com, luanjaiba@yahoo.com.br RESUMO O presente trabalho teve com objetivo avaliar o desempenho agronômico da cultura de alface em função estabelecimento do consorcio com cebola em diferentes densidades populacionais. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados completos com quatro repetições, sendo os tratamentos arranjados em esquema fatorial 4 x 4. Os tratamentos resultaram da combinação de quatro populações de plantas de alface com quatro de plantas de cebola (ambas correspondentes a 100%, 80%, 60% e 40% das populações recomendadas nos cultivos solteiros). As características avaliadas foram: peso total, número de folhas por planta, massa de matéria seca da cabeça, da raiz, do caule e produtividade. Neste experimento foram avaliados 18 tratamentos que resultaram da combinação de quatro populações de plantas de alface (40%, 60%, 80% e 100% da população recomendada no cultivo solteiro), com quatro populações de plantas de cebola (40%, 60%, 80% e 100% da população recomendada no cultivo solteiro), sendo dois tratamentos destinados ao monocultivo de alface e cebola. Verifica-se que o consorciamento de cebola com alface apresenta viabilidade agronômica. Pois, as populações de cebola não interferiram no rendimento da alface. Desta forma, as máximas populações de cebola e alface, ou seja, 100% apresentaram máximos rendimentos agronômicos. Palavra chave: Lactuca sativa L., Allium cepa, produtividade. ABSTRACT Lettuce production in association with onion at different densities under organic management. S1896

2 This work was aimed at avaluating the agronomic performance of the crop of lettuce in relation to the establishment of onion intercropping at different densities. The experimental design adopted was the complete randomized blocks with four replications, with treatments arranged in a 4 x 4 factorial scheme. The treatments resulted from the combination of four populations of lettuce plants with four plants of onion (both corresponding to 100%, 80%, 60% and 40% of recommended populating in cropping). The characteristics evaluated were: total weight, number of leaves per plant, dry weight of the head, root, stem and productivity. In this experiment, 18 treatments that resulted from the combination of four populations of lettuce (40%, 60%, 80% and 100% of the recommended crop), with four populations of onion plants (40%, 60%, 80% and 100% of the recommended crop), two treatments for the monoculture of lettuce and onion. It appears that the intercropping of lettuce with onion presents agronomic viability. For the populations of onion did not affect the yield of lettuce. Thus, the maximum populations of onion and lettuce, that is, 100% presented maximum agronomic yield. KEYWORDS: Lactuca sativa L., Allium cepa, productivity INTRODUÇÃO A alface (Lactuca sativa L.) é uma planta herbácea, anual, pertencente à família Asteraceae. Apresenta caule diminuto, ao qual se prendem as folhas, estas são amplas e crescem em roseta, podendo ser lisas ou crespas, formando ou não uma cabeça (FILGUEIRA, 2000). É bem aceita em todo o mundo, sendo considerada a hortaliça folhosa mais importante na alimentação do brasileiro. Com uma área cultivada de aproximadamente hectares, a produção anual no Brasil é de aproximadamente 2 milhões de toneladas (YURI et al., 2002). A alface é excelente fonte de vitamina A, possuindo quantidade apreciável das vitaminas B1 e B2, e ainda, certa porção de vitamina C, além dos elementos cálcio e ferro (MURAYAMA, 1983). A agricultura orgânica é definida como a produção de alimentos de origem vegetal e animal sem a utilização de agrotóxicos e adubos químicos sintéticos ou outros agentes S1897

3 contaminantes. Os produtores dedicados ao cultivo de hortaliças orgânicas, geralmente são pequenos agricultores, e procuram nesta atividade uma fonte de renda, bem como, buscam a diversificação das atividades da propriedade (MELO et al., 2003). O cultivo consorciado de culturas vem sendo utilizado como uma possibilidade de elevar a produtividade e lucro por unidade de área para os pequenos agricultores (BEZERRA NETO et al., 2001). Este sistema de cultivo consiste no cultivo simultâneo de duas ou mais culturas em uma mesma área de terra (WILLEY, 1979), sendo que não necessariamente sejam semeadas ao mesmo tempo (CHAGAS & VIEIRA, 1984). Neste contexto, o presente trabalho tem por objetivo avaliar a produção de alface em consórcio com cebola em diferentes densidades populacionais sob manejo orgânico. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em uma área de um Neossolo Fulvico localizada na Horta de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES, Campus de Janaúba, Minas Gerais, no período de setembro a dezembro de Nas parcelas do experimento a adubação foi realizada com composto orgânico, obtido da compostagem aeróbica de palhas de restos de culturas (de capim, de milho, feijão, etc) e esterco de aviário e bovino conforme orientação técnica de Peixoto (1988). Seguindo metodologia proposta por Penteado (2007) foi realizada a recomendação de adubação para o experimento. Na área onde foi desenvolvido o experimento foi realizado prévio plantio e manejo de crotalária juncea (Crotalaria juncea L.) como adubo verde, no espaçamento de 0,50 m entre linhas e 0,05 m entre plantas. As leguminosas foram roçadas e incorporadas ao solo. Um mês após a incorporação, as áreas de plantio foram preparadas manualmente. Os métodos gerais adotados no manejo orgânico seguiram os princípios da Agroecologia (SOUSA e REZENDE, 2003), e foram aplicados conforme a legislação brasileira (Lei N o , do Ministério da Agricultura, de 23/12/2003). O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados completos com dezoito tratamentos e três repetições. A cultivar de cebola utilizada foi a Texas Early Grano 502 e a de alface foi a Grand Rapids TBR (tipo crespa). Os tratamentos resultaram da combinação de quatro populações de plantas de alface (40%, 60%, 80% e 100% da população recomendada no cultivo solteiro), com quatro populações de plantas de cebola (40%, 60%, S1898

4 80% e 100% da população recomendada no cultivo solteiro), e dois tratamentos destinados ao cultivo solteiro de alface e cebola. Cada parcela no sistema consorciado foi constituída por cinco fileiras de cebola e quatro fileiras de alface. As parcelas apresentaram largura de 1,00 m e 2,00 m de comprimento, com área total de 2,00 m2. Para a avaliação da alface foram consideradas as três e duas fileiras centrais, respectivamente. Desprezando-se ainda a primeira e a última planta em cada linha, assim a área útil foi de 0,96 m 2 para a cebola e de 0,64 m 2 para a alface. Desta forma, cada bloco foi composto por um canteiro com 1,00 m de largura por 18 m de comprimento, desconsiderando os espaços entre parcelas. A irrigação utilizada foi por microaspersão. Os tratos culturais realizados foram a eliminação de plantas daninhas, efetuadas manualmente. Os demais tratos fitossanitários foram realizados de acordo com as recomendações para as culturas da cebola e alface, em manejo orgânico, sendo utilizados extratos naturais e caldas. A colheita da alface foi realizada quando as plantas apresentaram-se completamente desenvolvidas. Para determinação da produtividade da alface foram realizadas as seguintes avaliações, em todas as plantas após a colheita: a) Matéria fresca da parte aérea (após a colheita, lavagem e retirada do excesso de água, o resultado expresso em gramas; b) Diâmetro de plantas (medindo-se a distância entre as margens opostas do disco foliar, por ocasião da colheita, expressa em cm); c) Altura de plantas (a partir do nível do solo até a extremidade das folhas mais altas, expressa em cm); d) Número de folhas por planta (contando o número de folhas maiores que 3 cm de comprimento, partindo- se das folhas basais até a última folha aberta, separando-as em comerciais e não comerciais); e) Matéria seca da parte aérea (onde se determinou o peso seco em estufa com circulação forçada de ar a 70ºC até atingir peso constante, expressa em g); f) Produtividade (avaliada através do peso da matéria fresca da parte aérea de todas as plantas da parcela útil, expressa em t/ha). Os dados foram interpretados por meio de análise de variância e de regressão. Os modelos dos fatores quantitativos foram escolhidos baseados na significância dos coeficientes de regressão utilizando-se o teste de t de Student ao nível de 5% de probabilidade, no coeficiente de determinação e no potencial. RESULTADOS E DISCUSSÃO S1899

5 Não houve efeito significativo entre as populações de cebola em nenhuma das características avaliadas na alface. Desta forma, a alface pode ser cultivada em qualquer população de cebola estudada. Isso ocorreu em função de não haver competição entre plantas por água, luz e nutrientes. Em condições nutricionais adequadas no solo, no manejo consorciado a competição por luz é mais intensa, e a utilização de densidades mais elevadas, podem elevar a fortes efeitos de competição (Bezerra Neto et al., 2005). Porém, a estrutura e crescimento foliar ereto da cebola não permitem sombreamento significativo nas plantas de alface, não comprometendo assim a produção e translocação de fotoassimilados. A produção e produtividade total e comercial aumentaram linearmente com a elevação da densidade da alface (Figura 1). A maior produção e produtividade total e comercial de alface alcançada à medida que se aumentou a densidade populacional de cebola, está diretamente relacionada ao maior número de plantas por área (Bezerra Neto et al, 2005). Porém, a produção e produtividade não comercial elevaram levemente até a população de 60% de alface, a partir desse ponto a elevação foi mais acentuada até a população de 100% de alface. A competição mais acentuada a partir de 60% de população de alface comprometeu a qualidade com maior produção de alface fora do padrão, mesmo com elevação da produção comercial. Lima et al (2004) constatou também que o menor espaçamento, ou seja, maior densidade populacional foi responsável pela elevação do rendimento da alface cultivar Vera. Com relação às folhas comerciais e não comerciais foi verificado que elevaram linearmente com o incremento da população de alface. Conseqüentemente houve elevação linear da matéria seca da cabeça de alface. No entanto, o número e conseqüente produção de folhas comerciais em relação as não comerciais foram muito maiores ao longo das populações estudadas. Verificam-se ainda elevações lineares do peso e massa seca da raiz com o aumento da densidade populacional. Verifica-se que o consorciamento de cebola com alface apresenta viabilidade agronômica. Pois, as populações de cebola não interferiram no rendimento da alface. REFERÊNCIAS S1900

6 CHAGAS JM; VIEIRA C. Consórcio de culturas e razões de sua utilização. Informe agropecuário 10: FILGUEIRA, F.A.R. Novo Manual de Olericultura: Agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. Viçosa: UFV, p. MELLO, J.C.; DIETRICH, R.; MEINERT, E.M.; TEIXEIRA, E.; AMANTE, E.R. Efeito do cultivo orgânico e convencional sobre a vida-de-prateleira de alface americana (Lactuca sativa L.) minimamente processada. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.23, n.3, p , MURAYAMA, S. Horticultura. Campinas, SP: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, OLIVEIRA EQ; BEZERRA NETO FB; NEGREIROS MZ; BARROS JÚNIOR AP; FREITAS KKC; SILVEIRA LM; LIMA JSS Produção e valor agroeconômico no consórcio entre cultivares de coentro e de alface. Horticultura Brasileira 23(2) PENTEADO, S.R. Adubação na Agricultura Ecológica. Via Orgânica, p. SOUSA, J.L.; RESENDE, P. Manual de Horticultura Orgânica. Viçosa: Aprenda Fácil, p. WILLEY, R.W. Intercropping: its importance and research needs. Part 1. Competition and yield advantages. Field Crop Abstracts, Hurley, v.32, n.1, p.1-10, YURI, J. E.; MOTA, J. H.; SOUZA, R. J.; RESENDE, G. M.; FREITAS, S. A. C.; RODRIGUES JÚNIOR, J. C. Alface americana: cultivo comercial. Lavras: UFLA, p. (Texto Acadêmico, 13). S1901

7 Número de folhas de alface Materia seca - g Produção de alface - Kg Produtividade total - t/ha 2,000 1,800 1,600 1,400 1,200 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 TOTAL COMERCIAL NÃO COMERCIAL 0, Populações de Alface Y=-0, , 02238X R2=0,75 Y=-0, , 0214X R2=0,73 Y=0, , 0011X + 0, X2 R2=0, 85 35,00 30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 TOTAL COMERCIAL Y=-5, , 3354X R2=0,75 5,00 NÃO COMERCIAL Y=0, , 0176X + 0, X2 R2=0,85 0, Populações de Alface % Y=-6, , 3496X R2=0, 75 Figura 1. Produção e Produtividade de alface em função das populações de alface. (Production and Productivity of lettuce according to the lettuce.) UNIMONTES, Janaúba, MG, ,00 50,00 CABEÇA RAIZ Y = -12, ,6318X R2 = 0,87 Y = -2, ,1031X R2 = 0, ,00 30, QFNC Y=-10, , 3954X R2=0,89 20,00 50 QFC Y=-41, , 7054X R2=0,94 10, Populações de alface - % 0, População de alface - % Figura 2. Número de bulbos comerciais e não comerciais e Matéria seca e fresca da raiz em função das populações de alface. (Number of commercial and noncommercial bulbs and dry matter and root fresh depending on the lettuce.) UNIMONTES, Janaúba, MG, 2011 S1902

8 AGRADECIMENTOS A UNIMONTES pelo apoio e a FAPEMIG pela concessão, ao segundo autor, de Bolsa de Incentivo a Pesquisa e ao Desenvolvimento Tecnológico do Estado de Minas Gerais, e aos primeiro e quinto autores de bolsa de iniciação científica. S1903