Conteúdo: Retroatividade Mínima; Parte Geral: Pessoa Natural (Personalidade)

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1 Turma e Ano: Flex A (2014) Matéria / Aula: Direito Civil (Parte Geral) / Aula 03 Professor: Rafael da Motta Mendonça Conteúdo: Retroatividade Mínima; Parte Geral: Pessoa Natural (Personalidade) 4. Direito Transitório: A Teoria da Retroatividade Mínima (art. 2035, 1ª parte CC) viola o art. 5º XXXVI da CF? 1) Doutrina - A retroatividade mínima não viola a CF. Isso porque retroatividade mínima não seria retroatividade, mas sim simples aplicação imediata da norma. Enunciado 300 CJF - Art A lei aplicável aos efeitos atuais dos contratos celebrados antes do novo Código Civil será a vigente na época da celebração; todavia, havendo alteração legislativa que evidencie anacronismo da lei revogada, o juiz equilibrará as obrigações das partes contratantes, ponderando os interesses traduzidos pelas regras revogada e revogadora, bem como a natureza e a finalidade do negócio. Enunciado 164 CJF (juros moratórios) - Arts. 406, e 2.045: Tendo início a mora do devedor ainda na vigência do Código Civil de 1916, são devidos juros de mora de 6% ao ano, até 10 de janeiro de 2003; a partir de 11 de janeiro de 2003 (data de entrada em vigor do novo Código Civil), passa a incidir o art. 406 do Código Civil de ) STF mesma posição desde ADI 493/ Relator: Moreira Alves. O STF não admite a retroatividade mínima, pois esta viola a CF. O art. 2035, 2ª parte do CC ainda não foi declarado inconstitucional porque nunca foi provocado nesse sentido, sendo sempre analisado de forma incidental. ADI /DF - questionou a constitucionalidade de alguns artigos da nova lei de plano de saúde (Lei 9656/98) - arts. 10, 2º e 35-E, que trazem a retroatividade mínima. O STF declarou a inconstitucionalidade apenas do termo "atuais" (contratos atuais), afastando a retroatividade mínima por violação ao art. 5º, XXXVI da CF. Lei /12 - art. 3º - a nova divisão de royalties será aplicada aos contratos já celebrados - retroatividade mínima.

2 Executivo - Mensagem de veto 522/12 - veta o art. 3º alegando a violação ao art. 5º, XXXVI da CF. O veto da Dilma foi derrubado, sendo proposta uma ADI. 3) STJ - a retroatividade mínima viola a CF. Porém, nos contratos de trato sucessivo e prestação continuada, cada pagamento realizado gera uma renovação tácita do contrato. Quando essa renovação tácita ocorrer no vigor da lei nova, a ela se subordina. Tal entendimento foi aplicado em relação a nova lei do plano de saúde e ao CDC. Súmula 285 STJ - Nos contratos bancários posteriores ao Código de Defesa do Consumidor incide a multa moratória nele prevista. RESp /RJ - Lei de plano de saúde REsp /PR

3 - PARTE GERAL - Parte Geral: I) Pessoas (sujeito): Pessoa Natural Personalidade Direitos da Personalidade Capacidade Ausência Pessoa Jurídica Domicílio II) Bens (objeto) III) Fatos Jurídicos (vínculo) I) PERSONALIDADE: 1. Conceito de Personalidade: a) Acepção Clássica - viés patrimonial (art. 1º CC/02) Personalidade é a aptidão genérica para a aquisição de direitos e deveres na esfera cível. Nada mais é do que a capacidade de adquirir direitos e deveres (sujeito de direitos). Poderá ser sujeito de direitos tanto a pessoa natural quanto a pessoa jurídica. Em razão do viés estritamente patrimonial, temos a denominação de personalidade subjetiva ou material (Nelson Rosenvald e Maria Helena Diniz). b) Acepção contemporânea Personalidade é o conjunto de atributos da pessoa humana - direitos da personalidade (fundamento na dignidade humana). Luis Roberto Barroso - "qualquer direito que identifica o ser humano como tal". A preocupação é tutelar situações jurídicas existenciais (e não o patrimônio), razão pela qual é denominada de personalidade objetiva ou formal Despatrimonialização do Direito Civil. A despatrimonialização do direito civil consiste na alteração do centro gravitacional da relação jurídica: Patrimônio Pessoa Humana / Individualismo Personalismo

4 Pessoa Jurídica pode titularizar direitos da personalidade - personalidade objetiva ou formal (extrapatrimonial)? Enunciado 286 CJF - pessoa jurídica não titulariza direitos da personalidade, pois estes decorrem da dignidade humana. Enunciado 286 CJF: Art. 52. Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos. Art. 52 CC - "Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade" Tudo relacionado à pessoa jurídica possui aspecto patrimonial, enquanto os direitos da personalidade tem natureza extrapatrimonial. Porém, nada impede que a proteção dos direitos da personalidade sejam aplicados à pessoa jurídica, no que for compatível. Ex: Direito à intimidade, mas tem direito ao sigilo - intimidade com viés econômico. Súmula 227 STJ - "A pessoa jurídica pode sofrer dano moral". A pessoa jurídica sofrerá dano moral diante de violação de sua honra objetiva, que está ligada a questões patrimoniais. Obs: Gustavo Tepedino - defende que a redação da Súmula deveria ser modificada para "dano institucional". Pessoa Jurídica não titulariza direitos da personalidade, pois estes decorrem da dignidade da pessoa humana (Enunciado 286 CJF). No entanto, o art. 52 do CC admite aplicarmos, no que couber, às pessoas jurídicas a proteção dos direitos da personalidade, o que ocorre, por exemplo, na súmula 227 do STJ, segundo a qual pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

5 Provas Objetivas As bancas não admitem o Enunciado 286 CJF. Devese adotar a análise restrita do art. 52 CC - pessoas jurídicas podem titularizar direitos da personalidade. 2. Início da Personalidade: 1) Teoria Natalista (art. 2º CC) a personalidade (patrimonial e extrapatrimonial) da pessoa natural tem início com o nascimento com vida (1ª respiração do bebê). Defendida por autores clássicos: Caio Mário, Silvio Rodrigues, Orlando Gomes, Washington de Barros. Crítica: Lei protege os direitos do nascituro desde o momento da concepção (art. 2º, 2ª parte CC). Nascituro é o embrião no ventre materno. Os direitos da nascituro estão protegidos desde o momento da concepção, possuindo, portanto, personalidade desde o momento da concepção (só possui direitos quem tem personalidade). Resposta dos Natalistas Nascituro não tem direitos, mas sim expectativa de direitos. Doação em favor do nascituro (art. 542 CC) é permitida. Trata-se de um negócio jurídico condicional ao evento futuro e incerto nascimento com vida. Assim, os efeitos desta doação ficarão suspensos até o implemento da condição nascimento com vida. 2) Teoria Concepcionista Defendida pela doutrina contemporânea (Gustavo Tepedino, Flávio Tartuce, Nelson Rosenald, Pablo Stolze) e adotada pelo STJ e STF. O nascituro já titulariza personalidade extrapatrimonial, ou seja, já titulariza desde a concepção os direitos da personalidade. Entretanto, a personalidade patrimonial dependerá do nascimento com vida (Doação em favor do nascituro - negócio jurídico condicional) Obs1: Teoria Concepcionista no Código Civil: Art. 1609, parágrafo único do CC reconhecimento do filho precedente ao nascimento (direito a ter um pai/mãe - direitos da personalidade). Art CC direito sucessório do nascituro Art. 7º ECA nascituro tem direito ao nascimento digno e sadio.

6 Obs2: Lei /08 - Lei dos Alimentos Gravídicos admite a concessão de alimentos durante a gravidez. Legitimidade para requerer alimentos gravídicos: Natalistas = mãe Concepcionistas = nascituro o art. 6º da Lei - após o nascimento com vida, os alimentos gravídicos são convertidos em pensão alimentícia em favor do menor. A possibilidade de conversão significa que o menor sempre participou da relação jurídica e, portanto, o nascituro já goza de direitos da personalidade desde o momento da concepção - direito ao nascimento sadio. Obs3: STJ Admite que o nascituro seja titular de ação reparatória por danos morais em face do falecimento de seu pai. O dano moral decorre da violação dos direitos da personalidade. O nascituro poderá exigir a reparação pelos danos morais em face daquele que deu causa à morte do seu pai.