Curso/Disciplina: Direito Constitucional Aula: Direito Constitucional - 40 Professor(a): Marcelo Tavares Monitor(a): Beatriz Moreira Leite Aina

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1 Página1 Curso/Disciplina: Direito Constitucional Aula: Direito Constitucional - 40 Professor(a): Marcelo Tavares Monitor(a): Beatriz Moreira Leite Aina Aula 40 DIREITOS POLÍTICOS: Democracia: É um regime político baseado na vontade da maioria. Na autocracia prevalece a vontade de uma só pessoa; na aristocracia prevalece a vontade de determinada elite; e na democracia, prevalece a vontade do povo, com a manifestação na forma do voto da maioria. Existem alguns princípios ligados ao valor da democracia, que é um valor reconhecido pela CRFB já no art. 1º: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] Princípios: Liberdade; Igualdade; Publicidade; Prevalência da vontade da maioria. Princípio da liberdade: Liberdade de manifestação do voto, do debate de ideias, etc. É muito importante que haja diversidade de opiniões em um ambiente democrático. Deve haver imprensa livre, baseada no fato de que não há censura, bem como no fato de não haver monopólio dos meios de imprensa. Princípio da igualdade:

2 Página2 Em uma democracia deve haver igualdade ou, ao menos, não deve haver uma desigualdade tão profunda. Quando há desigualdade profunda, como há desigualdade econômica da população brasileira, isso dificulta a manifestação democrática. A extrema desigualdade cria dificuldades à manifestação em um ambiente plural de ideias. mesmos. Princípio da publicidade: Deve haver publicidade de ideias e dos atos do poder público, caso contrário, impede-se o controle dos Princípio da prevalência da vontade da maioria: Para que haja maioria, deve haver minoria. A democracia não é o regime de manifestação da unanimidade, mas sim o regime no qual prevalece a vontade da maioria. Hans Kelsen, no livro intitulado A Democracia, ao falar sobre esse princípio aponta que deve haver minoria para haver maioria. Ele destaca que a minoria tem três direitos: - Direito a existir; - Direito de manifestação; e - Direito de modificação da concepção original do projeto da maioria e de pretender ser maioria. Caso a minoria não exista, ou exista apenas na forma, não haverá democracia, apenas um simulacro de democracia. O uso da palavra é muito importante no ambiente democrático pela minoria para que ela possa trazer melhorias no projeto da maioria. Por isso, em todas as Casas Legislativas há previsão de debates com participação da minoria. Um dos termômetros que podem ser utilizados para medir um ambiente democrático é se a médio prazo aquele que está em minoria se torna maioria. A academia reconhece conceitualmente três tipos de democracia: 1) Direta; 2) Indireta; e 3) Semidireta. 1) Direta: O povo participa diretamente da tomada de decisões políticas. Ex.: democracia ateniense, em uma visão romantizada. 2) Indireta:

3 Página3 Feita através da representação política. Há pessoas eleitas para exercer essa representação. Essa representação não necessariamente é pelo processo eleitoral ordinário. A Constituição de 1934 previa que parte da Câmara dos Deputados seria escolhida pelo processo sindical. Atualmente, todos são eleitos pelo processo eleitoral. 3) Semidireta: É basicamente uma democracia representativa (indireta) com mecanismos da democracia direta. No Brasil, tais mecanismos são: plebiscito, referendo, iniciativa popular e a ação popular. Art. 5º, LXXIII e art. 14, CRFB: Art. 5º. [...] LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular. A afirmação de que a democracia semidireta é um meio termo entre a direta e a indireta não é correta, pois, na verdade, ela é basicamente a democracia representativa que permite alguns mecanismos previstos de participação direta, mas que, na prática, raramente são utilizados. A democracia semidireta também pode ser chamada de participativa, como a chama José Afonso da Silva. -> Plebiscito: é uma forma de participação popular na adoção de escolhas políticas importantes antes da manifestação dos representantes do povo. Primeiro se escuta o povo e depois há o trabalho dos representantes. O plebiscito é guardado para grandes decisões políticas. Ex.: plebiscito realizado no Brasil no dia 21/04/1993 decidiu sobre o tipo de governo (República ou Monarquia) e o sistema de governo (presidencialismo ou parlamentarismo). -> Referendo: o tema pode ser variável e a manifestação popular é feita após o trabalho dos representantes. Então, primeiro os representantes fazem a lei e depois o povo ratifica ou não essa lei. -> Iniciativa popular: o projeto de lei pode ser encaminhado à Câmara dos Deputados a partir da manifestação popular. A CRFB coloca os requisitos para que isso seja feito. -> Ação popular: um cidadão pode propor uma ação para preservar o patrimônio público, a moralidade pública, etc.

4 Página4 Há outras formas de manifestação direta na democracia semidireta em outros países. Ex.: veto popular. Através dele, o Congresso aprova uma lei, que é sancionada, promulgada e publicada pelo Presidente da República, o povo leva essa lei a veto e ela é vetada. O referendo é provocado pelos órgãos públicos enquanto o veto popular é provocado pelo próprio povo. Um outro instituto que também não é utilizado no Brasil é o recall: retirada do mandato de uma pessoa eleita. O mandatário não está honrando o mandato popular, desagradando os representados, então, há uma provocação popular por uma deseleição. É uma eleição invertida, na qual o povo vota e, por maioria, retira aquele mandatário. O conceito de democracia indireta é a chamada fórmula de Lincoln (conceituada por Abraham Lincoln na época da Guerra Civil): governo do povo, pelo povo, para o povo. Do povo: representados são o povo. Pelo povo: representantes são escolhidos no povo. Para o povo: objetivo do bem comum. Esse conceito é aproveitado para a democracia semidireta. Art. 14, CR: Direitos políticos. Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: [...] Sufrágio universal; Voto direto, secreto e de valor igual; Escrutínio. O sufrágio se refere ao direito político em si, o que se denomina ius activiae civitatis. É o direito de participação política como um conceito. O sufrágio pode ser restrito ou universal. O sufrágio restrito é aquele em que há uma seleção de pessoas para participação; tal seleção pode ser em razão da propriedade, gerando o chamado voto censitário. Ou pode ser uma restrição por uma outra qualidade qualquer, como o gênero, por exemplo. No Brasil, o sufrágio é universal. O voto é o exercício do sufrágio. No Brasil, é direto, secreto e igual. O escrutínio é o modo como se exerce o voto. É a manifestação concreta do voto naquela eleição. São termos que muitas vezes são usados como sinônimos. O sufrágio pode ser dividido em duas grandes vertentes: Direito político ativo; e

5 Página5 Direito político passivo. O direito político ativo é a alistabilidade. Direito de participar, de votar, de ir ao plebiscito, ao referendo e de votar no representante. O direito político passivo é a elegibilidade, o direito de ser votado. É mais restrito do que a alistabilidade. Alistabilidade: Direito político ativo de participar através do voto. No Brasil, a alistabilidade pode ser obrigatória, facultativa e proibida/vedada. A alistabilidade é obrigatória para as pessoas alfabetizadas com idade superior a 18 anos e inferior a 70 anos. Essa pessoa é obrigada a comparecer ao voto, não necessariamente é obrigada a votar em alguém. A alistabilidade é facultativa para os analfabetos, os maiores de 16 anos e menores de 18 anos, e para os maiores de 70 anos. A alistabilidade é proibida para os estrangeiros e os conscritos. Estrangeiros são aqueles que não são nacionais, com exceção dos portugueses que têm a quase-nacionalidade qualificada (têm título de residência no Brasil e requerem à Justiça Eleitoral o exercício de direitos políticos no Brasil. Decreto 3.927/01 internalizou tratado bilateral entre Brasil e Portugal). Os conscritos são os militares em serviço militar obrigatório durante o serviço militar; os militares que são militares facultativamente têm alistabilidade obrigatória. Art. 14, 1º e 2º, CR: 1º O alistamento eleitoral e o voto são: I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; II - facultativos para: a) os analfabetos; b) os maiores de setenta anos; c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. 2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos. No que se refere ao direito político passivo, primeiro veremos a elegibilidade e posteriormente as condições de inelegibilidade. Elegibilidade: Nacionalidade brasileira (com a exceção dos portugueses); Exercício dos direitos políticos;

6 Página6 Alistamento eleitoral; Domicílio eleitoral; Filiação partidária; Idade mínima: 18 anos para vereador; 21 anos para deputados e prefeitos (e juiz de paz); 30 anos para governador; 35 anos para presidente, vice-presidente e senador. O domicílio eleitoral é um conceito mais fluido do que o definido no Código Civil. Inelegibilidade: A inelegibilidade pode ser absoluta ou relativa. Ela será absoluta quando não permitir a eleição para nenhum cargo. Será relativa quando não permitir a eleição para determinados cargos. A inelegibilidade absoluta é a dos inalistáveis, que são os estrangeiros e os conscritos, e a dos analfabetos. Art. 14, 4º, CR: 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. A partir daí, vários do art. 14 trazem as hipóteses de inelegibilidade relativa, que não são exauridas pela Constituição. Art. 14, 5º, CR: 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 16, de 1997) Para Presidente, Governador e Prefeito, há uma inelegibilidade relativa para mais de uma reeleição. Um caso que foi objeto de debate na jurisprudência do TSE e do STF foi o do Geraldo Alckmin e também o do Pezão, posteriormente. Geraldo Alckmin se candidatou a vice-governador na chapa do governador Mário Covas em SP. Essa chapa se candidatou à reeleição e foi reeleita. Mário Covas, governador, faleceu. Alckmin, vice-governador, assumiu o mandato. Ao final desse segundo mandato, se candidatou à governador. Tal candidatura foi impugnada, sob o argumento de que ele estaria impedido para nova reeleição por já ter sido reeleito. O TSE entendeu, e o STF posteriormente concordou, que ele só tinha exercido um mandato de governador, de modo que aquela era sua primeira reeleição no cargo, válida, portanto. O mesmo aconteceu com o governador Fernando Pezão no RJ, que era vice-governador de Sérgio Cabral. Nos EUA, o presidente da República não pode exercer a presidência por mais de dois mandatos, ainda que não sucessivos. Art. 14, 6º: 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.

7 Página7 O Presidente, o Governador e Prefeito são inelegíveis para outros cargos. Quem estiver ocupando a Presidência, p.ex., nos últimos 06 meses, fica inelegível para outros cargos. Deve ser feita a desincompatibilização. Art. 14, 7º: 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. O cônjuge e o parente até 2º grau na circunscrição do Presidente, do Governador e do Prefeito na mesma circunscrição. Exceção: se já for titular de mandato eletivo. Se a circunscrição for maior, ele pode se candidatar. Ex.: o filho do prefeito do Rio de Janeiro pode se candidatar a deputado federal. Entretanto, o filho do governador do Estado do Rio de Janeiro não pode se candidatar a prefeito da cidade do Rio de Janeiro. A jurisprudência inclui o companheiro nessa inelegibilidade, bem como a pessoa que mantém relação homoafetiva. Art. 14, 8º, CR: 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições: I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. O militar com menos de dez anos de serviço, ao se candidatar, vai para a reserva. O militar com mais de dez anos de serviço, ao se candidatar, fica agregado. Se eleito, vai para a reserva. Art. 14, 9º, CR: 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 4, de 1994) Essa lei complementar é a LC 64/90. Nessa lei, temos a previsão da chamada ficha limpa. A LC traz outras possibilidades de inelegibilidade.

8 Página8 Art. 15, CR: Hipóteses de suspensão ou perda de direitos políticos. Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: [...] O Brasil veda a cassação de direitos políticos, ou seja, veda a perda de direitos políticos por motivos políticos. A CRFB permite a suspensão e a perda dos direitos políticos. A cassação tem motivação política. Art. 15: I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; II - incapacidade civil absoluta; III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, 4º. I e II: perda. III: suspensão. IV: A Constituição impõe determinada obrigação, p.ex.: serviço militar obrigatório. A pessoa se escusa por motivo religioso. A lei do serviço militar impõe prestação de serviço alternativo. Se a pessoa se nega a prestar também o serviço alternativo, tem seus direitos políticos suspensos.