Aula 02. As inelegibilidades tratadas na Constituição serão dividas em relativas e absolutas:

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1 Turma e Ano: 2016 (Master B) Matéria / Aula: Direito Eleitoral - 02 Professor: André Marinho Monitor: Paula Ferreira Aula Condições de Inelegibilidade Conforme frisado na aula passada, não confundir a inelegibilidade com a perda ou suspensão dos direitos políticos. Aquela é menos grave do que esta, uma vez que na segunda é retirado do indivíduo a capacidade de votar e ser votado, enquanto que na primeira, é possível continuar votando, porém, não pode ser votado. A inelegibilidade retira do indivíduo a possibilidade de concorrer a cargos públicos. Uma vez inelegível, não é possível concorrer a cargos estabelecidos na Constituição, como o de Presidente da República, Governador, Deputado federal e estadual, Prefeito, Juiz de paz, etc. Há hipóteses de inelegibilidade previstas na própria Constituição e na lei complementar 64/1990 (que sofreu importantes alterações pela lei complementar 135, conhecida como Lei da Ficha Limpa), conforme art. 14, 9º, CRFB/88. Art. 14, 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. A inelegibilidade busca proteger a normalidade e legitimidade das eleições. Numa simples analise das legislações que regem o direito eleitoral, fica perceptível a preocupação do legislador com o abuso do poder econômico e o abuso do poder político. As inelegibilidades tratadas na Constituição serão dividas em relativas e absolutas: 3.1. Inelegibilidade absoluta

2 Art. 14, 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. O analfabeto detém direitos políticos, entretanto, não possui elegibilidade (não pode ser eleito). No Brasil, exige-se, para a elegibilidade, ser alfabetizado. É possível a realização de teste se houver dúvida sobre a condição de alfabetizado do candidato. Pode até ser analfabeto funcional, porém, é necessário saber os sentidos das palavras. O TSE possui entendimento de que a obtenção de Carteira Nacional de Habilitação constitui presunção suficiente de alfabetização. São inalistáveis os estrangeiros, os menores de 16 anos e os conscritos (aqueles em serviço militar obrigatório) Inelegibilidade relativa Art. 14, 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente Trata-se da chamada inelegibilidade funcional. A reeleição foi introduzida por meio da emenda constituição 16 de 1997, rompendo uma tradição no Brasil de proibição da reeleição de cargos de chefia do executivo. Entretanto, esta reeleição é apenas para um único mandado subsequente. O sujeito que disputa a eleição para um cargo da chefia do executivo buscando sua reeleição não precisa se desincompatibilizar. Imagine que João é prefeito e Alfredo é seu vice, sendo ambos reeleitos. Na próxima eleição, é possível que Alfredo se candidate a prefeito e João, vice? Entendimento dominante do Superior Tribunal Eleitoral é que não é possível esse tipo de candidatura (em que há uma inversão), pois irá ocorrer a perpetuação, o que não é admitido. O que poderia acontecer é Alfredo ser candidato a prefeito, com outro vice que não seja João, desde que, no final do segundo mandato, ele não tenha assumido a chefia do executivo municipal, nos seis meses anteriores ao pleito.

3 Outro ponto importante é o caso de falecimento ou renúncia: Mário Covas foi eleito governador de SP e Geraldo Alckmin seu vice, sendo, ambos, reeleitos. Durante o segundo mandato, o governador faleceu, assumindo o Geraldo Alckmin (chamado mandato tampão, pois ocorre apenas até o término do mandato já em curso). G.A. poderia concorrer, nas próximas eleições, a governador, porém, uma única vez. Assim, a regra é sempre 1 + 1, ainda que se tenha substituído e exercido parcialmente o primeiro mandato. Outra questão importante é referente a casos de Municípios desmembrados. A Resolução do TSE n de 2003 proibi que o sujeito possa concorrer a eleição em município desmembrado. Imagine que João exerce o mandato de prefeito no município X. No curso de seu mandato, o município é desmembrado, surgindo o município Y. É possível que João concorra a prefeitura do município Y? Não, pois municípios desmembrados geram essa inelegibilidade. No julgamento do RExt , estabeleceu-se a questão do Prefeito itinerante ou profissional. Era muito comum no interior, em municípios limítrofes, que o prefeito de um fosse reeleito neste município e, quando faltava um ano para acabar seu mandato ele estabelecia domicilio eleitoral no município vizinho e, faltando 6 meses, renunciava, disputando a eleição no município vizinho, sendo eleito e reeleito. Faltando seis meses para o fim deste segundo mandato, ele renunciava e ia disputar a eleição no primeiro município e assim vai. STF proibiu esse tipo de prática, como forma de evitar oligarquias. Art. 14, 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito. Os chefes do executivo podem concorrer a outros cargos, porém, para tanto, devem renunciar no mínimo seis meses antes do pleito. A preocupação do legislador foi evitar que o indivíduo, de alguma forma, se utilize da máquina pública, abusando do poder político. Atenção! Esta desincompatibilização diz respeito aqueles que estão na chefia do executivo e desejam concorrer a outros cargos. Se o sujeito é parlamentar, vereador, ou vice de chefe do executivo não é necessária essa desincompatibilização.

4 Aconteceu há alguns anos, o FHC, então Presidente da República teve que ir a uma viagem ao exterior faltando 4 meses para o término do mandato, e seu vice, Marco Maciel era candidato ao Senado e, portanto, se assumisse a presidência, ficara inelegível, desta forma, ele foi viajar junto. Neste caso, quem assumi é o presidente da câmara, porém, se este assumisse, ficaria também inelegível, assim, ele também viajou. O próximo na linha sucessória é o presidente do senado, porém, ele também era candidato a reeleição do senado e, portanto, igualmente viajou. Não restou alternativa a não ser a convocação do então presidente do STF para exercer a Presidência da Republica. Art. 14, 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. executivo. Trata-se da inelegibilidade reflexa, que atinge os parentes do chefe do poder Os parentes do Presidente da República não podem concorrer a nenhum cargo público. Já os parentes do governador não podem concorrer naquele estado em que ele exerce a governadoria à nenhuma cargo, porém, podem concorrer a presidência ou vice presidência da República ou para cargos de outro estado. No mesmo sentido, os parentes do prefeito não podem concorrer a nenhum cargo no município que ele exerce o cargo de prefeito. No passado, o sujeito se separava da esposa para que esta pudesse concorrer a eleição, não incidindo a hipótese do art. 14, 7º. Em razão disto, foi editada a súmula vinculante n. 18. Súmula Vinculante 18. A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no 7º do artigo 14 da Constituição Federal.

5 Só não haverá, portanto, a inelegibilidade, se o rompimento ocorrer antes do início do mandato. Ademais, a inelegibilidade persiste nos casos de união estável ou de união homo afetiva. No julgamento do RE , o STF relativizou a aplicação desta súmula, na seguinte situação: Homem era prefeito do Município e, no curso de seu mandato, ele faleceu. Nas eleições seguintes, a viúva foi candidata a prefeita. A oposição alegou que ela não poderia ser candidata, pois, no curso do mandato houve a dissolução do vínculo conjugal, sendo aplicado, portanto, a súmula vinculante n. 18. O STF, no caso, afastou a aplicação da súmula, ao considerar que o rompimento é aquele que possui manifestação de vontade e não um rompimento natural. Ementa: constitucional e eleitoral. Morte de prefeito no curso do mandato, mais de um ano antes do término. Inelegibilidade do cônjuge supérstite. Cf, art. 14, 7º. Inocorrência. 1. O que orientou a edição da Súmula Vinculante 18 e os recentes precedentes do STF foi a preocupação de inibir que a dissolução fraudulenta ou simulada de sociedade conjugal seja utilizada como mecanismo de burla à norma da inelegibilidade reflexa prevista no 7º do art. 14 da Constituição. Portanto, não atrai a aplicação do entendimento constante da referida súmula a extinção do vínculo conjugal pela morte de um dos cônjuges. O TSE possui um entendimento de que, no curso da campanha, na qual o homem é prefeito de um município e candidato da reeleição e, faltando dois meses para o pleito, ele falece, não é possível fazer a substituição pela viúva, uma vez que o falecido não se desincompatibilizou 6 meses antes, incidindo, portanto, a inelegibilidade reflexa. O objetivo desta norma é evitar uma formação de oligarquia familiar. O Garotinho era governador do Estado do Rio de Janeiro e renunciou seis meses antes do término do mandato, uma vez que queria concorrer ao cargo de Presidência da República. Na eleição seguinte, sua mulher, Rosa Garotinho, se candidatou e se elegeu governadora do ERJ. Neste caso, não incide a inelegibilidade, uma vez que Garotinho renunciou 6 meses antes. Entretanto, Rosinha Garotinho não pode ser candidata a reeleição, uma vez que se

6 busca evitar a perpetuação de uma família no poder. A reeleição é admitida por um único mandato, não podendo ter a perpetuação de um único grupo. Atenção a parte final do 7º, que traz uma exceção a regra: salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. Imagina que o pai era vereador no Município X, tentando sua reeleição e, seu filho é candidato a prefeito. No caso, ambos foram eleitos. Na próxima eleição, o filho tenta sua reeleição, pode o pai também tentar? Sim. 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições: I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. Trata-se da inelegibilidade dos militares. Estes são elegíveis, desde que atendidos alguns requisitos (cuidado com os conscritos, pois estes não são elegíveis, somente os demais militares possuem direitos políticos, inclusive podem concorrer a cargos públicos). O detalhe é que se o militar tiver menos de 10 anos de atividade, ele deve se afastar do exercício de suas atribuições para concorrer ao pleito eleitoral. Tendo mais de 10 anos, ele será afastado, sendo agregado pela autoridade superior e, caso eleito, irá para inatividade.