Aula 03. Como dito na aula passada, as hipóteses de inelegibilidade estão dispostas tanto na Constituição Federal como na Lei Complementar 64/90.
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1 Turma e Ano: 2016 (Master B) Matéria / Aula: Direito Eleitoral - 03 Professor: André Marinho Monitor: Paula Ferreira Aula Inelegibilidade na LC 64/90 Como dito na aula passada, as hipóteses de inelegibilidade estão dispostas tanto na Constituição Federal como na Lei Complementar 64/90. Inicialmente, insta destacar o fato de que a LC 64/90 trata tanto da inelegibilidade, isto é, o reconhecimento de um impedimento de determinado cidadão, ou seja, sua impossibilidade de concorrer a cargos eletivos e de desincompatibilização. Quando se fala em inelegibilidade na LC, significa falta praticada por determinado indivíduo que o impede de exercer seu direito de ser votado, ou seja, perde-se a capacidade eleitoral passiva. A desincompatibilidade é a inobservância daquele que deseja concorrer a um cargo público considerando sua situação específica (por exemplo, por ser servidor público). Art. 259, Código Eleitoral. São preclusivos os prazos para interposição de recurso, salvo quando neste se discutir matéria constitucional. Parágrafo único. O recurso em que se discutir matéria constitucional não poderá ser interposto fora do prazo. Perdido o prazo numa fase própria, só em outra que se apresentar poderá ser interposto. Este artigo trata da preclusão das matérias que podem ser arguidas no momento do registro da candidatura ou também em relação ao recurso contra diplomação quando há causa de inelegibilidade. Não resta dúvida que as inelegibilidades de caráter constitucional não precluem, podendo ser arguida a qualquer tempo. No entanto, as inelegibilidades que derivam da LC 64/90 podem ser arguidas apenas no momento do registro. Inelegibilidades infraconstitucionais/legais precluem se não foram arguidas no momento do registro da candidatura. Após o registro, só se admite a alegação de inelegibilidade superveniente, assim considerada a
2 inelegibilidade legal surgida no período entre o registro e a data da eleição (Recurso Especial Eleitoral /SP TSE) A condenação por ato doloso de improbidade administrativa que viola princípio da administração ou cause enriquecimento ilícito é uma causa de inelegibilidade legal. A simples condenação por órgão colegiado em improbidade administrativa nestas hipóteses acarreta causa de inelegibilidade. Se essa condenação surge, no âmbito do Tribunal, entre o período do registro da candidatura e a data da eleição, há inelegibilidade superveniente que pode ser utilizada para tirar este candidato da disputa. Caso, depois da eleição, ocorra um caso de condenação por improbidade administrativa por órgão colegiado do Poder Judiciário, não irá gerar inelegibilidade. Até porque se está falando em condições de elegibilidade e não em condições para o exercício do mandato. Do mesmo modo, a filiação partidária é condição de elegibilidade e não para o exercício do mandato. As inelegibilidades devem observar, por força do art. 14, 9º, CRFB/88, três princípios básicos: a) Princípio da proteção da probidade administrativa. b) Princípio da moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do candidato; e, c) Princípio da preservação da normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou abuso do exercício de função, cargo ou emprego na Administração direta ou indireta. A inelegibilidade não pode ter caráter perpétuo, assim como qualquer outra penalidade, devendo possuir um caráter temporário. Em regra, o prazo é de 8 (oito) anos, previsto na LC 64/90. b) os membros do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas, da Câmara Legislativa e das Câmaras Municipais, que hajam perdido os
3 respectivos mandatos por infringência do disposto nos incisos I e II do art. 55 da Constituição Federal, dos dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos Municípios e do Distrito Federal, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos oito anos subsequentes ao término da legislatura; Situação específica para aquele que foi eleito deputado federal, deputado estadual, vereador, deputado distrital, senador (há uma discussão em relação ao senador). Caso alguma dessas pessoas tenha seu mandato cassado (art. 55, CRFB/88), automaticamente gera a inelegibilidade (obs. nestes casos, a CRFB/88 apenas estabelece a cassação do mandato e é a LC 64/90 quem estabelece as situações de inelegibilidade), não podendo concorrer a nenhum cargo. Ex. Deputado eleito em 2010 e cassado em Um mandato de deputado é de 4 anos (uma legislatura), portanto, ele ficará inelegível pelo restante desta legislatura (até 2014) e mais oito anos após o termino da legislatura (até 2022). O mandato do deputado coincide com o da legislatura, enquanto que o senador possui um mandato de 8 (oito) anos, exercendo duas legislatura. Portanto, como fica a situação do senador? Imagine que o senador tenha sido cassado no segundo ano do mandato, possuindo mais 6 anos, como ficaria o cálculo dos oito anos seguintes? Não há jurisprudência sobre o tema, não havendo situações práticas que se possa utilizar para saber de que forma é feito. Portanto, há certa limitação por ausência de norma. A doutrina diz que, caso o senador tenha sido eleito em 2010 (com mandato até 2018) e tenha sido cassado em 2012, terá sua inelegibilidade a contar do término do mandato dele (ou seja, até 2018). Porém, não se conta os oitos anos de 2018, e sim do término da legislatura (que foi em 2014). Significa, portanto, que sua inelegibilidade iria apenas até 2022, igual o de um deputado. O fundamento da doutrina é pelo principio da isonomia, além do fato da inelegibilidade não ter um caráter perpétuo. Afirmar que os 8 anos começariam sua contagem de 2018 seria contrariar a própria letra da lei que fala em término da legislatura, além de ter um prazo demasiadamente longo.
4 c) o Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringência a dispositivo da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente e nos 8 (oito) anos subsequentes ao término do mandato para o qual tenham sido eleitos; A LC 64/90 não se refere, nesta hipótese, ao Presidente da República, uma vez que não há necessidade. O art. 52, parágrafo único da CRFB/88 é muito claro ao estabelecer que o Presidente da República condenado por crime de responsabilidade, automaticamente fica inabilitado para o exercício da função pública pelo prazo de 8 anos. A pena ao Presidente é inclusive mais grave, pois a inabilitação é para o exercício de qualquer função pública, não se tratando de uma mera suspensão de direitos políticos ou inelegibilidade, ou seja, não pode nem ao menos fazer concurso público. Já a LC 64/90 fala em inelegibilidade, pois, a estes sujeitos é aplicado crime de responsabilidade. k) o Presidente da República, o Governador de Estado e do Distrito Federal, o Prefeito, os membros do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas, da Câmara Legislativa, das Câmaras Municipais, que renunciarem a seus mandatos desde o oferecimento de representação ou petição capaz de autorizar a abertura de processo por infringência a dispositivo da Constituição Federal, da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos 8 (oito) anos subsequentes ao término da legislatura;
5 Trata-se de hipótese clara de inelegibilidade para aquele que no curso de uma representação, renuncie a seu mandato (a renúncia é ato unilateral, irretratável e irrevogável, sendo um direito potestativo). Art. 1º, 5º A renúncia para atender à desincompatibilização com vistas a candidatura a cargo eletivo ou para assunção de mandato não gerará a inelegibilidade prevista na alínea k, a menos que a Justiça Eleitoral reconheça fraude ao disposto nesta Lei Complementar. Imagine que em 2014, o sujeito tenha sido eleito deputado federal. No curso de 2015 surgiram algumas denúncias de que ele estaria envolvido em algum esquema, havendo representação contra ele. Em 2016 ele se candidata a cargo de prefeito de determinado município, sendo eleito. Como ele é deputado e foi eleito prefeito, ele necessitará renunciar ao cargo de deputado. Desta forma, neste caso específico, se ele renunciar o cargo de deputado para o exercício do mandato de prefeito, não irá incidir esta inelegibilidade. Ele não pode ficar com os dois mandatos, e, portanto, estará renunciando apenas para assumir o outro cargo. Porém, caso seja constatada alguma fraude pela justiça eleitoral, com objetivo de fugir de sua responsabilidade, poderá haver a pena de inelegibilidade. A competência para analisar se a renúncia constitui fraude ou não é da justiça eleitoral, pois é matéria de inelegibilidade. Instaurado o processo, o sujeito renúncia, porém, o processo tem seu curso e ele é absolvido. Neste caso, não incide a inelegibilidade. d) os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes; Há a possibilidade de punição por aquele que abusa do poder econômico ou político. Representação julgada procedente : existe um agravo regimental em recurso especial
6 eleitoral n que diz que esta palavra representação refere-se justamente a ação de investigação judicial eleitoral que se encontra disciplinada no art. 22 da LC 64/90. No Recurso Especial 16512/SC, o TSE afirma que Termo inicial a partir da eleição que restou a condenação até o final dos oito anos. Portanto, a inelegibilidade dura justamente o período daquela eleição e mais 8 anos subsequentes. Neste sentido, súmula 19 do TSE: O prazo de inelegibilidade decorrente da condenação por abuso do poder econômico ou político tem início no dia da eleição em que este se verificou e finda no dia de igual número no oitavo ano seguinte (art. 22, XIV, da LC no 64/90). Portanto, não é a partir da decisão que reconheceu o abuso de poder econômico ou político e sim da eleição. Ex. configurado o abuso do poder econômico ou político em 2016, o sujeito estará inelegível a partir de 02 de outubro de 2016 até 02 de outubro de h) os detentores de cargo na administração pública direta, indireta ou fundacional, que beneficiarem a si ou a terceiros, pelo abuso do poder econômico ou político, que forem condenados em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes; Outra hipótese de abuso do poder econômico ou político. A diferença é que no caso da alínea h, o que se quer é obstar a candidatura daqueles que ocupavam o cargo e, beneficiaram a si próprio ou a outrem. Já na hipótese da alínea d, pretende-se impedir a candidatura daqueles que se aproveitaram do abuso do poder econômico ou político. Portanto, a lei pretende punir ambos, tanto aquele que praticou como aquele que se beneficiou. Ex. Tem-se um prefeito e o cunhado do prefeito pratica abuso do poder econômico para beneficiar o prefeito. Ambos estarão incidindo na hipótese de abuso do poder
7 econômico, porém, um pela qualidade de ter se beneficiado e outro pelo fato de ter praticado.
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