DINÂMICAS POPULACIONAIS E HABITACIONAIS NA ÁREA METROPOLITANA DO PORTO R_2013/03 MARIA ASSUNÇÃO GATO 2013
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- Angélica Lagos Chaves
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1 DINÂMICAS POPULACIONAIS E HABITACIONAIS NA ÁREA METROPOLITANA DO PORTO R_2013/03 MARIA ASSUNÇÃO GATO 2013
2 Dinâmicas Populacionais e Habitacionais na Área Metropolitana do Porto Maria Assunção Gato R_2013/03 INTRODUÇÃO 2 1. AMP: UMA ÁREA METROPOLITANA CONTROVERSA.2 2. DINÂMICAS POPULACIONAIS NA AMP Breve panorama sobre níveis de escolaridade na AMP DINÂMICAS FAMILIARES NA AMP DINÂMICAS HABITACIONAIS NA AMP 19 NOTAS CONCLUSIVAS 29 BIBLIOGRAFIA 31 Índice de Quadros e Figuras 32 DINÂMIA CET IUL.
3 INTRODUÇÃO O presente relatório tem por objectivo analisar, com base nos resultados dos Censos 2011, alguns aspectos das dinâmicas demográficas e habitacionais na Área Metropolitana do Porto (AMP). Esta análise visa estabelecer um contraponto a dados equivalentes igualmente observados para a Área Metropolitana de Lisboa, cuja análise foi desenvolvida por Sandra Marques Pereira e Paulo Marques (2011). Como tal e apesar do Modelo Urbano do Porto não ser muito comparável com o de Lisboa, este relatório procura estabelecer o diálogo necessário com a Área Metropolitana de Lisboa (AML) enquanto referência comparativa das duas maiores metrópoles nacionais. Os dados relativos à AML aqui apresentados funcionam apenas como exemplos pontuais e comparativos, com o intuito de auxiliar a leitura e interpretação das recentes dinâmicas populacionais e habitacionais da AMP. Importará ainda referir que para efeitos de análise comparativa e evolutiva, assumiu-se para os dados censitários anteriores a 2011 uma composição metropolitana que não corresponde à realidade da altura - composta por nove municípios - mas sim à actual formação da AMP, ou seja, consideraram-se sempre os dezasseis municípios que integram a AMP desde 2008, na análise de todas as variáveis tratadas. 1. AMP: UMA ÁREA METROPOLITANA CONTROVERSA A noção de área metropolitana consiste num conceito funcional utilizado para designar o território composto por uma grande cidade central e toda a sua área de influência (Salgueiro, 1992), o que implica um elevado grau de integração, bem como um conjunto complexo e permanente de inter-relações envolvendo todo o território. Trata-se assim de uma organização territorial de natureza associativa decorrente de um processo de expansão urbana, impulsionado por um conjunto de factores articulados entre si, tais como: crescimento demográfico; crescimento da superfície construída e do número de construções; crescimento e redistribuição de actividades produtivas, recreativas e culturais; multiplicação e intensificação das mobilidades quotidianas e dos fluxos de transporte, etc. Em termos de modelo espacial a área metropolitana corresponde a uma organização liderada pela grande cidade central - onde se concentram as principais actividades económicas como a indústria e serviços rodeada pelas periferias, maioritariamente destinadas às funções residenciais e muitas outras actividades complementares à economia comandada pela cidade central (Rodrigues, 2010). Num contexto metropolitano poderão existir vários outros núcleos urbanos significativos. Contudo, não só existe um claro predomínio do núcleo central, como se verifica uma grande mobilidade quotidiana de pessoas entre as áreas de residência e as áreas de trabalho, com o núcleo central a exercer um peso significativo de atracção. 2
4 Tanto no passado como actualmente, o sistema urbano português permanece marcado pela bicefalia representada pelas cidades de Lisboa e Porto, ainda que com características e protagonismos diferentes. A cidade de Lisboa, para além de ser a capital, destacou-se sempre pelas suas características de centralidade metropolitana, quer perante a região envolvente, quer perante o conjunto do território português. Já a cidade do Porto, polarizando um hinterland de menor dimensão territorial e funcional, nunca atingiu uma importância tão expressiva quanto a de Lisboa, mantendo-se, reconhecidamente, a capital da região Norte e a segunda cidade na hierarquia urbana nacional. Este facto relaciona-se, naturalmente, com factores de natureza histórica e geográfica, mas também com as dinâmicas económicas, populacionais e urbanas que se geraram nos respectivos contextos territoriais. Em Lisboa, o processo de suburbanização intensificou-se a partir da década de 1960 e surge relacionado com o processo migratório nacional, nomeadamente, a transferência de população do centro para as periferias. Num primeiro momento este processo foi desencadeado, sobretudo, pelo incremento dos transportes colectivos suburbanos, designadamente, pela estrutura das linhas férreas (Cascais, Sintra e linha do Norte). Num segundo momento ficou a dever-se ao desenvolvimento do transporte individual permitido pela rede viária. Na década seguinte, com o retorno dos portugueses das ex-colónias e as migrações internacionais, o processo de suburbanização ainda se intensificaria mais, sobretudo nas freguesias envolventes de Lisboa (Marques, 2004). No Porto, verificou-se uma dinâmica demográfica suburbana que é reportada ao início do século XX e que apresenta a particularidade de não ser um resultado directo da urbanização intensa da cidade; «( ) desde o início do século vigente os concelhos periféricos ao concelho urbano do Porto polarizam quase ininterruptamente o dinamismo demográfico do Grande Porto.» (Vásquez, 1992: 191). Como tal e ao longo de quase todo o século XX, as progressivas quebras no ritmo de crescimento populacional da cidade do Porto nem sempre tiveram correspondência com o incremento populacional dos seus concelhos periféricos, revelando estes também uma certa autonomia evolutiva. Tal significa que esta descentralização precoce não terá ficado a dever-se a saturações demográficas no centro, nem a repulsões do uso residencial por via de especializações funcionais ou de diferenciações espaciais (Vásquez, 1992). Com efeito, em 1950, a metrópole do Porto já estava rodeada por uma estrutura policêntrica enquanto a de Lisboa continuava sendo um grande centro residencial perante uma periferia urbana inexistente (Marques, 2004: 64). O processo de urbanização do Porto caracteriza-se, assim, pela sua maior fragmentação, extensividade e, sobretudo, pelo seu carácter difuso (Marques, 2004). O crescimento da Área Metropolitana do Porto esteve mais condicionado pelo saldo natural da população natalidade/mortalidade e menos pelos fluxos migratórios. Pode-se dizer que a AMP cresceu por si própria, tendo recebido fluxos migratórios de pequena 3
5 relevância do seu hinterland imediato, sobretudo dos concelhos do vale do Douro, cujos movimentos eram facilitados pela acessibilidade assegurada pelo caminho-de-ferro. O modelo de crescimento urbano-industrial da Área Metropolitana do Porto também não provocou um êxodo rural intenso. A indústria, dominantemente ligada a sectores tradicionais (como o têxtil e vestuário, calçado, mobiliário ou transformação de cortiça) sempre privilegiou a mão-de-obra local, aproveitando as elevadas taxas de natalidade que asseguravam um crescimento demográfico constante. O padrão de dispersão territorial mantido por estas indústrias permitiu a manutenção de sistemas de pluriactividade às populações, que foram mantendo as suas actividades agrícolas, beneficiando por isso de localizações mais periféricas e da dispersão de núcleos urbanos em torno da cidade do Porto (Vásquez, 1992). Contudo, a reduzida dimensão destas indústrias - predominantemente micro e pequenas empresas também as tem deixado sem escala para actuar nos mercados globais (Silva, 2005). Também por estes motivos a AMP nunca atingiu um peso relativo comparável ao de Lisboa; em 2001 residia na AML cerca de 26,3% da população do Continente e na AMP, 12,5% (Marques, 2004). De todos estes factores resulta uma área definida como metropolitana mas que congrega dentro de si sub-espaços de características urbanas com as suas lógicas de aglomeração muito próprias. Enquanto a AML corresponde a uma região polarizadora com escala metropolitana, a AMP aproxima-se mais de uma região urbana policêntrica que se mantém, em certa medida, fiel a um processo de urbanização difuso e de povoamento disperso que tem vindo a perpetuar-se ao longo dos tempos, não obstante a permanente articulação com o protagonismo centralizador exercido pela cidade do Porto. Citando Teresa Barata Salgueiro; «Talvez seja devido a esta menor polarização que Pereira de Oliveira fala de conurbação do Porto, incluindo nela Matosinhos e Vila Nova de Gaia, em vez de área metropolitana, e Nuno Portas defende um esquema conceptual alternativo ao metropolitano para analisar o fenómeno da urbanização na Região Norte.» (Salgueiro, 1992: 101). Também Rio Fernandes (Fernandes, sd) entende que, em termos geográficos, a reduzida dimensão territorial da AMP e a sua fraca capacidade polarizadora não permite enquadrá-la no tradicional modelo de áreas metropolitanas. Tanto a Área Metropolitana de Lisboa como a do Porto só foram formalmente criadas em consideradas então como pessoas colectivas de direito público de âmbito territorial e visando a prossecução dos interesses das populações da área dos municípios integrantes - não obstante a antiguidade do processo funcional que lhes está na origem. Mas enquanto a de Lisboa assumiu praticamente a composição que mantém actualmente - uma vez que os dezanove 1 Lei nº44/91, de 2 de Agosto. 4
6 municípios iniciais resultaram, com a exclusão da Azambuja, nos actuais dezoito municípios 2 repartidos pelas duas margens do Tejo - a do Porto, inicialmente composta por nove municípios 3, só em 2008 conheceu a composição que mantém presentemente e que perfaz um total de dezasseis 4 municípios. Este acréscimo reflecte um incremento territorial e populacional, ainda que tardio, para lá dos municípios contíguos à cidade do Porto. Em simultâneo também corresponde a um considerável alastramento de formas e funções urbanas a territórios mais periféricos e diversificados. Figura 1. Mapa da Área Metropolitana do Porto Existe grande diversidade entre os 16 municípios que compõem a AMP. Alguns evidenciam-se por um comportamento ajustado a uma realidade metropolitana, ainda que devidamente contextualizada com as peculiaridades da AMP. Mas também existem outros que apresentam comportamentos bastante díspares e descontextualizados de uma lógica metropolitana, como é perceptível através das densidades populacionais (Quadro1). 2 Área Metropolitana de Lisboa: Alcochete, Almada, Barreiro, Moita, Montijo, Palmela, Sesimbra, Setúbal, Seixal, Amadora, Cascais, Loures, Mafra, Odivelas, Oeiras, Sintra, Vila Franca de Xira, Lisboa. 3 Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Póvoa de Varzim, Valongo, Vila do Conde e Vila Nova de Gaia. 4 Área Metropolitana do Porto: Arouca, Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Oliveira de Azeméis, Porto, Póvoa de Varzim, Santa Maria da Feira, Santo Tirso, São João da Madeira, Trofa, Vale de Cambra, Valongo, Vila do Conde, Vila Nova de Gaia. 5
7 A heterogénea distribuição da população pelo território reflecte os contrastes entre munícios de forte densidade populacional - como o Porto, Matosinhos, S. João da Madeira e Vila Nova de Gaia e outros municípios muito extensos e com vastas áreas de características rurais como Arouca, Vale de Cambra e Oliveira de Azeméis - que fazem questionar as lógicas politicoterritoriais que terão estado por detrás da sua inclusão na AMP, seguramente mais política e estratégica do que baseada em critérios de integração territorial num modelo de área metropolitana. Quadro 1. Densidades Populacionais nos Municípios da AMP, 2011 Densidade Populacional (Nº/Km2) Arouca 67,6 Espinho 1502,3 Gondomar 1271,6 Maia 1630,5 Matosinhos 2807,7 Oliveira Azeméis 424,2 Porto 5710,2 Póvoa Varzim 770,5 Stª Maria Feira 644,6 Santo Tirso 521,7 S. João Madeira 2724,0 Trofa 540,8 Vale Cambra 154,3 Valongo 1249,6 Vila Conde 533,2 Vila Nova Gaia 1792,0 Fonte: INE. Apesar da designação, do regime jurídico e do acréscimo de municípios que compõem a AMP, o seu reconhecimento enquanto modelo metropolitano clássico não tem sido unânime entre especialistas dedicados às questões urbanas (Salgueiro, 1992; Ferrão, 2002; Portas, Domingues, Cabral, 2003; Soares, 2006; Rodrigues, 2010; Fernandes, sd;). O Plano Regional de Ordenamento do Território da Região do Norte (PROTN) 5, publicado em 2008, refere-se ao arco metropolitano do Porto e caracteriza-o como tendo uma morfologia híbrida e policêntrica, porém deficitária em termos de organização em rede. De acordo com o mesmo documento, a análise das redes demonstra a fluidez da malha e a partilha de centralidades entre os centros tradicionais e as novas centralidades que compõem este vasto mosaico territorial (Marques e Fernandes, 2008: 18). 5 PROTN Sistema Urbano e Organização do Território,
8 Na verdade, não deixa de ser paradoxal que, enquanto em metrópoles mundiais de países desenvolvidos se propõe a articulação de territórios multi-escalares que ultrapassam as áreas metropolitanas (Scott, 2001), dando origem a composições socio-espaciais que podem ser reconhecidas como regiões metropolitanas (Ferrão, 2003) ou cidades-região (Rodriguéz- Pose, 2008; Soja, 2005, 2011) a AMP pareça resultar mais dissolvida e fragmentada da sua ampliação para novos territórios envolventes. É um facto inegável que a matriz centralizadora e polarizante ainda reconhecida em Lisboa contrasta com a matriz policêntrica, desconcentrada e cada vez mais difusa atribuída à AMP. Da mesma forma que enquanto em Lisboa ainda predominam algumas cidadesdormitório devido a esta forte relação de dependência, no Porto fará mais sentido falar em cidades-satélite uma vez que as dinâmicas económicas e sociais de alguns municípios periféricos concorrem com as do Porto em termos de dimensão e relevância. Refira-se os exemplos de Matosinhos e Maia, concorrentes em termos de base económica, incluindo indústria, serviços e oferta de equipamentos e infra-estruturas de âmbito metropolitano como o aeroporto e a feira de exposições Exponor, entre outros. De acordo com Mário Rui Silva (2005), O sector terciário do Grande Porto tem sofrido de uma desconcentração regional em favor dos principais centros urbanos dos territórios circundantes, ao mesmo tempo que ocorre uma deslocalização de actividades terciárias avançadas de natureza económica para a Grande Lisboa. Mas importará também somar a estes factores a ausência de uma coerência suficientemente articuladora das diferentes dinâmicas socio-espaciais presentes num conjunto tão heterogéneo de territórios como os que compõem a AMP. Como tal, torna-se difícil enquadrar a matriz urbano-metropolitana do Porto na mesma lógica em que se enquadra a AML. De facto, nesta última é perceptível a cidade geograficamente estilhaçada mas funcionalmente integrada que é inerente ao conceito de região metropolitana (Ferrão, 2003). Quanto à AMP, dir-se-ia que deu alguns passos no sentido da Região Metropolitana Polinucleada antes de se confirmar como Área Metropolitana coesa e claramente definida. Uma prova dessa realidade poderão ser as diferentes designações e as várias escalas territoriais adoptadas em documentos e estudos relativos à cidade do porto e respectivo entorno, como é o caso do arco metropolitano do Porto no PROTN ou a Grande Área Metropolitana do Porto referida na Carta Regional de competitividade elaborada pela AIP 6 para o Grande Porto. Entretanto, também importará referir que este policentrismo desconexo e bastante complexo que caracteriza o território da AMP não será indissociável das questões relativas aos transportes e 6 AIP Associação Industrial Portuguesa. 7
9 sistema de mobilidades existentes neste território. Numa fase inicial o caminho-de-ferro assegurou a expansão urbana de uma forma muito selectiva. Numa fase posterior e já nos anos de 1980/1990, a vinda de fundos provenientes da União Europeia permitiram a ampliação da rede viária e a construção de novas auto-estradas, o que não só melhorou as acessibilidades internas na AMP, como permitiu um crescimento urbano em torno dos vários centros suportado essencialmente no transporte individual. Quanto aos transportes colectivos, eles nunca foram uma prioridade num território que ainda continua a revelar algumas carências a este nível. A rede de Metro é muito recente (10 anos) e, não obstante a rede intermodal e a procura de uma mobilidade integrada através de ligações com as linhas de comboios suburbanos e de longo curso, a rentabilidade dos percursos e os resultados financeiros obtidos pela empresa gestora 7 colocam sérios entraves à expansão da rede. 2. DINÂMICAS POPULACIONAIS NA AMP Os dados obtidos pelos Censos de 2011 comprovam que as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto concentram, no seu conjunto, 45% da população residente no Continente, um valor que é claramente demonstrativo do amplo protagonismo que continuam a deter à escala nacional. Contudo, as percentagens de cada uma também são esclarecedoras, quer da antiga preponderância de Lisboa e do recente impulso que a sua área metropolitana reflecte ao nível das dinâmicas socio-espaciais, quer da manutenção do peso populacional registado na AMP face ao Continente (Quadro 2). Quadro 2. Evolução da População Residente nas Duas Áreas Metropolitanas Relativamente à População Residente no Continente (%) População residente AMP População residente AML Fonte: INE, Censos: 1991, 2001, Ao longo do último século a cidade do Porto tem perdido população, pelo que o declínio populacional da cidade está a aproximar-se do padrão típico das áreas metropolitanas, onde o crescimento é protagonizado pelos concelhos periféricos, imediatamente contíguos. No caso da Área Metropolitana do Porto em que as cidades dos municípios periféricos sempre polarizaram algum crescimento e mantiveram a sua relativa independência, esse desenvolvimento anda também associado a melhorias na rede de transportes e nas condições de vida nos mesmos municípios, incluindo a oferta de habitação diferenciada em urbanizações prestigiadas e espaços requalificados que têm vindo a atrair famílias de classes sociais mais elevadas. 7 Relatório de Contas Metro do Porto 2011 ( 8
10 Contudo, esta perda de população não permite reduzir a importância da cidade central enquanto núcleo polarizador face a todo o território metropolitano. Tal como refere Walter Rodrigues, não se deve reduzir a população de uma cidade que é central perante uma região urbana mais vasta à população que nela reside efectivamente, na medida em que existe todo um conjunto diferenciado de utilizadores da cidade que também participam da população urbana (Rodrigues, 2010). Da mesma forma que se reconhece a pertinência desta observação relativamente ao contexto metropolitano de Lisboa, também importa reconhecer o mesmo para o do Porto, ainda que este não seja regido pelas mesmas lógicas territoriais. Desta forma e ao nível das dinâmicas populacionais existem aspectos divergentes entre as duas áreas metropolitanas que merecem destaque. Não obstante os municípios de Lisboa e Porto apresentarem evoluções regressivas ao longo das últimas décadas, em Lisboa essa tendência afirmou-se na década de para desacelerar de ritmo nos últimos anos. Quanto à cidade do Porto, existem registos que atestam trajectos de declínio populacional que atravessam quase todo o século XX, com períodos de maior ou menor acentuação; «De facto, é já pelo menos desde o início do século e de forma acelerada a partir da segunda metade deste que a cidade do Porto se revela como pólo de repulsão pelos processos de periferização compulsiva (bairros sociais) e de suburbanização voluntária das camadas mais desfavorecidas. No entanto, a partir de 1975, este carácter repulsivo toma novos contornos através de novos movimentos que surgem. O boom do movimento cooperativo, cujos projectos se instalam nas zonas periféricas da cidade ou mesmo para além desta, revela uma tendência espontânea de periferização e desconcentração urbana.» (Seixas, 2008: 101). Entre os Censos de 1981 e 1991 o município do Porto apresentou uma variação populacional negativa de 7,6%, um valor relativamente elevado se visto isoladamente mas muito positivo se comparado com Lisboa (-17,2%). Contudo, este valor acaba por perder alguma expressividade quando inserido na realidade acima descrita. O mesmo acontecerá com a variação negativa de 9,7% registada entre 2001 e 2011 que, por comparação a Lisboa (-3,4%) confirma uma tendência regressiva mais vincada mas que também se atenua quando inserida numa leitura diacronicamente mais prolongada e espacialmente contextualizada (Quadro 3). Quadro 3. Variação da População Residente nos Municípios do Porto e Lisboa, (%) Porto -7, ,7 Lisboa -17,2-15,6-3,4 Fonte: INE, Censos: 1981, 1991, 2001, 2011 Numa análise de conjunto é sabido que na AML existem alguns municípios periféricos - e que se incluem no que se pode designar por terceira coroa urbana onde actualmente se 8 Decréscimo populacional de 5,3% entre 1960 e
11 registaram taxas de crescimento populacional que merecem relevo, como é o caso de Mafra 9, Alcochete 10 e Montijo 11. Este crescimento reflectido por territórios que se podem considerar já periféricos em relação à própria periferia denuncia dinâmicas que não só reforçam o efeito polarizador da cidade-centro face a envolventes cada vez mais alargadas, como confirma a vitalidade da AML à escala nacional (Pereira e Marques, 2011). Numa análise equivalente ao conjunto dos municípios que compõem a AMP é possível verificar que entre 2001 e 2011se regista um decréscimo populacional em sete dos dezasseis municípios, sendo o Porto o que mais se d estaca, com uma perda de população residente de 9%. Contrariamente à centralidade do Porto, os outros municípios partilham todos a localização extremada face à AMP. Quanto aos nove municípios que registam ganhos populacionais, Maia destaca-se com 12%, seguida de Valongo com 9%. Se estas variações populacionais forem consideradas em conjunto com a localização de cada município face ao centro metropolitano representado pelo Porto é perceptível a dificuldade em estabelecer critérios homogéneos face a um efeito polarizador, que não só é mais atenuado, como também partilhado por outros municípios mais afastados, como é o caso de Valongo ou Vila do Conde (Quadro 4 e Figura 2). Quadro 4. Evolução e Variação da População Residente nos Municípios da AMP ( ) /1991 (%) /2001 (%) /2011 (%) Arouca , , ,7 Espinho , , ,7 Gondomar , , ,4 Maia ,7 Matosinhos , , ,0 Oliveira Azeméis , , Porto , ,8 Póvoa Varzim , ,1 Stª Maria Feira , , ,5 Santo Tirso , , ,2 S. João Madeira , , ,9 Trofa ,8 Vale Cambra , , ,8 Valongo , ,1 Vila Conde , , Vila Nova Gaia , , ,7 Total AMP* , , ,5 Fonte: INE, Censos: 1981, 1991, 2001; *AMP correspondente à actual formação O município da Trofa foi criado em 1998, pelo que surgem dados apenas a partir do Censo de Antes de 1998 a Trofa era uma cidade anexada a Santo Tirso. 9 Crescimento populacional de 41,2% entre 2001 e Crescimento populacional de 35% entre 2001 e Crescimento populacional de 31% entre 2001 e
12 Figura 2. Variação da População Residente por Municípios, (%) Vila Nova Gaia Vila Conde Valongo Vale Cambra Trofa S. João Madeira Santo Tirso Stª Maria Feira Póvoa Varzim Porto Oliveira Azemeis Matosinhos Maia Gondomar (15,00) (10,00) (5,00) - 5,00 10,00 15,00 % Fonte: INE, Censos: 2001; Espinho Existem municípios cujas variações populacionais mais recentes indiciam abrandamentos nos ritmos de crescimento, como é o caso da Maia, Vila Nova de Gaia, Valongo, Matosinhos, Gondomar e Vila do Conde. Trata-se de municípios que ao longo das últimas décadas têm vindo também a apresentar crescimentos populacionais que evidenciam o seu carácter polarizador face ao contexto territorial envolvente e que, em certa medida, formam uma mancha urbana de maior consolidação em torno do Porto. Contudo e vistos no seu conjunto, os municípios que integram a AMP não formam um contínuo urbano homogéneo e diferenciável por coroas urbanas como acontece na AML. Como tal existirão vários factores a condicionar estas variações populacionais e as respectivas lógicas territoriais, que só através de uma análise mais fina e, eventualmente à escala da freguesia, poderiam tornar-se mais perceptíveis. Por exemplo, mesmo nesta mancha urbana mais consolidada existem municípios - como Valongo, Gondomar ou Vila do Conde - que se repartem entre territórios onde pequenas unidades produtivas se disseminam com base num processo de industrialização rural difusa (Portas, Domingues, Cabral, 2003). Mas neste contexto que mistura sectores de actividade também se abre espaço para a evolução do terciário, essencialmente associado aos núcleos urbanos em expansão nestes municípios, como acontece em Gondomar, Valongo ou Matosinhos. Ao estender a análise para o que poderá ser entendido como uma segunda mancha urbana de expansão sem homogeneidade, é perceptível que a complexidade paisagística se intensifica; «Os núcleos urbanos consistentes e densos de meados do século passado 11
13 (nomeadamente, Espinho, Feira, São João da Madeira e Oliveira de Azeméis), bem servidos por vias de comunicação e com fortes dinâmicas industriais cresceram significativamente e extravasaram para os espaços rurais envolventes, verificando-se agora uma mistura incoerente de campos agrícolas intensamente explorados, pinhais e eucaliptais, paredes meias com moradias, unidades industriais e comerciais, oficinas, armazéns e parques de materiais isolados ou em pequenos grupos, o todo percorrido por estradas e caminhos labirínticos.» (V.A., 2004: 215). Com efeito, perante o cenário acima descrito torna-se difícil pensar o território da AMP em função de coras urbanas de expansão, definidas e consolidadas como aconteceu em Lisboa. Dir-se-ia que o alargamento definido em 2008 parece resultar de uma lógica que poderá ter sido mais institucional e política do que propriamente física e territorial. Na AMP o panorama aponta para a dissolução de antigos núcleos urbanos, de consistência relativamente independente da cidade do Porto que, devido aos recentes processos de transformação socioeconómica, se dissiparam por entre as difusões indiferenciadas dos territórios envolventes. Contudo e ao contrário do verificado na AML, os municípios da AMP geograficamente mais afastados do Porto evidenciam actualmente sinais de declínio demográfico que não serão congruentes com uma efectiva expansão metropolitana. É este o caso de Oliveira de Azeméis (-3%), Vale de Cambra (-7,8%), Arouca (-7,7%) ou Póvoa do Varzim (-0,1%). Num contexto territorial que se vem caracterizando pela descentralização será porventura mais realista interpretar o significado destes valores populacionais recessivos à luz de uma hierarquia de centralidades periféricas, na qual os municípios assumem as diferenças que lhes são intrínsecas e que contribuem para a sua maior atractividade ou repulsividade em diversos momentos. Significa isto que, para além da expressividade que a habitação sempre assumiu (e continua a assumir) no antigo processo de multipolarização em torno do Porto, existem outras dimensões a concorrer para a descentralização regional da AMP e para a competitividade interna dos seus territórios como por exemplo: i) as redes viárias, que interferem directamente com as acessibilidades e mobilidades; ii) as estruturas educativas e de emprego, que interferem directamente com as escolhas de localização residencial; iii) as estruturas de consumo, que cruzam com todos estes factores e se afirmam como polos de dinamismo a diversos níveis (económico, social, habitacional, locativo e promocional de territórios). Tanto na AML como na AMP se assiste à concorrência dos municípios para acolherem projectos que impliquem não só algum dinamismo económico e promoção territorial, mas também empregos e residentes. Na AMP são visíveis os efeitos catalizadores relacionados com a instalação de grandes complexos comerciais como o GaiaShopping e ArrábidaShopping em 12
14 Vila Nova de Gaia, o MaiaShopping na Maia, ou o NorteShopping em Matosinhos. À sombra destes grandes espaços de consumo desenvolveram-se não só importantes projectos de promoção imobiliária, como também as indispensáveis vias de circulação e de articulação de todos os agentes envolvidos nestes cenários, cujas repercussões tanto se reflectem nos padrões de urbanização como nos modos de distribuição, consumo e estilos de vida das populações. O mesmo se verifica em relação às plataformas logísticas associadas a actividades produtivas, extractivas e de inovação (como o Aeroporto, a Exponor, o terminal TIR e a Refinaria de Leça da Palmeira ou o Porto de Leixões). Também as localizações destas estruturas de vitalidade urbana têm privilegiado os municípios de formação metropolitana inicial. A localização das escolas tem seguido um processo semelhante, sobretudo as novas escolas e complexos de ensino superior instalados na Maia, Vila Nova de Gaia ou Espinho. 2.1 Breve panorama sobre níveis de escolaridade na AMP Relativamente aos níveis de escolaridade, de um modo geral e comparativamente à realidade nacional, a população residente nas áreas metropolitanas destaca-se por níveis mais elevados de instrução e de qualificação face ao país, traduzindo-se esse facto não só em valores de competitividade territorial, mas também em factores de especialização ao nível dos sectores produtivos. Como tal e não obstante o claro predomínio da terciarização nas duas grandes áreas metropolitanas, o sector secundário existente na AML é mais orientado para uma produção que exige maiores níveis de escolaridade e qualificação de mão-de-obra, enquanto a Norte ainda prevalecem muitas indústrias tradicionais que empregam mão-de-obra pouco escolarizada e que se difundem por territórios de cariz rural e florestal. Relativamente aos níveis de escolaridade detidos pela população residente na AMP importa destacar desde logo a progressiva diminuição de população com o 1º Ciclo ao longo das últimas rês décadas. Este facto estará relacionado com os fenómenos inerentes ao envelhecimento populacional que se tem vindo a acentuar em Portugal, mas também com o prolongamento da escolaridade obrigatória e o consequente aumento dos níveis de escolaridade obtidos pela população. Esta realidade é muito mais evidente ao nível do ensino superior do que ao nível do ensino secundário, uma vez que a oscilação dos totais reflectidos pela AMP ao longo das três décadas também já indicia uma quebra num futuro próximo (Quadro 5 e Figura 3). 13
15 Quadro 5. Evolução da População Residente na AMP segundo os Níveis de Escolaridade atingido, º ciclo Secundário Superior 1º ciclo Secundário Superior 1º ciclo Secundário Superior Arouca Espinho Gondomar Maia Matosinhos Oliveira Azeméis Porto Póvoa Varzim Stª Maria Feira Santo Tirso S. João Madeira Trofa : : : Vale Cambra Valongo Vila Conde Vila Nova Gaia Total % 44,8 19,6 3,3 35,1 15,9 11,7 30,0 16,0 16,6 Fonte: INE, Censos: 1991, 2001, Figura 3. Evolução da População na AMP por Níveis de Ensino e Segundo o Sexo, (%) 60% H M H M H M 1º Ciclo Secundário Superior Fonte: INE, Censos: 2001, Com efeito, é de salientar o progressivo aumento que se verifica ao nível de população com ensino superior concluído em todos os municípios. Tratando-se de uma realidade enquadrável 14
16 na actual tendência educativa nacional, ao nível dos municípios da AMP estes números também serão reflexo do importante contributo que as novas escolas de ensino superior têm vindo a prestar em termos de oferta em todo este território. Comparando a percentagem de população com ensino superior entre as duas áreas metropolitanas é possível verificar que a AML ainda continua a destacar-se face à AMP, sendo que a diferença entre os dois sexos acaba por ser demonstrativa da mesma realidade que é transversal a todo o território português, ou seja, uma superioridade das mulheres com ensino superior face aos homens. No que diz respeito à população analfabeta registam-se valores praticamente equivalentes nas duas áreas metropolitanas, quer em percentagens do total de população, quer na discriminação por sexos, sendo de destacar a clara predominância das mulheres face aos homens em termos do analfabetismo ainda existente (Quadro 6). Este analfabetismo - que já pode ser considerado bastante residual face a décadas anteriores - estará ligado à população mais idosa, bem como a antigas clivagens sociais e de género que marcaram a sociedade portuguesa até ao fim do período ditatorial. Quadro 6. População Residente na AMP e na AML com Ensino Superior e Analfabeta por sexos, em 2011 (%) Com Ensino Superior Analfabetos (com 10 e +) Total H M Total H M AMP 16, ,9 3 27,4 72,5 AML 21 44,2 55,7 2,9 27,9 72 Fonte: INE, Censos No contexto das duas áreas metropolitanas, são naturalmente os municípios do Porto e Lisboa que se destacam em termos percentuais relativamente aos níveis mais elevados de ensino superior (27,1% e 32,3% respectivamente). Quanto aos níveis de analfabetismo na AMP, a Maia é o município que apresenta a percentagem mais baixa (2,2%) e Arouca a mais elevada (6,6%). Na AML são os municípios de Oeiras (1,9%) e Palmela (5,1%) que se destacam nas mesmas posições, podendo aqui estabelecer-se uma correlação semelhante entre estes dois conjuntos de municípios: de um lado os que são contíguos à cidade-centro e que reúnem determinadas características que atraem população residente com qualificações mais elevadas; do outro os que se posicionam no extremo da área metropolitana e que continuam a manter um carácter vincadamente rural e actividades económicas que exigem menores qualificações. 3. DINÂMICAS FAMILIARES NA AMP Focando a análise sobre os dados censitários mais recentes relativos às famílias residentes na AMP destaca-se logo a priori uma taxa de crescimento de 10,3% entre 2001 e 2011 quando a taxa de crescimento populacional para o mesmo período foi de apenas 1,5%. Uma das 15
17 explicações para esta disparidade relaciona-se com a redução da dimensão média das famílias e com a diversidade de tipo de famílias, em que as famílias unipessoais de idosos e de jovens vêm tendo cada vez mais representatividade em Portugal. De acordo com os dados dos Censos de 2011, a dimensão média das famílias portuguesas é de 2,6 indivíduos quando em 2001 era de 2,8. Actualmente, as famílias apenas com uma pessoa representam 21,4% do total de famílias enquanto as de duas pessoas representam 31,6%, o que no conjunto se traduz em mais de metade do total das famílias clássicas portuguesas. Em 2001 a proporção de famílias clássicas unipessoais no país era de 17,3%, enquanto na Região Norte era de 13,2% e a dimensão média das famílias no Norte era de 3 enquanto no país era de 2,8. De uma forma geral, as famílias do Norte sempre se mantiveram mais numerosas do que no resto do país. Figura 4. Evolução da Dimensão das Famílias Residentes na AMP, (%) 5 e + 4pessoas 3pessoas 2pessoas pessoa % Fonte: INE, Censos: 1991, 2001, Pelo gráfico acima apresentado (Figura 4) fica clara a tendência de crescimento na AMP das famílias de reduzida dimensão, nomeadamente, famílias unipessoais e compostas por duas pessoas. Em simultâneo é notório o considerável decréscimo das famílias com mais elementos, sendo este duplo comportamento transversal a todos os municípios que integram a AMP, de uma forma relativamente constante e indiferenciada. Na verdade, a redução da dimensão média das famílias é um fenómeno indissociável do processo de duplo envelhecimento que se vem acentuando em Portugal ao longo das últimas décadas, com o aumento da população idosa e redução da população jovem, não sendo a AMP uma excepção a esse fenómeno geral. Em simultâneo, para este fenómeno também contribuem as mudanças significativas nos estilos de vida das populações urbanas, de um modo geral. 16
18 Relativamente a este duplo envelhecimento, a AMP apresenta resultados que também se podem considerar constantes e extensíveis a todos os municípios. Significa isto que a proporção de população com 65 e mais anos aumentou nos dezasseis municípios uma média de quatro pontos percentuais de 2001 para 2011, enquanto a proporção de população entre os 0-14 anos diminuiu em média, cerca de dois pontos percentuais no mesmo período temporal (Figura 5). Figura 5. Evolução da População Residente na AMP por Grupos Etários, (%) 65 e % Fonte: INE, Censos: 1991, 2001, Neste contexto de envelhecimento que se estende a toda a área metropolitana, ainda é possível distinguir alguns municípios que apresentam um decréscimo menos acentuado de população do primeiro grupo etário. É o caso da Maia, Matosinhos, Valongo, e Vila do Conde. Em contrapartida os municípios de Espinho, Vale de Cambra e Gondomar destacam-se pelo acréscimo mais acentuado de população idosa. Em ambos os casos, a maior ou menor vitalidade populacional não deixa de ser reflexo de outras áreas determinantes ao dinamismo destes territórios, nomeadamente, capacidades para atrair investimentos, empregos e famílias jovens. Não obstante as consequências óbvias que a situação de duplo envelhecimento populacional provoca em termos da redução da dimensão das famílias, este fenómeno não pode ser analisado apenas à luz dos efeitos do crescimento natural, uma vez que os factores ligados aos estilos de vida também adquirem uma preponderância crescente relativamente às escolhas familiares e pessoais, com particular relevo nas áreas urbanas. Note-se que no âmbito destes estilos de vida se vêm registando tendências de aumento no número de celibatários e divorciados a viverem sozinhos, famílias monoparentais, famílias unipessoais de jovens que, por razões profissionais, optam por mobilidades transitórias e outras situações migratórias. De acordo com os Censos de 2001 a região Norte manteve a proporção de viúvos em 5,8%, mantendo-se a viuvez como um estado civil bastante representativo nesta região. No mesmo período temporal os núcleos familiares monoparentais representavam 10,8% dos 17
19 núcleos familiares do Norte quando a proporção no país era de 11,5%. Foi no Porto que esta proporção mais cresceu face a 91 (18,2% em 2001 no Porto). A proporção de famílias unipessoais constituídas por indivíduos com 65 e mais anos diminuiu de 57,8% em 1991 para cerca de 52,5% em Entre as famílias unipessoais de idosos, cerca de 78,6% são compostas por mulheres. Na região Norte, a proporção de famílias clássicas unipessoais constituídas por indivíduos com idades compreendidas entre os anos aumentou de 6% para 10% entre 1991 e Os resultados dos Censos de 2011 permitem perceber que, no âmbito da AMP, houve um decréscimo relativamente expressivo na população solteira e casada, crescendo a percentagem de divorciados e de viúvos. Gondomar, Matosinhos e Maia são os municípios que apresentam a taxa de variação negativa mais elevada de solteiros entre 2001 e 2011 ou seja, são os municípios onde se registou a maior redução no número de residentes solteiros. Em contrapartida, o Porto apresenta a taxa de variação negativa mais elevada de casados, o que significa que foi o município onde mais decresceu a população casada no mesmo período temporal. No que diz respeito aos divorciados, para além do aumento extensível a todos os municípios, a taxa de variação permite destacar Sta. Maria da Feira, Maia, S. João da Madeira e Valongo como os municípios onde se registou o maior aumento de residentes divorciados, entre 2001 e 2011 (Figura 6). Figura 6. Evolução da População Residente na AMP por Estado Civil, (%) solteiros viúvos 2001 divorciados 2011 casados % Fonte: INE, Censos: 2001, A viuvez é, pelas suas próprias circunstâncias, o estado civil que apresenta um comportamento mais constante e equilibrado entre todos os municípios da AMP. À excepção do Porto, cuja taxa de variação é de -2% e de Arouca, que é de 1,2%, os restantes municípios apresentam taxas de variação positivas que vão de 16% a 28%, uma amplitude reduzida mas que marca um sentido 18
20 generalizado de crescimento, o que não deixa de ser também sintomático do envelhecimento populacional. Considerando a repartição dos diferentes Estados Civis de acordo com o género, a população da AMP confirma o enorme desequilíbrio que existe entre mulheres e homens no estado de viuvez (Figura 7). Na origem desta realidade, que é antiga e transversal a muitas sociedades, estão sobretudo razões de ordem natural e outras que se relacionam com estilos de vida inerentes aos dois géneros. Também no estado de divorciados a comparação entre os dois géneros permite perceber que a percentagem de mulheres é consideravelmente superior à dos homens. Em 2001 o número de mulheres divorciadas na AMP era praticamente o dobro relativamente aos homens. Em 2011 essa diferença sofreu uma ligeira redução em ambos os géneros. Uma das possíveis explicações para esta discrepância poderá ser a maior rapidez, facilidade e/ou predisposição dos homens para situações de recomposição familiar. Figura 7. Evolução da População Residente na AMP por Estado Civil e Segu ndo o Género, (%) 90% H M H M H M H M Solteiros Casados Divorciados Viúvos Fonte: INE, Censos: 2001, DINÂMICAS HABITACIONAIS NA AMP As dinâmicas familiares e as dinâmicas habitacionais não têm tido relações lineares entre si ao longo das últimas décadas, verificando-se uma progressiva diminuição no número e dimensão das famílias em paralelo com o aumento da oferta habitacional. As famílias portuguesas têm enfrentado longos períodos de carência habitacional devido a dificuldades económicas no acesso aos mercados - de arrendamento, de compra e de construção, bem como devido a algum 19
21 desajustamento entre a localização da oferta e a localização da procura. Nos finais da década de 1980 esta realidade viria a ser progressivamente transformada. De uma forma quase generalizada o país assistiu a um boom imobiliário, coadjuvado por políticas de incentivo aos créditos bancários para a compra de habitação própria. O resultado foi uma população maioritariamente constituída por proprietários de habitações, espalhadas por cidades e periferias densamente construídas, sobretudo ao longo de toda a faixa litoral. Não obstante o significativo peso que a habitação passou a ter no orçamento das famílias - muitas delas endividadas por muitos anos a fixação da família à casa e respectivos encargos tornou-se também num forte obstáculo à mobilidade social e à procura de novas oportunidades de emprego noutras regiões, do país ou fora dele. Pelo gráfico apresentado na Figura 8 é visível a inflexão da trajectória de crescimento que o parque habitacional da AMP vinha mantendo ao longo das últimas décadas, não obstante o abrandamento do seu ritmo a partir de 2001, na grande maioria dos municípios. De facto, uma leitura evolutiva cruzada entre os valores absolutos e os relativos (Quadro 7) permite verificar que foi nas décadas de 1980 e 1990 que o número de alojamentos clássicos mais cresceu de uma forma acentuada, para começar a cair de uma forma significativa logo na transição do século. Figura 8. Evolução do nº Alojamentos Clássicos na AMP ( ) Arouca Espinho Gondomar Maia Matosinhos Oliveira Azemeis Porto Póvoa Varzim Stª Maria Feira Santo Tirso S. João Madeira Trofa Vale Cambra Valongo Vila Conde Vila Nova Gaia Fonte: INE, Censos: 1960, 1970, 1981, 1991, 2001, Aos valores negativos apenas escapam os municípios de Maia, Matosinhos e Valongo, ainda que com percentagens de variação muito reduzidas e que indiciam a estagnação ou até mesmo o 20
22 decréscimo a curto prazo. Do conjunto de municípios com taxas de variação negativas destacam-se a Póvoa de Varzim, o Porto, Arouca, Espinho e Vale de Cambra. As causas que estarão por detrás destes resultados prender-se-ão com a actual conjuntura de crise económica no país, que teve especial incidência sobre a indústria de construção civil. Contudo também importará não esquecer uma certa saturação do mercado imobiliário em termos de oferta, na última década. Quadro 7. Evolução do nº Alojamentos Clássicos na AMP ( ) (var%) (var%) (var%) Arouca , , ,83 Espinho , , ,23 Gondomar , , ,99 Maia , ,79 Matosinhos , , ,12 Oliv. Azeméis , , ,57 Porto , ,74 Póvoa Varzim , ,26 Stª Maria Feira , ,87 Santo Tirso , ,87 S. João Madeira , ,73 Trofa : : : : : : ,74 Vale Cambra , ,72 Valongo , ,45 Vila Conde , , ,53 Vila Nova Gaia , , ,61 Fonte: INE, Censos: 1960, 1970, 1981, 1991, 2001, Não será por acaso que todos os municípios que se destacam pelo número de alojamentos coincidem com os que apresentam também maior número de residentes. Mas importará também cruzar com estes dados a existência de alojamentos vagos, de forma a fazer uma aproximação a este ajustamento entre necessidades habitacionais e a oferta existente no mercado. 21
23 Quadro 8. Evolução do nº Alojamentos Vagos na AMP ( ) (var%) (var%) Arouca , , ,5 Espinho , , ,2 Gondomar , , ,9 Maia , , ,1 Matosinhos , , ,6 Oliv. Azeméis , , ,8 Porto , ,1 Póvoa Varzim , , Stª Maria Feira , , ,2 Santo Tirso , , S. João Madeira , , Trofa : : : : 1506 : ,6 Vale Cambra , , ,7 Valongo , ,5 Vila Conde , , Vila Nova Gaia , , ,7 AMP ,3 Fonte: INE, Censos: 1970, 1981, 1991, 2001, (var%) Dos dados apresentados no Quadro 8 sobressaem três factores que merecem referência. O primeiro consiste na variação negativa quase generalizada que se registou no número de alojamentos vagos entre 1970 e À excepção de Valongo - onde é provável que o considerável aumento de alojamentos vagos se deva a uma fase de construção de habitação muito expressiva - todos os restantes municípios assistiram a uma diminuição considerável dos alojamentos nesta condição. Visto isoladamente este fenómeno pressupõe um aumento de procura de alojamento igualmente generalizado e que se relacionará com um acréscimo populacional e do número de famílias nestes municípios. Mas note-se que esta década coincide com a revolução de 1974 e com o consequente retorno de muitos milhares de portugueses das ex-colónias. Este facto traduziu-se por todo o país num epifenómeno em termos demográficos, com repercussões directas quer na extraordinária procura de alojamentos, quer na ocupação dos vagos existentes e, nalguns casos, sem a necessária salvaguarda das devidas condições de habitabilidade e conforto dos mesmos. Como tal, não é de estranhar que a AMP também reflicta este comportamento. O segundo factor diz respeito à taxa de variação fortemente positiva, entre 1991 e 2001, no número de alojamentos vagos em vários municípios da AMP, tanto nos de formação metropolitana inicial como nos que se anexaram posteriormente. Nesta situação destaca-se a 22
24 Maia, São João da Madeira, Gondomar, Valongo e Oliveira de Azeméis. Por detrás destes valores estarão não só os fenómenos de expansão urbana através de uma consolidação do protagonismo destes municípios no contexto metropolitano, como também os consequentes impulsos construtivos que surgem associados a estas dinâmicas urbanas. Com efeito e para o mesmo período temporal, também foi na Maia, São João da Madeira, Valongo e Gondomar que se registaram das taxas mais elevadas de variação no número de alojamentos familiares. O poder atractivo destes municípios confirma-se também com a sua preponderância ao nível do aumento do número de famílias clássicas residentes e do aumento do número de alojamentos clássicos de residência habitual ocupados pelo proprietário (Figura 9). Figura 9. Evolução do nº Alojamentos de Residência Habitual Ocupados pelos Proprietários ( ) Vila Nova Gaia Vila Conde Valongo Vale Cambra Trofa S. João Madeira Santo Tirso Stª Maria Feira Póvoa Varzim Porto Oliveira Azemeis Matosinhos Maia Gondomar Espinho Arouca Fonte: INE, Censos: 1991, 2001, Por fim, o terceiro factor relaciona-se de uma maneira particular com os municípios do Porto e de Vila Nova de Gaia, ambos pelo elevado número de alojamentos vagos e pela previsibilidade lógica de que boa parte desse número resulte de um património construído bastante envelhecido e a necessitar de obras de reabilitação. Mas para além da partilha desta realidade existem dados que permitem estabelecer uma diferenciação importante ao nível das dinâmicas habitacionais. Desde logo, a vitalidade de Vila Nova de Gaia comparativamente ao Porto, não só na quebra menos acentuada de alojamentos clássicos construídos nas últimas décadas, como no constante aumento de alojamentos ocupados pelos proprietários, como ainda no recente incremento no número de alojamentos arrendados (Figura 10). 23
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