Prontuário Eletrônico do Paciente nos Hospitais Públicos do Brasil: principais benefícios e desafios para implantação

Transcrição

1 Prontuário Eletrônico do Paciente nos Hospitais Públicos do Brasil: principais benefícios e desafios para implantação Caroline Andreis Borges 1, Gabriela Denise de Araujo 2 1. Tecnóloga em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pela Ftec Faculdade de Tecnologia do Brasil, Especialista em Docência na Educação Superior pela FSG Faculdade da Serra Gaúcha. Analista de Sistemas na empresa Unimed Nordeste RS, Caxias do Sul (RS), Brasil. 2. Professor Doutor na Universidade Aberta do Brasil, Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, São Paulo (SP), Mestre em Ciências, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo (SP) Brasil. Resumo Objetivo: Analisar estudos na literatura científica sobre os principais benefícios e desafios da implantação do prontuário eletrônico do paciente em hospitais públicos brasileiros. Método: Trata-se de uma revisão bibliográfica da literatura, que contemplou artigos publicados entre 2010 e Utilizou-se a Biblioteca Virtual de Saúde, base de dados LILACS, com o critério de estudo descritivo. Resultados: A partir de estudo feito com 6 artigos selecionados foi possível identificar os principais benefícios e vantagens da implantação do prontuário eletrônico do paciente, como segurança das informações, acesso mais rápido aos dados dos pacientes e integração do prontuário eletrônico com demais sistemas. No entanto existem desafios na implantação que precisam ser administrados para obter êxito, como resistências dos profissionais envolvidos, alto investimento e muitos profissionais tem receio em expor suas condutas utilizadas. Conclusão: Mesmo com tantos desafios levantados, a implantação do prontuário eletrônico do paciente auxilia muitos os profissionais da área de saúde e gestores no levantamento de informações, o paciente tem seu histórico guardado com segurança e os hospitais públicos padronizam o armazenamento de suas informações. Descritores: Prontuário Eletrônico, Sistemas Computadorizados em Registros Médicos, Sistemas de Informação Hospitalar.

2 Introdução A palavra prontuário é originada do latim, promptuarim, que significa lugar onde são guardadas coisas de que se pode precisar a qualquer momento. Com o passar do tempo, ficou clara a visão de que é indispensável o registro de todos os dados e cuidados administrados aos pacientes de um hospital, por exemplo, surgindo desta maneira o prontuário médico ou do paciente (1). O processo de informatização dos dados tem sido determinante na evolução dos hospitais, trazendo benefícios e melhorias para os usuários do sistema e a população em geral, sendo o prontuário do paciente um documento indispensável em hospitais para registros do histórico de atendimentos realizados para paciente, além de atividades assistenciais, administrativas e pesquisas de ensino (2). Os sistemas de informação hospitalar são utilizados para auxiliar gestores de hospitais na tomada de decisão, como ferramenta de trabalho e para busca de informações, porém os dados alimentados no sistema devem estar corretos, já que influenciam nos resultados esperados (3). A evolução do prontuário de papel para o prontuário eletrônico do paciente (PEP) traz para a instituição de saúde que passará a utilizá-lo inúmeros benefícios como a agilidade na consulta de dados, economia de espaço de armazenamento físico, legibilidade e informações gerenciais precisas (2). Existem também alguns desafios em relação à implantação do PEP, como alto investimento financeiro em software, equipamentos e treinamentos, risco de o sistema ficar inoperante impedindo o acesso às informações do paciente e a resistência dos envolvidos no processo de implantação e utilização do sistema (2,4). Os sistemas de informação em saúde (SIS) foram desenvolvidos com o objetivo de armazenar, processar e mapear dados para auxiliar os usuários na tomada de decisão. Os SIS também têm como objetivo auxiliar na redução de papel, já que as informações passam a constar no sistema, contribuindo também com a redução de custos, que é outro fator levado em consideração para adoção de um SIS (3). Frente a este contexto, este estudo de revisão bibliográfica da literatura tem como objetivo identificar os principais benefícios da utilização do prontuário eletrônico do paciente e os desafios para sua implantação nos hospitais públicos do Brasil.

3 Método Foi realizada uma revisão bibliográfica de literatura na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), na base de dados LILACS (Literatura Latino Americana em Ciências de Saúde), com o critério de estudo descritivo. Os descritores utilizados para busca das publicações na base LILACS foram os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) Prontuário Eletrônico, Sistemas Computadorizados em Registros Médios e Sistemas de Informação Hospitalar. Foram estabelecidos como critérios de inclusão os artigos publicados no período de 2010 a 2016, no idioma português, publicações do tipo artigo e disponíveis na íntegra em meios eletrônicos. Os critérios de exclusão foram publicações do tipo tese, monografia, documento de projeto e congresso e conferência e as publicações que não estavam relacionadas especificamente ao uso e desafios de implantação do prontuário eletrônico do paciente. Resultados Foram identificados 59 artigos, porém conforme os critérios de inclusão e exclusão foram selecionados para a leitura completa apenas 6 artigos, os quais se referiam à utilização e implantação do prontuário eletrônico do paciente, conforme detalhamento na Tabela 1. Tabela 1 Artigos localizados nas bases de dados LILACS ( ), sobre prontuário eletrônico, sistemas computadorizados em registros médicos, sistemas de informação hospitalar. Título do Artigo/Referência O prontuário eletrônico do paciente no sistema de saúde brasileiro: uma realidade para os médicos? (1) Vantagens e desvantagens do prontuário eletrônico para instituições de saúde. (2) Prontuário Eletrônico do Paciente: conhecendo as experiências de sua implantação. (4) Objetivo Conceituar prontuário eletrônico do paciente (PEP), discutir as vantagens e desvantagens da implantação do PEP, a importância da implantação desse sistema nos serviços médico-hospitalares, aspectos médicos e outros desafios. Verificar e avaliar a contribuição que a implantação do prontuário eletrônico do paciente (PEP) traz para uma instituição de saúde, com suas vantagens e desvantagens. Conhecer diferentes experiências e verificar as principais vantagens e desvantagens na adoção dos prontuários eletrônicos, tanto para a equipe envolvida quanto para o Resultados Mesmo com todas as dificuldades encontradas é de grande importância o uso de sistemas de informação, como o PEP, nas redes de saúde pública brasileiras. A fim de melhorar a comunicação, gestão e qualidade da assistência prestada aos pacientes. A principal vantagem identificada foi a facilidade de acesso às informações do PEP e a desvantagem foi a possibilidade do sistema ficar fora do ar. Observou-se a redução do tempo de atendimento e facilidade de consulta de dados como principais vantagens na utilização do PEP, já o principal obstáculo foi à resistência dos

4 Desafio da implantação do prontuário eletrônico do paciente. (5) A utilização do prontuário eletrônico do paciente por médicos do Hospital Municipal Dr. Munir Rafful: um estudo de caso. (6) Revisão de literatura: Implantação de Prontuário Eletrônico do Paciente. (7) paciente. Descrever o processo de implantação do prontuário eletrônico do paciente em um complexo hospitalar filantrópico no Paraná, composto por 3 hospitais e 1 ambulatório. Caracterizar a utilização do Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) no Hospital Municipal Dr. Munir Rafful, na cidade de Volta Redonda. Através de estudo de revisão na literatura evidenciar sobre a implantação de prontuário eletrônico de paciente. profissionais de saúde ao uso de sistemas informatizados. Acompanhamento das fases de planejamento, análise funcional, protocolos e demais processos operacionais, análise de requisitos, desenvolvimento e implantação do prontuário eletrônico do paciente. Cerca de 70% dos médicos entrevistados utilizam o PEP em hospitais ou consultórios particulares e a maioria deles aponta a facilidade de leitura como vantagem e as falhas no sistema como desvantagem, porém, 95% dos médicos optariam pelo PEP. Os artigos estudados foram agrupados por áreas: conceitos gerais, evolução histórica, escolha e desenvolvimento de software e análise de desempenho. A partir dessas áreas identificou-se o que foi publicado na atualidade sobre a implantação do PEP. Com a utilização do PEP é possível realizar facilmente a coleta de dados e o acesso ao histórico de saúde do paciente, integrado com outros sistemas, inclusive remotamente e podendo ser utilizado simultaneamente por outros profissionais. O PEP também possibilita a flexibilidade de layout, legibilidade das informações, o fim de redigitação de dados, a emissão de relatórios, melhoria no processo de tomada de decisão e da efetividade do cuidado com o paciente. Entretanto, são necessários grandes investimentos em hardware e software e treinamentos dos envolvidos. Os profissionais resistem a utilizar o PEP devido à dificuldade de coletar todos os dados obrigatórios e a exposição de suas condutas clínicas para os demais usuários, apontando também como risco a possibilidade do sistema ficar inoperante ou de acessos indevidos ao sistema (1). Para que a implantação do PEP tenha sucesso é extremamente importante a participação dos usuários no processo de desenvolvimento, implantação e pós implantação, já que após a implantação, podem ocorrer reclamações da equipe médica, usuários e pacientes originando necessidades de ajustes. Com a implantação do PEP, a forma de trabalho dos envolvidos muda muito, agilizando os registros médicos do paciente (5). Mesmo com todos os problemas financeiros e

5 administrativos, principalmente no setor público do Brasil, existe um crescimento exponencial na utilização do prontuário eletrônico do paciente (6). Com a utilização do PEP, o profissional consegue dedicar mais tempo para a assistência do paciente, percebendo-se a facilidade do levantamento de informações gerenciais, redução de impressão e economia de espaço físico para armazenamento de documentos (2). O processo contínuo e atualizado dos dados do PEP proporcionam a melhoria do planejamento e controle hospitalar e o aumento da qualidade no atendimento do paciente (4). O resultado da implantação do PEP está diretamente ligado ao sucesso ou fracasso, o que irá definir esse resultado é o envolvimento dos usuários em todas as fases do processo, como análise, desenvolvimento e acompanhamento (7). Discussão O PEP é um sistema de informação que surgiu a partir da necessidade de organizar as informações do histórico dos pacientes de forma sistemática, facilitando o acesso ao mesmo (2). A partir da análise de artigos realizada neste estudo, constatou-se que o acesso mais rápido às informações do prontuário do paciente e a facilidade na coleta de dados e pesquisa das informações, foram itens mais citados como benefícios da implantação do PEP em hospitais públicos brasileiros, sendo que 5 dos 6 artigos os relataram (1,2,4,5,6,7). Já 4 dos 6 artigos utilizados afirmam que os principais benefícios da implantação do PEP são a garantia da segurança dos dados armazenados e dos usuários que os acessam, a integração do PEP com outros sistemas, a possibilidade de uso simultâneo em diversos serviços de saúde, bem como a possibilidade do acesso remoto às informações e o auxílio na tomada de decisão e cuidado com o paciente (1,2,4,5,6,7). Também se pode observar que 3 dos 6 artigos analisados mencionam que a implantação do prontuário eletrônico do paciente auxilia na eliminação da redundância de dados, na legibilidade das informações tornando-as claras e padronizadas para todos os profissionais que tiverem acesso a elas e no controle de estoques de insumos, já que a prescrição e consumos dos pacientes passam a ser eletrônicos (1,4,5,6,7).

6 Percebe-se também que os artigos apresentam isoladamente algumas outras vantagens e benefícios que a implantação do PEP traz para as instituições de saúde pública, como por exemplo: flexibilidade de layout de dados, fim da redigitação e inexistência de extravio e perda de fichas, exibição de dados sempre atualizados, facilidade de leitura, subsidio para elaboração de relatórios, eliminação de espaço físico utilizado para o armazenamento dos documentos clínicos e organização sistemática (1,4,6,7). São apresentados também benefícios de médio e longo prazos, onde será possível melhorar o planejamento hospitalar com a otimização do controle do fluxo de pacientes e priorização de atendimento, redução do tempo de atendimento e custos da assistência e melhora do atendimento prestado ao paciente (4,7). Mesmo com tantas vantagens e benefícios que o PEP proporciona aos hospitais públicos, existem desafios que devem ser considerados e superados para que haja sucesso na sua implantação. A necessidade de treinar os usuários do sistema e a demora para que a implantação demonstre reais resultados são apontados como os principais desafios, já que são citados em 5 dos 6 artigos analisados (1,2,4,5,6,7). Existem dois desafios que são altamente críticos e de difícil superação, trata-se da necessidade de altos investimentos em hardware e software e a grande resistência dos profissionais de saúde em quebrar paradigmas e utilizar o PEP. A relação entre o médico e o paciente também pode ser afetada, isso significa que o médico precisa prestar atenção no preenchimento do PEP e acaba prejudicando a relação com o paciente durante a assistência (1,2,4,6,7). Outras situações que foram apontadas como uma grande preocupação dos usuários do PEP, que assim como os desafios anteriores, foram citadas em 4 dos 6 artigos analisados, falam do risco do acesso indevido ao PEP e as informações estarem correndo risco de serem divulgadas de forma equivocada e também da possibilidade de o sistema ficar inoperante (1,2,4,6,7). Em 2 dos 5 artigos avaliados, é afirmado também que os profissionais da área de saúde acabam resistindo a utilização do PEP devido ao medo de expor a conduta médica, já que todas as informações do paciente e sua assistência são acessados por todos os profissionais que o assistem (1,4).

7 Um dos artigos cita 3 desafios que os demais não citam: o prontuário de papel pode ser facilmente acessado, a liberdade no estilo de confecção de relatórios e quantidade insuficiente de computadores para utilização dos usuários do sistema (6). Para realizar a implantação de um PEP em uma instituição de saúde algumas fases devem ser seguidas, como por exemplo, planejamento, análise funcional, levantamento de requisitos, desenvolvimento, implantação e avaliação final do sistema em produção, para tentar alcançar o melhor resultado possível (5). Dois estudos também apontam a dificuldade em conseguir levantar todos os dados e requisitos obrigatórios para a implantação do PEP e que a falta de conhecimento por parte da empresa implantadora do sistema, caso contratada, pode acarretar em dificuldades posteriores (1,5). Conclusões A utilização do PEP, sem dúvidas, traz muitos benefícios para os hospitais públicos do Brasil, auxiliando na qualidade das informações armazenadas dos pacientes, contribuindo com levantamento de dados utilizados pelos gestores, com a tomada de decisão dos profissionais envolvidos com o cuidado do paciente, diminuindo problemas simples que antes existiam, porém com grande impacto, como o extravio ou perda do prontuário de papel do paciente. Contudo, ainda existem alguns grandes desafios que as instituições de saúde pública devem superar para obter sucesso na implantação do PEP, enfrentando a resistência na utilização dos sistemas por parte dos profissionais de saúde, oferecer mais recursos para investimento em software, hardware e treinamento dos usuários. Referências 1. Patricio CM, Maia MM, Machiavelli JL, Navaes MA. O prontuário eletrônico do paciente no sistema de saúde brasileiro: uma realidade para os médicos? Sci Med Ago; 21 (3): Martins C, Lima SM. Vantagens e desvantagens do prontuário eletrônico para instituição de saúde. RAS Jun; 16 (63): Cavalcante RB, Cunha SGS, Bernardes MFVG, Gontijo TL, Guimarães EAA, Oliveira VC. Sistema de informação hospitalar: utilização no processo decisório. J Health Inform Set; 4 (3): Canêo PK, Rondina JM. Prontuário eletrônico do paciente: conhecendo as experiências de sua implantação. J Health Inform Jun; 6 (2):

8 5. Jenal S, Évora YDM. Desafio da implantação do prontuário eletrônico do paciente. J Health Inform Dez; 4: Namorato L, Neto AJC, Garani FV, Braga PO, Lustos SAS. A utilização do prontuário eletrônico do paciente por médicos do hospital municipal Dr. Minir Rafful: um estudo de caso. J Health Inform Jun; 5 (2): Jenal S, Évora YDM. Revisão de literatura: implantação de prontuário eletrônico do paciente. J Health Inform Out; 4 (4):