Benefícios e problemas na utilização de georreferenciamento para análise de dados em saúde

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1 Benefícios e problemas na utilização de georreferenciamento para análise de dados em saúde Resumo Renato Gonçalves da Silva 1, Josceli Maria Tenório 2 1. Bacharel em Ciências da Computação e Especialista em Gestão de Segurança da Informação. 2. Professora, Mestre em Informática em Saúde. Universidade Aberta do Brasil UNIFESP. Objetivo: Identificar benefícios e problemas na utilização de georreferenciamento para análise de dados em saúde. Método: Foi realizada uma busca nas bases de dados LILACS, MEDLINE E SCIELO, utilizando descritores relacionados a georreferenciamento, por estudos originais publicados a partir de 2010 que relatassem experiências sobre o uso de georreferenciamento em saúde ocorridas no Brasil. Resultados: Foram encontrados 134 trabalhos. Após a aplicação de critérios de exclusão foram eleitos para leitura 19 artigos, dos quais seis foram utilizados nessa revisão. Os estudos utilizados demonstram a utilização de georreferenciamento para tratamento de dados epidemiológicos, gestão de saúde e desenvolvimento de sistemas. Dos estudos utilizados nesse trabalho cinco evidenciaram benefícios encontrados na utilização de georreferenciamento, enquanto quatro estudos demonstraram problemas que devem ser fonte de preocupação. Conclusão: Concluiu-se que a utilização de georreferenciamento traz benefícios no planejamento e monitoramento de ações de saúde, porém, um dos problemas observados é a ocorrência de erros nos registros, o que compromete a confiabilidade dos dados. Descritores: Mapeamento geográfico e sistemas de informação geográfica. Introdução Segundo a Biblioteca Virtual em Saúde a definição de Mapeamento Geográfico, que tem entre seus sinônimos o termo georreferenciamento, é a criação 1

2 de uma representação das áreas da terra ou outros corpos celestes com o propósito de visualização da distribuição espacial de várias informações (1). O tratamento de dados georreferenciados é feito por meio de geoprocessamento que, segundo Pontes é um conjunto de técnicas e metodologias de armazenamento, processamento, automação e utilização de imagens para tomada de decisões (2). Segundo Rojas e Ginardi, citados por Goldstein et al., a criação de mapas e sua utilização em softwares de geoprocessamento, demonstrando dados relacionados à saúde, tem alcançado diferentes públicos por conseguir, de forma objetiva, demonstrar a situação da saúde pública no Brasil (3). Contudo, para que seja possível a implementação de sistemas de computação utilizando dados georreferenciados, como observou Cavicchioli Neto et al., é necessário ter profissionais especializados na área, por isso sua utilização não é uma tarefa trivial e grande parte dos projetos exige a utilização de softwares proprietários (4). O objetivo desse estudo é observar quais são os benefícios e problemas a serem enfrentados na utilização de ferramentas de georreferenciamento em saúde. Método Uma revisão integrativa da literatura foi realizada. A busca de artigos foi realizada no período de 28 a 30 de setembro de 2016 na base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde ( Os descritores utilizados foram Sistemas de Informação Geográfica e Mapeamento Geográfico. Este último descritor tem entre seus sinônimos os termos Georreferenciamento e Geocodificação, que foram utilizados na pesquisa. Como estratégia de pesquisa, uma expressão de busca foi composta, ( Georreferenciamento OR Geocodificação OR Mapeamento Geográfico OR Sistemas de Informação Geográfica ). Todos os artigos originais em português publicados entre 2010 e 2016, que relatassem estudos na utilização de georreferenciamento em saúde, foram incluídos. Foram excluídos os artigos cujo resumo ou texto completo não estivessem disponíveis ou não tratassem de relatos referentes a estudos no Brasil. 2

3 Após a busca, o título, resumo e artigo completo foram lidos e analisados pelo pesquisador principal. A aplicação do critério de exclusão ocorreu a cada fase da leitura. Resultados As buscas resultaram em 134 artigos originais. Desses, após a leitura do título, foram eleitos 19 artigos. Após a leitura do resumo restaram seis artigos para leitura completa. A Tabela 1 exibe os artigos utilizados para essa revisão da literatura, com seus objetivos e resultados alcançados. Tabela 1 Artigos localizados nas bases de dados LILACS e SCIELO Título do Artigo/Referência A experiência de mapeamento participativo para a construção de uma alternativa cartográfica para a ESF. (3) Desenvolvimento e Integração de Mapas Dinâmicos Georreferenciados para o Gerenciamento e Vigilância em Saúde. (4) Avaliação da situação de saúde por profissionais da atenção primária em saúde com base no georreferenciamento dos sistemas de informação. (5) Análise espacial e espaçotemporal da Aids no município de São Paulo entre 2001 e (6) Distribuição Espacial e Geoprocessamento de Pacientes com Fissura Labiopalatina na Cidade De Imperatriz, Maranhão, Brasil. (7) Avaliação do dado sobre endereço no Sistema de Informação de Agravos de Notificação utilizando georreferenciamento em nível local de casos de tuberculose por dois métodos no município do Rio de Janeiro. (8) Objetivo Avaliar a qualidade e o uso de bases cartográficas pelas equipes da ESF (Estratégia Saúde da Família). Disponibilizar um banco de dados de mapas, dados demográficos, agravos em saúde e estrutura urbana de uma cidade. Avaliar se a introdução de indicadores georreferenciados pode melhorar a identificação da situação de saúde. Descrever o perfil epidemiológico da AIDS no município de São Paulo. Demonstrar a experiência de geoprocessamento de pacientes com fissuras labiopalatinas. Avaliar a qualidade dos dados referentes ao endereço dos casos notificados de tuberculose. Resultados O artigo demonstrou que mapas censitários pode auxiliar a Estratégia Saúde da Família e observou problemas de compatibilização de mapas produzidos no nível local com mapas produzidos por outros setores do governo. O artigo demonstrou que o sistema desenvolvido auxiliou na tomada de decisões e identificou que a análise, por meio de georreferenciamento, pode ser feita erroneamente devido a erros de cadastros dos pacientes. O georreferenciamento melhorou o planejamento das Unidades de Saúde da Família e identificou a necessidade dos municípios terem equipes capacitadas para gerenciar os recursos informacionais. O estudo observou que a análise espacial pode ser útil às ações de vigilância e controle da AIDS. Não foi observado nenhum problema por esse estudo. O estudo revelou que o georreferenciamento pode ser uma ferramenta importante para realização de planejamento e monitoramento das ações de saúde no Brasil. Não foi observado nenhum problema por esse estudo. Foi demonstrado que vários tipos de erros, encontrados em bases cadastrais de sistemas, trazem dificuldade na utilização de georreferenciamento, 3

4 A Tabela 2 exibe a quantidade de estudos utilizados neste artigo, agrupados por assunto. Tabela 2 Relação de estudos, por assunto, utilizados neste artigo Assunto Estudos utilizados por assunto (Total: 6) Desenvolvimento 2 Epidemiológico 3 Gestão 1 Foram encontrados benefícios na utilização de georreferenciamento em cinco dos seis estudos utilizados neste artigo. Os benefícios são o desenvolvimento de programas direcionados às necessidades da população (5), prover ações e controles, contribuindo no planejamento da assistência à saúde das pessoas portadoras de HIV (6), esclarecimento da distribuição espacial de assuntos de interesse para a saúde pública (7), conhecimento sobre como os pacientes se locomovem na rede e tomada de decisão baseado em informações geográficas (4), além de importância no processo de organização de trabalho das equipes de Estratégia Saúde da Família (3). Dos estudos utilizados neste artigo, dois observaram problemas com a origem dos dados. As bases de endereços de pacientes, fundamentais para utilização de georreferenciamento, possuem problemas como erros de digitação, grafias diferentes, erros ortográficos, falta de cadastros oficiais de endereços e casos em que o próprio paciente não fornece o endereço correto (8). Cavicchioli Neto et al. complementa que se as informações contidas nos sistemas nacionais fossem de melhor qualidade, a quantidade de pontos no mapa seria maior e a análise dos agravos mais bem elaboradas (4). A incompatibilidade entre mapas existentes em determinadas regiões foi observada em um dos estudos utilizados. A maior parte dos mapas encontrados, nesse estudo, encontrava-se em sistema CAD (Computer Aided Design), o que impede que sejam utilizadas funcionalidades de Sistemas de Informação Geográficas, como vínculo a tabelas e relacionamento entre camadas (3). A necessidade dos municípios criarem ou ampliarem equipes para gerenciar recursos informacionais com qualidade (5), foi uma preocupação demonstrada por um dos estudos. 4

5 Discussão Observou-se que, embora a utilização de georreferenciamento é uma realidade, não há, ainda, muitos estudos no Brasil que discutem todos os benefícios que podem ser encontrados. Da mesma forma não há muitas discussões sobre quais os problemas devem ser superados para que as análises, por meio de georreferenciamento, sejam efetivas. Mesmo sem ocorrer o encontro de muitos estudos, essa revisão da literatura demonstra importância por ter encontrado evidências de benefícios nos estudos encontrados, principalmente no que se refere a dados epidemiológicos (5,6) e a gestão da saúde pública nacional (7), possibilitando que os gestores possam tomar decisões baseadas em informações geográficas (4). Um ponto que merece atenção especial, demonstrado em dois estudos utilizados, é o cuidado com as bases cadastrais que, em muitos casos, carecem de melhor qualidade, por conter informações incompletas ou incorretas, o que pode comprometer a confiabilidade dos dados. Pode ser necessária a correção de dados cadastrais para se chegar a dados consistentes e, com isso, ter eficiência na utilização do georreferenciamento (8). A utilização de georreferenciamento também torna necessária a criação de equipes capacitadas para gerenciar recursos informacionais (5) e a necessidade de criar-se mapas compatíveis com os sistemas de informações geográficas (3). Novos estudos, que demonstrem os benefícios e os problemas na utilização de georreferenciamento, devem ser realizados, no futuro, para evidenciar mais possibilidades de utilização de georreferenciamento e sistemas de geoprocessamento. Conclusões Conclui-se que a utilização de ferramentas de georreferenciamento traz benefícios ao planejamento, monitoramento e avaliação de ações de saúde. Por meio de sistemas de informações geográficas é possível realizar controles epidemiológicos, mapear como os pacientes estão se movendo dentro da região estudada e trazer facilidades para tomada de decisão por parte dos gestores de saúde. 5

6 Deve-se ter atenção especial com as bases de dados cadastrais. É por meio desses dados que os mapas georreferenciados exibirão a distribuição espacial da população analisada e erros, de cadastro, farão com que a confiabilidade dos dados seja comprometida, levando a entendimentos incorretos sobre determinada doença. Referências 1. Portal Regional da Biblioteca Virtual em Saúde [homepage na internet]. Definição de georreferenciamento [Acesso em 29 out 2016]. Disponível em: 2. Pontes, MAG. GIS e Geoprocessamento. Sorocaba. Faculdade de Engenharia de Sorocaba: 2002; Disponível em ftp://ftp.cefetes.br/cursos/geomatica/adelson/sensoriamento_remoto/apostila_geoprocessament o_2.pdf 3. Goldstein RA, Barcellos C, Magalhães Mde A, Gracie R, Viacava F. A experiência de mapeamento participativo para a construção de uma alternativa cartográfica para a ESF. Cien Saude Colet Jan;18(1): Cavicchioli Neto V, Chiari NS, Carvalho I, Pisa IT, Alves D. Desenvolvimento e Integração de Mapas Dinâmicos Georreferenciados. J. Health Inform Jan-Mar;6(1): Ritter F, Rosa Rdos S, Flores R. Avaliação da situação de saúde por profissionais da atenção primária em saúde com base no georreferenciamento dos sistemas de informação. Cad Saude Publica Dez;29(12): Aguiar BS. Análise espacial e espaçotemporal da Aids no município de São Paulo entre 2001 e São Paulo. Dissertação [Mestrado em Saúde Pública] - Universidade de São Paulo: 2013; 7. Mendes RV, Coelho LS, Macedo PF, Souza TBP, Santos TFC, Gaiao L. Distribuição Espacial e Geoprocessamento de Pacientes com Fissura Labiopalatina na Cidade De Imperatriz, Maranhão, Brasil. R bras ci Saúde (4); Magalhães Mde A, Matos VP, Medronho RA. Avaliação do dado sobre endereço no Sistema de Informação de Agravos de Notificação utilizando georreferenciamento em nível local de casos de tuberculose por dois métodos no município do Rio de Janeiro. Cad. Saúde Pública, 2013 Dez;29(12):