DESIGUALDADES SOCIAIS E MORTALIDADE INFANTIL NA POPULAÇÃO INDÍGENA, MATO GROSSO DO SUL. Renata PalópoliPícoli
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1 DESIGUALDADES SOCIAIS E MORTALIDADE INFANTIL NA POPULAÇÃO INDÍGENA, MATO GROSSO DO SUL. Renata PalópoliPícoli Fundação Oswaldo Cruz de Mato Grosso do Sul Luiza Helena de Oliveira Cazola Universidade Anhanguera-Uniderp Resumo: a mortalidade infantil tem apresentado redução nas últimas décadas, no entanto, ainda persistem desigualdades sociais e de acesso aos serviços de saúde, que refletem disparidades entre os coeficientes de mortalidade infantil de indígenas e não indígenas. Objetivo: analisar os óbitos de crianças menores de um ano de mães indígenas residentes em Mato Grosso do Sul, segundo causas de evitabilidade. Métodos: Estudo descritivo dos óbitos infantis indígenas ocorridos entre 2005 a Para a identificação dos óbitos infantis, realizou-se consulta nos Sistemas de Informações para a variável raça/cor indígena, que deve ser preenchida na Declaração de Óbito e Declaração de Nascido Vivo e, referida por um familiar ou pessoa responsável pelas informações da criança que nasceu e morreu. A causa básica de morte foi codificada a partir dos critérios de evitabilidade, propostos na atualização da lista de causas de mortes evitáveis por intervenções do Sistema Único de Saúde. Os coeficientes de mortalidade infantil foram analisados por ano, os componentes (neonatal precoce, neonatal tardio e pós-neonatal) e as causas de evitabilidade agrupadas em triênios ( , e ). Resultados: ocorreram 737 óbitos de crianças indígenas menores de um ano, dos quais a maioria (58,8%) ocorreu para o componente pós-neonatal. O coeficiente de mortalidade infantil indígena manteve-se elevado, 57,0/1000 nascidos vivos em 2005 e 32,2/1000, em Do total de 568 (77,1%) óbitos, foram classificados como não evitáveis, 147 (19,9%) e causas mal definidas, 22 (3,0%). Para o grupo de causas evitáveis, observou-se predomínio de ações adequadas de promoção da saúde para os triênios analisados, 42,9%, 31,2% e 38,5%, respectivamente. Conclusões: evidenciou-se elevados coeficientes de mortalidade infantil indígena e de óbitos por causas evitáveis. Tais indicadores são elucidativos das desigualdades sociais e da fragilização da garantia do direito da saúde dos povos indígenas. Palavras-chave: Mortalidade infantil, Grupos étnicos, População indígena, Sistemas de informação. PROBLEMA DE PESQUISA O coeficiente de mortalidade infantil (CMI) se constitui em um importante indicador para avaliar as condições de vida e saúde desta população, visto que demonstra a efetividade de políticas públicas de saúde e o desenvolvimento socioeconômico do país.
2 2 No Brasil, a análise do coeficiente de mortalidade infantil evidencia que as crianças indígenas apresentam, substancialmente, índices superiores aos observados nas demais categorias de raça/cor (CARDOSO; SANTOS; COIMBRA, 2005). No estado de Mato Grosso do Sul, o coeficiente de mortalidade infantil foi elevado nos municípios de Amambaí, Paranhos e Dourados. Nesses três, as mortes indígenas constituíram, em relação à totalidade de óbitos, os seguintes percentuais: 60,9% em Amambaí; 39,5% em Paranhos; 27,4% em Dourados (GASTAUD; HONER; CUNHA, 2008). O padrão de mortalidade da população indígena do Estado de Mato Grosso do Sul é caracterizado por elevada concentração dos óbitos em menores de cinco anos, o que pode indicar as precárias condições de vida e de saúde desta população, com alta prevalência de desnutrição infantil e infecções respiratórias (FERREIRA; MATSUO; SOUZA, 2011). OBJETIVO Analisar os óbitos de crianças menores de um ano de mães indígenas residentes em Mato Grosso do Sul, segundo as causas de evitabilidade. REFERENCIAIS TEÓRICO-METODOLÓGICOS O coeficiente de mortalidade infantil é definido como sendo o número de óbitos de menores de um ano de idade, por mil nascidos vivos, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado (BRASIL, 2008). O óbito infantil foi estimado em menores de um ano, segundo os componentes neonatal precoce (0 a 6 dias de vida), neonatal tardio (7 a 27 dias de vida) e pósneonatal (28 a 364 dias de vida), conforme preconizado pelo Manual de Vigilância do Óbito Infantil e Fetal (BRASIL, 2009). As causas de mortes infantis, em sua maioria, são classificadas evitáveis ou reduzíveis, total ou parcialmente, por ações efetivas e acessíveis dos serviços de saúde em um determinado local e período (MALTA et al., 2010). Obteve-se a codificação das causas de óbitos infantis indígenas, a partir dos critérios de evitabilidade, propostos mediante a utilização da Lista de Causas de Morte Evitáveis por Intervenções no Âmbito do Sistema Único de Saúde do Brasil (MALTA, 2010).
3 3 Realizou-se estudo epidemiológico descritivo dos óbitos infantis ocorridos na população indígena residente no estado de Mato Grosso do Sul, no período de 2005 a Utilizou-se como fonte de dados o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) e Sistema de informações de Nascidos Vivos (SINASC) no período do estudo. Os coeficientes de mortalidade infantil foram analisados por ano, já os componentes (neonatal precoce, neonatal tardio e pós-neonatal) e causas de evitabilidade agrupados em triênios ( , e ). RESULTADOS ALCANÇADOS Registraram-se 737 óbitos infantis indígenas no estado de Mato Grosso do Sul no período estudado. O Coeficiente de Mortalidade Infantil apresentou oscilação no período, passando de 57,1/1.000 nascidos vivos (NV) em 2005 para 46,7/1.000 NV em 2007 e 32,2/1000 NV em 2013 (Figura 1). Estudo realizado no Brasil evidenciou uma redução progressiva dos óbitos infantis, da ordem de 15,0% entre 1999 e 2002 (CARDOSO; SANTOS; COIMBRA, 2005). Figura 1 - Distribuição do coeficiente de mortalidade infantil, segundo raça/cor. Mato Grosso do Sul, 2005 a % ,0 42,9 46,7 43,8 37,1 31,8 30,3 33,9 32, Os óbitos infantis indígenas do componente neonatal precoce foram os que apresentaram aumento nos dois últimos triênios, passando de 69 casos (24,6%); 70 (29,4%) e 64 (29,2%). O componente pós-neonatal permaneceu elevado para todos os triênios estudados, variando de 65%, 53,4% a 57,1%, respectivamente (Tabela 1). Destaca-se que o acesso e a qualidade da atenção à saúde materno-infantil, aliadas ao
4 4 ambiente em que a criança cresce e interage, podem acarretar desnutrição e possíveis infecções e influenciar na ocorrência de óbitos (BRASIL, 2014). Tabela 1 Distribuição da mortalidade infantil indígena, segundo componentes, Mato Grosso Sul, 2005 a Componentes n % n % n % Neonatal precoce 69 24, , ,2 Neonatal tardio 29 10, , ,7 Pós-neonatal , , ,1 Total Fonte: DATASUS, A maior parte dos óbitos infantis indígenas foi considerada evitável para todos os triênios, sendo observada pequena redução nos percentuais, 80,7%, 78,2% e 71,2%, respectivamente. Constatou-se aumento dos óbitos infantis indígenas classificados como não claramente evitáveis, 17,2% no primeiro e 25,1% no último triênio. Observou-se ainda o aumento do número de óbitos por causa básica mal definida, passando de 2,1%, para 3,7% (Tabela 2). Tabela 2 - Distribuição da classificação de óbitos infantis indígenas a partir de critérios de evitabilidade. Mato Grosso do Sul, 2005 a Critérios de evitabilidade n % n % n % 1. Causas evitáveis , , ,2 2. Causas mal definidas 6 2,1 8 3,4 8 3,7 3. Demais causas (não claramente evitáveis) 48 17, , ,1 Total ( ) Fonte: DATASUS, 2016.
5 5 O estudo possibilitou evidenciar elevados coeficientes de mortalidade infantil indígena e de óbitos por causas evitáveis. Tais indicadores são elucidativos das desigualdades sociais e da fragilização da garantia do direito da saúde dos povos indígenas. REFERÊNCIAS BRASIL. Boletim epidemiológico:indicadores de Vigilância em Saúde, analisados segundo a variável raça/cor Secretaria de Vigilância em Saúde Ministério da Saúde, Brasília, v. 46, n. 10, BRASIL. RIPSA- Rede Interagencial de Informações para a Saúde. Indicadores básicos para a saúde no Brasil: conceitos e aplicações. 2ª ed. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; BRASIL. Saúde Brasil 2013: uma análise da situação de saúde e das doenças transmissíveis relacionadas à pobreza. Brasília: Secretaria de Vigilância em Saúde; CARDOSO, A.M; SANTOS R.V; COIMBRA C. E. A. Mortalidade infantil segundo raça/cor no Brasil: o que dizem os sistemas nacionais de informação? Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n.5, p , set-out FERREIRA; M.E; MATSUO V.T; SOUZA R, K. T. Aspectos demográficos e mortalidade de populações indígenas do Estado do Mato Grosso do Sul, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 27, n. 12, p , dez GASTAUD, A. L. G. S; HONER, M. R; CUNHA, R. V. Mortalidade infantil e evitabilidade em Mato Grosso do Sul, Brasil, 2000 a Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, v.24, n.(7), p , MALTA, D.C. et al., Atualização da Lista de causas de mortes evitáveis por intervenções do Sistema Único de Saúde do Brasil. Epidemiol. Serv. Saúde. Brasília, v. 19, n.(2), p , abr-jun 2010.
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