A Implantação do Prontuário Eletrônico do Paciente em Unidades do SUS

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1 1 A Implantação do Prontuário Eletrônico do Paciente em Unidades do SUS Carlos Alberto dos Reis Júnior 1, Denise Caluta Abranches 2 1. Graduado em Gestão de Ambientes Internet, Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, Brasil. 2. Professor Doutor. Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, São Paulo (SP), Brasil. Resumo Na pesquisa aqui apresentada, objetivou-se investigar, por meio de uma revisão narrativa da literatura buscando analisar, como está a implantação do Prontuário Eletrônico do Paciente em Unidades do SUS. Foram utilizadas as bases indexadas da LILACS, PUBMED e MEDLINE. Como critérios de inclusão foram selecionados artigos publicados no período de 2010 a As evidências coletadas indicam que os artigos focaram temas específicos sobre a implantação do PEP, mostrando aspectos voltados a qualidade do sistema a ser utilizado, a visão do profissional de enfermagem, a visão do médico e como a ferramenta pode apoiar a gestão e a tomada de decisão em uma unidade de saúde. Verificou-se que apesar do elevado número de unidades de saúde utilizarem o PEP, poucas são as publicações que tratam das experiências de implantação e uso do sistema. Introdução O Prontuário do Paciente pode ser definido como um conjunto de registros de informações sobre um paciente ou cidadão saudável, contendo todas as informações clínicas necessárias para garantir o atendimento. Com o aumento da complexidade das informações geradas no prontuário do paciente, necessitando cada vez mais de espaço para armazenamento e maior controle e padronização para as informações manuais, foi crescendo cada vez mais a necessidade de utilização de formas eletrônicas estruturadas para armazenar tais informações. O Institute of Medicine (1997) (1), define o prontuário eletrônico do paciente como um registro eletrônico que reside em um sistema especificamente projetado

2 2 para apoiar os usuários fornecendo acesso a um completo conjunto de dados corretos, alertas, sistemas de apoio à decisão e outros recursos, como links para bases de conhecimento médico. Segundo Massad et al. (2003) (2), o prontuário eletrônico é um meio físico, um repositório onde todas as informações de saúde, clínicas e administrativas, ao longo da vida de um indivíduo estão armazenadas, e muitos benefícios podem ser obtidos deste formato de armazenamento. Marin ainda destaca outros benefícios, tais como: acesso rápido aos problemas de saúde e intervenções atuais; acesso a conhecimento científico atualizado com consequente melhoria do processo de tomada de decisão; melhoria de efetividade do cuidado, o que por certo contribuiria para obtenção de melhores resultados dos tratamentos realizados e atendimento aos pacientes; possível redução de custos, com otimização dos recursos. Baseado nos avanços na utilização do PEP no mundo, foi elaborada a seguinte pergunta de pesquisa: Como está a implantação do Prontuário Eletrônico do Paciente em Unidades do SUS? A primeira iniciativa direta do Governo Federal para a implantação do PEP em unidades do SUS se deu através da Portaria nº (3), de 10 de julho de 2013 onde instituiu o Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB), com o início da implantação do e-sus Atenção Básica nos municípios. Segundo o Ministério da Saúde (4), das UBS em funcionamento em municípios, (106,98 milhões de pessoas) já têm o Prontuário Eletrônico, sendo que utilizam versões oferecidas gratuitamente pelo Ministério da Saúde, e softwares próprios e privados. Método Este estudo consiste de uma revisão narrativa da literatura buscando identificar, como está a implantação do Prontuário Eletrônico do Paciente em Unidades do SUS, utilizando as bases indexadas da LILACS e MEDLINE com os seguintes descritores: "Sistemas de Informação Hospitalar", "Informática Médica", "Metodologias Computacionais", "Sistemas Computadorizados de Registros

3 3 Médicos". Foram combinados com os descritores os termos: Prontuário Eletrônico, "PEP", "Registro Eletrônico" e "Sistemas de Informação". Como critérios de inclusão foram selecionados artigos publicados no período de 2010 a 2016, nos idiomas português, inglês ou espanhol e disponíveis na íntegra em meios eletrônicos. Dentro desse critério foram identificados 20 artigos. Os critérios de exclusão foram publicações que não tivessem uma relação direta no uso do Prontuário Eletrônico em unidades do Sistema Único de Saúde. Utilizando os critérios de exclusão foram selecionados 5 artigos científicos para desenvolvimento do estudo. Resultados Utilizando os critérios de exclusão foram selecionados 5 artigos científicos para desenvolvimento do estudo. Os artigos focaram temas específicos sobre a utilização do Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), mostrando aspectos voltados a qualidade do sistema a ser utilizado, a visão do profissional de enfermagem, a visão do médico e como o PEP pode apoiar a gestão e a tomada de decisão em uma unidade de saúde. Título do Artigo Objetivo Resultados Um modelo para avaliação de sistemas de informação do SUS de abrangência nacional: o processo de seleção e estruturação de indicadores. (5) Propor um modelo para avaliação de sistemas de informação em saúde que possa ser aplicado aos sistemas do SUS. Trata de um modelo para avaliação de sistemas de informação do SUS, onde identificaram 66 indicadores com base em atributos de qualidade da norma ISSO/IEC Esses indicadores foram estruturados em 5 dimensões: qualidade do sistema, qualidade da informação, qualidade dos serviços, utilização e satisfação dos usuários. Com base nesses indicadores foi possível formular questionários e procedimentos de inspeção para aferir a qualidade de um sistema de informação em saúde no âmbito do SUS. O uso do prontuário eletrônico por enfermeiros em Unidades Básicas de Saúde brasileiras. (6) Identificar a percepção de enfermeiros acerca da utilização do Prontuário Eletrônico (PE), na sua prática profissional em unidades de saúde de um município de grande porte do Sul do Brasil. Entre as categorias identificadas encontram-se: tecnologia e capacidade de suporte; instrumento de trabalho do enfermeiro; ferramenta de acesso à informação e segurança de dados. Enfermeiros relataram que optam por não utilizar uma ferramenta de PEP em caso de lentidão no sistema para priorizar as ações finalísticas da assistência. Outra questão apontada foi a falta de treinamento adequado, onde o profissional de TI dava apenas noções básicas sobre o uso do PEP. Segundo os enfermeiros o uso do PEP é essencial para planejamento e tomada de decisão. Informaram ter informações paralelas ao PEP para complementar as informações já compiladas para facilitar o acesso.

4 4 O prontuário eletrônico do paciente no sistema de saúde brasileiro: uma realidade para os médicos? (7) Conceituar o PEP, discutir suas vantagens e desvantagens, a importância da sua implementação nos serviços médico hospitalares, os aspectos éticos envolvidos e os desafios para uso desse recurso pelos médicos, de modo a subsidiar a tomada de decisão sobre o uso ou não dos prontuários eletronicos na prática médica. Foram destacadas vantagens no uso do PEP na saúde pública em todas as esferas, podendo apoiar políticas públicas e regular as demandas entre os níveis de atenção. Um aspecto importante destacado pelo autor foram os aspectos éticos e legais envolvidos no uso do PEP, onde cita a Resolução 1.821/2007, do Conselho Federal de Medicina (CFM), que trata do tempo de retenção dos registros do PEP e dos Níveis de Garantia de segurança (NGS2) do Manual de Certificação de Sistemas de Registro Eletrônico em Saúde, elaborado pela Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS) em parceria com o CFM. A utilização do prontuário eletrônico do paciente por médicos do Hospital Municipal Dr. Munir Rafful: um estudo de caso. (8) Adoção de prontuário eletrônico do paciente em hospitais universitários de Brasil e Espanha. A percepção de profissionais de saúde. (9) Caracterizar a utilização do Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) no Hospital Municipal Dr. Munir Rafful, na cidade de Volta Redonda. Descrever a percepção de profissionais de saúde a respeito do prontuário eletrônico do paciente na gestão de hospitais e o impacto dessa tecnologia no trabalho. A maior parte dos entrevistados utiliza o Prontuário Eletrônico do Paciente (70%), sendo a maioria em hospitais ou consultórios particulares. As principais vantagens no uso do PEP na opinião dos médicos, foi a facilidade de leitura (67%) e a captura automática de dados as principais vantagens. Como desvantagens principais foram citadas falhas nos sistemas (78%) e quantidade insuficiente de computadores. Os resultados mostraram que o PEP é uma ferramenta tecnológica de inovação que contribui com a eficiência da gestão hospitalar, padronizando rotinas de trabalho, minimizando erros de prescrição ou ainda evitando a duplicação de tarefas. Com relação ao controle de recursos, concluiu-se que o emprego do PEP trouxe economia financeira, otimização no planejamento e utilização de recursos financeiros para a gestão hospitalar e assistencial. Em relação ao controle de informações é citada a melhoria na gestão do fluxo de informação e comunicação na gestão hospitalar e melhoria na segurança da informação em relação ao uso do prontuário impresso, além de evitar erros de prescrição de medicamentos e materiais. Os respondentes com maior domínio de informática concordam mais do que aqueles com menor domínio a respeito do impacto desse prontuário no respectivo desempenho; há diferenças estatisticamente significativas nas médias de percepção do papel desse prontuário no desempenho quando considerado o tempo de serviço e o hospital (ou o país) onde o participante da pesquisa trabalha.

5 5 Discussão A pesquisa sobre a implantação do PEP no âmbito do SUS foi observada sob alguns eixos essenciais: qualidade do sistema por meio de indicadores e regulações, visão do profissional de enfermagem, visão do profissional médico e a visão da gestão para apoio na tomada de decisão. Enfermeiros e médicos concordam que a lentidão no sistema e falta de infraestrutura básica, como computadores adequados, são fatores impeditivos para utilização de um sistema de PEP. Esta afirmação é confirmada por Bezerra (2009) (10), que cita como desvantagem a necessidade de grandes investimentos de hardware, software e treinamento, podendo falhas que podem deixar o sistema inoperante. Outra questão observada foi a utilização de planilhas como sistema paralelo ao PEP para geração de informações gerenciais. Diante disso pode-se perceber que o sistema de PEP ofertado não previu de forma eficiente a inserção de ferramentas de análise e mineração de dados para apoio a tomada de decisão. Pode-se perceber que não houve resistência por parte de médicos e enfermeiros nos estudos selecionados, onde, ao contrário, se mostraram receptivos às novas tecnologias e perceberam vantagens em sua utilização. Conclusões Este estudo teve como objetivo analisar como está a implementação do PEP em unidades do SUS. Inicialmente foram observados que apesar da quantidade de sistemas de PEP já implantados em todo o Brasil no âmbito do SUS, poucos foram os trabalhos acadêmicos relatando as experiências de implementação nesse sentido. Nesse contexto, faz-se necessário a realização de pesquisa mais ampla, principalmente de entrevistas semi-estruturadas, buscando entender as dificuldades de forma regional e por porte de cada unidade de saúde. Para responder à questão de pesquisa, elaboraram-se quatro visões para a implantação de um sistema de PEP: qualidade do sistema baseado em indicadores, visão da enfermagem, visão do médico e visão da gestão. De maneira resumida, conclui-se que se faz necessário um sistema de PEP adequado aos requisitos mínimos de qualidade, infraestrutura básica como uso de

6 6 computadores adequados, rede de comunicação suficiente para garantir o trafego de dados de forma eficiente, treinamento adequado para todos os usuários do sistema e a garantia de segurança e disponibilidade dos dados dos pacientes. Referências 1. Institute of Medicine. The computer-based patient record: an essential technology for health care. Revised. Division of Health Care Services, Institute of Medicine. National Academy of Science. Washington, DC, USA, MASSAD, E.; MARIN, H.F.; AZEVEDO NETO, R.S. (eds). O prontuário eletrônico do paciente na assistência, informação e conhecimento médico BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.412, de 10 de julho de BRASIL. Ministério da Saúde. Portal da Saúde. Disponível em: 5. Morais, R. M., Costa, A. L. Um modelo para avaliação de sistemas de informação do SUS de abrangência nacional: o processo de seleção e estruturação de indicadores. Rev. Adm. Pública [online]. 2014, vol.48, n.3, pp Godoy, J. S. M. et al. O uso do prontuário eletrônico por enfermeiros em Unidades Básicas de Saúde brasileiras. J. Health Inform. v. 4, n.1, p. 3-9, jan./mar Patrício, C. M. et al. O prontuário eletrônico do paciente no sistema de saúde brasileiro: uma realidade para os médicos? Scientia Medica, Porto Alegre, v.21, n.3, p , Namorato L. et al. A utilização do prontuário eletrônico do paciente por médicos do Hospital Municipal Dr. Munir Rafful: um estudo de caso. J Health Inform 2013;5(2): Farias, J. S.; Guimaraes, T. A.; Vargas, E. R.; Albuquerque, P. H. M. Adoção de prontuário eletrônico do paciente em hospitais universitários de Brasil e Espanha: a percepção de profissionais de saúde. Rev. Adm. Pública [online]. 2011, vol.45, n.5, pp Bezerra S. M. Prontuário eletrônico do paciente: uma ferramenta para aprimorar a qualidade dos serviços de saúde. Rev Meta: Avaliação. 2009;1(1):73-82.