Uso da informática para a prática da Sistematização da Assistência de Enfermagem
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1 Uso da informática para a prática da Sistematização da Assistência de Enfermagem Rosane Barreto Cardoso 1, Henrique Tomaz do Amaral Silva 2 1. Mestre em Ensino em Ciências da Saúde, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Enfermeira de Desenvolvimento Operacional e Administrativo Hospital Unimed Rio/ Rio de Janeiro, Brasil. 2. Bacharel em Informática Biomédica pela Universidade de São Paulo (2007), Mestre e Doutor em Ciências na área de Neuroimagens pelo Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (2010 e 2014). Resumo A informática tem sido utilizada para aperfeiçoar os registros clínicos em saúde, e também no apoio ao desenvolvimento da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE). O objetivo deste estudo foi descrever as principais contribuições do uso da informática para a prática da SAE. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica do tipo revisão de literatura. Os artigos foram selecionados na base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde. Para localização dos artigos foi utilizada a expressão de busca (tw:(prontuário eletrônico)) or (tw:(sistemas computadorizados de registros médicos)) and (tw:(processo de enfermagem)) or (tw:(registros de enfermagem)). A partir do enfoque da implementação da SAE em instituições de saúde foram selecionados 6 artigos para análise. Os estudos demostraram que o uso do computador viabiliza a implementação do processo de enfermagem e consequentemente o gerenciamento do cuidado. Descritores: Prontuário eletrônico; Sistemas computadorizados de registros médicos; Registros de enfermagem; Processos de Enfermagem. Introdução A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é uma metodologia que viabiliza o processo de enfermagem na prática em saúde, por meio da organização dos métodos de trabalho e da sistematização do cuidado (1,2). A SAE é uma ferramenta do processo de trabalho dos enfermeiros, imprescindível para cuidado seguro de qualidade aos pacientes (1). Sendo
2 fundamental para que o exercício profissional seja visto pela sociedade como arte do cuidar deslocando-a para ciência que dispõe de uma metodologia própria através de seu saber técnico. A SAE começou a ser implementada de uma maneira geral nas instituições de saúde a partir de 2000, por exigências do Conselho Federal de Enfermagem sendo regulamentada pela Resolução nº 272/2002. A implementação de sistemas de informação em hospitais iniciou na década de 50, sendo uma tendência mundial. Na atualidade o uso da informática tem sido empregada no intuito de aperfeiçoar os registros clínicos em saúde e apoiar o desenvolvimento da SAE (3). A introdução da informática no ambiente hospitalar tem contribuído no aperfeiçoamento da documentação dos dados do paciente, eliminando redundâncias e garantindo maior segurança aos registros, assim como o acesso à informação e da comunicação entre a equipe de saúde, favorecendo a tomada de decisão (3,4). Nesta perspectiva surgiu uma questão norteadora: Quais as contribuições do uso da informática para a prática da Sistematização da Assistência de Enfermagem? Ao considerar esse contexto, esse estudo teve por objetivo descrever as principais contribuições do uso da informática para a prática da Sistematização da Assistência de Enfermagem. Método Trata-se de uma pesquisa bibliográfica do tipo revisão de literatura. Foi realizada a pesquisa bibliográfica na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Para localização dos artigos foi utilizada a expressão de busca (tw:(prontuário eletrônico)) or (tw:(sistemas computadorizados de registros médicos)) and (tw:(processo de enfermagem)) or (tw:(registros de enfermagem)). Foram aplicados os seguintes critérios de inclusão: artigos originais referentes a temática, publicados entre 2000 a 2016, e escritos no idioma em português. Os critérios de exclusão dos artigos foram: exclusão de teses, dissertações e monografias, tendo em vista o tempo de realização pesquisa. Foram selecionados apenas estudos brasileiros, pois, justifica-se pela necessidade de traçar um panorama sobre a produção do conhecimento acerca do uso da informática para a prática da SAE em instituições brasileiras.
3 Resultados e Discussões A partir das estratégias de busca foram localizadas 73 publicações. Após a leitura dos títulos, foram selecionados 23 estudos, procedeu-se com a leitura dos resumos na procura de artigos com aproximação com a temática, sendo selecionados 6 artigos para a extração dos dados e avaliação crítica. Ver tabela 1. Tabela 1 Artigos localizados na base de dados BVS sobre o uso de sistemas informatizados na implentação da SAE. Título do Artigo/Referência Prontuário eletrônico do paciente: Avaliação de usabilidade pela equipe de Enfermagem (5) Objetivo Avaliar a usabilidade e as dificuldades encontradas por 99 profissionais de enfermagem no manuseio de prontuário eletrônico do paciente. Resultados/Contribuições O PEP apresentou-se positivamente quanto à adequação à tarefa, conformidade com a expectativa do usuário e tolerância ao erro. Os pontos negativos apontados: falta de profissionais treinados para uso do adequado do PEP. Contribuição da documentação eletrônica de enfermagem para aferição dos custos dos cuidados de higiene corporal (6) Mensuração do tempo dos registros manual e eletrônico da Sistematização da Assistência de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva (7) Percepção de enfermeiros em relação à implementação da informatização da documentação clínica de enfermagem (8) O uso do prontuário eletrônico por enfermeiros em Unidades Básicas de Saúde brasileiras (9) Concepção, desenvolvimento e aplicação do sistema de registros clínicos de enfermagem PRINCE (10) Identificar os diagnósticos/resultados/inter venções mais frequentes, relacionados às necessidades de higiene corporal (HC), selecionados em um sistema eletrônico na admissão de pacientes com alta dependência de enfermagem. Mensurar o tempo do registro manual e eletrônico da SAE. Compreender a percepção dos enfermeiros referente às estratégias desenvolvidas para o teste piloto do sistema eletrônico PROCEnf-USP. Identificar a percepção de enfermeiros acerca da utilização do Prontuário Eletrônico, na sua prática profissional em unidades de saúde. Relatar o desenvolvimento e aplicação de um sistema de registro clínico de Enfermagem em um centro de Dia para idosos A documentação eletrônica fundamentou a aferição do custo médio total direto de atividades de HC, subsidiando os enfermeiros no gerenciamento de custos. Os resultados deste estudo mostraram que embora o enfermeiro tenha gasto mais tempo com o registro eletrônico de determinadas tarefas da SAE, a qualidade da informação foi melhor. O sistema proporciona alguns benefícios aos usuários, tais como melhorar o tempo gasto em documentar as informações do paciente, eliminar as redundâncias, melhorar o tempo de comunicação entre a equipe e otimizar o acesso à informação. O sistema viabilizou a riqueza em dados sobre a saúde da população, sendo um recurso indispensável para a realização do processo de enfermagem e o planejamento de ações em saúde. Entretanto, as diferenças entre o fluxo de atendimento modelado no sistema e o fluxo de atendimento real, bem como a lentidão do sistema foram apontados como fatores dificultadores do processo de trabalho do enfermeiro. O sistema contribuiu para a uniformização da estrutura dos registros, possibilitando um acesso mais rápido e uma interpretação mais fidedigna, assim como segurança do cuido prestado.
4 Observou-se que o período de publicação dos artigos foi entre os anos de 2011 e Destes artigos, um (17%) foi publicado em 2011, quatro (66%) em 2012 e um (17%) em Nota-se que 66,6% (quatro) dos artigos foram publicados na Journal of Health Informatics, a revista oficial da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde, que oferece um meio internacional de disseminação de resultados originais de pesquisa e revisões interpretativas concernentes ao campo da informática em saúde. Observa-se uma evolução do volume de publicações relacionadas a temática após o ano de 2010, que coincide com a publicação da Resolução nº 358 de 2009, do conselho federal de enfermagem (11), que dispõe sobre a aplicação da SAE e a implementação do processo de enfermagem em todos os ambientes em que ocorre o cuidado profissional de enfermagem, e a Resolução nº de 2007, do conselho federal de medicina (12), que aprova as normas técnicas relativas a digitalização e uso dos sistemas informatizados para guarda e manuseio dos documentos dos prontuários dos pacientes. Com o crescente avanço do Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) nas instituições de saúde, muitos processos foram reformulados, imponto novas exigências para o cuidado em saúde. Para o enfermeiro a informatização viabilizou a implementação do processo de gerenciamento do cuidado, por facilitar a documentação dos dados do paciente, garantindo segurança dos registros e comunicação efetiva, contribuindo para tomada de decisão (5, 6, 7,8,13). Os artigos permitiram identificar as contribuições do uso da informática para a prática da SAE, como: redução de erros em registros do paciente (5,7,8,10) ; uso de linguagem padronizada (5,7,8,9,10), favorecendo a qualidade da informação registrada (7,8,9,10) ; melhora da comunicação entre os membros da equipe de saúde (8) ; otimização do acesso de informações do paciente (7,8,9,10) ; segurança do cuidado (7,8,10) ; e subsídios para o gerenciamento de custos (6). Entretanto os estudos também apontaram algumas fragilidades do uso do computador para SAE, como: falta de sistemas computacionais que retratem as necessidades de registros específicos de enfermagem (9) ; lentidão/erros do sistema (5,9) ; e necessidade de profissionais capacitados para o uso dos sistemas (5). Conforme Marin (13) o computador é um instrumento que pode facilitar as atividades desenvolvidas pelos enfermeiros, mas é necessária a capacitação profissional para o uso e aproveitamento desse recurso. Pois, os sistemas de
5 informação hospitalar possibilitam a organização, armazenamento, processamento, recuperação e comunicação do cuidado. Compreende-se nas publicações o crescente interesse dos enfermeiros na utilização da informática para adequação do processo de enfermagem. Entretanto, cabe ressaltar que ainda é necessário mais envolvimento dos enfermeiros no desenvolvimento de sistemas de registro hospitalar. Pois, a maioria dos prontuários eletrônicos encontrados em nosso país, ainda são omissos a elementos específicos para apoio e descrição das ações de enfermagem. A informatização da SAE exige que o enfermeiro domine conhecimentos e habilidades inespecíficas à sua área para que seja capaz de realizar seu processo de trabalho, como a informática. Para implantação de sistemas informatizados sem dúvidas são necessários o planejamento, a remodelação dos processos de trabalho e elaboração de plano de treinamentos contínuos para os profissionais que irão utilizar o recurso Conclusões Os estudos analisados nesta revisão demostraram que o uso da informática viabiliza a implementação da SAE nas instituições de saúde, alicerçando a prática assistencial do enfermeiro. Foi evidenciado nos artigos que a introdução da informática na área da saúde poderá auxiliar a equipe de enfermagem na organização da informação, na comunicação interprofissional, e na segurança e gerenciamento do cuidado. Contudo, é preciso que o enfermeiro compreenda o potencial do computador como um instrumento a ser utilizado em prol a profissão, bem como possam ajudar no desenvolvimento deste recurso na aplicação a enfermagem e saúde. Referências 1. Backes DS, Schwartz E. Implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem: desafios e conquistas do ponto de vista gerencial. Ciênc. cuid. saúde 2005; 4(2): BRASIL. Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução COFEN-272 de 27 de agosto de Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem SAE nas Instituições de Saúde Brasileiras. Rio de Janeiro: COFEN; Marin HF, Cunha ICKO. Perspectivas atuais em Informática em Enfermagem. Rev. Bras. Enferm. [Internet] 2006; 59(3): Disponível em:
6 4. Castilho NC, Ribeiro PC, Chirelli MQ. A implementação da sistematização da assistência de enfermagem no serviço de saúde hospitalar do Brasil. Texto contexto Enferm. 2009;18(2): Carvalho DR, Lahm JV. Prontuário eletrônico do paciente: Avaliação de usabilidade pela equipe de Enfermagem. Cogitare enferm [Internet] 2015; 20(1): Disponível em: 6. Lima AFC, Fugulin FMT, Castilho V, Nomura FH, Gaidzinski RR. Contribuição da documentação eletrônica de enfermagem para aferição dos custos dos cuidados de higiene corporal. J. health inform [Internet] 2012; 4(Especial - Parte I): Disponível em: 7. Silva VCG, Betta CA, Nishio EA, Barsotini CNG, Wainer J. Mensuração do tempo dos registros manual e eletrônico da Sistematização da Assistência de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva. J. health inform [Internet] 2012; 4(2): Disponível em: 8. Lima AFC, Melo TO. Percepção de enfermeiros em relação à implementação da informatização da documentação clínica de enfermagem. Rev Esc Enferm USP [Internet] 2012; 46(1): Disponível em: 9. Godoi JSM, Gonçalves LS, Peres AM, Wolff LDG. O uso do prontuário eletrônico por enfermeiros em Unidades Básicas de Saúde brasileiras. J. Health Inform [Internet] 2012; 4(1): 3-9. Disponível em: Pinto N. Concepção, desenvolvimento e aplicação do sistema de registros clínicos de enfermagem PRINCE. J. Health Inform. [Internet] 2011; 3(4): Disponível em: Brasil. Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução COFEN-358/2009, de 15 de outubro de 2009: dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem. Brasília (DF); Brasil. Conselho Federal de Medicina (CFM). Resolução CFM Nº 1.821/2007. Define prontuário médico e torna obrigatória a criação da Comissão de Prontuário nas instituições de saúde. Brasília: Diário Oficial da União de 09 de agosto de Marin HF. Nursing informatics: Current issues around the world. International Journal of Medical Informatics. 2005;74(12):57-60.
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