RELAÇÕES INTERGERACIONAIS NO ESTÁGIO - SUPERVISIONADO: A ESCOLA COMO ESPAÇO DE FORMAÇÃO PRÉ - PROFISSIONAL.
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- Teresa Martins Aquino
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1 RELAÇÕES INTERGERACIONAIS NO ESTÁGIO - SUPERVISIONADO: A ESCOLA COMO ESPAÇO DE FORMAÇÃO PRÉ - PROFISSIONAL. Trabalho vinculado ao Projeto Temático da FAPESP nº 2008/ , bem como o Projeto de Pesquisa apoiado pelo CNPq nº / Michelle Cristina Bueno Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Câmpus de Rio Claro/SP Resumo: Este trabalho refere-se a uma pesquisa de mestrado em educação que estuda o estágio curricular supervisionado, enquanto espaço de formação pré-profissional docente. A investigação focaliza aspectos, ideais, valores, experiências e vivências que estão presentes nas relações estabelecidas entre graduandos - estudantes do terceiro ano de um curso de Licenciatura em Pedagogia - e professores que atuam em escolas municipais e que os recebem em suas classes do ensino fundamental. A partir do estudo, pretende-se identificar conteúdos formativos presentes na aproximação e nas interações estabelecidas entre essas duas gerações profissionais: a dos professores já em exercício e a dos estudantes universitários que pretendem se profissionalizar no magistério. A pesquisa será realizada sob uma perspectiva qualitativa priorizando os significados atribuídos pelos sujeitos às suas ações e interações. Para a realização do trabalho de campo, foram escolhidas duas duplas intergeracionais, cada uma composta por uma professora dos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano) com aproximadamente vinte e cinco anos de carreira (HUBERMAN, 2000) e uma estagiária, estudante do terceiro ano de Licenciatura em Pedagogia. A coleta de dados está sendo realizada por meio de filmagens em sala de aula, incidindo sobre as interações que professora e estagiária estabelecem durante a ação pedagógica e, também, por meio de sessões de autoconfrontação (simples e cruzadas) que reúnem professora e estagiária diante das filmagens efetivadas. Os dados reunidos por meio de tais entrevistas de autoconfrontação serão analisados no que se refere ao seu conteúdo (BARDIN, 1977). Palavras - Chave: estágio supervisionado; relações interegeracionais; análise de práticas. Estágio supervisionado e relações intergeracionais no magistério Este trabalho se refere a uma pesquisa de mestrado em educação que focaliza processos presentes na formação inicial docente, mais especificamente no que tange ao estágio supervisionado de prática de ensino. A coleta de dados da investigação vem ocorrendo e seguirá ao longo do primeiro semestre de Dessa forma, o presente texto apresenta resultados ainda preliminares, relativos à revisão bibliográfica realizada para a pesquisa
2 2 A partir de levantamentos realizados sobre o tema estágio é possível identificar que este tem sido reconhecido na literatura da área como um momento de préprofissionalização docente. Pesquisas realizadas por Bueno (2007), Pimenta e Lima (2010), Tardif (2010), entre outros, reconhecem o estágio como espaço potente para a formação docente, que possibilita o contato do estagiário com o dia-a-dia da profissão e o estabelecimento de uma relação dialética entre a teoria e a prática. Lima e Pimenta (2010) ressaltam que o estágio é um momento indispensável na construção profissional docente, da identidade do professor, dos saberes e das posturas relativas à docência. Durante as atividades de estágio, professores experientes no magistério e estagiários se encontram, convivem na escola e partilham aspectos relativos à docência. Portanto, o estágio pode ser considerado como um fator essencial para a formação profissional inicial, posto que configura-se como um locus de relações intergeracionais que ocorrem entre professores já experientes no magistério e estudantes que pretendem ingressar na carreira docente. Nesse sentido, Sarti (2009) enfatiza que o encontro entre diferentes gerações docentes pode influenciar significativamente os modos de agir e de pensar dos sujeitos envolvidos, seus valores, compromissos, opções e desejos ligados ao magistério. O estágio possibilita uma primeira exploração da docência (HUBERMAN, 2000), marcada por descobertas e impasses importantes que farão parte da construção de uma identidade profissional, a partir das ações (práticas) vivenciadas e experiências no cotidiano, no contato com a cultura escolar e a teoria estudada. É importante ressaltar que o estágio, para revelar seu potencial formativo, deve ser acompanhado por um profissional já experiente, que apresenta ao estagiário um ponto de vista propriamente docente (SARTI, 2009, p. 146), vinculado a sua cultura profissional. Portanto, o professor que recebe o estagiário em sua classe é quem fará uma mediação nessa primeira inserção dos mesmos na docência. Pressupõe-se que o estabelecimento dessa relação intergeracional poderá influenciar na construção gradativa de uma profissionalidade docente por parte do estagiário, dia após dia, durante os momentos de exploração do ofício, através das aberturas, diálogos e trocas nas com os professores experientes (SARTI, 2009). Imbernón (2011) identifica que é possível pensar em consolidação do conhecimento profissional, a partir do equilíbrio entre os esquemas práticos e os esquemas teóricos (p.72) quando a produção deste ocorre em situação real com análises, reflexões e intervenções das situações, assim as tornando aprendizagens sobre 06102
3 3 o concreto, ou seja, sobre as situações reais de ensino, possibilitando o estágio um espaço de formação em um contexto educativo determinado e específico ( p.70). Para ele, Quando se relaciona o conhecimento profissional ao elemento contexto educativo, as características daquele se enriquecem com infinidades de matrizes que não era possível antecipar em um contexto ideal ou simulado. É um contexto específico que o conhecimento profissional se converte em um conhecimento experimentado por meio da prática, ou seja, o trabalho, intervendo nos diversos quadros educativos e sociais em que se produz a docência (IMBERNÓN, 2011, p.70, grifo nosso). O autor aponta que é na prática que se constrói o saber profissional, pois é durante a ação, na relação e interação com os sujeitos, que é possível estabelecer relação entre os saberes teóricos (universidade) e os saberes práticos (escola), refletir sobre cada ação e atribuir sentidos, É no cenário profissional que se aplicam as regras da prática, em que o conhecimento profissional imaginário, intuitivo ou formal se torna real e explícito. Essa realidade é fundamental na geração de conhecimento pedagógico e, como se dá em um cenário completo, as situações problemáticas que surgem nele não são apenas instrumentais, já que obrigam o profissional da educação a elaborar e construir o sentido de cada situação (Schön, 1992, 1998), muitas vezes única e irrepetível (IMBERNÓN, 2011, p.71, grifo nosso). No entanto, tal como ressaltam Altet (2000), Pastré, Mayen e Vergnaud (2006) e diversos outros autores, o teor formativo dessa aproximação com as situações de ensino requer a presença de um profissional experiente que intervenha nas ações dos estagiários para lhes auxiliar nesse processo de construção do sentido sobre a ação, proporcionando com isso a construção de um olhar profissional. Pierre Pastré, Patrick Mayen e Gérard Vergnaud (2006) destacam as diferenças que marcam o modo como profissionais experientes e iniciantes percebem as mesmas situações profissionais. Para eles, enquanto os iniciantes em aproximam-se dessas situações a partir de uma perspectiva mais cognitiva, baseada em conhecimentos predicativos mais gerais, profissionais experientes o fazem por meio de uma perspectiva operativa, priorizando as informações que permitam uma melhor adaptação da ação em busca de sua pertinência. Para tanto, esses profissionais experientes valem-se de suas experiências anteriores relativas ao trabalho, ou seja, esquemas construídos em outras situações vivenciadas ao longo da carreira. Estágio supervisionado: que conteúdos? que possibilidades? 06103
4 4 As pesquisas que vem sendo desenvolvidas sobre o estágio supervisionado apontam para sua importância como momento de pré-profissionalização. Nesse sentido, cabe questionar: que conteúdos formativos compõem as relações envolvidas entre os sujeitos na situação de estágio? Que dispositivos poderiam potencializar tais interações estabelecidas entre duas gerações profissionais? No caso específico da formação docente, é urgente criar condições para que os professores das escolas atuem mais efetivamente no "acompanhamento" (Sarti, 2013) desses estagiários. Faz-se necessário que os mesmos saibam como intervir junto aos estagiários favorecendo-lhes a elaboração de conhecimentos mais específicos sobre a situação de ensino. Essa intervenção requer que o próprio professor estabeleça uma relação reflexiva e analítica com seu trabalho (Altet, 2000). Dispositivos de formação que possibilitem aos professores (e futuros professores) uma autoconfrontação com suas ações pode proporcionar-lhes momentos de intensa reflexão sobre sua própria prática (CLOT, 2010; MACHADO et. al., 2012), posto que possibilitam identificar aspectos de suas ações que, no cotidiano e no calor do trabalho docente, não costumam ser percebidas e refletidas. Para o estágio, o emprego de tais dispositivos pode estimular o estabelecimento de relações formativas mais intensas e profícuas entre professores e estagiários. REFERÊNCIAS ALTET, M. L'ANALYSE DE PRATIOUES: Une démarche de formation professionnalisante?. Recherche et formation, Paris, n. 35, p , BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: 70, BUENO, L. A construção de representações sobre o trabalho docente: o papel do estágio. São Paulo: [s.n.], CLOT, Yves. A psicologia do trabalho na França e a perspectiva da clínica da atividade. Fractal, Rev. Psicol., Rio de Janeiro, v. 22, n. 1, abr Disponível 06104
5 5 em:< acessos em 04 nov HUBERMAN, M. O ciclo de vida profissional. In: NÓVOA, A. (Org.) Vida de professores. Porto: Porto Editora, 2000 [1992]. IMBERNÓN, F. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. São Paulo: Cortez, MACHADO, V.C et. al. Contribuições da autoconfrontação para o estudo da atividade docente. Disponível em: < Acesso em 04 de nov. de PASTRÉ, Pierre; MAYEN, Patrick; VERGNAUD, Gérard. La didactique professionnelle. Revue française de pédagogie, n. 154, p , PIMENTA, G. S.; LIMA, M. Estágio e Docência. Cortez: São Paulo, SARTI, Flávia Medeiros. Parceria intergeracional e formação docente. Educ. rev., Belo Horizonte, v. 25, n. 2, ago Disponível em < Acesso em 04 Fev SARTI, Flavia Medeiros. Pelos caminhos da universitarização: reflexões a partir da masterização dos IUFM franceses. Educ. rev., Belo Horizonte, v.29, n.4, Dec Disponível em < Acesso em 16 Mai TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Rio de Janeiro: Vozes,
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