Programa de Aperfeiçoamento de Ensino na formação docente: Relato de experiência
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1 Programa de Aperfeiçoamento de Ensino na formação docente: Relato de experiência Autores Iara Falleiros Braga Andréa Cristina Mariano Yoshinaga Flávia Carvalho Malta de Mello Marta Angélica Iossi Silva Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP Eixo 4: Ciências da Saúde RESUMO O Programa de Aperfeiçoamento de Ensino visa a capacitação pedagógica de pósgraduandos, através do engajamento em atividades educativas nos cursos de graduação da Universidade e assim, estimular indagações e relações entre questões da pesquisa com a prática da formação profissional. O presente trabalho objetiva refletir acerca da formação docente e a experiência de alunos matriculados no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Saúde Pública, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo sobre o Programa de Aperfeiçoamento de Ensino no curso de Bacharelado e Licenciatura em Enfermagem da referida escola. Em especial, apresentar a experiência de pós-graduandas no desenvolvimento das atividades de estágio docente numa disciplina do curso. Esta experiência torna-se importante, pois oferece ao pós-graduando uma visão da prática em docência, uma vez que um dos objetivos do curso de pós-graduação acadêmico é formar profissionais qualificados para a docência. Conclui-se que as atividades desenvolvidas pelas pós-graduandas junto ao supervisor permitiram identificar as características da turma além de aprimorar os pontos identificados para o melhor aproveitamento dos alunos, uma vez que estes momentos não se restringem ao caráter meramente administrativo, mas também a aspectos pedagógicos e ideológicos sobre o fazer docente. INTRODUÇÃO O Estágio de Docência foi estabelecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) em 1999, desencadeando nas instituições que oferecem programas de mestrado e doutorado normas para sua operacionalização. Esta prática é uma atividade curricular para estudantes de cursos de pós-graduação stricto sensu
2 os quais também devem atender a prerrogativa do desenvolvimento científico-tecnológico, assim como ao preparo para a docência. (CHAMLIAM, 2003). A normatização da atividade de estágio de docência está contida na Portaria n.º 76, de 14 de abril de 2010, instituindo que o mestrando ou doutorando seja inserido em atividades de ensino sob a supervisão do professor orientador (CAPES, 2002). Desta forma, o estágio de docência é uma etapa fundamental na formação do pósgraduando, objetivando a preparação para a docência. A Universidade de São Paulo em reconhecimento a esses pontos tem buscado integrar questões de pesquisa e ensino estimulando experiências por meio do Programa de Aperfeiçoamento de Ensino (PAE). Instituído pela Portaria GR 3347, de 09 de Fevereiro de 1995 e regulamentado pela Portaria GR 3588, de 10 de Maio de 2005, suas diretrizes objetivam aprimorar a formação do pós-graduando para atividade didática de graduação atendendo uma das orientações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a atual LDB (Lei 9394/96) ao preconizar ser a experiência docente um pré-requisito para o exercício profissional das funções de magistério (BRASIL, 1996). Dessa forma, objetivou-se com esse trabalho, apresentar a experiência de pósgraduandas no desenvolvimento de suas atividades de estágio docente em uma disciplina do Curso de Bacharelado e Licenciatura em Enfermagem da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP) abordando aspectos da construção do conhecimento para a prática docente e contribuindo para a construção de saberes essenciais na atuação docente. DESENVOLVIMENTO O estágio docente desenvolvido consiste em duas etapas, a primeira refere-se a uma Preparação Pedagógica por meio de uma disciplina de pós-graduação com duração de um semestre cujo conteúdo é voltado para as questões da Universidade e do Ensino Superior. A Preparação Pedagógica possibilita ao pós-graduando construir e ressignificar conhecimentos a cerca do ensino superior brasileiro, além de proporcionar o contato com metodologias inovadoras que atendem as necessidades do ensino universitário e instiga o aluno a desenvolver a postura crítica-reflexiva para a docência em enfermagem. A segunda etapa do PAE, composta pelo Estágio Supervisionado em Docência, é realizada em uma disciplina do curso, de escolha conjunta do aluno e supervisor. Neste caso, o estágio foi desenvolvido junto à Promoção da Saúde na Educação Básica. Essa disciplina objetiva iniciar os estudantes no desenvolvimento de atributos (conhecimentos, habilidades e atitudes) para a realização de ações educativas voltadas à promoção da
3 saúde em escolas de educação básica. Os referenciais teóricos utilizados focalizam temas relacionados às políticas de saúde e educação, a promoção e o cuidado da saúde, bem como estimulam o planejamento de ações e habilidades metodológicas de ensino. Embasada na metodologia ativa o desenvolvimento da disciplina exige constantes reflexões e trocas entre professor e aluno (supervisor e pós-graduando), compreendendo cinco etapas propostas no ciclo pedagógico: imersão, síntese provisória, busca, nova síntese e avaliação, com abertura de espaços para processos reflexivos e para a construção da autonomia responsável pelo estudante. Sendo assim, o Estágio Supervisionado em Docência realizado pelas pósgraduandas compreendeu as seguintes atividades: participação nas reuniões para o planejamento, acompanhamento das disciplinas, aulas; participação em imersões (o momento no qual o estudante é inserido na escola, entrando em contato com a realidade, identificando a realidade e as possibilidades de atuação), sínteses provisórias (o estudante discute os problemas vividos na prática, a partir de relatos escritos individuais, com a intenção de elaborar questões de aprendizagem), e novas sínteses (os alunos compartilham a busca de conhecimentos, construindo uma resposta coletiva à questão de aprendizagem, articulando-a com a prática profissional) realizadas em pequenos grupos e posteriormente discutidas com o grupo toda em sala de aula; levantamento de material bibliográfico para apoio as aulas; acompanhamento e auxílio aos alunos da graduação na escola campo prático da disciplina; orientação aos alunos em pesquisas bibliográficas; discussões com o supervisor e colaboração nas avaliações (individuais, em pequenos grupos e no cenário da prática; e avaliação e devolutiva aos alunos dos portfólios reflexivos construídos pelos graduandos). As atividades desenvolvidas pelas pós-graduandas junto ao supervisor propiciaram identificar as características da turma e, a todo o momento, aprimorar os pontos identificados para o melhor aproveitamento dos alunos. No entanto, a participação nestes momentos não se restringe ao caráter meramente administrativo, mas esboçam direções ideológicas sobre o fazer docente que começa antes da sala de aula (NÓVOA, 1995). RESULTADOS E DISCUSSÕES As atividades desenvolvidas permitem a aproximação do pós-graduando com o cotidiano docente podendo ser reunida em três dimensões relacionadas com as competências necessárias ao professor são elas: organização dos ambientes de aprendizagem e dos momentos de contato com os alunos; utilização de tecnologias e recursos que favoreçam o processo de ensino-aprendizagem; e a formação continuada (PERRENOUD, 2002). Essas dimensões levam os alunos PAE a repensar na prática
4 docente com criatividade, buscando metodologias ativas que atendam às demandas dos alunos de graduação. No campo do processo ensino-aprendizagem, especificamente, tem sido cada vez mais exigido dos professores metodologias ativas e participativas que instiguem os alunos à construção do conhecimento a partir da realidade que os aborda, para que a aprendizagem tenha significado aos estudantes. Este é o desafio atual para a formação dos novos educadores já que essa construção não acontece apenas com a formação teórica, mas requer a inserção nos campos práticos e de contato com o público alvo e ambientes (PIMENTA, 2005). Na experiência ora relatada pode-se perceber a importância e pertinência destes aspectos na formação do enfermeiro licenciado, atendendo ao mesmo tempo a formação de professor e enfermeiro, onde a promoção da saúde, em sua vertente da educação em saúde se associa ao cuidado aqui compreendido para além da assistência, cuidado que se baseia em ações que se estendem ao longo da construção da cidadania, potencializando a expressão dos sujeitos em sua existência social e fomentando a autonomia (SOUZA et al., 2005). Neste sentido, a educação superior em saúde, ao longo de sua trajetória históricopedagógica, vem passando por profundas mudanças para acompanhar, em termos de correntes de pensamento, as concepções que norteiam a formação do profissional e do docente. Neste contexto, o modelo de ensino tradicional vem sendo gradativamente substituído por novas tendências pedagógicas, as quais apontam para a necessidade da formação de um profissional crítico-reflexivo, capaz de transformar a realidade social do seu cotidiano, minimizando injustiças e desigualdades. A formação deste profissional deve conduzir para o compromisso com a clientela, o que proporcionará a melhora da qualidade de saúde da população, atendendo aos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Para que os profissionais da área da saúde possam atuar na docência na sociedade atual, é essencial compreender as tendências pedagógicas e filosóficas que permeiam o ensino na saúde, utilizando recursos metodológicos inerentes às novas concepções em educação (RODRIGUES; ZAGONEL; MANTOVANI, 2007). A experiência de colocar-se como professor revela novos desafios, referentes não só as experiências concretas, mas, sobretudo ao trabalho do professor e sua formação profissional. Neste sentido é fundamental rupturas do conhecimento e a prática pedagógica proporcionada pelo programa, uma vez que, de acordo com Vigotski (1984; 2003), toda aprendizagem ocorre tendo por base as relações sociais concretas, sobretudo àquelas em
5 que valoriza-se as atividades do aluno para seu aprendizado, em igual importância de participação do docente nesse processo. CONSIDERAÇÕES FINAIS A experiência do estágio proporcionado pelo PAE possibilita ao pós-graduando vivenciar a prática docente numa dimensão ideológica, para se situar no mundo e fazer leituras desse mundo de forma crítica e reflexiva a fim de compreender os seus problemas e propor soluções. Inicialmente, a Preparação Pedagógica, favoreceu a construção do conhecimento teórico para a elaboração e aplicação das propostas de ensino, acentuando, assim, seu conhecimento sobre o que é ensinar tornando-os mais preparados para discutirem questões pedagógicas que permeiam o campo da educação e a saúde. As experiências adquiridas no campo do Estágio Supervisionado em Docência permitiram a atuação do pós-graduando enquanto sujeito ativo em seu processo de aperfeiçoamento e de formação docente. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n.º 9.394/96, de 20 de dezembro de Brasília: Diário Oficial da União, BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Portaria n.º 52, de 26 de setembro de Regulamento do Programa de Demanda Social DS. CAPES; 26 set 2002; Seção 1. CHAMLIAM, H.C. Docência na universidade: professores inovadores na USP. Cad Pesqui., v.1, n. 118, p: 41-64, Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Enfermagem. C.N.E./C.E.S. Seç.1:37; Brasília; NÓVOA, A. Formação de professores e profissão docente. In: NÓVOA, A. (Org.). Os professores e sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote, p PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar: Porto Alegre, RS: Artmed, Programa de Aperfeiçoamento de Ensino Disponível em: < Acesso em 10 ago PIMENTA, S. G. Formação de professores: identidade e saberes da docência. In: PIMENTA, S. G. (org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. 4. ed. São Paulo: Cortez, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Pró-Reitoria de Pós-Graduação. Programa de Aperfeiçoamento de Ensino. Disponível em: < Acesso em: 21 jan SOUZA, M. L. et al. O Cuidado em Enfermagem: uma aproximação teórica. Texto Contexto Enferm., Florianópolis, v.14, n.2, p , VIGOTSKI, L.S. Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, VIGOTSKI, L.S. Psicologia Pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2003.
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