OS ESPORTES RADICAIS COMO EXPERIÊNCIA INSTITUINTE NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
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- Luiz Campelo Alves
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1 OS ESPORTES RADICAIS COMO EXPERIÊNCIA INSTITUINTE NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR William Vieira Carrijo 1 Rodrigo Silva Dal Col 1 Rosely Silva Pires 2 Introdução O presente trabalho partiu de uma experiência que tivemos dentro do Estágio Supervisionado, onde tínhamos como propósito trabalhar os Esportes Radicais em uma escola tida como tradicional em uma perspectiva instituinte. Nossa proposta tinha como objetivo geral compreender a utilização da natureza como espaço de práticas corporais numa perspectiva sustentável através dos Esportes Radicais. Para atingir este objetivo traçamos as seguintes metas, que são determinadas por nossos objetivos específicos: experimentar as possibilidades pedagógicas do skate, mountain bike free ride, parkour e corrida de orientação ecológica; pesquisar os aspectos históricos acerca dos esportes radicais; conhecer a origem, a evolução histórica e as implicações na sociedade atual de cada tema proposto; desenvolver atitudes como respeito, cooperação e superação; relacionar a utilização da natureza com a prática de Esportes Radicais numa perspectiva sustentável; ser capaz de realizar um debate reflexivo-avaliativo sobre os temas trabalhados, elencando os diversos sentimentos e emoções vividos durante as aulas. Uma de nossas justificativas do projeto de intervenção é por entendermos que os Esportes Radicais caracterizam-se como uma grande ferramenta pedagógica (Uvinha, 2001) para que possamos desenvolver as Experiências Instituintes dentro da Educação Física Escolar na qual propomos. As Experiências Instituintes procuram desdobrar-se em movimentos criadores e estremecer o que foi organizado pela história no universo escolar. O caráter problematizador é uma característica dessa prática pedagógica inovadora que possibilita os processos de abertura às experiências e a reflexão conceitual, no sentido de levar à formação do pensamento crítico sobre os elementos da cultura corporal de movimento (Linhares, 2002). Como metodologia de trabalho, foram utilizadas aulas expositivas, vídeos, trabalho manuscrito, aulas práticas, pesquisa, debates e conversas em grupo. Referencial teórico Este texto tem como principal objetivo apresentar as principais discussões, conceituações e reflexões sobre nosso tema de trabalho. No primeiro momento conceituaremos os esportes radicais e sua história de consolidação no cenário nacional. Definiremos também as experiências instituintes e, por fim, faremos uma reflexão sobre a Educação Física Escolar. 1 Acadêmicos da Faculdade de Educação Física da Escola Superior São Francisco de Assis (ESFA), de Santa Teresa (ES). 2 Professora Mestre da Escola Superior São Francisco de Assis (ESFA) de Santa Teresa (ES) e pesquisadora do ALEPH/UFF, do LESEF/UFES e participante do CNPq.
2 Durante o texto faremos relações entre os temas de nosso trabalho buscando estabelecer um entendimento sobre a aplicação dos esportes radicais dentro das aulas de Educação Física escolar e apresentaremos diversas possibilidades e justificativas de que esse esporte pode ser trabalhado dentro das escolas. Para isso utilizaremos autores renomados nas respectivas áreas de conhecimento. Discutindo sobre esportes radicais utilizaremos as contribuições de Uvinha, Hyder, Freire, Schwartz, Vilaverde, Grezzana, Oliveira, Morin, Costa, Spink, Ferreira, Fernandes e Le Breton. Além de utilizarmos documentos oficiais do governo como o PCN de Educação Física e uma Resolução do Ministério do Esporte. Colaborando conosco sobre as idéias de experiências instituintes, utilizaremos as publicações Linhares, Bracht, Caparróz, Pires, Machado, Dal Col e Carrijo. E, por fim, apresentando as idéias sobre Educação Física Escolar, contaremos com a colaboração de Betti, Barbosa e Daolio. A intervenção pedagógica Nossa intervenção foi dividida em 12 aulas de 50 minutos, sendo duas aulas por semana numa 5ª série do Ensino Fundamental de uma escola privada, localizada no centro da cidade de Santa Teresa (ES). É importante ressaltar que neste estágio de intervenção o professor titular não interviu em nenhuma prática pedagógica, ficando os professores estagiários responsáveis por ministrar todo o processo ensino-aprendizagem, estabelecendo como função do professor titular apenas um auxílio quando solicitado, além de ter feito os registros midiáticos, tais como fotos e vídeos. Informamos que os relatos e experiências das 12 aulas estão descritos no trabalho completo, não sendo colocados aqui por insuficiência de espaço de acordo com as normas deste congresso, por este ter uma quantidade de páginas muito extensas. Considerações finais Não podemos deixar de registrar aqui a repercussão que este estágio causou na escola e até mesmo na cidade de Santa Teresa. Os outros alunos de outras series sempre nos questionavam: num vai ter pra nós não? Queremos fazer também.. quero trazer meu skate, minha bike.. por que só a 5ª série?" Isso até nos assustou, mas um medo do bem, um medo valioso. Olha que nem somos tão ligados a área dos Esportes Radicais, mas isso evidencia que não é preciso praticar a modalidade para dar aulas, basta apenas estudar, planejar e ter esperança e vontade para que tudo dê certo, para que alcancemos os objetivos propostos. Outro registro importante é a percepção do professor regente em relação a este Estágio. Ele sempre nos elogiou, ficou impressionado com o movimento que as aulas proporcionaram dentro da escola, acompanhou, ajudou e filmou e fotografou as aulas, gravando depoimentos dos alunos sobre as aulas para criar um banco de dados para a escola. O professor titular é uma pessoa especial, um professor comprometido com sua prática, está sempre nos orientando, dando conselhos, esta relação foi muito importante para nosso crescimento. Este Estágio Supervisionado foi nossa melhor e mais profunda experiência enquanto professores de Educação Física. Foi algo riquíssimo, um espaço de formação muito importante. Tivemos a oportunidade de vivenciar o cotidiano escolar, o que até então não havíamos feito. Tudo o que aconteceu em nosso estágio deixou marcas,
3 emoções, sentimentos, reflexões. Tudo deu certo, caminhou bem, aconteceu. Até o tempo, o clima nos ajudou. Às vezes chovia no dia anterior, chovia a noite, chovia horas antes da aula, mas na hora da aula o sol aparecia e às vezes queimava nossas cabeças de maneira arrasadora, mas ele estava ali, na hora certa! Foi tudo maravilhoso, tudo muito rico. Aproveitamos muito essa oportunidade. Temos a convicção de que o Estágio Supervisionado é um grande espaço de formação de nossa identidade docente, de nossas características enquanto professor de Educação Física, nosso estilo metodológico, nossa maneira de se relacionar com os alunos e com a escola, enfim, todas as questões que perpassam a vida escolar são vivenciadas e experimentadas no estágio. Este depoimento não poderia deixar de ser dado. É algo muito forte. Não envolve somente conhecimentos teóricos, aulas práticas, mas envolve sentimentos e emoções. Ao mesmo tempo em que nossos alunos sentiram alegria, sentimentos, emoções, adrenalina durante as aulas de Esportes Radicais, nós também sentimos. Do nosso jeito, a partir da vivência deles, a partir daquilo que as atividades significaram para eles. De maneira geral, avaliamos nosso estágio de intervenção como uma grande experiência pedagógica, que nos proporcionou fortalecer ainda mais nossa identidade docente. Colocar em prática nossos conhecimentos científicos foi [é] muito gratificante, ainda mais quando se está fortemente ligado a uma linha de pesquisa que lhe instiga ainda mais a trabalhar pela Educação Física, a criar práticas inovadoras que destruam as visões e ações limitadas de certas práticas, de certos professores. Esta intervenção, nos fez acreditar ainda mais na importância do Estágio Supervisionado durante a graduação, pois se trata do primeiro contato direto e verdadeiro com o cotidiano escolar. Nos fez também reafirmar nossa ideia que escolher boas escolas, bons professores, boas turmas e bons conteúdos para intervir, também se torna um critério muito importante na formação docente, pois bons espelhos custam caro. Referências BARBOSA, C.L.A. Educação Física Escolar: da alienação à libertação. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, BETTI, M. Ensino de 1º. e 2º. graus: Educação Física para quê? Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 13, n. 2, p , BRACHT, V.; CAPARROZ, F.E. O tempo e o lugar de uma didática da educação física. In: Revista Brasileira de Ciências do Esporte. Campinas, v. 28, n. 2, p , jan BRASIL (a). Secretaria de Educação Fundamental. PCN: Educação Física/ Secretaria de Educação Fundamental Brasília: MEC/ SEF, CARRIJO, W. et al. A formação humana como experiência instituinte. In: X CONGRESSO ESPÍRITO SANTENSSE DE EDUCAÇÃO FÍSICA, 2010, Vitória. Anais... Vitória, COSTA, Vera Lucia Menezes. Esportes de aventura e risco na montanha. São Paulo: Manole, 2000.
4 DAOLIO, J. Educação física escolar: uma abordagem cultural. In: PICCOLO, V.L.N., org. Educação física escolar: ser...ou não ter? Campinas, UNICAMP, FERNANDES, R. C. Reflexões para um estudo acadêmico. Conexões Educação, Esporte e Lazer, Campinas. v. 1, n. 1, 1998 (p ). FERREIRA, A. B. de H. Minidicionário da Língua Portuguesa. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, FREIRE, M.; SCHWARTZ, G. M. A caminhada na natureza nas aulas de educação física: consolidando atitudes pró-ativas. In: Coleção Pesquisa em Educação Física n. 4, jun GREZZANA, F. Educação, meio ambiente e esporte de aventura na natureza. Coletânea - 12 ENAREL (Encontro Nacional de Recreação e Lazer). Balneário Camboriú, Santa Catarina: Roca, HYDER, M. A. Have your sutdents climbing the walls: the grow of indoor climbing. Journal of Physical Education, Recreation & Dance, v.70, n.9, p.32-39, Le BRETON, David. Risco e lazer na natureza. In: Viagens, lazer e esporte: o espaço da natureza. Alcyane Marinho; Heloisa Turini Bruhns (org.), Barueri, SP: Manole, 2006, p LINHARES, Célia. De uma cultura de guerra para uma de paz e justiça social: movimentos instituintes em escola pública como processos de formação docente. In: LINHARES, Célia; LEAL, M. Cristina. Formação de professores: uma critica à razão e a política hegemônica. Rio de Janeiro; DP&A, MARIZ de OLIVEIRA, J. G. Educação Física e Esporte no Ensino Superior. in: Passos, S. C. E. Educação Física e Esportes na Universidade Brasília, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Física e Desportos, MICHAELIS. Moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, MINISTÉRIO DO ESPORTE (Brasil). Resolução nº 18, de abril de Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, MORIN, E. Educação e Complexidade: Os setes saberes e outros ensaios. São Paulo: Cortez, p.13. SPINK, M. J. Perigo, Probabilidade e Oportunidade: A Linguagem dos Riscos na Mídia. Psicologia: Reflexão e Crítica. v.15 n.1 Porto Alegre UVINHA, Ricardo Ricci. Juventude, Lazer e Esportes Radicais. São Paulo. Manole, 2001.
5 VILAVERDE, Sandoval. Lazer, natureza e amizade: formas de subjetivação na modernidade tardia In: Viagens, lazer e esporte: o espaço da natureza. Alcyane Marinho; Heloisa Turini Bruhns (org.) Barueri, SP: Manole, 2006, p. 119.
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